NATIONAL LIBRAR* OF ME NLH DDlObSBS 1 w OQOaQO£^C^>£0£t^C£QQt:OQ4)Q^ Surgeon General'» Office m tJcc/eti, N< mb *s o Ks?cocy: ocx^qgqqqcxiogg^uQoqo ■íl) icl) NLM001065251 RETURNTO NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE BEFORE LAST DATE SHOWN wovt?< J983 J cuí oNtt — /& Chdhor, APONTAMENTOS / crz,eZ A MORTALIDADE DA CIDaDE DO 1 DE JANEIRO ^í^'/--^ / 'J PARTICULARMENTE DAS CRIANÇAS SOBRE O MOVIMENTO DE SUA POPULAÇÃO NO PRIMEIRO QUATRIENNIO DEPOIS DO RECENSEAMENTO FEITO EM 1872 O exse Q e re.it .*. n | *t» de- £ * f^TrTn^rr^j iV>f ■ » IV.—Semelhança de causalidade e effeitos entro a mortalidade nas freguezias urbanas o extra- muros.................................. 105 V.—Conclusões sobre o movimento dí. população em todo o município depois d< recensea- mento de 1872............................. III AO LEITOR. La scionco n'ostquo le produit de l;i suecession de» operations du genie, et son histoiro est Ihistoire des bommes et do leurs pensées. Bailly. Longe vão os tempos em que a hygiene era apenas. considerada como arte de conservara saúde. Acompanhando pari-pasm o progresso de outra*sciení* cias que lhe abriam as portas á conquista da resolução dos grandes problemas que mais tarde cumpria-lhe rea- lizar, seus horizontes se foram alargando, e augmentan- do por conseguinte as questões submeti idas á sua apre- ciação e estudo. A este pertencem hoje todas aquellas que attingem não só ao melhoramento physico e moral do homem, como também ao aperfeiçoamento e engrande- cimentode suas faculdades corporaese intellectuaes; e bem assim tudo quanto directa ou indirectamente possa contribuir para benefiçial-o na ordem social e na vida privada : cm summa, para resumirmos em poucas pala- vras o papel importante que representa a hygiene, re- petiremos com o Sr. A, Prousl (*) que ella transpõe O A. Proúst—Traitéd'hy^iònc publique et privée -1877, IV AO LEITOR. na aclualidadeos limites estreitos da medicina, fazendo da biologia, daantbropologia,da legislaçãoe da historia da humanidade a sua base. Pois bem, adoplando os principies de um eminente esrriptor moderno (*), que classifica os diversos modi- ficadores hygienicos em relação ao homem são e doente, isolado, ou vivendo em sociedade, em modiíicadores physicos ou da vida universal, chimicos ou da vida tei- restre, biológicos ou da vida individual e funccional., sociológicos ou da vida social e de relação, diremos que qualquer dos assumptos comprehendidos nas diversas classificaçõesindicadas abrange questões de alto interes- se scientifico, cujo estudo exige muita atlcnção e gran- de esforço para serem convenientemente comprehendi- dos,, e que portanto seria temeridade indesculpável da nossa parte suppormo-nos capazes de apresentar traba- lho perfeito sobre qualquer delles ; mas, contribuir com algum contingente para auxiliar os esforços que desen- volve a actual geração no estudo destes importantes as- sumptos, ê commeltimenlo dcsculpavel. E possuídos dessa convicção, ousamos alguma cousa aventurar sobre o estudo de uma das mais importantes questões sociológicas, a da mortalidade, baseando-nos para isso nas provas que nos fornece a estatística, scien- cia da qual grandes vantagens se podem colher em re- lação ámarcha do movimenío social, e por cujo motivo tanto interesse e desvelos merece hoje dos povos cultos. Sem ir tão longe como Goethe, admittindo que os nú- meros não só governam o mundo, mas ensinam como O A. Lacassagnc—Prccis d'hygiène privéeet sociale-1876. AO LE1TOII, deve elle ser governado, parece-nos todavia que uma estatística medica, organizada sem prevenções ecomeri- lerio, não deixa de ter grande valia para a solução dos problemas da ordem daquellc de que nos oecupamos, e que não se pôde considerar tempo perdido o que se con- some no seu estudo e apreciação, quando se trata de tacs assumplos. t A estatística medica, disse com razão um medico brazileiro contemporâneo, (*) é um auxiliar importan- te da administração ; porquanto, pelo conhecimento da estatística medica, o governo sabe como dirigir-se na organização das leis que dizem respeito á salubrida- de publica ; o povo conhece os perigos a que está su- jeita a sua saúde, e os meios mais prováveis do prevenir e remediar certas alterações que possa soffrcr ; o estran- geiro, analysando as condições de salubridade do paiz, sabe como c quando convém transportar-se para elle ; o homem da sciencia por si, ou fazendo chegar ás autori- dades os meios de remover certas causas permanentes, que sem a existência da estatística lhe podem passar des- apercebidas, faz com que certas endemias desapparcçam e que certas epidemias deixem de apparecer ; os contem- porâneos, comparando o estado sanitário do paiz e as causas produetoras delle com os outros paizes, c as me- didas empregadas, podem melhor ser guiados na inda- gação da verdade; os vindouros, observando as altera- ções de salubridade por que tem passado successivamenlc üma localidade e as medidas que tem sido empregadas O Dr. S. S. de Meirelles—Tüese inaugural apresentada á Fa- culdade de Medicina do íUo de Janeiro em 1853. V VI AO LEITOR. nessas diversas épocas para melhorar suas condições, pondo cm parallelo o estado presente com o passado, são com mais probabilidade levados a bem apreciar os phenomenos existentes, as suas causas, e a deduzir os meios mais seguros de poder estabelecer e manter as condições de salubridade. » Se assim é, tornam-se intuitivasas vantagens que se podem tirar das estatísticas no estudo das questões do domínio daquella de que tratamos, e que si não consti- tuem ei Ias a base mais segura na resolução dos problemas sociológicos, são uma das mais importantes e que não pôde jamais ser desprezada. Não desejando, nem enxergan Io utilidade em alongar muito estas considerações, voltaremos ao ponto princi- pal do assumpto deste trabalho, dizendo que o estudo das causas do augmenlo ou decrescimento de uma po- pulação, ao qual se liga essencialmente ode seu gráo de mortalidade e das causas que para isso contribuem, tor- na-se de dia para dia oobjecto de serias preoecupações dos espíritos cultos em virtude de sua importância nas sociedades collectivas. Árdua é sempre a empreza de quem se abalança a en- volver-se no estudo das questões desta ordem ; árdua, portanto, é a tarefa que nos impuzemos, empenhando-nos no exame e apreciação de uma das mais difficeis ; mas, sem querer pretender jamais ter a gloria de apresentar um bom trabalho, esforçar-nos-hemos entretanto para dar a este algum cunho de utilidade, pelo desejo que nu- trimos de concorrer com os mingoados recursos de que dispomos para o estudo desta questão de alta magnitu- AO LEITOR. VII de entre nós,no propósito de despertar a altenção de ou- tros que melhor possam csclarccel-a. Definido assim o movei que nos guia na confecção deste trabalho, passaremosa daruma iilóa do plano que adoptamos para mais mcthodisarmos o seu estudo. Para esse fim o dividiremos cm Ires partes: Na primeira oecupar-nos-hemos com algumas obser- vações geraes acerca da mortalidade e do movimento da população desta cidade antes do recenseamento de 1872. Na segunda estudaremos este movimento no quatrien- nio de 1873 a 1876, nas freguezias urbanas. Na terceira trataremos do mesmo assumpto com refe- rencia ás freguezias extra-muros. O estudo relativo á primeira parte será comprehcn- dido em seis capítulos: No primeiro faremos breves observações sobre a mor- talidade nesta cidade, tocando de passagem na interes- sante questão do registro civil, medida de urgente necessidade para alcance de uma boa estatística. No segundo trataremos mui perfunetoriamente das causas do decrescimento das populações. No terceiro oecupar-nos-hemos com a mortalidade das crianças, no ullimo qurnquennio anterior ao recensea- mento, nas freguezias urbanas. No quarto com o estudo das causas que mais acção parecem exercer sobre ella. No quinto trataremos de apreciar o valor dessas causas • segundo os dados fornecidos pela estatística. No sexto exppremos as conclusões que suggerc o estu- do do assumpto abrangido nos capítulos anteriores. VIM AO LEITOR Na segunda parte, que será tratada cm cinco capítulos, estudaremos: No primeiro o movimento da população das freguezias urbanas no quatrjennio após o. ultimo recenseamento. No segundo a mortalidade geral deste período. No terceiro a das crianças até 7 annos. No quarto as causas principaes de sua mortalidade neste quatriennio. No quinto apresentaremos as conclusões prováveis a deduzir pela analysc das observnções contidas nos an- teriores. Na terceira parte destinada ao estudo do movimento da população nas freguezias extra-muros, será este feito em quatro capítulos: No primeiro trataremos do movimento de sua popula- ção no quatriennio de 1873 a 1876. No segundo da mortalidade nellas oceorrida neste pe- ríodo. No terceiro das causas que mais influencia parece sobre ella exercerem, quer topographicas, quer de outra ordem. No quarto da semelhança de causalidade e effeito entre as causas principaes da mortalidade nas freguezias ur- banas e suburbanas. Finalmente, encerraremos o trabalho pelas conclusões a que pudermos chegar acerca do movimento da popu- lação em todo o município no quatriennio posterior ao ultimo recenseamento. PRIMEIRA PARTE. OBSERVAÇÕES GERAES ACERCA DA MORTALIDADE E DO MOVIMENTO DA POPULAÇÃO DESTA CIDADE NO QÜ1NQUENNIO ANTERIOR AO RECENSEAMENTO DE 1872. CAPITULO I. Siwmario.—Méas geraes sobre a mortalidade. Necessidade do registro civil. Em uma época, na qual surgem lodosos dias noticias mais ou menos exageradas acerca das condições de in- salubridade e da mortalidade desta capital e de todo o Império, como se houvesse um plano concertado para desacredilal-o no intuito de afastar-lhe a corrente de immigraçãode que tanto necessitamos, é dever de toclo o brazileiro que ambiciona o engrandecimento e pro- gresso do seu paiz, e está em condições de poder prestar- lhe algum serviço neste sentido, ainda qne de somenos importância, esforçar-se para estudar-lhe as causas, naturaes ou accictentaes, com o fim de esclarecer ura assumpto tão estreitamente ligado aos. destinos pre- sentes e futuros de sua pátria. Possuídos desta convicção, e não podendo aceitar âs idéas exageradas que, sem attender-se ás condições es- peciaes em que nos havemos achado, têm echoado sobre a mortalidade desta cidade, quer na imprensa estran- geira, quer na nossa, acompanhando a grita daquèlla e*prejudicando-nos duplamente, emprehendemos a 2 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE confecção deste trabalho que submettemos á apreciação do publico, pelo qual se conhecerão as causas que têm actuadona producção da cifra exagerada de nossa mor- talidade nestes últimos tempos, e se deduzirão os meios de removel-as em grande parte. Não dissimulando que, em pre*sença da cifra de nos>a população revelada pelo ultimo recenseamento, muito ayantnjada tem sido a da mortalidade oceorrila desde 1870, e muito principalmente no quatriennio de 1873.a 1876, somos ainda forçados a confessar que no anno findo, a despeito das condições relativamente favoráveis nelle dominantes, foi um tanto desfavorável, attingindo a 10.136, incluídos os nascidos mortos e a 9.532, excluídos estes. (1) Na cifra das primeiras idades figurara 60i que nas- ceram mortos, e 2.355 de dias até sete annos, perfa- zendo o tolal de 2.959, cifra que não deixa de ser avul- tada e desanimadora em nossas condições especiaes, e torna patente que causas constantes influem na pro- ducção deste resultado pouco favorável ao desenvolvi- mento e progresso da população nacional e ao engran- decimentophysico e moral do paiz. E posto não estejamos mais em tempo de dizer, como Vauban, que o poder de uma nação aq^ilata-se pelo maior numero de sua população, por isso que o estudo. das leis sociaes revela que muito influem nesse poder a riqueza das mesmas, a instrucção, o estado moral, industrial e sanitário, força é convir que a sua riqueza não depende de sua extensão, mas sim de uma popula- ção mais ou menos numerosa e instruída, e que por- tanto lhes é mais útil buscar os meios de augmentar o numero de seus habitantes do que possuir grandes domínios e não ter. a população precisa para aproveitar os thesouros que elles encerram, originando-se d'abi o (l) Vão incluídos na somma total 68 que falleceram de fehrp amarella no hospital da Jurujuba. ^ DA CIDADE DO RIO DI5 JANEIRO. 3 empenho de attenuar tanto quanto possível as causas mais communs e activas da perda de seus habitantes. E' este um dos problemas sociaes mais importante e •mais digno de ser elucidado pelos altos interesses que affecta, e em virtude da influencia que exerce nos fu- turos destinos de um paiz a maior ou menor cifra de sua mortalidade: é também um dos mais difficeis de re- solver, attentas as causas diversas que podem fazer va- riar essa cifra, quer nos differentes paizes, quer no mesmo, segundo as localidades onde se estuda. Os trabalhos do Sr. Bcrtillon, um dos cultivadores dislinetos da sciencia, e que estudos especiaes tem em- prehendido acerca deste assumpto, mostram que ha lu- gares em que a mortalidade é sempre grande para todas as idades; outras em que é sempre relativamente pe- quena ; outras em que sendo poupada a infância e a adolescência, a cifra mortuaria cresce nas idades viris;. outras, em fim, em que ê ella menor nas idades maduras e na velhice. Observações tão diversas e que são communs a todos os paizes, inclusive o nosso, segundo mostram ainda que imperfeitamente as estatísticas mortuarias e a his- toria do movimento sanitário desta corte e das provín- cias, levam á.convicção de que, além das causas naturaes que concorrem á esse tributo pago pelo homem, como conseqüência das desordens orgânicas necessárias, ha em cada paiz causas accessoriase accidentaes que in- fluem para essas differenças, umas physiologícas, outras sociaes, cujo estudo encerra grandes difflculdades em virtude da diversidade dos climas, raças, costumes dos povos, gênero de vida e profissões, gráo de civilisação, época em que são estudadas e varias outras circunstan- cias. .Estas 'difflculdades são perfeitamente entrevistas no sublime pensamento enunciado em um succinlo es- boço publicado pelo boletim da academia de medicina, a propósito do trabalho do Sr. Bcrtillon cm referencia 4 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE ao interesse do estudo das populações collectivas,di- zendo que segundo as conclusões do mesmo autor ha nellas uma anatomia e physiologia social ; que o nasci- mento, o matrimônio, e a mortalidade são movimentos. intestinos da mesma ordem que a assimilação e desassi- milação; que suas leis de producção só podem ser des- cobertas mediante estudo especial das populações col- lectivas, etc. Assim sendo, nunca serão perdidos, no. interesse do esclarecimento deste assumpto quaêsquer trabalhos, ainda que incompletos, que a seu respeito se apresentem, porque novos e mais minuciosos estudos podem aper- feiçoal-o e encaminhar a outros de maior interesse e mais próprios a elucidal-os ; por isso permitta-se-nos um pouco de demora* sobre este ponto com referencia ao que nus diz respeito, aventurando algumas idéas, as quaes, quando outro valor não tenham, servirão ao menos para despertar a attenção dos mais doutos e de bases iniciaes á estudos mais completos e feitos com maior sciencia e critério. Audaz seria a empreza a que nos abalançamos, se nos propuzessemos a investigações minuciosas sobre a questão vertente, quando tão deficientes são os recursos de que nos podemos soccorrer para esse diflicil e inleres ■ sante estudo, na carência de um registro de nascimentos, de casamentos (1) e de perfeição nas nossas estatísticas (1) A necessidade do registro dos factos occorridos na historia da humanidade e nas diversas evoluções porque têm passado as sociedades humanas éum principio a°doptado por todos os povos civilisados desde épocas remotas, como o meio mais seguro de perpetuar a lembrança desses factos, e evitar que sua memória se extingua na successão dos tempos, ficando p r este modo ignorados pelos vindouros, não só o movimento progressivo ou regressivo dos diffcrentes povos, como também seus usos e cos- tumes, suas glorias e seus revezes e bem assim as épocas em que taes acontecimentos occorreram, e as causas que lhes deram origem apreciadas pela pliilosophia da historia. Pois bem, se taes vantagens se não podem contestar em relação a todo o movimento social, e conseguintemente que é uma neces- sidade a sua existência, para nos fazer conhecer o adiantamento DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 5 mortuarias por falta dos esclarecimentos precisos nos documentos que lhes servem de base, assim como por moral e intellectuat das diversas nações em sua evolução suc- cessiva, não é menos evidente a vantagem e utilidade que se pôde retirar do registro civil dos nascimentos, casamentos e óbitos, cujo conjuncto forma incontestavelmente a parte mais impor- tante da physiologia social, permitta-se-nos a phrase, e cujas leis productoras devem occupar seriamente o espirito dos homens il- lustrados, a cujo cargo estiver confiada a direcção da sociedade, por isso que só com o auxilio desse registro poderão elles conhe- cer com certo gráo de acerto a marcha progressiva, ou não das populações, o adiantamento que têm ganho ou perdido na ordem physica e moral, esuas causas determinantes, para melhor ap- plicarem os meios que reclamam os accidentes de que se resen- tem e impedem seu caminhar benéfico. Assim o tem reconhecido por mais de uma vez o governo bra- zileiro, como demonstra: 1.°, a expedição do decreto n.° 798 de 18 de Junho de 1841 mandando procederá secularisação do registro dos actos do registro civil, o qual foi suspenso pelo decreto de 29 de Janeiro de 1852, em virtude da animosidade que suscitara da parte da população: 2.°, a renovação da mesma providencia pela expedição do regulamento do registro civil dos nascimentos, casamentos e óbitos, mandado executar pelo decreto n.°5604de 2o de Abril de 1874, regulamento em que se encontram disposi- ções muito importantes, aproximando-se ellas da legislação franceza que regula esta matéria. E com pezar dizemos,que nenhum resultado se ha por ora alcançado dessas duas tenta- tivas, não obstante constituir a adopção das medidas recommen- dadas naquelles decretos, e muito particularmente no de 25 de Abril de 1874, o meio mais seguro de obter-se uma estatística exacta da população e das causas que concorrem ao seu augmento ou decresc mento, por isso que o corpo legislativo, á cuja appro- vação foi elle submettido, ainda nada decidiu a semelhante res- peito. l)o que acabamos de dizer vê-se: que acontece a este respeito o mesmo que a muitos outros de grande interesse social e adminis- trativo ; que não são leis que nos faltam, mas sim boa execução das mesmas ; porquanto sobre o assumpto de que tratamos já existe o regulamento n.° 3069 de 17 de Abril de 1863, ea lei n.° Hí4 de 11 de Setembro de 18 61, que tratam do registro dos nascimentos das pessoas acatholicas, e o decreto n.° 4968 de 24 de Maio de 1872, que se reporta ao nascimento de brazileiros em paizes estrangeiros e muitas outras disposições bem pensadas; sendo para crer que a intenção que presidiu á expedição do decreto de 25 de Abril de 1874 parece ter sido refundir as dis- posições dos que acabamos de citar, em um regimen commum, surgindo contra este as mesmas difliculdades que occasionaram a suspensão do de 18 de Junho de 1841. Como quer que seja, julgamos que já é tempo de, afastando os obstáculos que têm impedido a execução dos tentamens feitos para levar a effeito esta medida, uma das mais essenciaesá con- fecção de uma boa estatística da população, ser ella definitiva- mente adoptada ; porque só assim terão valor real os recensea- mentos que se ori anizarem, e melhor se poderá conhecer o mo- vimento da mesma população. (o APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE outras causas, que é Ocioso enumerar, indispensáveis á execução regular de trabnlhos desta ordem e á resolução dos grandes problemas que á elle se ligam, e que tanto mais se alargam, mais difflculdades offereccm, e maior sommade conhecimentos exigem á sua comprehensão c solução, quanto mais se investiga a marcha da huma- nidade, na qual ha constantemente que aprender, c cujas investigações nos patenteam novas e maiores diffi- euldades na resolução dos problemas sempre difíiccis que a cada instante surgem em nosso espirito. Nem a tanto poderíamos aspirar sem sermos taxado, com justa mzão, de indiscreto e de leviano : nosso fim é apenas occuparmo-nos especialmente da mortalidade das crianças em virtude da influencia que pode ella exercer na diminuição ou pequeno augmento da popu- lação nacional, a continuar na proporção em que tem permanecido e a manter-se o pequeno numero de nasci- mentos que se effectua annualmente entre nós. Constitue este trabalho um appendice ou continuação de outro que sobre o mesmo assumpto escrevemos em nosso relatório que, na qualidade de presidente da junta de hygiene apresentámos ao governo imperial em 1870, o qual com extremo prazer vimos ser tomado em con- sideração pela illustrada commissão incumbida pelo mesmo governo, de organizar o primeiro recenseamento desta corte, utilisando-se dos dados nelle colleccionados para esclarecimento de certos pontos que a brevidade do tempo com que foi organizado, tornava obscuros e de difficil resolução. Como, porém, em estudos de uma matéria desta ordem se não possa separara influencia das causas espe- ciaes de sua existência das geraes, em virtude do con- sórcio que as liga e aproxima em seuseffeitos, exporemos muito perfunctoriamente as principaes e mais communs em todos os paizes ao concurso do decrescimento ou pouco augmento da população, fazendo applicação ao DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 7 que se passa entre nós, e depois oecupar-nos-hemos do ponto principal do nosso estudo. Cumpre-nos, porém, desde já prevenir que não vol- taremos aqui á discussão de alguns pontos á que nos referimos no outro trabalho, para não cahirmos em repetições desnecessárias, e que si neste encontra-se concordância com o outro acerca das causas que mais influem para a mortalidade das crianças nesta corte, o mesmo não suecede relativamente ás proporções guar- dadas entre as cifras das crianças mortas e das nascidas, sendo aquellas agora mais desfavoráveis. • A razão desta circumslancia é obvia. Não havendo base para regularmo-nos com segurança no calculo por não termos estatística da população, íizeraol-o sobre al- garismos exagerados computando a populaçãoentão exis- tente em 350.090 almas, minimo em que era avaliada geralmente, e d'ahi provém sem duvida o desfavor que agora se nota, guianclo-nos no calculo pelos resultados obtidos no recenseamento de 1872, executado depois da apresentação daqueüe trabalho, e por documentos mais regulares que os colligidos naquella oceasião. CAPITULO II. Summario.—Causas geraes do decrescimento das populações. Uma das primeiras causas do crescimento lento de uma população, de seu estado estacionario, ou de seu decres- cimento é incontestavelmente a escassez de nascimentos e a maior proporção na mortalidade daquelles que de- vem constituil-a; ou, o que vem a dar no mesmo, que uma população crescerá tanto mais depressa, quanto maior fôr o numero dos nascidos e menor a cifra da sua mortalidade. Os trabalhos executados sobre"este assumpto patenteara a exactidão deste asserto, mostrando as differenças que 8 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE se observam a este respeito nos diversos paizes. Pelas observações de Maxime Ducamp, a França, que é hoje um dos paizes europeus considerado como o de menor fecundidade, precisa de 108 annos para conseguir uma população que a Inglaterra pôde alcançar em 52, a Prús- sia em 54, etc. Estes algarismos são ainda mais altos em face dos re- sultados colhidos pelo Sr. Maurice Block em seus estu- dos sobre o movimento das populações da mór parte dos paizes europeus no período decorrido de 1869 a 18G8. Por esses trabalhos collige-se : que a Rússia pôde dobrar a sua população em 50 annos, a Inglaterra em 54, a Prússia em 61 1/2, a Hespanha em 78, a Itália em 99; outros paizes em um período maior ou menor, e a França em 198; porque a Rússia de 5,07 nascimentos para 100 habitantes, tem 3,68 mortos para o mesmo numero, a Inglaterra para 3,36 nascidos, tem 2,27 mortos, a Prússia para 3,82, tem 2,62, a Hespanha para 3,85, 2,96, a Itália para 3,76, 3,06 ; finalmente a França para 2,65, 2, 30, ficando-lhe apenas para accrescimo annual da po- pulação 0,35, para 100 habitantes. Já se vê, pois, que este triste resultado, que pesa sobre a população franceza, não depende só da pouca fecundi- dade que se lhe conhece hoje; que valioso concurso lhe presta a grande mortalidade proporcional que acabru- nha as crianças alli nascidas, visto como, segundo rezam os trabalhos do Sr. Berlillon, de três nascimentos vivos, ficam estes reduzidos a 1,92, aos 20 annos. A diminuição da população franceza nestes últimos tempos é tão sensível, que, de um trabalho apresentado pelo Sr. Gustavo Lagneau á academia de medicina, dis- cutindo os dados fornecidos pelo recenseamento de 1872, collige-se, pondo de parte os prejuízos causados com o desmembramento da Alsacia-Lorena pela ultima guerra com a Prússia, que tinha havido uma diminuição de 366,935 habitantes ou 16* por 10.000 annualmente. 0 recenseamento de 1866 revelara o augmento de 38 DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 9 sobre 10.000 habitantes no período anterior, augmento por certo insignificante em relação ao de outros pai- zes. Pois bem, entre esse pequeno acerescimo e a di- minuição dada pelo recenseamento de 1872 reconhe- ceu-se uma differcnça para menos de 54 para 10.000, de modo que a população, que deveria contar em 1872 mais 1.150.000 habitantes, caminhando com o pequeno augmento indicado, apresentava pelo contrario perdas sensíveis, A causa de que se trata não deixa de exercer, em nos- so pensar, decidida influencia sobre o crescimento da população nacional; e se não temos bases em que nos eslribemos para affirmar que é fraca a fecundidade nes- ta corte, apezar do que temos observado em uma clini- ca de 40 annos, patenteando-nos que não são muitos os casados que têm mais de quatro filhos, não sendo poucas as mulheres que apenas têm o primeiro no anno em que se casam, e jamais outro, não dissimu- laremos entretanto a triste convicção que paira cm nosso espirito, de que a população nesta cidade aug- mentaria muito pouco, ou ficaria mesmo estacionaria sem o valioso auxilio que ao seu acerescimo lhe pro- porciona a immigração constante. Eita convicção origina-se, além de outras razões que se conhecerão no correr deste escripto, do excesso da cifra da mortalidade das crianças nesta corte, compa- rada á dos nascimentos, assumpto de que nos oceu- paremos com mais amplitude, estudando as causas que maior auxilio prestam âesse deplorável resultado. Outra causa poderosa do decrescimento ou pouco aug- mento de uma população é a freqüência do celibato, para cujo estado contribuem numerosas circumslan- das, entre as quaes se arranjam as vidas ecclesiasti- ca e militar, as perturbações políticas e industriaes, e mais que tudo o receio, nas grandes cidades, de não poder alcançar-se os recursos precisos á satisfação das necessidades materiaes da vida, afastando-se por este 3 h. 10 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE modo a união legitima dos sexos, e cscasscando por conseguinte os casamentos. Desle conjuncto de circumstancias oiigina-se, de um lado maior cifra de mortalidade; por quanto, como demonstram as estatísticas mais regulares, a morte ceifa com mais força as fileiras des celibataiios, regu- lando em geral pelos cálculos do Sr. Bcrtillon de 15 a 16 mortos entre 1.000, na idade de 40 a 45 annos, no entretanto que, nos casados, não passa de 9 até 10; de outro lado a preponderância dos filhos naturaesque, além de serem muito mais viclimades que os legitimo?, ficando abandonados ou sujeitos á uma educação eiva- da dos vícios de seus progenitores, vem alentar o ger- men de perturbações sociaes e dos vicios e crimes cie todo o gênero, deshonrando ás vezes o paiz e offen- dendo as leis da humanidade. E' esta uma causa que não pôde deixar-se de conjec- turar que deve exercer notável influencia no pouco augmento da população nacional nesta cidade ; por quanto, embora poucos de seus filhos abracem as vi- das ccclesias-lica e militar, e não tenha ella sido até o presente o theatro de convulsões políticas e sociaes dignas de certo valor e importância, tem contra si: 1,° Ser uma cidade marítima e commercial de grande movimento, e onde por conseguinte a população fluc- tuante é sempre numerosa ; 2.° Ser grande parte de sua população improduetiva, excedendo muito a masculina sobre a feminina, tor- nando-se esta menos fecunda, ou em virtude da fre- qüência de casamentos prematuros antes da evolução completa dos órgãos da geração, ou já tardios e execu- tados no interesse das famílias, ou finalmente pelo ex- cesso a que se entrega crescido numero de mulheres dadas á vida menos regular ou licenciosa, causando este abuso abortos continuados logo após á fecundação, como pensam alguns, ou inaptidão á concepção cm vir- tude da obliteração das trompas, como explica Sim?, DA CIDADE DO RIO DU JANülítO. 11 admiltindo um trabalho adhesivo devido á inflammação da porção do canal situada abaixo do pavilhão, e que faz com que o ovo fique preso abaixo do ovario diante do ponto de obliteração da trompa. Seja como fôr, a influencia desta causa é evidente em todas as cidades populosas mormente nas commerciaes e marítimas, em as quaes o luxo, os prazeres de toda a espécie, e os defeitos de uma civilisação irregular pela mistura de povos de diversas raças c hábitos, fazem imperar os vícios de Io Io o gênero e augmentar a de- pravação dos costumes, atirando as mulheres incautas ao vicioda libertinagem, eda prostituição, a qual, além de outros males, infiltra e faz desenvolver a syphilis em maior ou menor escala, e torna-se o germen de grandes males p ira as gerações futuras, provocando a de- generação da espécie, eenfraquecendo-lhe as aptidões á resistência das caus isque tendem áaniquilaçãoda vida. E se estes factos, que degradam a nossa espejie pelas offensas á moral e pudor publico, oceorrem em todas as cidades, onde o movimento commercial é avul- lado , ainda mesmo naquellas em que regulamentos severos cohibcm taes excessas, o que não acontecerá entre nós, onde infelizmente a prostituição publica faz alarde do escândalo e audácia, sem qiu algumas medidas se tenham iniciado para reprimil-a em seus excessos, e onde, além de não primarem pela educação muitos dos estrangeiros que nella residem, a educa- ção da nossa mocilade vai se tornando bastante des- cuidada, como se coivencerá quem estudar, quer em publico, quer na vida familiar, o que por alii vai, a despeito de terem cscassjado os males devidos ao can- cro da escravidão. RcferinJo-nos agora á influencia da idade dos casados sobre a fecundidade, diremos que é ella demonstrada á 12 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE evidencia pelos dados estalisticos colhidos sobre este ponto. Deixando de recorrer a outros trabalhos, diremos que as experiências de Salders feitas em Inglaterra a esto respeito, o levaram ao seguinte resultado : que quando a idade do homem e da mulher era inferior a 26 annos, a fecundidade pelo casamento subia a 5,12; quando com- prehendida entre 26 e 36, descia a 4,43, e 3,50 ; quan- do acima de 36, baixava a 2,86, sendo certo que, sal- vas excepções que oceorrem em todos os phenomenos naturaes, as mulheres que casam muito cedo, além de menos fecundas, morrem mais e produzem filhos do- tados de menor vitalidade e vigor, e que portanto estes suecumbem em maior numero-por falta de aptidão á resistência de tantas causas compromettedoras da saúde e da vida. O pequeno numero de casamentos é, como ha pouco dissemos, uma causa de decisiva influencia no desen- volvimento retardado de qualquer população pelo de- crescimento dos filhos legítimos, em que a morte menos devasta nas primeiras idades ;e este facto não pôde dei- xar de ser tomado em muita consideração nesta corte tendo em vista o que nella se passa. A freqüência dos casamentos nesta cidade, onde a vidaé actualmente tão cara ou mais que emmuilas capitães de outros paizes importantes, torna-se tão sa- liente que,indicando o recenseamento feito em 1872, ser a nossa população, nas onze freguezias urbanas, inclu- sive as do Engenho Velho, Lagôi e S. Ghrislovão, das quaes foi desmembrada pirte do território para a crea- ção das de Nossa Senhora da Conceição da Gávea e do Engenho Novo, ser a nossa população, repetimos, de 228.743 almas, faz conhecer que esta população é assim constituída: Livres 191.176, escravos 37.567. Dos primeiros, eram nascidos no Brazil 121.515 ; a saber, 62.012 homens e 58.903 mulheres. DA eiRAÜE DO RIO DE JANEIRO. 13 Estrangeiros 69.661, sendo homens 52.200 e mulheres 16.461. Dos segundos (escravos) nasceram no Brazil: homens 13fü20, mulheres 15.305, total 28.625. Nascidos fora do Império: homens 5.521, mulheres 3.421,total 8.942. Quanto aos estados contavam-se entre os livres : Homens solteiros 90.280, casados 22.167, viúvos 3.365. Mulheres solteiras 51.781, casadas 16.926, viuvas 6.657. Entre os escravos: Homens solteiros 18.655, casados 127, viúvos 59. Mulheres solteiras 18.448, casadas 128, viuvas 110. Resumindo estes algarismos e apreciando-os em com- plexo, vê-se que, ctos 228.743 habitantes que deu o re- censeamento das II freguezias urbanas, eram livres 191.176 e escravos 37.567; Que dos 191.176 livres, eram solteiros 142.061, casa- dos 39.093, viúvos 10.022; Quedos 37.567 escravos, eram solteiros 37.143, casa- dos 255, viúvos 169; Que a proporção dos casados de ambas as condições sociaes para os solteiros era de 1 para 4,55, e a dos viu- vos para os casados de 1 para 3,87, e de 1 para 17,5 solteiros ; Que esta proporção, porém, seria differenle, ficando reduzida á de um casado para 5,22 solteiros, ou de um casamento para 10,50habitantes, e de um viuvo para 3,11 casados, deduzindo da somma dos casados 5.240, que não constituem aqui família, ou a differença de numero entre os dous sexos. Iguaes sinão menos lisongeiros resultados nos indica o mesmo recenseamento em referencia á população das freguezias suburbanas deste município. Delle consta que a população destas freguezias limita- se a 46.229 habitantes; ü ArONTAMENTOo SOBRE A MORTALIDADE Que destes são solteiros 36.691, casados 7.349, viúvos 2.189; Que a proporção dos casados para os solteiros é de um para 4,99 ou quasi cinco, e que a dos viúvos é de um para 3,35 casados, e de 12,28 para os solteiros ; Que, sendo inferior a proporção dos viúvos para a dos casados, parece que a morte ceifa menos casados nestas freguezias que nas urbanas: Si acrescentarmos, porém, em virtude das faltas de que se deve resentir o recenseamento, como é praxe em todos os paizes, uma porcentagem de 10 que nos não parece exagerada para as nossas circumstancias, resul- tará que a população total obtida pelo mesmo recensea- mento, que foi de 274.972 habitantes, se elevará a 302.469. FREGUEZIAS URBANAS. Pelo recenseamento. Com o acerescimo. Pessoas livres................ 191.176 210.293,6 Homens nascidos no Brazil___ 62.612 68.873,2 Mulheres.................... 58.903 64.793,3 121.515 13>'.606,5 ESTRANGEIROS. Homens..................... 53.200 Mulheres........... ........ 16.461 69.661 ESCRAVOS. Nascidos no Brazil........... 28.625 Fora do paiz................ 8.942 37.567 58.520 18.107,1 76.627,1 31.487,5 9.836,2 41.323,7 DA CIDAD3 EO RIO DK JANEIRO. Io Homens nascidos no paiz..... 13.320 14.652 Mulheres................... 15.305 16.835,5 28.625 31.487,5 Homens nascidos fora......... 5.521 6.073,1 Mulheres.................... 3.421 3.763,1 8.942 9.836,2 Total....................... 228.743 251.617,3 Nas freguezias suburbanas a população, que pelo re-* censeamento atlingiu a 46.229 habitantes, eleva-se com os 10 % de acerescimo a 50.851,9 ficando assim clas- sificada : Solteiros........... 36.691 pelo recenseamento. Casados............ 7.349 » » Viúvos............. 2.189 46.229 Solteiros, com o augmento............ 40.360,1 Casados » » ............ 8.083.9 Viúvos » » ............ 2.407,9 50.851.9 Estabelecido este acerescimo, acha-se que o numero dos habitantes livres solteiros eleva-se, nas freguezias urbanas, de 142.061 a 156.267, o dos casados de 39.093 a 43:002 e o dos viúvos de 10:022 a 11:024, resultando destas differenças ficar a proporção dos casados para os solteiros de 1 para 3,63, e a dos viúvos para os casados de I para 3,90. Si, porém, do numero dos casados deduzir-se a cifra de 5.764, differença entre as cifras dos dous sexos, porque ^stes não constituem aqui família, fica a proporção de um 16 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE casado para 4,19 dos solteiros existentes, o que corres- ponde a um casamento para 8,38 habitantes solteiros, ou 83,80 para 1.000. 0 mesmo facto com pouca differença occorre nas fre- guezias suburbanas: a proporção entre solteiros e casados, considerados em globo, é de um casado para 4,99 solteiros, e a dos viúvos para os casados de 1 para 3,36, e de 12,28 para os solteiros. Em face destes dados cremos que se não poderá pôr 'emduvida a pouca freqüência dos casamentos nesta corte, não devendo, portanto, sorprender o pequeno augmento da população nacional entre- nós, á vista destas e de outras considerações que temos desen- volvido, pois que o mesmo facto occorre em todas as cidades que se acham em idênticas condições. E com quanto seja este mal commum á todas as po- pulações nas condições da nossa, nem por isso dei- xaremos de lamental-o e pôl-o patente, afim de que aquellesquetêm o encargo de velar pelos interesses pú- blicos procurem dar-lhe algum remédio com o fim de attenuar seus resultados, tendo em altenção que o ca- samento é a principal base das sociedades, e a salva- guarda dos bons costumes; que por elle se desenvolve e fortifica o amor da progenitura ; se põem em jogo as forças physicas e moraes para assegurar a existência da família, crial-a e educal-a nos princípios da moral e no amor ao trabalho, e augmentar a cifra da população, fazendo decrescer a mortalidade com a diminuição dos filhos illegitimos. Si incontestavelmente o casamento tem as vantagens que acabamos de attribuir-lhe, não ha negal-o, tem ás vezes grandes inconvenientes quando mal encaminhado^ sobretudo neste século, em que a ambição desmedida de ser rico apressa paradesfruetar os prazeres de uma ei- DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 17 Vilisação defeituosa, faz perder a muitos o decoro da dignidade, impellindo-os a actos que esta reprova; e este facto é hoje muito commum no contracto do ca- samento, tornando infeliz um ou outro dos cônjuges, rompendo rápida e gradualmente a harmonia que faz as delicias da vida familiar^ e acarretando outros males aos interesses da sociedade. Muitos casamentos são hoje feitos, não pelo amor que deve ligar dous entes cujos prazeres ou dissabores par- ticipem da mutuidade, mas pelo interesse que d'ahi possa resultar á qualquer dos cônjuges ou de suas fa- mílias. E' assim que muitos homens buscam antes a mulher pela fortuna que lhes pôde trazer, de qu3 por um amor sincero epelosdotes do coração. Os que assim procedem, não attendem de ordinário ao futuro e felicidade da fa- mília, não curam da educação physica e moral dos filhos ; a idéa dominadora do seu espirito é gozar e nada mais, dissipando tudo quanto possuem, e arrastando a família á miséria e ás vezes á degradação, se a mulher não sabe, ou não tem forças para resistir aos infortúnios que sobre ella pesam, quando outra seria sua sorte, se não tivesse entregado seu coração a semelhante homem. Quanta differença entre estes homens e aquelles que sabem cumprir os deveres de esposo e pai> amando a mulher e os filhos ! Estes, cujos desvelos se concentram todos na felicidade da família, buscam em todos os ins- tantes do repouso gozar das delicias que ella lhe pro- porciona, assim como participar dos desgostos que sobre ella pesam; aquelles pelo contrario, deleitam-se com os vícios, enganando a esposa e filhos, deshonrando os outros homens, corrompendo os costumes, e seduzindo essas infelizes que, a troco do luxo e dos prazeres tran- sitórios que lhes provém de allianças illicitas e inde* corosas, entregam-se aos azares de uma vida dissoluta, tornando-se improduetivas e incapazes das funeções da maternidade, ou concorrendo para o augmento dos filho? 4 H. 18 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE illegitimos, cuja educação é de ordinário descurada pelos seus progenitores. Si o facto referido repugna ao homem que respeita e acata as virtudes sociaes e ama a felicidade de sua pátria, desejando que marche na senda de uma civilisação baseada na pureza dos costumes e da moral social, é ainda mais repugnante, que um pai ou umamãi entregue sua filha a um homem cujos costumes não conhece, ou mesmo sabe que não são regulares, a titulo de livrar-se da sua guarda, só porque este homem possue fortuna. O pai que assim procede, além de commetter um acto de deshumanidade, torna sua filha infeliz, sobretudo quando o coração desta repugna tal casamento, ou nutre inclinação á outro homem, pois que deve conhecer que o coração da mulher não está sujeito á estimativa de qualquer preço, « que a mulher cede antes ao amor do que ao dinheiro ; que o amor é de todas as paixões aquella que as mulheres experimentam e exprimem mais vivamente; que elle faz o attractivo da sua vida, é a alma de seus pensamentos e o idolo do seu coração ; que assim como a mulher éo melhor amigo do marido, quando o ama sinceramente, é também o inimigo mais cruel quando o detesta.» D'ahi o perigo de taes casamentos, em que a mulher é contrariada no objecto de suas affeições, contrariedade que ella jamais esquece, e que antes reaviva o amor que consagra a outrem, condição esta que pôde acarretar desgostos e contrariedades na família e a morte moral da mulher, como lhe traria a vida e satisfação a posse do objecto de seu amor. Pondo á margem outras considerações que suggere a DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 19 importância do assumpto que ora nos occupa, para nos não afastarmos da intenção que annunciamos no princi- pio deste trabalho, deixaremos de fazer mais extensas apreciações para seguirmos na nossa exposição, referin- do outras causas que podem influir de modo sensível no decrescimento das populações consideradas em estado collectivo. Uma dessas causas é o exercício immoderado de certas funcções, mormente das intellectuaes, e os excessivos trabalhos a que o homem se entrega em desproporção ás forças do seu organismo, trazendo taes excessos o des- equilíbrio dos phenomenos vitaes e da vida vegetativa, e rompendo a lei de equivalência que os regula e que explica porque o excesso no exercício de certas func- ções prejudica o de outras, explicação a que se adapta o seguinte pensamento de Darwin—si a seiva afflue para um órgão em excesso, deixa de affluir para outro, ou afflue em pequena quantidade. Este asserto encontra com especialidade uma prova de valor no estudo da acção que sobre a vida vegetativa, em detrimento das funcções da reproducção, produz o exercício immoderado das funcções intellectuaes. Sua influencia sobre taes resultados é tão saliente que para reconhecel-a basla recorrer á historia dos homens que se têm illustrado nas artes e sciencias. Estamos mostra que a reproducção nelles, além de escassa, dá em resul- tado final a degeneração da raça, e mesmo a sua extinc- ção gradual, de modo que pôde se sustentar que tanto menor é a reproducção e menos apta a raça a certos com- mettimentos, quanto maior éa producção intellectual, sobretudo si esta é auxiliada por estímulos artificiaes empregados com o fim de augmentar o vigor dos órgãos fatigados por trabalhos assíduos e em desproporção ás forças do organismo. Semelhante pratica, não só é prejudicial á saúde geral, mas também á própria intelligencia ; porque, como 20 ArOXTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE mui bem diz o Sr. Proust (1), si ha homens que, por uma graça especial de sua organização, podem offender impunemente todas as regras da hygiene cerebral, não é menos verdade que a mór parte d'entre estes acaba cedo ou tarde por soffrer o castigo de sua imprudência. Isto não quer dizer que o trabalho forçado do espirito annulle sempre as funcções da reproducção, por isso que ha exemplos de desenvolver elle um ardor genesico, embora fictício, que é o signal de excitação dos centros nervosos; não quer dizer também que os sábios não possam produzir homens iguaes, por isso que não ha regra sem excepção, e sim que o facto opposto é mais geral e quasi commum, sobretudo entre aquelles que se entregam á vida política. E sem ir procurar exemplos em outra parte, recorreremos aos fastos de nossa própria historia, e perguntaremos quantos homens gyram hoje na orbita da nossa política que façam rememorar o nome dos eminentes estadistas e administradores que constituíram o tronco da família? Bem poucos sem du- vida. Seja como fôr, é facto incontroverso, em face dos es-. clarecimentos que nos proporciona a historia, que a faculdade de reproducção nos homens eminentes nas sciencias, nas artes, na industria, etc, definha em cada geração successiva,e sua raça degenera, talvez em razão das perturbações experimentadas pelo excessivo traba- lho do espirito, e as modificações e alterações successi- vas que trazem éllas ao jogo regular das outras funcções do organismo. Além das causas apontadas, ha outras que prestam seu contingente para o decrescimento de uma população, contando-se entre as principaes: (1) Proust—obra citada. DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 21 Os casamentos entre consanguineos., dando origem a muitos casos de esterilidade e de moléstias quasi sem- pre incuráveis, ou diflicilmente curaveis, sendo que os casos em contrario, ás vezes observados, não podem au- torizar a sustentar opinião diversa, devendo ser consi- derados como excepção á regra geral. Este facto, que é perfeitamente explicado pelo nume- ro avultado de algumas moléstias procedentes da con- sangüinidade em certas localidades, pela freqüência de casamentos entre pessoas da mesma raça e de iguaes crenças religiosas, é commum entre nós, em algumas famílias, que se não cruzam sinão entre parente^, e mes- mo em grande parte da nossa população, effecluando-se freqüentemente casamentos entre primos do l.°e 2.° gráo. A esta causa suppomos que se pôde attribuir a pouca ou quasi nenhuma fecundidade de algumas mulheres casadas, como temos observado em muitas incluídas nesta classe, cm virtude de abortos freqüentes a que estão sujeitas; o dcsapparecimento na 2.a e 3.a geração de algumas famílias era que actua a diathese tubercu- losa, nas quacs em geral avulta entre nós a faculdade da procreação ; a somma considerável de crianças dota- das de fraqueza congênita, e que fornecem grande con- tingente á mortalidade dos recém-nascidos; finalmente o elevado numero de mortes devidas a convulsões nos primeiros mezes após o nascimento sem causa apreciá- vel ou presumível que as explique, e sobre cuja termi- nação fatal pôde o clinico habituado a observal-as pronunciar-se desde sua manifestação. Outra causa importante da maior mortalidade e da devastação das populações é a da sua condensação, mor- mente quando demoram junto de lugares insalubres, e suas habitações são construídas sem as condições de hygiene precisas ; porquanto, além das moléstias devidas. ás perturbações pbysiologicas a que se sujeitam, respi- rando um ar impregnado de elementos deletereose que> 22 APONTAMENTOS SODRE A MORTALIDADE minando-lhe a existência lentamente, ou com mais ou menos rapidez, dão lugar a uma mortalidade exagerada, são as que maissoffrem nas epidemias zygmoticas, muito principalmente os não acclimados. A influencia decisiva desta causa é tão patente e apre- ciável entre nós, que não nos cansaremos em demons- tral-a, bastando, além de outras causas, chamar a atten- ção para as condições de saneamento desta cidade, e para os inimitáveis cortiços, em muitos dos quaes podemos, sem temor de ser acoimados de exagerado, dizer que muitos de seus habitantes estão já sepultados em vida. Outras causas ainda contribuem para devastar as po- pulações e atrazar seu desenvolvimento, sobresahindo entre as sociaes a miséria e as privações experimentadas pelas classes menos favorecidas da fortuna, asrevoluções políticas e a guerra com todas as desgraças que lhe são inherentes. A acção destas causas não se tem por ora feito notar muito nesta capital, porquanto a miséria e as privações só se fazem sentir para aquelles que não querem buscar os meios de subsistência por um trabalho regular explo- rando sempre a caridade publica tão ampla nesta corte, quando não recorrem a meios reprovados para obter os de remediar os males de que elles próprios são os agentes motores, por ignorarem sem duvida que, si os trabalhos excessivos e em desproporção ás forças acti- vas do organismo podem prejudicar, a saúde, a ociosi- dade é a mãi de todos os vícios que degradam a hu- manidade, entre os quaes mais avultam o da embria" guez, do roubo e da prostituição com suas terríveis con- seqüências. As commoções políticas também pouco têm influído nesta corte; por isso que nenhuma de algum vulto ha apparecido que nos tenha feito lamentar a perda de DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 23 muitas victimas, nem transtornado o mecanismo ad- ministrativo ou acarretado perseguições políticas que tenham sobresaltado a população. As guerras também não nos têm apouquentado muito sob o ponto de vista que ora nos occupa,quér as civis, quer as externas que o Império tem sustentado, a antiga Cisplatina, a provocada pelo dictador Rosas* a movida pelo tyrannodo Paraguay, porque, além dos longos pe- ríodos que têm mediado entre uma e outra, a maior força dos homens d'aqui enviada, e que tem alii pago o tributo daaniquilação, quer por effeito dos combates, quer das epidemias manifestadas nas fileiras do exer- cito, não pertencia á população desta capital e sim aos contingentes enviados a ella por todo o Império para marcharem ao lheatro da luta. Acabando aqui a exposição summaria das causas que, em todos os paizes, mais influem na cifrada mortalida- de c pouco desenvolvimento das populações, fazendo leves apreciações com referencia ao que occorre nesta cidade, entraremos no estudo da parte especial do nosso trabalho. Para guardar, porém, certo methodo eordem em sua organização, referiremos primeiro os dados colhidos do recenseamento feito em 1872 com as apreciações que jul- garmos convenientes á elucidação do problema de que nos occupamos, e depois entraremos no estudo da mor- talidade das crianças, das causas de morte mais fre- qüentes nas primeiras idades, e por fim das proporções desta cornos nascimentos. i'í APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE CAPITULO III. Summario.—Mortalidade das crianças. Pela analyse do citado recenseamento conhece-se : í.° Que em todo o município existiam 5.060 crianças até 11 mezes de idade, sendo 2.693 do sexo masculino c 2.364 do feminino, inclusive 10 escravos, cinco homens e cinco mulheres; 2.° Que de um anno havia 3.563livres, sendo 1.892 homens e 1.671 mulheres; e 487 escravos, 246 homens c 241 mulheres, dando um total para esta idade de 4.050, a saber: homens 2.138, mulheres 1.912; 3.° Que de dous annos havia 4.389 livres: 2.316 ho- mens e 2.073 mulheres; e 736 escravos: 392 homens e 344 mulheres; o que eqüivale ao total de 5.125 nesta idade, 2.708 homens e 2.417 mulheres ; 4.° Que de três annos existiam 4.231 livres, sendo 2.151 homens e 2.080 mulberes, e 631 escravos, 321 do sexo masculino e 310 do feminino, ou Um total de 4.862 para esta idade, 2.472 homens e 2.390 mulheres; 5.° Que a cifra dos de quatro annos attingia para os livres a 3.939, sendo do sexo masculino 2.020 e do fe* minino 1.919 ; para os escravos a 638, sendo homens 338, mulheres 300, havendo por conseguinte nesta ida- de o total de 4.577: a saber 2.358 homens e 2.219'mu- Iheres; 6.° Finalmente, que na idade de cinco annos exis- tiam 4.044 livres, 2.103 homens e 1.941 mulheres, e 626 escravos, 300 homens e 326 mulheres, perfazendo as sommas indicadas o total de 4.670 e sendo do sexo mas- culino 2.403 e do feminino 2.267. Resumindo estes dados chega-se ao seguinte resultado, que a população nacional, inclusive os escravos, até cinco annos de idade subiaa 28.341, assim distribuída : DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 2S Até 11 mezes 5.060 sendo homens 2.696 mulheres 2.364 Del anno 4.050 » » 2.138 » 1.912 De 2 annos 5.125 » » 2.708 » 2.417 De3annos 4.862 » » 2.472 » 2.390 De 4 annos4.577 » » 2.358 » 2.219 De 5 annos 1.670 » » 2.403 » 2.267 Total... 28.344 14.775 13.569 Si á estas somraas juntar-se os 10 °/0 indicados subi- rão ellas ás seguintes : Recenseamento. Augmento. De 11 mezes..... 5.060 5.566 Dclanno......... 4.050 4.455 De 2 annos......5.125 5.638,5 De 3 annos...... 4.862 5.348,2 De 4 annos.....4.577 5.034,7 De 5 annos..___ 4.670 5,137 Total........ 28.344 31.179,4 Os dados expostos mostram com evidencia que é maior o numero dos nascimentos no sexo masculino que não no feminino, facto este que é ainda comprovado pela es- tatística da mortalidade; mostram igualmente que o numero das crianças existentes em toclo o município de idade menor de um anno com o acerescimo de 10 °/0 es- tava na razão de 18, 40 para 1.000 da população, as de um anno na de 16,20, as de dous na de 20,57, as de 3 na de 19,44, as de quatro na de 18,30, as de cinco na de 18,68. Estes algarismos demonstram que as menores pro- porções se encontram nas idades de um anno , de quatro e de cinco, circumstancia que não convém cs- 5 H. 26 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE quecer para, quando tratarmos da estatística da morta- lidade, poder-se bem apreciar as relações de proporção desta e o decrescimento que soffre a população nos pe- ríodos referidos. Demonstram igualmente que toda a população infan- til comprehendida nos cinco primeiros annos de vicia, sempre com o acerescimo dos 10 °/0 estava na propor- ção de 10,63 °/o Para a somma geral da população, e de 18,87 para a da nacional considerada em globo; Que, tomado o termo médio dos cinco primeiros an- nos da vida, reconhece-se que toca a cada anno 6.235 crianças sujeitas ainda a todas as contingências, cifra por certo pouco lisongeira e demonstrativa da pouca fecundidade da população desta corte, ou de grande mortandade nas primeiras idades; Que, finalmente, é excessivamente dizimada até com- pletar os 20 annos; por quanto, segundo consta do mesmo recenseamento, apenas encontrou-se com a idade de 16 a 20 annos em todo o município a diminuta cifra de 30.880, cifra em que se acha englobada a dos filhos das províncias aqui domiciliados, que muito ele- vada é nestas idades, concorrendo para atlenuar a pro- porção das perdas experimentadas pelos nascidos nesta cidade. Ê de feito, tendo nascido no período decorrido de 1852 a 1872 nas freguezias urbanas 118.538 pessoas segundo os dados por mim colhidos e constantes do mappa infra (6) com 10 7o de augmento, e lendo nascido provavel- mente nas parochias suburbanas dentro do mesmo pe- ríodo, 29.634, ou 25 % dos nascidos nas outras fregue- zias, com o mesmo augmento de 10 °/0, dandoas duas ci- fras reunidas o total de 148.172, segue-se que, deduzidos 1845—4163 1846-4338 iVw—4513 1S48—4: 70 17080 1849—3013 1853—4404 1837—4764 1850—4529 1854—452711838—43 SO 1831—402ÍK53-5249 1852— 52.;W|1S36—4839 18824 19019 1859—5058 1860—320J 1941'; 1861—5042 1*62—53 li 1863—5024 1864—5353 20733 1865—4959 1866—5104 1867—529.3 1868—5384 20740 1809—4788 1870—5642 1871—C085 1872—G086 2260» DA CIDADE LO RIO DE JANEIRO. 27 108.720 que deu o recenseamenlo para a população na- cional de 1 mez até 20 annos, ler-se-hiam perdido só 1.972,6 annualmente dos nascidos aqui, si os encontra- dos pelo recenseamento na idade de 16 a 20 annos fos- sem todos fluminenses, o que eqüivaleria á proporção de 20,09 mortos por 100, ou 200,9 por 1.000 dos nasci- dos, até completar-se o período de 20 annos. Não sendo, porém, os 30.880 só fluminenses, mas es- tando comprehendidos neste numero também os filhos de todas as províncias de 16 a 20 annos, que aqui vivem em companhia de seus pais, os que freqüentam os cursos de ihstrucção secundaria e superior, os empregados nos estabelecimentos públicos e particulares, os alis- tados no exercito e armada, é intuitivo que tal pro- porção se afasta absolutamente da real, relativamente ás perdas soffridas pelos nascidos nesta corte, as quaes de- vem muito exceder daquella cifra ; e esta asserção é # justificada e provada pelo numero de perdas das pri- meiras idades, como vai mostrar a comparação destas coma cifra dos nascimentos no ultimo quinquertnio ni- terior ao recenseamento, da qual passaremos sem demora a oecupar-nos. Neste período as tábuas da mortalidade das crianças até 4 annos fornecem os seguintes da !os : Que nasceram mortos 2.102, sendo 1.225 do sexo mas- culino e 877 do feminino ; Que 281 pertencem ao anno de 1868; 391 ao de 1869; 428 ao de 1870; 500 ao de 1871 ; 502, finalmente, ao de 1872, revelando estes algarismos que sua proporção tem augmentado nos dous últimos annos de modo sensível. Nesse mesmo período a cifra das crianças que morre- ram dentro dos primeiros quatro annos de vida subiu a 9.440, sendo 3.285 fallecidos em dias, 3.204 em mezes e 3.951 de 1 a 4 annos, ou 3.146, termo médio, cm cada um 28 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE dos quatro annos nelle incluídos; sendo certo que esta cifra tem augmentado de 1869 em diante, como paten- leam as seguintes eifrasannuaes : Annos dias mezes i a 4 annos 4 a 7 annos. Totai 1868 408 278 319 .225 1.230 1869 ■ 663 719 908 220 2.513 1870 705 702 940 233 2.580 1371 72o 791 901 2i2 2.642 1872 781 3.285 711 3.204 883 3.951 400 1.300 2.775 Total 1.1:740 Ora, montando a cifra dos baptisados dos calholicos neste período, ou quinquennio, como consta dos assen- tamentos nas parochias urbanas, a 28.585; segue-se que, juntando a esta cifra mais 2:858, ou 10 °/„ para os bap- tisados segundo outros ritos e os que não compareceram á baplismo, teremos um total de 31.443 nascimentos ;e que, tendo fallecído nos quatro primeiros annos 9.440 crianças, a proporção da mortalidade nesta phase da vida regulou 30,02 %, ou 300,2 por 1.000 nascimentos, assim como que na primeira infância, ou até 7 annos, juntando os 1.300 mortos de 4 a 7 annos sobe ella a 37, 23 % ou 372,3 por 1.000, ou apenas mais 7,23 do que no período antecedente, o que torna bem patente o de- crescimento da mortalidade neste ultimo período. Esta cifra tão avultada da mortalidade, em falta de certas causas que concorrem em outros paizes, acha tal ou qual explicação na superabundancia dos filhos natu- raes sobre os legítimos, sendo, como se sabe, sempre exagerada.em toda a parte a perda daquelles. Em França é tão notável que, segundo os trabalhos do Sr. Berlillon, orça nas cidades e nos meninos de 0 a 1 anno em 360 por 1.000, e no campo cm 634, sendo certo que é ainda maior cm certos districtos, pelo que consta de um discurso do Sr. Ilusson, archivado lio bo- DA CIDADE D') RIO DE JANEIRO. 20 lelim da academia de medicina de Paris, no qual sus- tenta que a mortalidade dos filhos legítimos é de 220 para 1.000, no entanto que a dos illegitimos sobe a 870 e 900 em alguns departamentos, de modo que só chegam à idade madura Vio destes meninos. Estas proporções tão consideráveis da mortalidade na infância em um paiz onde mais de cem mil meninos dados a criar morremannualmenle de fome, de miséria, de falta de cuidado e vigilância, como opina Brochard, c onde, diz o Sr. Bertillon, que um menino nascido tem menos probabilidade de viver uma semana que um homem de90 annos, e menos ainda de viver um anno que um octogenário, não devem sorprender , e não podem jamais attenuar os males que a este respeito soffremos em face de nossas condições sociaes. Deixando, porém , de parte as considerações que suggere este as- sumpto, volvamos ao fio de nossa exposição. As moléstias que maior numero de crianças arrebata- ram nos períodos indicados foram : A fraqueza congenial 859, sendo homens 471, mu- lheres 388. Em dias, 755; em mezes, 73; de 1 a 4 annos, 6; de 4 a 7 annos, 4 ; e em outras idades, 21. O tetanos dos recém-nascidos, 1.226; homens 722, mulheres 504. Todos nos sete ou nove primeiros dias. Convulsões idiopaticas ousymptomaticas, 1.534, sendo cm dia;, 165; mezes, 595; de 1 a 4 annos, 650; de 4 a 7 ditos, 40; outras idades, 84. Moléstias do apparelho digestivo com exclusão do anno de 1868, em que não estão discriminadas segundo as idades no quadro morluario respectivo, 1.719 ; a saber: 295 cm dias, 700 em mezes, 630 de 1 a 4 annos, 94 de 4 a 7 ditos. Tuberculos mesentericos 1.007, sendo 4 em dias, 240 em mezes, 705 de 1 a 4 annos 58 de 4 a 7 ditos. Aphthas 345; 270 em dias, 68 em mezes, 6 de 1 a 4 annos, l de 4 a 7 ditos. 30 APONTAMENTO? SODRE A MORTALIDADE Meningo-cncephalitis 6ió, sendo 11 em dias, 222 em mezes, 325do 1 a 4 annos, 82 de 4 a 7 ditos. Destas observações collige-se : que morreram mais crianças do sexo masculino de que do feminino, atten- dendo-se ao que mostra a estatística sobre as duas pri- meiras doenças, porque o mesmo facto succedeu com as outras, não nos sendo possível fixar o numero de cada sexo por estarem as idades confundidas nos dous. Este resultado está em harmonia com o dos nascimentos, cujo numero, como já ficou provado, predomina no sexo masculino. Collige-se também: que a fraqueza congenial arrebata a maioria das crianças nos primeiros dias; que o mesmo acontece com oletanos eas aphthas, avultando especial- mente as viclimas destas entre os meninos abandonados (engeitados); que as victimas das convulsões e da me- ningo-encephalilis, pelo contrario, são mais communs á aproximação do complemento de um anno, e mais ainda no período de 1 a 4annos; que as moléstias do ap- parelho digestivo fazem mais viclimas nos mesmos períodos, e os tuberculos mesentericos no de 1 a 4 annos especialmente. CAPITULO IV. Summaiíio.—Causas que mais influencia exercem na morta- lidade das crianças entre nós. A notável differença que se observa nas moléstias que maior copiado vidas arrebatam nos diversos pe- riodosda infância, depende de causas especiaese phy- siologícas que podem ser, ainda que com difficuldade, apanhadas pela investigação altenciosa dos factos que se succedem a este respeito, causas provenientes não só da má direcção physica e moral das crianças, como da influencia que sobre sua manifestação exercem as con- DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 31 dições do organismo de seus progenítorcs, as quaes também por seu domínio em alto gráo explicam até certo ponto o avultado numero de crianças nascidas mortas. Estas condições subordinam-se, ou antes dependem de infracções ás leis de hygiene em conseqüência de vicios contrahidosem nossos hábitos, e costumes, que per- turbam o desenvolvimento orgânico, rompendo a har- monia funccional indispensável, e acarretando uma serie de males aquelles que se vão succedendo nas ge- rações futuras, e que se não podem remediar ás vezes nas primeiras. Si assim é, e si na mulher tem o desenvolvimento or- gânico o seu primeiro invólucro, como em suaphrase poética disse perfeitamente o nosso distinctoe illustre collegaDr. Luiz Corrêa de Azevedo (1), visto existir nella o órgão incubador do novo ser, órgão influen- ciado por todas as funcções, quer physicas, quer moraes, torna-se evidente o extremo cuidado de que se deve cercar a educação physica e moral da mulher desde o principio de sua existência para imprimir ao seu desen- volvimento orgânico toda a aptidão precisa ao comple- mento do grande fim de sua creação, e para que delia possam provir seres que resistam áacção das causas que tendem á destruição da espécie, e não typos enervados e incapazes de substituir a raça de que dependem. Entretanto como se cuida entre nós da educação da mulher, geralmente fallando ? De um modo pouco con- sentaneo áquelle que se deve adoptar, e ao qual deve- mos em parte a decadência da nossa raça, e o numero considerável de perdas que se observam na infância em ausência das causas que actuam em outros paizes na pro- ducção destes tristes resultados. A mulher é incontestavelmente nas sociedades civili- sadas o principal elemento da regeneração do homem; {l) Annaes Drazilienses de Medicina-vol. 2i. 32 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE mas, para que possa cila satisfazer a esta grande missão que lhe está confiada, torna-se indispensável que se lhe dè uma educação especial e conveniente, e o grào de instrucção necessária parabém encaminhar os filhos, cnsinando-lhes desde cedo os princípios da religião e da moral, e incutindo-lhes no espirito o amor da pátria e os deveres para com os outros homens afim de tornal-os cidadãos úteis, c não aquella que é hoje preferida, mor- mente entre a sociedade mais favorecida, de propor- cionar-lhe a freqüência dos bailes, theatros e outros divertimentos de igual quilate, que só servem para tornal-a pretenciosa e cheia de vaidade ; e, o que é ainda peior, arruinar-lhe a saúde pela infracção de todos os pre- ceitos hygienicos em uma época em que convém respei- tal-os, para não perturbar a marcha regular no desen- volvimento dos órgãos que concorrem mais activamente aos grandes íins a que a destinou o Creador. Para demonstração deste asserto deixaremos fallar o distinc to collega a que ha pouco nos referimos e com cujas opiniões estamos em pleno accôrdo, visto como não o poderíamos fazer nem melhor, nem com mais brilhan- tismo. « O desenvolvimento de nossas mulheres está subor- dinado a todos os agentes externos e internos que. o de- terminam. Desde criança, ou alimentada inconvenien- temente, ou aos seios de uma ama de raça africana, ou indígena, no geral mulheres sujeitas a moléstias chro- nicas da pelle, hereditárias ou não, tem ella inimigos que a desprotegem no meio de carinhos, de.sorrisos, e de um demasiado amor que enerva. « As moléstias do fígado, dos órgãos da respiração e dos intestinos, a que quasi em geral estão sujeitas desde a infância, as enerva e muito mais o são na presença de exagerados cuidados contra a influencia do ar livre. dentro da alcova, ou compartimenlos de casas, não adap- tadas ao clima. Criança cachelica,envolvida sempre em vestuários comprimentes, prejudiciaes ao desenvolvi- DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 33 mento-das vísceras, e por conseqüência actuando sobre o utero, órgão por cxcellençia digno de attenção no des- envolvimento das primeiras idades da mulher. « Dos 7 aos 12 annosentregue.a collegios, cujas con- dições nunca são favoráveis, cujaS futeis, e quiçá mer- cenárias vista^ nunca admittem nem regras bygienicas, nem tão pouco aquelle innocente cuidado na moralidade das idades juvenis. Esíes cinco annos, em real desper- dício da saúde do corpo eda saúde da alma, ajuntam a todos os inconvenientes trazidos pela ignorância, ainda mais o apparecimento da leucorrhéa, morestia muito mais generalisada do que se supjpõe nos collegios. A criança é magra, anêmica, nervosa, susceptível, de saúde precária ; é sujeita a todos os males provenientes da circulação, e da innervação....... « O que o desenvolvimen-to orgânico.pôde ser nos me- ninos em taes condições, nós o. avaliarmos, e muito mais quando se pensa na quantidade dos máos livros e dos máos costumes que a moda, a faluidade e a ignorância põem entre as mãos daquelles seres interessantes para a humanidade..... « A educaçfo é um conjurrclo de sentenças moraes, religiosas e hygienicas, que, desenvolvendo a alma, o coração, o corpo e o caracter, tornam o indivíduo apto á curar de si, dos seus e dos seus semelhantes, é o agen- te supremo que policia o homem e que lhe dá a medida dos seus deveres para com Deus e os outros homens. A educação requer conhecimento de deveres e de regras que se tornam outros auxiliares da conservação ; e é tão sagrado ámulher cuidar da sua conservação, como da do feto de que a natureza a encarrega' durante nove mezes de gestação. Sem se annunciar á criança o que tem de ser a mulher como mãi, vai-se comtudo impri- mindo nella aos poucos essa*paciência, essa brandura, eíse caracter, espirito mimoso e atilado que constituem a melhor prenda da mulher posta em família. « A educação é e deve ser a transmissão das sentenças (i h. 34 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE e desígnios divinos a respeito-da mulher, quando lbe entregou a faculdade da maternidade. Faltar a estas .. regras epreceitos énão comprehender,ou não respeitar a divina missão da humanidade, cuja civilisação adian- tada consegue milagres ás vezes nos conhecimentos das sciencias positivas. » E, pois, cumpre dirigir"com o maior cuidado a edu- cação physica e moral da mulher, no interesse da sua conservação, como da de seus descendentes, da fecun- didade e moralidade publica. Entretanto, como hoje se inicia a educação physica e moral das crianças em quasi todos os pajzçs cultos e*ho nosso? Começa-se em geral, por supprir o aleitamento ma- terno pelo mercenário, como se faz na maioria das fa- . miliasque-têm recursos, pagando-se a peso de ouro o germen de numerosas moléstias que se desenvolvem no decurso da vida;.quer do homem,-quer daquella que _ um dia tem de ser mãi, por isso que algumas mais - por enfraquecimento natural de seu organismo, não po- dendo satisfazer ao mais sublime dos deveres da mater- nidade, a isso são forçadas; e outras e em* grande numero, como diz o distincto e illustrjido collega p Dr. Nicolau Moreira (1) «levadas pela ostentação ou pelo desejo de gozarem mais facilmente dospnazeres €a vida, evitam quanto podem o primeiro dos deveres maternaes, entregando os tenros -fructos de suas en- tranhas aos cuidados de quem nenhum amor sincero e puro pôde votar ao objecto que se lhe confia. » Triste e doloroso proceder que tende, desde os primei- . ros dias do novo ser, a preparar-lhe maátes que, ou surgem logo abreviando-lhe a existência, ou guardam-se para fazer suas evoluções nas idades subsequentes, per- turbando o desenvolvimento orgânico, perturbação para (1) Discurso sobre a educação moral da mulher, pronuncia-do na sessão solemne da Academia Imperial de Medicina em 30 de. Dezembro de 1868. " • DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 33 a qual prestam valioso concurso outros elementos que a sociedade, moderna offérece. em larga-escala, e que, .transmittindo-se de geração em geração, constituem a origem da degenerarão e enfraquecimento das raças. E si este habito é prejudicial a ambos os sexos por motivos óbvios, á vista das considerações expendidas, muito mais o é em referencia á educação physica e moral da mulher em virtude das funcções da materni- dade que mais tarde será chamada ã preencher, atten- dendo a que hella se inicia o desenvolvimento orgânico- do novo ser, como já dissemos, o qual será tanto mais regular quanto mais robusto emais são foro organismo da mulher. ■ Mas" que importa tudo isto na é"po"ca actual,«a despeito dos" perigos sociaes que arrasta uma geração enfraque- cida e enervada, aquelles para que a felicidade da fa- mília mede-se pela fortuna que se possue, e não pela saúde e união dos cônjuges, vigor d*a prole,, e felicidade que se desfrúcta no lar doméstico, em grande parte devida á constituição vigorosa da mulher e á sua edu- cação moral, base principal da felicidade da família, tendo aqui tada a applicação o justo e acertado con- ceito, com que o distinclo collega a que acabamos de referir-nos, escrevendo sobre a educação moral da mulher, e occupando-se do casamento, assim se enun- cia : «O casamento não é mais esse laço das famílias formado pela mão de Deus e elevado pela igreja â* dig- nidade* de sacramento; não é mais aquella sagrada alliança que a esperança embelleza, a felicidade con- serva e a desgraça fortifica ; não-é mais. essa hygienica união, cujo resultado séria a fecundidade, a longevidade e a moralisação.» . E por certo, desde que o casamento não se origina de um amor reciproco entre os contrabentes, e sim 36 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE do interesse e egoísmo das famílias, em lugar do con- tribuir para a felicidade-dos cônjuges, é o pomo de discórdia e de infelicidade para ambos, de sua pouca , fecundidade, e de menor longevidade pelo tumulto das paixões que arrasta após si, as quaes, além de trazerem grandes desgraças para a família, não só imprimem no coraçzfo dos filhos sentimentos pouco generosos, avista dos máos exemplos de que são testemunhas, mas ainda concorrem para-o decrescimento da prole, tor- nando a mulher menos fecunda, e banindô-lhe do espi- rito os cuidados e amor dos filhos. Ao primeiro passo prejudicial ao desenvolvimento orgânico dos meninos e á pureza e conservação da raça, dado com a amamentação por amas mercenárias tão fre- qüente entre nós,"já pelo caprichoe vaidade de algumas mais de família, que preferem aos deveres da materni- dade os prazeres que a sociedade lhes offérece, já pela fraqueza orgânica de que são dotadas a mór parte de nossas mulheres, em virtude dos máos hábitos contra- tados em nossa vida social, vem juntar-se um outro não menos prejudicial nas primeiras idades, o daamamen-; • tação artificial, que tanto concorre para»a freqüência da inanição, a qual também pôde ser o resultado de uma nutrição insuficiente, como se observa com freqüência. em outros paizes, mormente nas classes pouco favore- cidas da fortuna. Mais tarde vem ainda juntar-se o abuso de uma ali- mentação excessiva, imprópria e inconveniente ás ida- des em que é empregada, resultando umas .vezes pertur- bações violentas que acarretam promptamente a morte, outras vezes fracas, pervertendo lentamente ,as func- ções digestivas e acabando por entreter uma super- excitação permanente do apparelho cespeclivo e seus annexos, constituindo-se o motor das numerosas mo- léstias desteapparelho, a que tantas crianças succumbem no perrodo sobre que versa este trabalho, e naquelles que sobrevivem o principal agente do desequilíbrio DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 37 funceional pela falta de harmonia, no desenvolvimento orgânico,, dando origem a uma constituição enfraque- cida e pouco apta'á resistência das causas externas e internas qne compromettem a saúde e á vida. Ajuntai a isto as vestimentas impróprias ao nosso • clima, mas que a moda e a civilisaçaó exagerada têm introduzido em nossos usos. a educação liberrima que se dá á nossa mocidade, na qual -o menos de que se cuida é de imprimir-lhe os princípios de moral e de lhe fazer sentir o respeito que devem guardar para com os outros, sobretudo para os mais velhos; o-encargo dessa "educação a homens'que mais interesse têm em agradar aos pais, do que cuidar da saúde moral e phy- sica dos meninos que estão confiados á sua guarda' porque d'ahi lhes provem interesses mais reaes e po- sitivos; a falta de conselhos dos pais, de cuja companhia se afastam cedo; em busca de instrucção nas grandes cidades, para evitar os escolhos a que o ardor e Ím- peto das paixões os conduzem, consumindo-llies as fonças' pelo abuso da liberdade de que gozam nos • grandes centros de população, e pelos excessos a que se entregam; finalmente a diffusão do virus syphilitio com todo o seu cortejo de conseqüências funestas em face do incremento da prostituição, e ter-se-ha, em traços largos, esboçado o quadro das condiçõesque em maior escala contribuem para a somma avultada de. crianças que aqui morrem nas idades indicadas neste tra- balho, do não pequeno numero das que morrem na adolescência e no principio da virilidade. E na verdade .que se pôde esperar de uma geração em que a marcha regular do desenvolvimento orgânico é embaraçada por tantas causas enervantes ? Certamente outra que traga desde o berço o germen' das. perturbações physiologícas e orgânicas dos que lhe deram o ser, e que mais se accentu"nri pela- herança, a ponto de arrastar a degeneraçãô.progressiva da raça. E isto que o raciocínio inductivo nos leva a conjec- 38 . JCPONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE turar, a estatística demonstra em.presença do .maior ou'menor predomínio da'mortalidade por algumas mo- léstias em certos períodos da infanefa e outrosrf- A confirmação deste asserto dá-a o exame analytico das 'cifras conhecidas pela estatística, como vamos mostrar entrando em sua analyse. Por^lla conhece-se que#no período referente a este trabalho, quinquennio de!868a 1872, nasceram mortas. 2.102 crianças, 1.225 do sexo masculino e 837 do fe- minino, das quaes nos não occuparemos, não só porque se não designam as causas presumíveis da morte, nem a idade provável de vida intra-utorina, -como também porque muitas dessas causas podem ser accidentaes e independentes das condições do desenvolvimento or- gânico da mãi, de seu estado de saúde, e do do pai,e pouca ou nenhuma vantagem poderia resultar de um tal'estudo sem dados regulares em que"se .firmasse. Lançando, portanto, á margem a apreciação deste facto que nos deve entristecer, oecupar-nos-hemos com a analyse das cifras da mortalidade das crianças nascidas vivas, buscando nesse estudo òconhecimento provável * das causas que mais actuam nas diversas . phases da vida da infância. CAPITULO V. Summario. — Estudo das causas pela* analyse da estatística.- ' Da taboa da mortalidade já.indicada consta que dás 11.740 crianças fallecidas até a idade de 7 annos, 3.285 morreram em dias, ou antes de co*mpletar um mez das seguintes moléstias: Fraqueza'congenial___........... 775* - Tetanos........•................. 1.226 Moléstias dos órgãos digestivos. .. 295 DA CIDADE DO RIO DE JANEJRO. 39 Convulsões..................... 295 ' Aphthas___.'.......___........ 270 Meningo-cncephalitis............ 11 Tuberculos mcsentericos......... *4 Total ."___........#. 2.876 Deste quadro se collige que para todas as outras mo- léstias, inclusive as das vias respiratórias, que e.m al- guns annos-climatericos"'ceifam bastantes vidas neste período, fica apenas a quota de 409fallecimentos. Este facto succedidoem um período, em que as maio- res cautelas se -empregam para livrar as crianças da ' ar;ção nociva dos agentes externos e internos q-ue sobre ellas podem actuar, é muito significativo e torna pa- tente a pouca aptidão á vida de tpdas as fallecidas neste período, e a enervação de que se resentiam os orga- nismos de seus progenitores pelo concurso -de causas physiologícas diversas, cujo estudo especial poderia orientar-nos sobre o conhecimento daquellas que maior influencia exercem na-producção deste triste resultado, .para o qual,' entretanto, não é no meu fraco entender' uma das menos influentes a diffusãodo virus syphílitico em presença de nosso mecanismo social. Patentêa. ainda mais-, que sua acção não se extingue neste período, que auxiliadas pelo concurso de.outras que mais tarde se lhes vem associar em vista dos nossos hábitos e de certas evoluções que sé vão operando no organismo de conformidade com as phases da vida percorridas pela criança concorrem para dar profundos golpes nas outras idades infantis e nas subsequentes. E' o que ainda o estudo comparado do quadro da morta- lidade vai certificar pelas differenças observadas em outros períodos. Delle.se colhe que p numero de crianças fallecidas de 1 até 11 mezes, attingiu a 3.204, menos 81 por conse- guinte de que no período anterior, sendo os falleci- 40 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE mentos mais av.ultados,excluidosd'entreasoutrüsdoen- ça* as dos órgãos respiratórios, que nestas idades ceifam numerosas vidas,-os causados pelas seguintes moléstias: Fraqueza congenial....................•..... 73 Moléstias do apparelho digestivo.............. 700 Aphthas........,............................... 68 Convulsões----.........*....................'■. -595 Meningo-encephaUtis......................... 222 Tuberculos mesentericos.................. .... 240 Total.........:........:....... 1.898 Desta.exposição, que mostra terem morridode outras moléstias 1.306 crianças, maior proporção, portanto, do que na classe precedente, se collige que causas um pouco dífferentes actuamna producção da elevada mortalidade que se observa neste período ; taes são as*perturbações que na maioria dos casos desperta a evolução dos pri- meiros dentes, os descuidos á acção dos agentes exte- • riores, e outras que podem ser de todo estranhas aos vicios do desenvolvimento orgânico, mas que redobram de acção em seus máos effeilos sobre o organismo, quando falta-lhe a aptidão para preencher, com regu- laridade eharmohicamente,- as funcções especiaes. aos diversos e tão variados actos da vida sem o que não pôde esta sustentar-se e progredir ; porquanto, como bem diz o Or. Luiz Corrêa de Azevedo, «na harmonia do or- ganismo nenhum órgão funcciona só por si, todos con- correm para o fim que é a marca da vida, e da proc.reação que a sabedoria do Creador imprimiu na criatura for- mada com tanta perfeição. » Apezar do que acabamos de dizer, não deixaremos de sustentar'que a mortalidade neste pjriodo da infância . se resente ainda da acção das causas que com maior ac- tividade influem no antecedente, sem obrar entretanto cora a precipitação e violência com que actuam naquelle, DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. íl e sim com menos intensidade e energia, consumindo mais.de vagar as forças vivas do organismo, quejáal* guma resistência, ainda que fraca, lhe offerecem, e im* primindo-lhc aos poucos modificações que perturbam o equilíbrio funccional, e transtornam as leis da nutri» ção, acabando por extinguir a vida na carência de ele- mentos, que a mantenham. Para prova desta asserção abi estão ainda o numero importante de mortos pela fraqueza congenial, pelas aphthas, pelas lesões do apparelho digestivo, pelos tuberculos mesentericos, pelas convulsões, e pela meningo-encephaliti, das quaes as ultimas, bem que sejam muitas vezes o effeito da acção dos agentes externos e de uma alimentação excessiva e inconve* niente, haja ou não o concurso de imperfeito desenvol- vimento orgânico, são entretanto neste período em sua maioria o resultado de uma nutrição irregular e insulíi- ciente por falta de imperfeita assimilação emcortsc* quencia da fraqueza da acção dos órgãos digestivos. Concluídas as observações quo nos suggeriu o estudo dôs factos referentes a este período, entraremos no de outros em que, pek) desapparecimento das crianças que não puderam resistir nos períodos anteriores ás causas que tendiam á sua aniquilação, edas quaes já nõs oceu- pámos, encontram-se aquellas que lhes têm resistido cora mais ou menos vigor ; referimo-nos pois ao período de um a quatro annos. Bem que mais favorável, como é em todos os paizes do que ps dous pefiodoã antecedentes, não deixa ainda de ser entre nós muito fatal á infância, como .o attestam as taboas da mortalidade. As causas, porém, do excesso desta não se encontram já Gom particularidade nos ger- mens enervantes trazidos do seio materno, nem rfas per- turbações promovidas pela primeira evolução dentaria, 7 h . 42 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE embora esta causa seja ainda bastante activa no prin- cipio desta phase, nem n'uma amamentação imprópria e Ínsufficiente, e sim nas offensas de todo o-generoás leis da hygiene adequadas a estas idades ; e o quadro das moléstias que maior numero de victimas nellas fazem, ê a prova mais eloqüente da demonstração deste as- serto. Não se trata mais de moléstias, cujo maior numero depende devicios no desenvolvimento orgânico, mas de doenças em sua maioria dependentes do excesso ou im- propriedade de alimentação, dos effeitos de insolação pro- longada, ou de vestimentas pouco adequadas ao clima e ás estações, da falta de cautelas no resguardo ás in- tempéries, moléstias que para assim dizer escolhem de preferencia as crianças mais robustas para sobre ellas desfecharem seus golpes mortíferos, tanto mais certei- ros, quanto maior é a actividade e desenvolvimento dos systemas, nervoso e vascular, mormente se ha antece- dentes de família ou predisposição para o desenvolvi- mento de taes moléstias. Estabelecidas estas considerações prévias, analysemos o resultado da estatistica a este respeito. De sua apre- ciação secollige que nesta phase da vida da infância,fal- leceram no quinquennio que é o objecto deste trabalho 3.951 crianças, sendo de : • Convulsões................................ 650 Meningo-encephalitis....................... 32o Moléstias do tubo digertivo.................. 630 Tuberculos mesentericos.................... 705 O que perfaz asomma de 2.310, sem contar os falleci- mentos devidos, em 1868, ás moléstias do tubo digestivo, por se não acharem estas discriminadas nas idades, pa- tenteando o algarismo supra que houve neste período 1.641 fallecimentos devidos a outras moléstias, figurando com maior quota as affecções agudas dos órgãos respira- DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 43 torios, que, segundo consta dos quadros da mortalidade, ceifaram nos últimos quatro annos 535 vidas, inclusive 73 de coqueluche. 0 exame destes factos torna patente a differença do quadro das moléstias que figuram como causas da maior mortalidade nestas idades, e leva á crença de que con- dições differentes as determinam, ora desequilibrando de prompto as forças orgânicas em virtude de sua in- tensidade, principalmente nas crianças robustas e sãs, arrebatando-as com promptidão, ou cedendp com pres- teza aos recursos da sciencia, ora minando-lhes sur- damente a existência por uma acção lenta e prolon- gada, e provocando a manifestação de lesões incurá- veis, ou de difficil cura, como adiarrhéa, os tuberculos mesentericos, as cachexias, o rachitismo e outras lesões semelhantes, que tantas vietimas fazem baixar á sepul- tura nesta idade, sobretudo entre as classes menos fa- vorecidas da fortuna, nas quaes são communs as infrac- ções das leis hygienicas, ou por falta de recursos; ou por vicio de educação. Seria agora occasião azada para entrarmos na apre- ciação do modo como actuam as differentes causas de- terminantes das doenças que mais vidas cortam nestas idades, e indicar os meios de removel-as e prevenil-as ; mas, não nos eompetindo na organização deste traba- lho semelhante empenho, porque nelle nos não occu- pamos em discutir e resolver questões physiologico- pathologicas, nera de estabelecer preceitos hygienicos adequados e tão somente fazer conhecer o gráo de mor- talidade das crianças e os males que d'ahi resultam ao progresso e desenvolvimento da população nacional, abster-nos-hemos de envolver-nos no estudo daquellas questões.especiaes a outros trabalhos, para restringir- mo-nos a breves considerações,que apenas encaminhem 4i APONTAMENTOS SObHE A MORTALIDADE a attenção do leitor ao conhecimento das causas mais communs das moléstias que maior numero de vidas ar- rebatam neste perio Io da infância, independentemente decondições epidêmicas ou outras capazes de produzir grandes perturbações sanitárias. As convulsões, posto se possam manifestar soba in- fluencia de causas variadas e ás vezfs insignificantes, principalmente na época das ultimas evoluções dentá- rias, em presença de predisposições hereditárias, na eminência de uma febre eruptiva, ou em conseqüência de abalos, ou sobresaltos motivados por sustos, quedas, etc, são entre nós, na maioria dos casos, aclos reflexos de perturbações da digestão, devidas a uma alimenta- ção excessiva ou inconveniente, administrada quasi sempre a esmo, e tanto mais graves, quanto mais pro- fundos são os ataques experimentados pelas funcções nutritivas; por isso é de rigor pratico prestar toda at- tenção ás cau«as que actuam em seu apparecimento para não*comprometter-se-ainda mais a vida do paciente a favor de meios inconvenientes, ou constituirera-sc ellas o motor de uma lesão cerebral mais ou menos grave. E' talvez por se não prestar a precisa reflexão a este ponto importante do estudo das convulsões na primeira infância nesta corte, e a favor do qual poderá oclinico não só evitar os escolhos que offérece o seu tratamento neste periolo, mas ainda fugir á applicação de meios inconvenientes e ás vezes imprudentes e compromette- dores da vida pelo enfraquecimento das.forças vitaes e augmento da super-excitação nervosa, que tantas victi- mas de convulsões figuram na estatística morluaria destas idades. A meningo-encephalitis, uma das moléstias mais gra- ves e proporcionalmente mais mortífera neste período da vida infantil, em o qual termina quasi sempre mal, podendo-se considerar como excepcionaes os casos de so- brevivência a seu acommettimenlo, comquanto seja muitas vezes a conseqüência da prolongação das con- DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 45 vulsões reflexas por motivos óbvios, ou o effeitodirecto de perturbações digestivas pela ingestão de substancias, alimentares em excesso ou de fructos mal sazonados, como é tão commum entre nós ; todavia na mar-oria dos casos é produzida pela insolação, ou mudanças de tem- peratura rápidas sobre a cabeça, quando se não liga a causas de fundo especial ; ed'ahi vem a sua maior fre- qüência nas idades, em que os meninos não estão aproxi- mados das mais ou dos pais, e por isso um pouco fora da su i vigilância, e entregues aos cuidados dos criados ou escravos, que, ou por falta de zelo,ou pelo temor de con- trarial-osem suas vontades, os deixara brincar ao sol, ou expor a cabeça suada ás correntes dos ventos. As affecções do apparelho digestivo são as mais pre- ponderantes d'entre aquellas que contribuem para a elevada cifra da mortalidade neste período da vida in- fantil, nem isso sorprende tendo em vista o impor- tante pipel que representa elle neste período, no co- meço do qual cessa ordinariamente a amamentação e inicia-se o uso da alimentação commum. E' nesta transição feita sem as cautelas convenientes que s:1 commettem os maiores abusos, fonte dos males de que são victimas numerosas crianças, particular- mente"cntre as classes pouco" abastadas, fornecendo-se- Ihes alimentos, cuja digeribilidade e quantidade, não estando em relação ás suas forças dige>tivas, provocam abalos profundos e instantâneos seguidos das doenças anteriormente apontadas, principalmente nas crises da evolução dentaria, em que permanece elle em certo gráo de irritabilidade mais ou menos constante, ou, quando, isto não succede, concorrem então phlegmasias mais ou menos intensasdos órgãos digestivos, que levara a criança em poucos dias ao túmulo, precedendo á agonia alguns phenomenos cerebraes mais ou menos dura- douros, ou que as consomem por um trabalho pouco anparente, ou mesmo latente, que, acarretando o can- saço das forças digestivas e Ínsufficiente assimilação, as 46 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE conduzem ao marasmo e á cachexia profunda, ou, en- tretendo uma mesenteritis de caracter chronico, con- stituem-se a origem de tuberculos mesentericos, tão • freqüentes entre nós nestas idades, e tanto mais rápidos em suas evoluções, quanto maiores são as disposições congênitas para contrahil-os. Eis-me chegado ao termo destas considerações com o estudo dos factos passados no período decorrido de 4 a 7 annos de idade (3 annos), o mais favorável de todos na primeira infância, por isso que sua mortalidade não excede de um quarto a do antecedente (de4 annos) salvo em um ou outro anno, em que condições climatericas desfavoráveis ás primeiras idades, facto que se observa em todos os paizes, alteram este movimento regular, como aconteceu em 1872; sendo certo, porém, que já não são as mestnas moléstias que nelle concorrem para a mai »r cifra de fallecimentos, segundo rezam as taboas mortuarias. Pelo quadro estatístico retro apresentado vê-se que, no período que ora nos occupa, falleceram 1.300crianças, figurando apenas 279 arrebatadas pelas moléstias in- dicadas nas idades anteriores, sendo 94 pelas do appa- relho digestivo, 82 pela meningo-encephalitis, 58 pelos tuberculos mesentericos, e 40 por convulsões; por conseguinte que 1.021 foram victimadas por outras doenças, o que mostra que a feição pathologica desta phase se vai profundamente modificando por transi- ções graduaes, aproximando-se já neste período da de outras idades. E* ainda o que demonstra a analyse das estatísticas da mortalidade, patenteando que, d'entre as moléstias que fazem pagar a infância maior tributo neste período, figuram, em primeiro lugar as pyrexias, depois as mo- léstias das vias aéreas, e por fim os exhantemas, segundo consta de dados mais regulares colhidos de 1870a 1872, fazendo conhecer que o numero de mortos devidos então a estes três grupos de moléstias attingiu a 353, DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 47 sendo 158 pertencentes ao primeiro, 108 ao segundo, e 87 ao terceiro; mas, a despeito de tudo, é força con- fessar que a mortalidade causada pelos dous ultimo- grupos está muito áquem da effectuada no período an- tecedente ;e as razões dessas differenças são tão obvias que entendemos não dever demorar-nos em disculil-as. CAPITULO VI. Summario.— Conclusões. Das considerações que acabamos de expender, jul- gamos que se deduzem as seguintes conclusões : l.a Que a população infantil até a idade de 5 annos estava, segundo o recenseamento de 1872, na proporção de 10,63 % para a totalidade da população do muni- cípio, e de 18,87 para a da nacional tomada em separado; 2.a Que morre maior numero de crianças do sexo masculino do que do feminino; que o mesmo facto se passa em referencia aos nascidos mortos, havendo nisto accôrdo com o que suecede aos nascimentos, sendo estes mais avultados no sexo masculino; 3.a Que a mortalidade nos meninos até quatro annos nas freguezias. urbanas regulou, no quinquennio de 1868 a 1872, excluídos os nascidos mortos, 30,02 por 100, ou 300,2 por 1.000, e até sete annos 37,23*por 100, ou apenas mais 7,3 do que no período até quatro annos; 4.a Que a maior mortalidade tem lugar antes de completar-se o primeiro anno de vida; por quanto, de 11.740crianças fallecidasatésete annos, maisde metade, ou 6.489 desappareceram antes de completarem um anno; 5.a Que neste período a maior cifra dos mortos é mo- tivada por affecções indicadoras de perturbações na harmonia do desenvolvimento orgânico e pouca aptidão do organismo para resistir ás causas quer intrínsecas, quer exlrinsecas, que tendem á sua aniquilação: 48 APONTAMENTOS SOBHR A MORTALIDADE 6.° Que no período de um a quatro annos* embora táes causas ainda exerçam decidida influencia na cifra da mortalidade, sobretudo nos dous primeiros annos, pelos motivos expendidos nas observações anteriores, todavia, e mormente da época indicada para diante, já grande numero de mortos é devido a causas inteira- mente estranhas a perturbações no desenvolvimento orgânico; 7.° Finalmente, que no período de quatro a sete annos, figuram como causas principaes da mortalidade doenças já um tanto diversas; e que em virtude das transições graduaes de transformação que se vai ope- rando na feição pathologica nas diversas phases da vida, a da dos últimos tempos deste período da infância, já se vai aproximando da das outras .idades. Terminando a primeira parte deste trabalho entra- remos no estudo da segunda, que comprehende a marcha dos suecessos oceorridos no quatriennio de 1873 a 1876, acerca dos quaes alcançam-se alguns dados mais regu- lares e que melhor podem satisfazer a curiosidade daquelles que apreciam o estudo das leis da evolução social e dos phenomenos que lhe são inherentes ou subordinados. SEGUNDA PARTE. MOVIMENTO DA POPULAÇÃO DÍPOIS DO RECENSEAMENTO DE 1S.72. CAPÍTULO 1. Summario.— Apreciação do movimento da população nas fregue- sias urbanas no quatriennio de 1872. Seguindo o plano adoptado na primeira parte, come- çaremos por apresentar o mnppa dos baptisados que se Mappa dos hptisados livres e ingênuos, efetuados de 1873 a 1876, nas parocnias urbanas desta curte. PAROCHIAS. SS. Sacramento S. José............ Candelária....... Santa Rita....... SanfAnna...... S. Christovão. Engenho Velho Gloria.............. Espirito Santo. Santo Antônio. Lagoa.............. Somma.... ANNO. 1873. Livros. Ingênuos 1874. Livres. Ingênuos 246 63 302 436 146 173 227 136 239 115 2.373 276 38 37 323 275 26 234 3-2 21 276 247 29 68 14 17 56 87 13 274 41 34 296 302 31 481 58 51 503 510 39 159 30 24 179 150 23 155 36 32 142 130 28 224 51 48 214 244 39 144 16 1-2 123 134 15 251 49 30 201 273 37 126 21 386 26 338 145 2.518 119 32 312 2.382 2.491 3l| 30 10 29 53 24 27 49 22 38 38 352 1873 Livres. Ingênuos 1876. Livres. Ingênuos 270 296 30 282 243 21 78 72 9 296 307 39 587 546 50 163 167 22 160 161 28 246 293 42 186 154 17 298 270 33 129 129 22 2.695 2.638 313 36 315 32 257 8 93 35 343 65 583 23 185 32 171 ;>.> 261 18 187 40 2(36 23 123 67 2.781 286 64 293 531 173 175 235 189 272 112 2.601 326 31 15 9 28 33 28 22 47 13 34 19 279 '2.569 2.269 662 2.678 4.581 1.523 1.502 2.324 1.409 2.434 1.204 23.135 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE Em seguimento a este mappa apresentaremos a relação dos baptisados que se effectuaram na casa dos expostos, que vem a ser : Em 1873... . 446 539 Em 1874 ... . 432 Em 1870... . 536 Total.... 878 f.075 Em summa, a estes algarismos ajuntaremos ainda o dos baptisados effectuados nas duas freguezias crcadas depois de feito o recenseamento de 1872, a de Nossa Se- nhora da Conceição do Engenho Novo, installadaem 10 de Novembro de 1874, e a de Nossa Senhora da Conceição da Gávea em 31 de Janeiro de 1875, não só por estarem ellas estabelecidas quasi em sua totalidade em território das antigas freguezias urbanas, como pela circumstancia de serem sepultados nos cemitérios desta cidade os corpos das pessoas que alli morrem, e que são incluídas no quadro da mortalidade geral. Os baptisados nestas duas freguezias limitam-se aos seguintes: FREGÜEZIA DO ENGENHO NOVO. Annos livres inge- total homens mulheres total nuos 1874 149 27 176 97 79 176 1875 189 26 215 123 92 215 1876 194 20 214 114 100 214 Total 532 73 605 334 271 605 )>A CIDADIi DO RIO DE JANEIRO. 51 FREGUEZIA DA CONCEIÇÃO DA GÁVEA. Annos livres inge- lotai homens mulheres tolal nu os 1875 22 6 28 22 6 28 1876 64 23 87 41 46 87 86 29 115 63 52 115 Total nas duas parochias 720, que com os 10 °/0 de augmento se elevam a 792. A totalidade destas cifras fazem attingir os bapti- sados nestas parochias durante o quatriennio ás se- guintes proporções: Em 1873 a 6.517,5 -> 1874 a 6.909,5 » 1875 a 7.474 » 1876 a 7.509 Total 28.410,0 Semelhantes resultados, posto que muito mais lison- geiros que não os do quatriennio antecedente, havendo para mais a differença de 3.549 nascimentos ou 887,25 annualraente em relação aos deste, em que com o mesmo acerescimo de 10% só attingiram a 24.861, nem por isso satisfazem, attendendo-se não só á maior mortali- dade que houve neste período entre as crianças até 7 annos, como lambem á sua fraca proporção em refe- rencia ao total da população, como se poderá verificar na apreciação deste ponto. Conhecido o movimento da população devido aos nas- cimentos pelos meios de que nos pudemos soecorrer em uá APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE nossas condições administrativas, trataremos em seguida do referente á immigração e emigração estrangeira? assim como do marítimo e do da estrada de ferro D. Pedro II, os quaes maior contingente fornecem ao da população transeunte, sentindo nada podermos dizer, por falta de dados que a isso nos habilitem, sobre o mo- vimento dos viajantes que concorrem a esta cidade por via marítima, cujo concurso á massa da população tran- sitória não deixa de avultar bastante, e sobre o daquelles que, enviados para a Serra na occasiãoda epidemia de febre amarella, para aqui voltaram, ou durante o seu reinado, ou na sua terminação, e cujo numero não deixou de ser notável, sobretudo entre os portuguezes. Mappa tio movimento da população estrangeira de 1873 a 1876. ANNOS. 1873.......................... 1874.......................... 1875.......................... 1876.......................... Somma.... A pequena somma representada por aquelles que fi- caram nos annos de 1873 e 1876 dependeu incontes- tavelmente da internação dos que chegaram na época doreinado das epidemias da febre amarella que grassou nesses annos com vigor, ea cujo acommeltimento suc- cumbiram ainda um numero avultado destes, mormente entre os portuguezes, que, ou induzidos pelos parentes, ou por interesses mesquinhos, desertaram no fastigio da epidemia dos depósitos em que estavam recolbidos e e S e § <3 18.916 14.380 24.335 16.356 34.319 22.878 27.905 24.645 105.47o 78.i?9 4 616 7.979 11.441 3.260 27.296 DA CIDADE DO RIO DE JANEIKO. 53 na Serra para esta cidade, onde, ao chegarem extenua- dos pelas fadigas da longa viagem e pela fome, eram logo presa da epidemia, como tivemos occasião de obser- var freqüentemente nas enfermarias abertas para soc- correr os indigentes em 1873 e 1876, sobrevivendo poucos destes. Agora faremos a exposição do movimento marítimo guiado pelos dados colhidos na visita de saúde do porto desta capital durante o mesmo período. Mappa dos navios entrados no porto do Rio de Janeiro de 187S a 1876, com o numero de seus tripolantes. ANNOS. 1873.................... 1874................... 187o.................... 1876.................... Somma.... Estes algarismos, que representam o movimento de 3.590 entradas de navios em 1873, de3.6i6 em 1874, de 3.574 em 1875, e de 3.214 em 1876, ou o total de 14.024 entradas, mostram que, emquanto a cifra dos tripolan- tes dos navios nacionaes entrados no nosso porto pouca differença oíTereceunos quatro annos, a dos estrangeiros apresentou uma baixa sensível nos annos de 1873 e 1876 pela menor freqüência de entradas, sendo a differença o e •^ ca to O g 3.590 3.646 3.574 3.214 14 024 TRIPOLANTES. 23.218 23.529 23.767 21.585 92.099 ba 29.471 44.859 50.299 29.64S 154.277 52.689 68.388 74.066 51.233 246-376 54 APONTAMENTOS SORRE A MORTALIDADE para menos nos dous annos de 416, visto como, atlin- gindo em 1874 e 1875 a 7.220, desceu em 1873 e 1876 a 6804. Em seguimento a esta exposição trataremos do mo- vimento da população na estrada de ferro D. Pedro II. Mappa do movimento da população na estrada de ferro D. Pedro II, de 1873 a 1876. «5 O ~s e ANNOS. s s- co « to O X 1873..................... 788.206 785.413 1.047.343 394.522 444.701 563.151 1.181 728 1874.................... 1.230 114 1.610.494 1876..................... 1.200.781 650.555 1.851.336 3.820.743 2.052.929 5.873 672 Pelas cifras constantes deste mappa vê-se, que em 1873 a cifra dos passageiros que vieram do interior para esta corte foi representada pelo algarismo 394.522; que a de 1874 por 444.704; que a de 1875 por 563.151; e a de 1876 por 650.555; que por conse- guinte, fazendo valer quatro passagens por um só pas- sageiro, levando assim em conta a volta para o interior e a duplicata de viagens, teremos um movimento de 98.630 pessoas vindas do interior para esta cidade em 1873, de 111.175 em 1874, de 140.787,75 era 1875, e finalmente de 162.638,75 em 1876 (1). (1) Além destes, deve-se levar ainda em conta os que transi- tam a pé, como os tropeiros, boiadeiros e outros, cujo numero não podemos calcular, e dos quaes muitos vem aqui pagaroseu tributo de vida nas épocas epidêmicas. DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Para terminarmos este estudo, daremos conta do nu- mero dos casamentos que se effectuaram nas differentes parochias, guiando-nos pelos dados que obsequiosa- mente nos foram ministrados pelos seus dignos paro- chos, o mesmo que tiveram a bondade de fazer em refe- rencia aos baptisados, com cujo obséquio, além de muito nos penhorarem, deram uma prova evidente de seu zelo e dedicação no exercício das elevadas funcções que lhes estão confiadas. Mappa dos casamentos effectuados de 1873 á 1876, nas parochias urbanas desta corte. Annos. CO 00 00 !0 )>■ 00 00 108 141 48 123 247 138 124 53 91 55 89 1.217 "§ I 143 110 48 144 254 119 98 59 77 66 71 157 146 52 151 319 13) 127 72 91 57 81 163 147 35 lí4 274 143 115 17 Í.2 70 110 571 544 183 562 1094 539 464 261 351 248 351 1.189 1.392 1.370 5.168 Juntando aos indicados neste mappa 109 effectuados na freguezia do Engenho Novo de 1874 a 1876, sendo 40 em 1874, 35 em 1875, e 34 em 1876; assim como 20 da freguezia da Conceição da Gávea, a saber 10 em 1875, e 10 em 1876, eleva-se a sua somma total neste qun- triennio nas antigas freguezias urbanas a 5.297. Estes algarismos são pouco animadores, patenteando V> APONTAMENTOS SOBRE A MOHTaI.IDADF. que o termo médio annual dos casamentos não passou de 1.324,25 nas freguezias urbanas, cifra sem duvida dimi- nuta em relação ao numero de seus habitantes. Este facto vem mais uma vez confirmar o que aven- turamos a respeito da escassez dos casamentos nesta corte, apreciando o recenseamento de 1872 sem bases em que nos firmássemos, o que ora não succedc, á vista das provas ofíiciaes. Tendo de occupar-nos deste assumpto quando, ao apreciarmos os factos expostos, buscarmos conhecer as proporções destas cifras em referencia a população provavelmente existente em cada um dos annos deste período, guardamo-nos para então fazermos as observações que este estudo nos suggerir. Conhecidos os factos que muito summariamente aca- bamos de cxhibir, procuraremos estudar as deducções a que nos conduz a sua analyse acerca das alterações que nos revelam elles, com mais ou menos probabilidade de acerto, ter experimentado neste quatriennio a popula- ção existente no território das antigas onze freguezias urb:mas. Pelo recenseamento de 1872 com o acerescimo de 10 % sobre sua totalidade, ficou a população de facto nas freguezias urbanas elevada a 251.617 habitantes. Pois bem, si juntarmos a esta cifra a de 6.517,5 para os nascidos em 1873, conforme resam os baptisados e o augmento de 10 °/0 sobre sua cifra, ficará elevada, neste anno, a 258.134,8, que ainda subirá a 262.134,8 juntando áquelle algarismo o de 4.000 estrangeiros dos que ficaram, excluídos os 616 restantes, que conside- ramos como retirados para as freguezias suburbanas, particularmente para as de Inhaúma e Irajá, cuja parte litoral é procurada por muitos que exercem a pequena lavoura e a horticultura, e para o curato de Santa Cruz, DA CIDADE DO RIO J^E JANEIRO. 87 para onde eram attrahidos muitos pelas obras do novo matadouro. Sendo, porém, a mortalidade nesse anno representada pela cifra de 15.383, mas que fica reduzida a 14.102 com as convenientes deducções, como adiante se mostrará, é claro que a população de facto, no fim deste anno, ficou com probabilidade reduzida ao algarismo 248.032, reti- rando-se do seu total a cifra de 14.102 para as perdas que soffreu. Si a esta somma juntar-se a de 6.909,5 nascimentos, alcançada em 1874 pelo processo anteriormente adoptado e mais a de 7.200 cxtrangeiros considerados como domi- ciliados aqui nesse anno, dando os 779 restantes para as freguezias de fora, torna-se evidente que a cifra da população de facto elevou-se nelle a 262.141,3; que, porém, sendo a cifra da mortalidade, com as devidas subtracções, representada pela de 9.251, ficou ella re- duzida a 252.890,3. Si a esta somma se acrescentar a de 7.474 nascimentos effectuados em 1875, e a de 10.500 estrangeiros que aqui ficaram, deixando de incluir os 941 restantes por con- sideral-os idos para as parochias suburbanas, conhecer- se-ha que a cifra da população estável attingiu nesse anno a 270.864, da qual deduzida a da mortalidade com as reducções necessárias, ou a de 10.463, ficou limitada a 260:401. Si, finalmente, a este producto acrescentar-se a cifra de 7.509 nascimentos effectuados em 1876 e a de 3.000 estrangeiros,abstrahindo dos 260 restantes, segue-se que neste anno a cifra da população de facto attingiu a 270.910, de cuja somma deduzida a da mortalidade 9 H. APONTAMENTOS SO/5RE A MORTALIDADE conveniente, e que é de 12.763, ficou ella limitada a 258.147. Expostos estes dados, entraremos no estudo da mor- talidade em geral sem distincção de idades, sexos, nem condições, procurando achar as suas proporções em re- lação ao numero de habitantes em cada anno do qua- triennio nas freguezias urbanas, iniciando este estudo pela apresentação das cifras da mortalidade nelle occor- ridas. CAPITULO II. Summario.—Mortalidade geral no quatriennio. Quadro da mortalidade, inclusive os falleci* dos no hospital da Jurujuba de febre ama- rella, e os que nasceram mortos. A\NOS. 1873................... 1874................... 1875................... 1876................... Somma «3 O co s» . CU e «5, 73 s S e e s» 5^ o B .8 < e 8.422 Ó".752 209 15.383 6.639 3.450 173 10.262 7.147 4.220 198 11.565 7.669 6.319 187 14.175 29.877 20.741 767' 51.385 § 578 567 6Í5 552 2.342 A mortalidade, como se vê deste quadro, subiu a ele- vadas proporções neste período, mormente nos annos de 1873 e 1876, em virtude das epidemias de febre amarella e outras doenças nelle reinantes. DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 59 A_____.______________J---------:------------ A febre amarella só á sua parte ceifou 9.256 vidas neste período ; as outras febres 4.325, a varíola 2.835, sommas que reunidas perfazem a de 16.416, tocando a 1873 a cifra de 6.984, a 1874 a de 2.268, a 1875 a de 2.470 e a 1876 a de 4.714. (1). Abrindo, porém, mão destas condições desfavorá- veis e de outras que omittimos por brevidade, con- dições que muito influem no augmento das proporções da mortalidade ordinária, apreciaremos essas propor- ções em cada anno separadamente, fazendo nos algaris- mos da mortalidade as deducções convenientes para aproximarmo-nos tanto quanto possível de sua cifra real. * * Pelo quadro supra vê-se que a cifra total da morta- lidade no anno de 1873 foi indicada pela somma de 15.383; mas, se delia deduzir-se a de 578 nascidos mor- to Esies algarismos occorridos em um qualriennio de grandes perturbações sanitárias devidas não só ás condições meteoroló- gicas e atmosphericas reinantes, como também á execução de certos melhoramentos materiaes que têm reclamado por vezes o revolviinento do leito das ruas e exeavações mais ou menos profundas em terreno quàsi toclo de alluvião e aterrado com as immundieias da cidade, ha servido de pretexto aquelles que buscam a torto transe deprimir-nos para inculcarem esta cidade como uma das mais insalubres, e irem mesmo além na celeuma que levantam, fazendo crer que no mesmo caso está todo o Brazil. Nesse intuito todos os meios lem sido postos em jogo ; aceusam-se as nossas estatísticas mortuarias de inexactas sem jamais exhibir-se qualquer documento justificativo desse as- serto, como era fácil, mandam-se noticias aterradoras e exage- radas acerca das viclimas da febre amarella, que é o espan- talho da emigração curopéa, a íim de impedir a emigração para o Brazil, alvo a que atlinpem especialmente ; faz-se crer que poucos estrangeiros aqui sobrevivem a tal flagello, sem se lembrarem que a esta triste e impertinente aceusa- ção respondem cabalmente as cifras do recenseamenlo de 1872, mostrando que de 191.176 pessoas livres domiciliadas nesta cidade contavam-se 69.661 estrangeiras, ou mais de um te roo• Que* diriam essas commissões de inquérito aqui existentes, esses noticiadores occtilios, que se constituíram atalaias vigi- lantes do nosso estado sanitário, não, com o fim louvável de auxiliar-nos, mas para nos deprimirem, se em vez de 9.236. 60 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE tos, e a do 98 vindos de fora, ou de localidades desco- nhecidas, ficará já reduzida a 14.707, o que dá a pro- porção de 5,6 para 100 da população calculada como existente, que era de 262.134. Esta proporção, porém, não é ainda a real, quo só pôde ser alcançada com mais ou menos probabilidade, deduzindo daquella cifra a dos mortos da população transitória,, cuja proporção calculamos em quatro por mil neste anno, proporção sem duvida diminuta para épocas de epidemias intensas de febre amarella, em que, como ninguém desconbece, bastam algumas horas de demora na zona infectada para que os indivíduos che- gados de fora a contraiam com toda a gravidade. Para mostrarmos que é diminuta a proporção estabe- lecida pelo nosso calculo, basta referir apenas a cifra da mortalidade comparada dos marítimos occorrida entre nós nos tempos ordinários e nos de reinado de epidemias de febre amarella. mortos de febre amarella em quatro annos, em dous dos quaes soffremoi por motivos especiais duas das mais graves epide- mias que lèm reinado, tivéssemos de registrar 22.700 óbitos oceorridos em uma epidemia de duração de poucos me/cs, como sueceden á cidade de Buenos-Ayres com uma população de 198.680 habitantes, dos quaes a abandonou mais de um terço ; ou como a de Malaga em 1.800, que em uma população de 71.500 almas, atacou 10.517 e roubou 7.387, não obstanlo retirarem-se 14.000; a de Sevilha no mesmo anno, que com 76.000 habitantes, perdeu 20.000 ; a de Nova-Orleans ern 1853, que arrebatou 8.130 vidas; a de Lisb >a em 1857, que fez bai- xar á sepultura 5.652 habitantes, não sendo sua população su^ perior á desta cidade, etc. ? Que diriam esses prégoeiros de más novas contra este paiz tão injustamente avaliado? Ainda diriam que a febre ama- rella é mais devastadora nelle que nos outros que este flagello tem visitado, apezar das provas em contrario demonstradas pela estatística. ? Tudo é po sivel. Desenganem-se, porém, que a verdade mais cedo ou mais tarde ha de trinmphar de todos os ardis inventados contra o Brazil para embargar-lhe oí passos do progresso ; por quanto ha de elle marchar aos altos destinos que lhe estão reservados no futuro, a despeito de todas as tramas urdidas nesse sentido, sendo bastante para isso haver da parte da administração pu- blica boa vontade e algum esforço patriótico para neulralisar os resultados dessas tramas, tratando com afinco de melhorar as nossas condições hygienicas, e a policia sanitária. DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 61 Quem sedér ao trabalho de estudar as nossas estatís- ticas mortuarias, reconhecerá a verdade deste asserto, notando que a cifrados marítimos fallecidos nos annos regulares, oscillando entre 250 e 280, sobe nos annos do reinado violento da febre amarella ao duplo, triplo e mais. Foi assim que em 1870 ella attingiu a 027, em 1873 a 715,e em 1876 a 828, sendo lógico concluir-se, que este excesso quasi todo, senão todo, deve ser levado em conta ás tripolações dos navios, que aqui chegam, e que tão dizimadas são ás vezes a ponto de muitos ficarem sem um homem da tripolação. Outro argumento valioso para mostrar que a pro- porção estabelecida não é exagerada, e antes muito ra- zoável, é o avultado numero de brazileiros que vêm a corte, nas épocas do reinado deste flagollo, a tratar de negócios commerciaes, ou de outra ordem, e que suc- cumbem em poucos dias a seu aoommettimento. Outras razões poderíamos ainda apresentar em apoio da porcentagem estabelecida ; mas, julgando sufíi- cientes as duas referidas-ao fim que temos cm vista, nada mais diremos a este respeito, e seguiremos nas nossas apreciações. A' vista do que acabamos de expur, e sendo o movi- mento da população marítima e da procedente da estrada de ferro em 1873 representado pelo algarismo 151.319 com as reducções previamente marcadas, segue-se que, calculando a mortalidade desta população em quatro por 1.000, sobe ella a 60o, que deduzidos dos 14.707, em que monta a cifra da mortalidade geral, fazem baixar esta a 14.102, cuja proporção para a população foi de 5,3 °/o- A apreciação destes factos mostra que houve em 1873 a diminuição de 4.587 habitantes nas freguezias urbanas, pois que havendo nellas , segundo o recenseamento de 1872, 251.617 com os 10% de acerescimo, e subindo cila em virtude dos nascimentos e immigração a 262.134, pela perda de 14.102, ficou reduzida a 248.032. 61 APONTAMENTOS SOBUK A MORTALIDADE Em 1874 os acontecimentos foram sem duvida mais favoráveis, porque também as affecções a que nos refe- rimos no anno precedente não reinaram com a mesma intensidade, figurando as victimas por ellas acarretadas comum terço de menos das do anno antecedente. Pelas observações anteriores ficou estabelecido que a cifra da população de facto neste anno orçou por 262.141 e que a da mortalidade segundo o mappa respectivo foi representada por 10.262. Pois bem, fazendo a re- ducção de 742 para os nascidos mortos, os vindos de fora ou de localidade desconhecida, fica reduzida a 9.520, que ainda desce a 9.251 tirando a cifra de 269, calcu- lando sobre 1 */2 por 1.000 de 179.545 pessoas em que monta a somma da reunião das cifras fornecidas pelo movimento da população marítima e dos vindos pela es- trada de ferro, visto não terem as moléstias epidêmicas tomado maior desenvolvimento. A proporção pois da mortalidade regulou ncsle anno 3,52 por ICO da população de facto, que, com as perdas soffridas, ficou reduzida a 252.890. Em 1875 foram os acontecimentos um pouco menos favoráveis: A população de facto attingiu a 270.864 e a cifra da mortalidade geral figura no respectivo mappa com 11.56,-í; mas com a deducção de 675 representados pelos nascidos mortos e os vindos de fora, baixa a 10.892, somma que ainda desce a 10.463, tirando 429 ou 2 por 1.000, proporção em que julgamos dever calcular a mortalidade das 214.853 pessoas que representam nesse anno as cifras reunidas da população marítima e dos passageiros da estrada de ferro. A proporção neste anno regulou de 3,86 para 100 dos habitantes ou 38,60 DA CIDADE DO UIO DE JANEIRO. 63 por 1.000 di população que, em virtude das perdas soffridas, desceu de 270.86'! a 260.401. Em 1876, já senão passaram os acontecimentos tão favoravelmente, visto ter recrudescido a febre amarella, senão com a latitude que apresentou em outras epide- mias, com maior gravidade do que nunca por um con- curso de circumstancias desfavoráveis, como consta de meu relatório, apresentado ao governo imperial nesse anno, na qualidade de presidente da junta de hygiene publica. Nelle a cifra da população ficara representada por 270.910 habitantes, ea da mortalidade geral figura com 14.175, da qual, deduzindo-se 588 para os nascidos mortos e os procedentes de outras localidades, fica a de 13.687, que ainda desce para a de 12.763, deduzidos854, numero equivalente á somma fornecida por quatro falle- cidos em cada 1.000 dos 213.871 indivíduos a que monta a reunião dos que figuram no movimento marítimo e da estrada de ferro D. Pedro II. Neste anno a propor- ção da mortalidade foi de 4,88 por 100 da população, ou 48,8 por 1.000, ficando ella reduzida a 258.147 em vir- tude das perdas que experimentou no decurso do anno. De tudo quanto acabamos de escrever sobre este ponto cremos que se pôde computar, sem a pecha de exagera- do, em 350.000 almas a cifra da população em movimen- to nas 11 freguezias urbanas desta capital, e nas duas novas, c que sobre esta base é que se deveria cal- cular da proporção de sua mortalidade; mas, que- rendo prevenir arguições de ter em mira favorecer se- melhante calculo, tomando para base uma cifra de população, que, além de desconhecida, é sujeita a muitas variedades, nos limitaremos a apresentar em poucas palavras asdeducções que julgamos intuitivas, á vista das observações precedentes, c vem a ser: 64 ATONTAMENTOS S BRE A MORTALIDADE l.a Que, sendo a média da população neste quatrien- nio representada pelo algarismo 266.512, e a da mor- talidade com as reducções feitas por 11.644, segue-se que a proporção média annual desta regulou 4,13 °/0 neste período e que a media annual da população de facto regulou em virtude das perdas experimentadas em 254.867, algarismo que, segundo os dados conhecidos, deve representar com probabilidade a população que ficou existindo em fins de 1876 nas freguezias ur- banas, sem levar cm conta os estrangeiros que voltaram .da Serra, na extineção das epidemias de 1873 e 1876, e os nacionaes que vieram aqui domiciliar-se proceden- tes das províncias e de outros pontos, e que. podem sem exageração ser calculados em 4.800 ou 1.200 annual- mente, o que eleva a somma de 254.867 a 259.667, ou mais 8.050 de população livre do que aquella em que foi calculada a de 1872 ; 2.a Que, a despeito das condições sanitárias desfavo- ráveis pelo reinado das epidemias graves que á sua parte arrebataram 16.416 vidas, ou4.10i annualmente, ter- mo médio, não foi ella tão exagerada como procuram fa- zer crer aquelles que buscam comparar esta cidade a uma hecatombe; 3.a Finalmente, que os resultados alcançados neste quatriennio, que se devem considerar excepcionaes, não podem servir de base para avaliar-se com certo gráo de certeza da proporção real da mortalidade desta capital em relação á sua população, sendo que deve ser muito me- nor nos tempos regulares, em que condições especiaes, como as oceorridas no período de que se trata, não ve- nham alterar as communs do estado sanitário. Dando aqui por findas as breves observações que cm nosso espirito despertou a analyse do movimento da po- pulação das 11 freguezias urbanas e mais as duas novase DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 05 da mortalidade relativa no quatriennio decorrido de- pois do ultimo recenseamenlo, passaremos ao estudo do importante problema da mortalidade das crianças no mesmo período, como o fizemos em relação ao quinquen- nio anterior, com o fim de.estudarmos as relações exis- tentes entre os dous períodos. CAPITULO 111. Sümmario.—Mortalidade das crianças até 7 annos. Difficil é sem duvida apresentar um trabalho desta ordem que satisfaça as exigências reclamadas á resolução de tão importante problema, por melhor boa vontade e mais esforços empregados cm sua confecção, principal- mente quando faltam as fontes mais securas de suas bases, como suecede entre nós. Apezar, porém, da plena convicção das difliculdades de um tal eraprehendi- mento, não esmorecemos-no nosso intenlo, pelo valor que nos inspirava a certeza da relevaçãodas faltas e la- cunas que commettessemos, attenta a difficuldade e gran- deza do assumpto ; e a exposição dos resultados a que che- gamos, e que é iniciada cora a transcripção do quadro da mortalidade nos sete primeiros annos da vida, tornará patente o cuidado que nos mereceu este assumpto. quadro da mortalidade das crianças ATÉ 7 ANNOS, FALLECIDAS NAS 11 FREGUEZIAS URBANAS E NAS DUAS NOVAS NO QUATRIENNIO DECORRIDO DE 1873 A 1876. Annos. Dias. Mezes. 1873 777 975 1874 640 834 1875 790 902 1876 885 663 Í)eia4 De 4 a 7 Total. annos. annos. 1.361 365 3.478 939 158 2.631 1.150 179 3.021 679 162 2.389 Total 3.092 3.374 4.189 864 11.519 10 H. 06 ATONTAMHNTOS SOIHir. A MORTALIDADE Relação dos nascidos mortos. Em 1873................. 578 » 1874................. 567 » 1875................. (545 » 1876................. 552 Total...................... 2.342 Djs 2.342, eram homens 1.233, mulheres 1.109. (1) Estes dous mappas mostram que neste quatriennio houve para mais na cifra dos nascidos mortos 521, e para os fallecidos até 7 annos a differença para mais de 1.009, como é fácil verificar deduzindo da somma da- quelle período a parte que pertence ao anno de 1868; (1) Esta cifra c sem duvida exagerada em comparação á que se noia em outros paizes ; ainda mesmo á dos menos favorecidos como se collige da seguinte nota, apresentada pelo Sr. Prousl na sua obra ja citada, e exirahida de uma memória lida na academia de sciencias moraes e políticas por Mr. Antonv llouillet. Hespanha 1 para 73. Rússia 1 para .'>;>. Badem 1 para 32. Ba viera i para £9. Wurtemberg i para 26. Dinamarca 1 para 25. Noruega 1 para 2í. Suécia 1 para 2í. Império da Allemanlia 1 para 24. Áustria 1 para 2í. Saxonia 1 para 2i. Suissa 1 para 2:1. França 1 para 22. Bélgica 1 para 22. Itália 1 nara 21. Prússia 1 para 19. Paizes-Baixos 1 para 19. Nesta cidade regula 1 para 12,13 dos nascidos. Cumpre, porém, observar que nesta classe figuram muitos fetos ainda não viáveis, de 5a 6 mezes de vida intra-uterina que são levados á sepultura nos cemitérios públicos, circum- stancia que deve contribuir em parte para esse desfavor que se encontra na nossa estatística em relação á de outros paizes, a qual deve ser menor, deduzida a classe de que falíamos, regu- lando de 1 para 14 ou 15 a termo, ou nas épocas de viabilidade. DA CIDADK 10 1110 DU JANEIRO. G7 inascss.i dilTerença talvez se explique pela dos nasci- mentos elfectuadosem um eotitrop Tiodo. Nada, porém, adiantaremos por ora sobre este assumpto, do qual tra- t iremos em outro lugar, para continuarmos na analyse c apreciação das cifras indicadas, fizendo um apanhado das moléstias que mais figuraram como causas de morte nestas idades no período que estudamos. CAPITULO IV Summario.—Moléstias que maior numero de crianças ceifaram neste quatriennio entre as idades compreliendidas neste trabalho. Mortos Mezes. De 1 a 4 Üe í a Total. em dias. annos. 7 annos. Fraqueza, conge- nial........... 914 105 5 O 1.024 Tela nos......... 1.045 1.045 Aplitbas......... 173 19 4 I 197 lclericia......... 148 19 2 I 170 Convulsões...... 189 515 516 22 1.242 Meningo-encepha- litis.......... IO 204 3S3 57 654 Tuberculos mesen- tericos........ 3 2l-> 57J 38 832 Moléstias do tubo digestivo...... 285 689 748. 66 1.788 Ditas das vias res- piratórias..... 118 714 758 163 1.753 Exanlhemas..... 35 308 497 189 1.029 Febres diversas.. 5 130 328 181 644 Hepatites........ 7 85 106 16 214 Pblhysica pulmo- mr............ 0 25 91 30 146 Total..'......... 2.939 3.025 4.017 764 10.738 C8 APONTAMENTOS SOURE A MORTALIDADE Este quadro torna patente que. apenas succumbiram a outras causas 781 crianças das 11.519 fallecidas no período de que se trata., ou 195 por anno, termo médio, c seu exame justifica e confirmi plenamente o quanto expendemos a respeito das causas maiscspeciaes da mor- talidade nns idades de que nos occupimos, não podendo invalidar os motivos com que fundamentamos as nossas opiniões o excesso da mortalidade que se nota poreffeilo de algumas doenças, porque foi elle devido ao concurso de notáveis p^rlurbições smitirias dominantes em 1873 e 1876, como é fácil verificar, consultando os meus relatórios desses annos apresentados ao governo imperial. Nem mesmo poder ia servir de contestação aos prin- cípios por nós sustentados o excesso da mortalidade nes- tas idades cm um ou outro anno; pois que factos de ob" servaçãoexcepcionaes não podem abalar a força de um principio fundamentado na observação de outros fados confirmados por uma serie de annos, sendo além disto certo que ha em todos os paizes annos fataes para a infância em presença de condições sanitárias regu- lares para outras idades c vicc-vers:i, sem que a scien- cia possa atinar com uma explicação plausível destas singularidades na evolução das leis que presidem á manifestação d;s moléstias." Largando, porém, de mão esta questão por carência de interesse nesta oceasião, passaremos ao exame das relações que guardou a cifra da mortalidade com a dos nascimentos neste quatriennio. Pelas considerações precedentes achou-se que nas- ceram, termo médio, por anno 7.102 crianças neste quatriennio, e que sendo a média da mortalidade nos quatro primeiros annos de vida de 2.663,75, a proporção dos mortos para os nascidos neste perioJo foi de 37,49 DA CIDADE D;) RIO DE JANEIRO. 63 por 100, c de 40,54 por 100 até 7 annos, sendo a média lotai até o complemento deste período representada por 2.879,85, regulando no primeiro caso 385,10 por 1.000 e no segundo 416,41. Mais de metade, porém, desta proporção foi fornecida pelas idades aates de um anno, visto terem cilas concorrido para a somma total dos mortos com a de 6.446, e todas as outras.só com a de 5.053. Si, porém, considerando como vidas perdidas para a população os nascidos mortos, se quizer addicionar a sua cifra á dos mortos após o nascimento, ficará a média annual das crianças perdidas neste quatriennio elevada a 3.465,25 e a proporç'0 dos mortos subirá a 45,8 por 100, ou 458 por 1.000 dos nascidos, porque a totalidade dcste*s, incluídos os 2.342 que nasceram mortos, atlin- girá a 30.752, cuja média annual é representada por 7.688. Estes resultados são pouco lisongeiros relativamente ao augmento da população nacional, porque, além de mostrar que os nascimentos pouco têm augmentado, como é fácil verificar, comparando as cifras dos quatro últimos qualriennios com o acerescimo de 10 % (1)» patentêa que a mortalidade não tem decrescido, antes parece ter augmentado nas primeiras idades, assim como que o numero dos nascidos mortos se tem avan- tajado, o que prova que causas physiologícas perma- nentes e que vão em crescimento influem na producção deste fatal acontecimento. Nada tendo a acrescentar em relação ás questões que se ligam ao estudo deste assumpto além daquillo que já expendemos, quando nos oecupámos delle em refe- rencia aos dados fornecidos pelo recenseamento de 1872, fecharemos esta parte do nosso trabalho pelas conclu- sões que seguem. (1) No quatriennio de 18:51 a 1864 a cifra dos nascimentos attingiu a 22.806 ; no de 1863 a 1868 a 22.814. no de 1869 a 1872 a 21.801. no de 1872 a 1876 a 28.410. 70 ArOXTAMKXTOS SOHHE A MORTA Li DA \>E CAPITULO V. Summario.— Conclusões. De tudo quanto acabamos de expender póde-se con- cluir : I.° Que neste periolo calamitoso a média da mortali- dade geral esteve annualmente na proporção de 4,41 para 100 habitantes da população de facto; 2.° Que a das crianças foi de 37,49 para 100 n s quatro primeiros annos de vida, ou 374,9 para 1.000; 3.° Que foi de 40,54 por 100 até 7 annos ou 405,4 por 1.000, excluídos em ambos os casos os nascidos mortos; 4.° Que, com a inclusão destes, orçou em 45,8 para'100, ou 458 para 1.000, proporções, sem duvida exageradas, e que devem forçosamente concorrer para demorar cm extremo o augmento da população nacional. As observações precedentes levam á convicção de que a mortalidade nas freguezias urbanas desta corte, nas condições normaes, pouco excede de 3 1/2 % a des- peito de todas as causas de insalubridade nella actuan- tes, quer naluraes, quer accumuladas pela impreviden- cia dos homens e máos hábitos de nossa população, como indicam os factos relativos ao anno de 1874, em o qual, apezar de terem fallecído ainda 2.268 pessoas de febre amarella, de outras febres e de varíola, não excedeu sua proporção de 3,52 por 100 da população que se calculou dever existir nesse anno. Demonstram também que, nas condições normaes, não está ellaabiixo de algumas cidades, como as de Manchester e Vienna, onde a proporção mais commum regula de 36 para 1.000 habitantes, Nápoles 37, e Madrid 38 na Europa; Nova-Orleans 38, e Havana 36, na Ainc- DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 71 rica, proporções que são susceptíveis de variar para mais ou menos conforme as cireumslancias occurrcntes nos diversos annos; sendo certo que parece ainda haver cidades na Europa, em que a proporção dos mortos era relaçãoao numero de habitan tese superior ás referidas; porquanto, segundo uma estatística publicada pelo jor- nal Ausland e transcripta no Diário do Rio de 7 de De- zembro ultimo sobre a mortalidade oceorrida no I.° se- mestre de 1877 cm diversas cidades da Europa, reco- nhece-se que se deram em algumas proporções mais al- tas, como na de Praga, uma das menos salubres, onde subiu a 45,6 por 1.000 habitantes, na de Pesth 43,2, na de Munich 35,9, e na de Kcenigsberg 35,4. Deixando de demorar-nos mais sobre este ponto, con- cluiremos que as mesmas observações arrastam á cren- ça, de que a cifra da mortalidade desta cidade decres- cerá sensivelmente, aproximando-se da de outras que passam pelas mais salubres, quando se cuidar de melho- rar as condições de saneamento até hoje tãodescuradas, quando se acabar com osystemade construcçõesadopla- do quer nas habitações de grandes valores,quer nas das classes menos favorecidas; quando se tratar de extin- guir os actuacs cortiços, que, além de promoverem a propagação de vicios e crimes affrontosos á moral e se- gurança publicas, constituem-se focos de doenças dis- seminados na parte da população mais condensada ; quando estiverem concluídos alguns melhoramentos em via de execução e outros que estão em projecto; quando tivermos edilidades que se compenetrem dos importan- tes deveres inherentes ás nobres funcções de que se acham revestidas, irão consentindo que, á sombra do patronato e do empenho, e com manifesto prejuízo da saúde publica, se infrinjam as disposições mais saluta res do seu código, apezar de sua deficiência para a nossa época; finalmente, quando a administração superior se convencer de que, se é de alto interesse social promo- ver a instrucção do povo, para que melhor possa elle 72 ATONTAMENTCS SOBRE A MORTALIDADE comprchender seus deveres, e satisfazer suas legitimas aspirações, não o é de menos cuidar com esforço de me- lhorar o mais possível as condições hygienicas do púz, acolhendo comattenção as vozes autorizadas dos homens da sciencia, e das corporações respectivas, convicta, como deve estar, de que nada pôde prejudicar tanto o progresso e engrandecimento de um paiz como as aconteci- mentos passados nas freguezias de fora, adoptando o meámo methodoque nos serviu de norma para o estudo das outras. DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 73 TERCEIRA PARTE. MOVIMENTO DA POPULAÇÃO NAS FREGUEZIAS EXTRA-MÜROS DEPOIS DO RECENSEAMENTO DE 1872. CAPITULO I. Summario.—Exposição dos nascimentos e casamentos. Pelo recenseamento citado, com acerescimo de 10%, ficou a cifra da população calculada em 50.851, sendo 36.691 solteiros, 7.349 casados e 2.189 viúvos. Conheci- das estas cifras, vejamos quaes as alterações que ellas alli soffreram para mais ou menos, no quatriennio de 1873 a 1876, e os resultados a que se pôde chegar a este respeito, apreciando os factos relativos aos nascimen- tos, casamentos e mortalidade que nella se passaram. Não tendo, porém, outra fonte onde «ncontrar os materiaes para o estudo desta parte do nosso trabalho senão nos assentamentos das parochias, relativos aos baptisados, casamentos e óbitos, sobre elles fundaremos o referido estudo, guiando-nos pelas relações que tive- ram a bondade de enviar-nos os"dignos parochos, aos quaes rendemos sinceros agradecimentos pelo favor que nos dispensaram iniciando a exposição pela relação dos baptisados. RELAÇÃO DOS BAPTISADOS EFFECTUADOS NAS FREGUEZIAS EXTRA-MUROS (1). Guaratiba. Annos. Livres. Ingênuos. Total. 1873........ 216 62 278 1874........ 264 06 330 (1) Não vai contemplada neste trabalho a freguezia de Irajá, por isso que não nos foi possível alcançar do respectivo parocho esclarecimento algum á esle respeito, não nos valendo nem a intervenção otíicio^a de alguns aaiteos, uimh duas cartas rôuato- "i APONTAMENTOS SODflE A MORTALIDADE Annos. 1875....... Livres. . 238 , 196 .. 914 593. 556. Ingênuos. 53 54 235 Total. 291 1876....... Total Homens.. Mulheres. 250 1.149 Campo Grande. Annos. 1873..... Livres. ... 262 Ingênuos. 101 Total. 363 1874..... ... 242 89 331 1875 . .. ... 281 82 363 1876 .. 268 86 354 Total. 1.053 358 1.411 rias que lhe dirigimos, e ás quaes não se dignou responder, nem ao menos para accusâr a sua recepção. Que razões aduanam no animo desse funecionario publico para negar-se a dar esclarecimentos a outro que os solicitava em b*em do serviço publico, quando todos os seus collegas se haviam prestado a satisfazer de tão boa vontade a idêntico pe- dido ? Como quer que seja, é certo que por esse motivo deixa de figurar no nosso trabalho uma parochia que, pelo recensea- ineuto de 1872, reconheceu-se possuir 5:960 habitantes, cifra que, com o augmento de 10%, attingiu a 6.401, ficando-nos salva a responsabilidade desta falta, attentos os esforços.que empregamos para que ella não apparecesse, e que foram além do que acabamos de dizer, como se vê pelo que se segue. Informado de que para tal recusa S. Rev. allegava ler já en- viado em tempo e oceasião opportuna taes esclarecimentos ás respectivas repartições, os reclamamos nas secretarias do im- pério c da poiicia. Na primeira nada constava; na sejninda, depois de minuciosas pesquisas, achou-se apenas uma relação dos baptisados feitos em 1874, na qual se indicava 92 de pessoas livres e 40 de ingênuos, ao todo 132; e ires notas de óbitos, uma de 1874, outra > 1875, e outra de 1876. Na primeira fa^..-se menção de 102 óbitos de pessoas livres e 83 escravos, ou 18a ; na segunda de 170 das primeiras e 76 das segundas, ou 246 ; na terceira comprehendendo só o primeiro semestre, de 125 livres e 47 escravas, ou 172. Bem que pouco valor tenham para este trabalho taes esclare- cimentos, servem entretanto para mostrar que esta freguezia está em idênticas condições a de Inhaúma, como logo veremos, em a qual é maior a cifra da mortalidade do que a dos nasci- mentos, bastando para conhecimento disso attender-se aos al- garismos de 1874, assim como que é uma daquellas em que mais avuha a da mortalidade comparando-a áda cifrada população. DA CIDADE DO UIO DE JANEIRO. 75 Homens.. 744. Mulheres. 667. Jacarepagud. Annos. Livres. Ingênuos 1873....... 209 72 1874....... 187 79 1875....... 183 81 1876....... 167 52 Total. 746 284 Homens.. 529. Mulheres. 501. Inhaúma. Annos. Livres. Ingênuos. 1873....... 130 24 1874....... 51 15 1875....... 111 24 1876........ 92 11 Total. 384 74 Homens.. 212. Mulheres. 246. Total. 281 . 266 264 219 1.030 Total. 154 66 135 103 458 Curato de Santa Cruz. Annos. 1873..... 1874..... 1875..... Livres. 67 63 94 Ingênuos. 0 7 ' 17 6 30 175 176 Total 67 70 111 1876..... Total. 97 .. 321 103 351 76 APONTAMENTOS SOBRE A MOnTALIDADB Ilha do Governador. Annos. Livres. Ingênuos. Total. .. 84 5 89 1874..... 85 14 99 1875..... 91. 7 98 1876..... 92 10 102 Total. .. 352 36 201 187 383 Paquetá. Annos. Livres. 1873....... 29 1874....... 22 1875....... 33 1876....... 28 Total.. 112 Homens., Mulheres, Ingênuos. 2 2 4 5 13 64 61 Total. 31 24 37 33 125 Resumindo os dados citados, reconhece-se que nas- ceram durante o quatriennio nas freguezias de que se trata. Em 1873..... 1.263 Em 1874..... 1.186 Em 1875..... 1.299 Em 1876..... 1.164 4.912 que com os 10 °j0 de augmento sobe a 5.403 cuja média an- nual é de 1.350,7. DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 77 Livres....... 3.882 Ingênuos..... 1.030 Total.... 4.912 Homens...... 2.518 Mulheres..... 2.394 Total.,.. 4.912 Conhecido o numero dos nascimentos, passaremos em seguida a dar conta dos casamentos effectuados nessas parochias, durante o mesmo período. PAROCHIAS. 1873 1874 1875 1876 TOTAL. 31 59 55 26 171 Jacarépaguá___ 33 60 43 20 156 Campo Grande.. 55 70 71 26 222 30 24 30 17 101 Ilha do Gover- 16 46 22 11 95 1 4 7 0 12 Curato de Santa 6 22 26 13 67 172 285 254 113 824 Este quadro mostra que os annos de menor freqüência de casamentos nestas freguezias foram os de 1873 e 1876, • o mesmo que aconteceu nas urbanas, sem duvida por causa das grandes perturbações sanitárias devidas ao reinado das epidemias de febre amarella e de outras; mostra igualmente que no decurso deste período apenas se effectuaram 828 casamentos, cuja média annual fi- gura com o algarismo 206, excluídos quatro de escravos, que tiveram lugar na freguezia de Jacarépaguá. 78 ATONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE Esta somma -reunida á da média já conhecida dos effectuados nas freguezias urbanas dentro do mesmo período, eleva a cifra desta era todo o município a 1.530,25, cifra que, posto seja vantajosa em referencia á que se alcança em outras cidades importantes, não deixa todavia de ser poucclisongeira para nós. Pelo recenseamento de 1872 reconheceu-se que a po- pulação livre de 16 a 40 annos, período em que de or- dinário se effectuam os casamentos, era distribuída entre os dous sexos do seguinte modo: Homens de 16 a 20 annos.. 15.465 Ditos de 21 a 23.......... 15.933 Ditos de 26 a 30.......... 17.376 Ditos de 31 a 40.......... 25.175 Total.............. 73.949 Mulheres................. 10.145 Ditas..../................ 9.105 Ditas.................... 9.592 Ditas.................... 14.310 Total.............. 43.152 Cifras que, com os 10 % de augmento, produzem as seguintes sommas: Homens de 16 a 20 annos... 17.011,5 Ditos de 21 a 25 annos_____ 17.526,3 Ditos de 26 a 30 annos...... 19.113,6 Ditos de 31 a 40 annos...... 27.692,5 81.349,9 Mulheres................. 11.159,5 DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 79 10.015,5 10.551,2 15.741,0 47.467,2 Ora, regulando-nos ainda pelas cifras deste recensea- mento, em falta de um trabalho no qual possamos en- contrar discriminadas as idades da população em mo- vimento dessa época em diante, e adoptando a mesma cifra na hypothesedequcse sustentem proporções idên- ticas ás nelle indicadas, sendo substituídas as perdas experimentadas nestas idades por outros habitantes que á ellas vão attingindo na successão dos tempos, re- conheceremos que o numero dos casamentos effectuados annualmente em presença dos algarismos referidos, guarda as seguintes proporções entre os dous sexos em relação á totalidade dos mesmos. Entre os homens 1,88 para 100 solteiros. Entre as mulheres 3,22 para 100 solteiras. Que, porém, restringindo o calculo ás idades de 16 até 30 annos, considerando que d'ahi em diante, a não ser entre viúvos, são raros os casamentos, mormente para a mulher, achar-se-ha que se limitam a 2,08 pira os homens solteiros ou viúvos, e 4,8 para as mulheres em idênticas condições, confirmando este resultado até cer- to ponto a proposição que emittimos de que eram escas- sos entre nós os casamentos, tendo em attenção as nos- sas condições (1). Falta-nos para complemento do estudo sobre este pon- to tratarmos da mortalidade. E' o que vamos fazer no capitulo seguinte : (1) Não são incluídos nos algarismos supra os casamentos effe- ctuados entre.os sectários de religiões diversas do catholicismo por falta de esclarecimentos a este respeito, sendo certo que suas cifras não podem muito influir nas proporções acima indicadas, mórmenle, se seu numero corresponder ao dos catholicos, ten- do-se em vista que pelo recenseamento de 1872 achou-se que so existiam 1.328 homens acatholicos e 600 mulheres. Mulheres Ditas... Ditas____ 8>) APONTAMENTOS SOBRE A MOKTALIDADE CAPITULO II. Summario.—Mortalidade nas freguezias extra-muros. Guaratiba. Livres. Ingênuos. Escravos. Total. 1873...... 155 14 31 200 1874...... 141 21 29 191 1875...... 172 19 22 213 1876...... 171 27 21 219 Total. 639 81 103 823 Homens___.. 431 Mulheres..... 392 Total..... 823 Differença em favor dos nascimentos sobre a cifra total da mortalidade 326. Perdas na infância até 7 annos 447. De dias até. 11 mezes 243, de 1 a 4 annos 119, de 4 a 7 ditos 22, nascidos mortos 26, sem declaração 37. Proporção dos mortos para os nascidos até 7 annos 36, 64 % com exclusão dos nascidos mortos, e 38, 9 % incluídos estes. Campo Grande. 1873..... 143 35 66 244 1874..... 136 25 66 227. 1875..... 166 34 83 283 1876 237 47 49 333 Total.. 682 141 264 1.087 Homens.___ 534 Mulheres___ 533 Total.... 1.087 DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Differença em favor dos nascimentos sobre a mortali- dade geral 324. Mortos até 7 annos de idade 463. Dè dias até 11 mezes 214, de 1 a 4 annos 184, de 4 a 7 ditos 65. Proporção dos mortos para os naseidos até 7 annos 32,'8%.. Jacarépaguá. 1873..... 107 27 97 231 1874..... 119 33 53 205 '1875..... 123 29 55 207 1876..... 183 43 44 273 - Total.. 532 132 252 . 916 Homens..... 480 Mulheres--- 436 Total!.... 916 Differença em favor dos nascimentos sobre a morta- lidade 114. Mortos até 7 annos de idade 419. De dias a 11 mezes 181, de 1 a 4 annos 180, de 4 a 7 ditos 58. Proporção dos mortos para os nascidos até 7 annos 40,67 %, Inhaúma. 1873..... 133 15 26 174 1874..... 85 18 26 129 1875.:... 115 22 21 158 1876..... 182 14 20 .216 Total.. 515 69 93" 677» 12 H. 82 APONTAMENTOS SoBKE A MORTAMDADR Homens..... 384 Mulheres___ 293 Total.... 677 Differença em favor da mortalidade geral contra os nascimentos 219. Mortos até 7 ann.os de idade 233. De dias a 11 mezes 116, de 1 a 4 annos 124, de 4 a 7 ditos 13. Proporção dos fallecidos até 7 annos para os nascidos 52,24%. Ilha do Govern; idor. 55 0 10 65 1874____ 46 3 .. 10 59 1875..... 45 0 13 58 1876..... 57 1 14 72 Total... 203 4 47 254 Homens..... 124 Mulheres.... 130 Total.... 254 Differença em favor dos nascimentos sobre a morta- lidade geral 134. Mortos até 7 annos 100. De dias até 4 annos 86, de 4 a 7 ditos 14. Proporção dos mortos até 7 annos para os nascidos 25,77 °/„. Paquetá. 18,73..... 14 2 20 36 1874..... '29 2 21 42 DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 83 1875...... 1876..... Total... Homens..... Mulheres.... Total.... Differença em favor da mortalidade geral contra os nascimentos 31. Proporção dos mortos até 7 annos em relação aos nasci- dos 40,8 •/„. Curato de Santa Cruz (1) 1873..... 1874..... 1875..... 1876 .... Total... Homens..... Mulberes.... Total___ Differença a favor dos nascimentos contra a morta- lidade geral 57. Mortos até 7 annos 71. Em dias 12, de 1 mez a 1 anno 18, de 1 a 4 ditos 25, de 4 a 7 ditos 16. (i) Em relação a este curato, servimo-nos dos dados vcmetti- dos pelo digno parodio e por outros que encontramos na secre- taria da policia, e que preenchiam algumas lacunas que naquel- les se encontraram, e eram indicadas pelo mesmo parodio. 12 4 13 29 32 5 12 49 87 13 56 156 100 56 156 96 52 70 76 294. Livres 243, escravos 51 171 123 294 84 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE Proporção dos mortos até 7 annos, para os nascidos 20,22 70. Concluindo aqui esta exposição não podemos deixar de fazer certo reparo que nos parece bem cabido ; re- ferimo-nos á faltfde declaração dos nascidos mortos. Em nenhuma das relações, com excepção da recebida da parochia da Guaratíba, em que se dá noticia de 26 nascidos mortos e 37 sem declaração, em nenhuma das outras se faz menção de um só caso de taes óbitos. Será porque se não tenham elles dado nas outras pa- çochias ? Não nos parece provável ;'porquanto não lhes está reservado o privilegio de immunidade de um acon- tecimento commum á todas populações, e tanto mais freqüente quanto mais escassos são nellas os recursos da sciencia. Será porque não tivessem dellas noticia os dignos pa- rochos, por serem os cadáveres sepultados fora dos cemi- térios das parochias, estando alli em uso o habito tra- dicional de se enterrarem os corpos dos nascidos mortos em qualquer parte, mormente dos vindos á luz antes das épocas da viabilidade, ou com syraptomas de decompo- sição ? Quaesquer que sejam as conjecturas que se possam levantar a este respeito, é incontestável que não nos é dado remediar esta falta que não deixa de ser impor- tante em virtude dos esclarecimentos que pôde ella for- necer ao estudo da questão vertente. Das considerações expostas collige-se : que falleceram nas freguezias citadas. ■ Era 1873.....' 1.048 pessoas. 1874..... 915 » 1875... •.. 1.018 » 1876..... 1.238 DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 8o Ao todo 4.207, que corresponde a média annual de 1 051,7. Que d'eotre Os mortos eram: • Livres..... 3.337 Homens..... 2.214 Escravos... 870 Mulheres___ 1.993 Total.... 4.207 4.207 Que a cifra dos mortos até 7 annos attingiu a 1. 778, excluídos 26 nascidos mortos: Que a proporção das crianças fallecidas neste período da vida, relativamente .aos nascidos, considerada em globo, regulou 36,18 para 100, ou 361,8 para IjOOO, sendo portanto um ])ouco mais favorável do que nas parochias urbanas (i) ; Que, havendo nestas freguezias em favor dos nasci- mentos sobre a mortalidade geral a cifra 705, segue-se que foi esse o augmento que teve por este lado a sua população, e que se juntarmos á essa cifra a de 1.971 em que se calculou a estrangeira para ellas encamiriha- . da, deduzindo 400 provavelmente domiciliados na de Irajá, teremos um augmentode população de 2.696 nas outras no correr do período de que nos occupamos (2).. (I) Esta differença para menos não a julgamos real, conven- cidos como estamos de que ella desappareceria diante de dados estatísticos mais regulaies, pendendo a balança em favor das freguezias urbanas. (2) Haveria augmento ou diminuição de população na paro- chia de Irajá ? , ■ • E'-nos impossível responder, desconhecendo* a cifra dos nasci- mentos que nella se effectuaram ; mas, avaliando pelos dados anteriormente citados acerca dos acontecimentos occorridos nesta freguezia, é natural suppôr que houve diminuição como em Inhaúma, sobretudo attendendo-se á quasi uniformidade que guardam em seu numero os nascimentos effectuados annual- mente nestas parochias, e as grandes perdas proporcionaes que experimentou ella nos annos de 1873 c 1876. 80 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE A analyse e apreciação do que acabamos de expor, faz surgir uma questão importante, sem cujo estudo ficaria este trabalho ainda mais incompleto do que já vai, que- remos fallar das causas da mortalidade nas freguezias qne ora estudamos. Não adiantando até aqui uma só palavra a este respei- to, o fizemos no propósito de tratar deste ponto em artigo especial, tendo em vista estudarmos não só as relações de semelhança que as aproxima ou afasta das da mortalidade das freguezias urbanas, como da cifra differencial dos fallecimentos que nellas occorrem. Bal- dos, porem, de dados estatísticos que sirvam á esclare- cer jeste ponto, buscaremos, como auxiliares á tal estu- do, não só a historia dos fados que nellas se têm succe- dido, como a apreciação de suas condições topographi- cas e hydrographicas, e outras que se lhes associam para aggravarem os effeitos que destas resultam. E' o que constitue o assumpto do capitulo seguinte: CAPITULO III. Summario.— Causas da mortalidade nas freguezias de fora. Do que ficou dito collige-se :.que não ha differença sensível entre os factos occorridos nas freguezias em questão e os que se passam nas urbanas, relativamente aos casamentos, nascimentos e gráo de mortalidade, sendo que esta é proporcionalmente superior em al- gumas. Nem isto pôde ser motivo de sorpreza, tendo em vista as condições topographicas do território em que têm ellas a sua- sede, e ojutras cujo concurso augmenta sua influencia desfavorável. Pelas taboas da mortalidade vê-se; que sobresahem a este respeito as de Jacarépaguá, Inhaúma, Irajá, (1) !l)-Veja a i.a nota desta parle. DA CIDADE DO RIO DE lANEIHO. 87 e Paquetá, patenteando este facto que, além das causas communs e das locaes que actuam em todas, ha causas especiaes que influem para este resultado desfavorável em algumas. Quaes serão ellas? E' difficil a resposta na carência de estudos e obser- vações autorizadas que encaminhem ao seu conheci- mento e apreciação ; entretanto seja-nos permittido aventurar algumas idéas attinentes á explicação do facto, sem duvida importante e merecedor de estudos emprehendidos no intuito de afastar aquellas que for possível, visto como para attenuação ou exlincção das naturaes, ou das devidas ás condições topographicas, é preciso até certo ponto esperar que o tempo se encar- regue de trazer os progressos da agricultura e da in- dustria, e o augmento de uma população mais instruída, activa, laboriosa econsciados deveres do homem social. Feitas estas observações, entraremos em uma suc- cinta exposição das causas que nos parece influírem para as differenças que se notam nas cifras da morta- lidade destas freguezias, iniciando-a pela das mais dis- tantes e centraes, como sejam, as de Inhaúma, Irajá, Jacarépaguá, Campo Grande, Guaratíba e curato de Santa Cruz. Como se sabe, é o território em que estão assentadas estas freguezias constituído por terreno mais ou menos accidentado e circumdado a ONO. pelas serras. da Cachoeira, S. Matheus, Palmeiras, Jericinó, Men- danha, Capoeiras e outras d'onde procedem as trovoadas que mais vezes cahem, sobre esta cidade; e a OSO. as serras de Jacarépaguá, Piraquára, Bangú, Viégas, Rio da Prata e mais algumas, sendo que nas ditas serras nascem vários rios, que, fazendo juncção com diffe- rentes córregos e riachos, percorrem o mesmo terri- tório em maior ou menor extensão, antes de chegarem APONTAMENTOS sobre a mortalidade à seus desaguadouros seguindo em seu curso direcçoes oppostas. Entre estes rios sobresahem, dos que nascera na cordilheira a OSO., os seguintes: Os de Camorim, do Engenho da serra, do Anil, das Pedras, o Grande e o Pequeno, cujas águas são mais ou menos abundantes, conforme as recebidas em seu curso, os quaes todos tiram a sua origem nas ver- tentes da serra de Jacarépaguá, e vão desaguar na lagoa Camorim. Os de Piraquára e Piraquámirim, nascendo o primeiro na serra do mesmo nome, e o. segundo na do Bangú um pouco a quem do deste nome, os quaes, percorrendo parte do território das freguezias do Campo Grande e Irajá, reunem-se em seu percurso, avolumando as águas em seu itinerário pela juncção das de vários córregos e riachos, lançam-se no rio Merity, que vem desaguar na bahia. Os de Bangú e Viégas, que, sahindodas serras de igual nome e reunindo as suas águas na planície no" lugar co- nhecido pelo nome de Taquaral,- toma d'ahi em diante o nome de Retiro, o qual, seguindo em seu curso, recebe as águas do Jericinó nascido na cordilheira'opposta, e encaminhando-se para o território da Cachoeira, jun- ta-se ao rio de igual nome para formarem o Sarapuhy, que também deságua na bahia desta cidade. O rio da Prata, ou antigamente Jacabuçü, que preci- pitando-se da serra do mesmo nome, onde varias nas- .centes lhe dão origem e seguindo em direcção Oeste, en- caminha-se para a freguezia de Guaratíba, e cortando os campos da fazenda do Sacco vai desaguar na bahia da Pedra, onde toma o nome do rio Piraqué, como o de Santa Clara ao atravessar a estrada deste nome : sendo certo que o nome de rio Piraqué que lhe dão na sua foz •é impróprio, porque ahi é braço de maré não rio pro- priamente fallando.-. * .Este rio,o maior de todos que percorre o território D> CIDADE DO IUO DE .IANETKO. £;) da Guaratíba é navegável empequenas canoas até o lugar conhecido por Periqueri, e tem como tributários os pe- quenos riachos de Cachamorra, dos Porcos e das Onças, que todos deixam de correr nas grandes seccas, nascen- do o primeiro na serra do mesmo nome e os dous ulli" mos na cordilheira de Santa Clara. Além deste rio, existem ainda os do Engenho Novoe das Lavras no território da Guaratíba, os quaes nascem ambos nas serras da fazenda do Engenho Novo nas ver* tentes do morro do Gaboclo, e vão desaguar no Por tinho, braço de mar que se dirige ao canal da Barra, servindo o segundo de divisa aos dous districtosem q-uc se di- vide a freguezia. O de Piábas, que nasce da serra deCrumarim e des- água no grande pântano da Vargera Grande, que se esten- de da raiz da Serra da Grota Funda até a fazenda de Ca- morim em Jacarépaguá em um perímetro de mais de qua- tro léguas, o Bonito, o da Vargem Grande e o da Vicencia, todos oriundos da cordilheira da Vargem Grande, e que vão desaguar no referido pântano, em cujo centro exis- tem duas grandes lagoas conhecidas pelos nomes de Ma- rapendiba e Sarnambetiba. D'entre os que tem sua origem na cordilheira a 0. N. O., os mais notav.eis são : O rio de Faría, que, partindo das serranias da fre- guezia de Inhaúma, percorre uma vasta extensão- do seu território e vai desaguar na praia Pequena. Este rio,' temido em outros tempos em virtude das grandes inundações a que era sujeito e de algumas desgraças lamentáveis a ellas devidas, a ponto de obrigar a con.s- trucção de uma ponte extensa e alta que ainda hoje existe na estrada geral, não tem dessa época em diante apresentado nunca inundações iguaes. Ode.Jericinó de que ha pouco fallei e que, como este, 13 h'." GO ATONTAMENTOS SOBltE A MORTALU.ADf: segue em seu itinerário direcção differente dos outros que sabem desta cordilheira, vindo lançar suas águas de mistura com os do Sarapuhy na bahia desta cidade. Os de Mendanha e Guandú-mirim que nascem das ser- ras dos mesmos nomes e reunindo-se em seu curso atra- vessam grande parte do território da freguezia do Campo Grande até os limites do Curato de Santa Cruz passando em seu percurso por alguns brejaos que fazem conti - nuação a outrosde Marapicú o que torna as suas águas pouco potáveis. Alli chegando, estas reunidas a outras derivadas do rio Guandu, também conhecido por Ita- guahy, formado á custa da juneção de vários rios, e que divide a.villa do mesmo nome do Curato, e passa a pouca distancia daquelle, concorrem para alimentar os gran- des vallados existentes no campo de Santa Cruz, conhe- cidos com os nomes de rio" Itá e rio Guandu, que vão desaguar no mar, e por seus transbordamentos nas cheias auxiliados pelo rio Itaguahy, transformam áquelle cam- po cm um vasto oceano, onde por mais do uma vez, em virtude da rapidez do crescimento das águas e* altura á que altingem, se tem afogado grande parte do gado que alli ordinariamente existe, e tornado necessária a pas- sagem em barras de Itaguahy para Santa Cruz. Pois bem, rsses rios, alguns dos quaes no tempo da secca deixam ver s.eu leito quasi.descoberto, tomam nas cheias proporções tão consideráveis d'agua que se tor- nam invadeaveis, sendo que estas águas, transbordando de sen leito, espraiam-se por grande-extensão das pla- nícies, c em virtude da altura á que chegam cobrem os arvoredos dos campos e dos capões ou pequenos òuteiros nelles existentes, dando-se em muitos outros lugares facto identico*ao que occorre em Santa Cruz, bem que em menor escala. Estas águas, descendo com a cessação das chuvas, dei- xando, nos lugares baixos, alagados mais ou menos ex- tensos, e retendo em deposito todos os detritos orgânicos arrastados pelas enxurradas, detritos que também se de- D-A CIDADE DO MO DE-JANEIrtO. SI posilam cm toda a planície que ellas occuparam, con- tribuem a aggravafr os effeilos nocivos dos charcos e brejos dispersos cm seu território, sendo certo que na freguezia de Jacarépaguá existem também duas lagoas de grande extensão, que não convém esquecer de men- cionar. Uma dellas é a de Camorim onde corao disse des- aguam os rios de que fiz menção, oriundos da serra desta% parochia, lagoa que a circunda em toda a extensão em que é ella limitada pela praia do mesmo nome, abuir- dante de peixe e que communkacom a costa na barra da Ti jucá. A outra é a de Marapindiba, também notável por sua extensão, e na qual se não conhece communicação al- guma directa com a costa. D'aqui se vê, que esta freguezia é de todas asruraes a mais abundantemente provida de águas, c que se taes condições hydrograpbicas têm um lado ulil também têm outro desfavorável, contribuindo para augmentar por certo modo suas causas de insalubtidade, enlretendo c •dando formação a muitos pântanos e brejos. A's condições do solo que acabamos de apontar, jun- ta-se ainda um calor igual ao desta cidade, talvez maior em algumas localidades, elevado estado hygromctrico; alimentação imprópria e Ínsufficiente, a ociosidade e o abuso de bebidas alcoholicas nos escravos e na classe indigente, que é a que mais avulta nestas freguezias, e a péssima água que bebem de poços ou de rios de pouco curso, onde se conserva como estagnada nos tempos de secca, apezar da profusão que existe por toda a parte de boas águas, ou por não haver encanamentos que as con- duzam aos lugares onde se acham as povoações, com excepoão da do Realengo, em Campo Grande, ou por se não quererem ellas utilisar da de algumas fontes exis- 32 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE tentes em varias fazendas, em virtude das distancias cm que ficam das suas habitações. E, pois, em presença de semelhantes condições é na- tural crer que as doenças alli predominantes sejam as que reconhecem como causa principal de seu desenvol- vimento o miasma dos pântanos, caracterisadas por esta ou aquella fôrma, este ou-áquelle typo, segundo as* dis- posições individitaes e muitas outras circumstancias accessorias que não vêm a.o caso aqui annunciar, assim como outras affecções caracterisadas por alterações nos princípios constituintes do sangue. E, com effeito, em todas ellas reinam endemicamente, com pouca differença de freqüência, as febres palustres de diversos typos e fôrmas, actuando com mais*ou'nrenos força em certos e determinados lugares,, as qjiaes em alguns annos clima tericos tomam o caracter epidêmico e ceifara muitas vidas em virtude da gravidade de que se acercam, tornando indispensável a presença de mé- dicos commissionados pelo governo para acuclir aos in- digentes; as diversas anemias palustres com todas as suas consequeiícias funestas-, a hypoemia intertropical, atacando de preferencia os escravos,, a dysenteria e a diarrhéa, as quaes também tomam ás vezes a Índole epidêmica, revestindo-se de fôrmas graves, parecendo substituir as febres de accessonestes annos, o que ainda aconteceu em 1867, como se pôde conhecer da leitura do relatório que apresentei ao governo em 186íf. Após as moléstias apontadas, cujo reinado acha expli- cação satisfactoria nas condições de topographia e outras referidas, aquellas que mais vezes contribuem para fazer avultar a cifra da mortalidade são: as affecções vermi- nosas nas crianças, a mesenteritis, a tuberculose mesen- terica, as lesões chronicas do tubo digestivo, as molés- tias das vias respiratórias, a-coqueluche, a dysenteria, DA CIDADE DO UIO DE JANEIRO. 93 não só por falta de cautelas hygienicas na alimentação, impropriedade desta e pouco' cuidado nas moléstias, como na demora da prestação dos soccorros da sciencia do que por sua gravidade, tendo em attenção as distan- cias e a preponderância das classes indigentes. Como quer que seja, é certo que a coqueluche, o sa- rampão (1) e a varíola fazem ás vezes estragos sensíveis, sendo que esta tem escolhido, nos differ-entes períodos do seu reinado, de preferencia, para theatro de seus assaltos as fceguezias de Inhaúma, Irajá, Jacarépaguá e Guaratíba^ actuando sempre com força sobre os escravos e os indigentes, como succedeu na epidemia de 1865, e em outras anteriores, e como ainda aconteceu em Irajá, cm 1874, sendo alli necessária a presença de um medico commissionado pelo governo para vaccinar e tratar dos indigentes. Em contrario a isso, na freguezia de Campo Grande, a mais central, e que mais de uma vez tem sido açoitada por endemo-epidemias mais ou menos intensas de febres paludosas, cujo reinado se faz especialmente'sentir em Palmares e suas circumvizinhanças, em virtude da re- presa das águas do rio Guandú-mirim, feita na fazenda dos Palmares, nota-se o facto singular e importante da pouca freqüência daquelle terrível flagello, parecendo que ha nella certo gráo de immunidade contra sua pro- pagação, visto não se ter drííundido, nem tomado jamais caracter epidêmico distincto nas vezes que a tem visi- tado, como succedeu em 1865, d'ahi para cá e em épocas anteriores em que tem invadido com força as freguezias limilrophes, não podendo invalidar este asserto £t no- meação, em 1874, de uma commissão para tratar dos varíolosos alli existentes, e que foi creada em virtude de reclamações das autoridades Iocaes dependentes do (l) Estas duas affecções começam ás vezes por alli a sua ma- nifestação, talvez por communicações com pontos limitrophes da província do Rio de Janeiro, onde ellas reinam para depois ma- nifestarem-se nesta cidade. íü APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDAUE terror inspirado pela manifestação de alguns casos em seu território eda intensidade com que se desenvolveu em Irajá, com o qual confina ; porquanto o medico no- meado para essa commissão apenas a exerceu por um mez, tendo de acudir a poucos doentes, apenas cinco ou seis, em, lugares isolados, alguns dos quaes contrahiram a doença fora. Este facto, que acharia explicação plausível na maior propagação .da vaccina nesta freguezia, e na dissemi- nação dos seus habitantes em vasto território, quando se attende a que nas outras ataca especialmente qs núcleos de população mais condensada, não parece depender absolutamente de taes condições: 1.° porque a negli- gencia em ulilisar-se do emprego prophylatico da vac- cina é a mesma em todas as freguezias ruraes ; 2.° porque a Sua propagação não se nota com freqüência e vigor que é commum em outros lugares. Registrando apenas o facto, cuja explicação depende de estudos especiaes e aturados, para voltar ao exame das causas de maior mor- talidade que se nota nas freguezias anteriormente ci- tadas, direi, cm relação ás de Irajá e Inhaúma que nestas parochias os núcleos de população mais basta acham-se estabelecidos próximo ao litoral, onde pre- domina o miasma dos pântanos com todas as suas terrí- veis conseqüências, ou nas proximidades da estrada de ferro D. Pedro II; que são elles em geral compostos de italianos e portuguezes mais ou menos acclima- dos, empregando-se os primeiros de preferencia no fabrico de ulensis e outros trabalhos de industria, e os segundos na pequena 1'avoura e na horticultura; que estes homens vêm quasi diariamente á cidade e a seus arrabaldes, e d'aqui levam o germen das moléstias epi- dêmicas reinantes, mormente o da febre amarella, du- rante o período do seu reinado epidêmico e o vão trans- mittir aos habitantes dos lugares onde residem, como ainda aconteceu em 1876, trazendo isto como conse- qüência o augmento da cifra mortúaria nesses lugares. DA CIDADE DO RIO DF, JANEIRO. P3 Este facto observado em todas as epidemias que nos têm flagellado de 1850 por diante, em virtude sem du- vida das freqüentes communicações entre a população dessas parochias e a desta corte, além das causas po- derosas que havemos alludido para o maior gráo de in- salubridade de que se resentem, encontra a explicação de sua freqüência c constância na qualidade das raças das.pessoas mais atacadas, no completo esquecimento de todos os preceitos hygienicos relativos á alimenta-ção, no desasseio do corpo e das habitações, etc, corao fiz sentir no .meu relatório de!876, historiando a epidemia da febre amarella que então grassava nessas freguezias. O mesmo que se observa nestas parochias*com refe- rencia a este ultimo ponto occorre em todas as outras, ainda que em menor escala, como deverão dar.teste- munho todos aquelles que tiverem visitado qualquer das fazendas nellas existentes, ou se demorado nas peque- nas povoações estabelecidas em certos pontos do seu território. A primeira cousa que se observa cm algumas fa- zendas é a collocaçãò de chiqueiros immundos nas pro- ximidades das habitações, o curral para recolher o gado á noite situado de ordinário entre esta e a casa do en- genho, a bagaceira da canna, que tem servido ao fabrico de assucar, junto desta ou a pequena distancia, con- correndo á ella de noite todo o gado, quer no tempo de moagem, quer depois, e ahi pernoitando ; um pouco mais distante e ás vezes em continuação'á casa de mo- rada, as eslribarias onde se recolhem os animaes de montaria mais estimados, e as choupanas ou casebres em que moram os escravos e trabalhadores em commum comas gallinhas, cães, porcos e outros animaes que lhes pertencem, corrompendo o-ar que nellas se respira, ar por demais viciado pelas exhalações dos excretos de todos os animaes espalhados no recinto do perímetro occupado pelas edificações a que nos ténios referido e que nellas se conservam ás vezes por tempo mais ou 90 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE merio-s dilatado, si porventura o dono da fazenda, ou seus feitores, ou administradores não dão apreço ás con- dições de asseio e limpeza, como muitas vezes succedc. Nas povoações acontece o mesmo, ou talvez cousa peior; o solo da via publica é o receptaculo de todos os excretos que nelle deixam as aves domesticas, e outros animaes que por ella vagam todo o dia, com particula- ridade os porcos, que até se criam nos ranchos con- struídos para receber e recolher os animaes de carga e dos viajantes que se dirigem á cidade, e vice-versa. Jun- te-se a isto o deposito de matérias fecaes e das immun- dicias removidas das habitações nos fundos ou em pro- ximidade das mesmas, vallas immundas a pouca dis- tancia onde são depositados os detritos orgânicos es- palhados na via publica e arrastados pelas chuvas que se encarregam de removel-os, e ter-se-ha o quadro geral das condições anti-hygienicas dè taes povoações, domi- nando mais ou menos segundo condições especiaes a cada üma. Sob o império de tantas condições desfavoráveis, quaesquer que sejam as naturaes capazes de neutralizar sua perniciosa influencia, não pôde deixar de reinarem com freqüência moléstias de maior ou menor gravidade, eser portanto grande a cifra dos mortos, e tanto maior quanto mais avultado fôr o concurso dessas causas,-como suecede nas duas freguezias citadas, na de Jacarépaguá, em alguns lugares do Campo Grande, do Engenho Novo e da Ilha do Governador, como é fácil apreciar das con • siderações anteriores. Removam-se, ou pelo menos diminuam-se, quanto fôr possível, o conjunetode tantas causas de insalubri- dade, e a mortalidade -decrescerá sensivelmente nestas freguezias, tornar-se-hão mais raras as endemo-epide- mias, e serão menos extensas e intensas as epidemias estranhas ao seu território, mormente si a estas medidas se addiccionar a de prestar soecorros immediatos aos indigentes que adoecerem, e de èncaminhal-os ao tra- DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. 97 balho, lirando-os da ociosidade em que vivem entre- gando se a todos os vícios que esta produz, e que tanto concorrem para mais arruinar-lhes a saúde já deteriorada por tantas outras causas, contribuindo para o enfra- quecimento orgânico daquelles que lhes succedem, e dando em resultado o avultado numero de crianças victimadas nas primeiras idades. Agora passarei a occupar-me das duas freguezias insu- lares, as de Paquetá e Ilha do Governador. Situadas a NO da bahia desta cidade, recebem ambas a primeira mão, com os terraesque sopram do mesmo rumo desde meia noite até 7 ou 8 horas da manhã, as emanações miasmaticas que se levantam de todo o vasto litoral da grande bahia da Piedade, paludosona mór pirte de sua extensão, assim como dos vastos brejaes e pântanos exis- tenles nos municípios percorridos pelos rios TVÍagé, Inhomerim, Macacú, Pilar, Iguassú e outros que nella têm a sua fóz, assim como de seu próprio litoral. Na parochia de Paquetá, cujo território abrange um aggregado de 15 ilhas a saber, a do mesmo nome, que è a maior e a sede da matriz, a do Ambrosio ou do Ferro, Itaóquinha, Brocóió, Pancarahyba, Jurubahiba, Folhas, Pedras, Itabaci, Itapoama, Redonda, Comprida, Manguinho, Casa da Pedra, e dos Lobos, das quaes só as quatro primeiras são habitadas, não é em geral muito saudável, sendo ao que parece mais doentia a de Itaó- quinha, segundo a informação dada pelo nosso amigo e collega o Sr. Dr. Pinheiro Freire, facto este que elle suppô~e provavelmente determinado pelas exhalações dos mangues próximos, cujo fundo fica a descoberto nas marés baixas, o que também succele na praia da Guarda em Paquetá, únicas praias lodosas que existem no ter- ritório da parochia. As moléstias que alli reinam com mais freqüência, e li h. 38 ÀPOXTAME.VTO-i áüBRK A MOKTA LtD.*l>C tomam ás vezes o-caracter endemo-epid-emico, são a dia: - rhea e a dysenlcria, com ou sem fundo palustre,-o que íiào só se pôde altribuir ao< abuso de frutas mal sazo- nadas, principalmente das pitangas, mangas, cajus e uvas, alli muito abundantes, eás emanações miasma- fcicasque pura alli acarretam, dos mangues vizinhos, os ventos leiraes; como também ás aguasde poços de que Paz uso a mapor parte da população, calcareas e salinas, em geral péssimas, exccptuaudo a de dous poços exis- tentes no campo de S. Roque, um chamado àü D. Po- lucena Seva,e outro de D. Felicidade, de cuja água se prove a mór parte da população, merecendo preferencia a do primeiro, por serem melhores suas condições de potabilidade ; sendo certo que naqueíla parochia só exis- tem, segundo as informações que oblivemos, uma nas- cente de água regularmente potável na ilha do Brocoió, e outra na de Paquetá no intitulado morro da Cruz., que foi de regular potabilidade, mas que hoje tem sido abandonada, preferindo-se a dos dous poços a que acima nos referimos. Além das moléstias citadas, são também al!r freqüen- tes e dotadas de maior ou menor intensidade as affecções- pulmoiriivs c bronehicas, quando reinam os ventos de SO e SSE em virtude da posição da parochia relativa- mente ácrirecção-destes ventos, facto para que lambem? não deve deixar de concorrer o fabrico da cal, princi- pal industria daquelia parochia, ea pesca em que se em- prega grande parte da população pobre, por motivos que éescusado aqui indicar. A varíola e osarampão têm igualmente alli appare- cido, reinando, porém, a primeira com menos inten- sidade e freqüência do que na Ilha do Governador, sem duvida porque na de que ora nosoccupamos se tem pi o- pagado a vaceiua em maior escala por ser mais fácil o accesso á obtenção-deste meio propliylatieo p^r causa da menor extensão de seu território-. Em virtude das coinmuuicações freqüentes que eu- TH rVl!»Ai)l-; Do 1(10 DE JAXEIUD. Vfi Saciem os seus habitantes com os.dr-sta cidade têm tam- pem alli apparecido casos das epidemias exóticas aqui reinantes, mas, a excepção da cholera-morbus de 1855, qw causou perdas sensíveis entre os escravos eos indi- gentes, nenhuma outra tem nella tomado maiores pro- porções, nem ceifado muitas vidas. A de Nossa Senhora d"Ajuda da Ilha do Governador 6 constituída em totalidade pela ilha do mesmo nome, a maior das existentes na nossa bahia. Esta ilha, que oecupa uma área de quasi 20 milhas de circumfrcovado, Andarahy Pequeno, Tijuca e Andarahy Grande, das quaes, além dos rios de que tratamos, quando falíamos da freguezia da Conceição da Gávea, descem para a planície, que ás vezes inundam nas grandes cheias ; na de S. João Bap- tista da Lagoa os rios Berquó e Banana Podre, e na.da Gloria o das Laranjeiras, os quaes todos têm sua origem nas vertentes da serra do Corcovado, e desaguam os dous primeiros na praia de Botafogo, eo ultimo na do Fla- mengo ; na freguezia do Espirito Santo, os rios de Co- queiros, principal causa de inundações das ruas do Conde d'Eu no seu crusamento com a do Visconde de Sapucahy, e o Comprido, os quaes sahindo ainda das abas da mesma serra, vão desaguar no canal do mangue; na do Engenho Velho, o rio Trapicheiro que, precipi- tando-se da serra do Andarahy Pequeno, e percorrendo a parte plana da freguezia citada na extensão de mais de 3.000 metros, vai desaguar na praia Formosa ; o de S. João que sahindo da mesma serra e juntando-se em seu percurso ao do Maracanã, que sahe da serra da Tijuca, vão desaguar na mesma praia a pouca distancia daquellas; sendo certo que todos estes rios, que outr'ora eram abundantes d'agua hoje nas occasiões da sêcca,ou pou- cos dias depois, nenhuma água contêm, facto que tam- bém nota-se nos citados antecedentemente. Além dos rios, riachos, e córregos que acabamos de mencionar, e que tanta similitude dão ás condições hy- drographieas da freguezia de Jacarépaguá com algumas 108 APONTAMENTOS SOBliK A MORTALIDADE urbanas, ha ainda outras nestas que não convém es- quecer á vista da sua importância, constituindo alguns delles valiosos mananciaes do abastecimento d'agua a esta cidade. São elles os seguintes: O rio Carioca, que, com os córregos Paineiras, Sil- vestre, Lagoinha e Bahia, formam o manancial cha- mado da Carioca, lendo todos sua origem nas vertentes do Corcovado: O manancial chamado do morro Inglez, tendo a mesma origem, e cujas águas são destinadas a abastecer o bair- ro das Laranjeiras e parte do Caltete: a nascente do Ilhéo Grande, o rio Tindyba, e o córrego Grande nas abas do Andarahy, cujas águas são destinadas a abas- tecer os bairros do Engenho Novo, S. Christovão, Pe- nha, Caju, Bemfica e parte do Engenho Velho : As cascatas de Robert Benetl e do Conde da Eslrclla na Tijuca. Os mananciaes de José Antônio Alves de Brito, Ge- raldo Caetano dos Santos e serra do Engenho Novo no Andarahy Grande: A nascente de D. Castorina na Lagoa, etc. Pois bem, o volume d'agua em todos estes manan- ciaes tem consideravelmente diminuído em virtude do bárbaro systema de derrubar as matas onde tiram a sua origem 1 Não seriam elles suííicienles, sendo bem aproveitados para dar água a fartar ás necessidades da populaçãodesta cidade, ainda em duplicado numero, sem ser preciso ir buscal-a longe com tanto sacrifício dos cofres públicos, si em tempo se tivesse prevenido por meio de um código florestal a derrubada das malas seculares que ornamentam as montanhas cm que se acham suas fontes generativas? Pensamos que sim. Não sendo, porém, possível remediar o mal que está feito, esforcemo-nos ao menos para impedir sua con- tinuação e busquemos attenuar o existente. E si to- camos neste ponto foi só para chamar sobre elle a DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO". roa attenção da administração publica e patentear as al- terações sensíveis que vai experimentando esta cidade em suas condições hydrographicas à medida que ganha em extensão, e que se vão extinguindo as lindas flo- restas que a circumdam, assim como a influencia des- favorável que este facto, a não ter um paradeiro, pôde exercer sobre a saúde publica desta cidade. Completam o élo das condições naturaes semelhantes entre as parochias urbanas e extra-muros: 1.° o calor elevado que reina na planície de todas , excedendo aos desta cidade em algumas, em que, além da vegetação enfesada que se encontra em certas localidades, con- corre a escassez ou ausência das virações de Leste, SE., ESE., e SSE., que se encarregam de refrescar durante a tarde a parte litoral desta cidade, taes são, as freguezias de Irajá e Inhaúma, inconvenientes de que também se resentem as do Engenho Velho e En- genho Novo nos seus limites extremos; 2.° o estado hygrometrico pronunciado que também se nota nas mesmas parochias em virtude da evaporação constante que se effeetua dos grandes pântanos e brejaes que nellas existem por toda a parte. Assim sendo, é natural acreditar que os ventos do sul, á excepção das moléstias a frigore, que elles sempre determinam em maior escala, são favoráveis á salubri- dade publica desta capital sob o ponto de vista do reinado das moléstias de origem infectuosa, por isso que, em virtude de sua direcção, lançara para fora as emanações que para ella arraslramos que sopram dos ru- mos do norte ;e que estes, si podem ser benéficos quando violentos e acompanhados de trovoadascom chuvas, tor- renciaes, limpando a atmosfera das emanações nocivas, como em tempos passados succedii com freqüência, devem-se tornar muito nocivos, [quando coincidindo com trovoadasseccas ou acompanhadas de chuva es- cassa, porque não só exacerbam o calor, como augmen- tam o es!ado hygrometrico, contribuindo para maior 110 APONTAMENTOS SOBItK t MOHTAL1DADK freqüência e gravidade das moléstias zigmoticas, para as quaes tantos elementos reunidos se encontram nesta corte por falta de zelo no seu saneamento. E' exactamente o que acontece nas occasiões das epide- mias de moléstias infectuosas, e tem sempre succedido no reinado da febre amarella epidêmica, das outras febres, e em geral das moléstias de origem infectuosa, cuja freqüência, intensidade e ás vezes manifestação, coincide com taes condições de meteorologia ; no en- tanto que as oppostas, se são prejudiciaes aos já affecta- dos em virtude das modificações ás vezes profundas que a descida prompta da temperatura produz na evolução das moléstias, fazem diminuir logo a freqüência dos ataques epidêmicos, e trazem rapidamente a declinação da doença, fazendo baixar os gráos de calor e as alturas hygrometricas a despeito da saturação da humidade do ar durante o reinado destes ventos. Não se infira, entretanto, do que acabamos de dizer que admittamos perfeita identidade entre as moléstias attribuidas á acção do elementopalustre alli observadas e as que aqui se encontram ; porquanto, não desconhe- cemos que naquellas, tendo por principio originário o miasma dos pântanos em seu estado natural, mais accen- tuados devem ser os symptomas que as distinguem, e que este facto que ainda ha 40 annos se observava nesta cidade, tem desapparecido para assim dizer, porque a esse principio têm se lhe juntado outros que modifi- cando-o por certa fôrma, não têm todavia roubado-lhe sua qualidade essencial e a mais digna de attenção nas doenças que lhe devem o ser, taes são, além de outros muitos, os que resultam da fermentação pútrida das immundicias empregadas em larga escala no aterro da cidade, e que são freqüentemente revolvidas pelas es- cavações constantes praticadas no leito das ruas, as que provêm das emanações dos encanamentos dos esgotos por causa das obstrucções constantes a que estão sujeitos, assim como da accumulação dos homens e diversas espe- DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Hl ciesde animaes em uma grande cidade, da existência das fabricas industriaes de todo gênero no centro das popu- lações compactassem attenção aos preceitos hygienicos que convém guardar acerca de taes estabelecimentos, e que por tanto suas manifestações não podem deixar de resentir-se dos effeitos desse aggregado de circum- stancias e de muitas outras que concorrem no seio de populações compactas. D'ahi se origina a distincção que freqüentes vezes se nota entre as doenças de fundo palustre das freguezias urbanas e das extra-muros, a serie de anomalias de que se revestem aquellas em suas fôrmas symptomaticas, a diversidade de typos ede lesões anatômicas que as acom- panham, illudindo ás vezes o juizo do pratico, princi- palmente se não tem este ainda a base de observação sufficiente para reconhecer as causas dessas anomalias. Não podendo, porém, nem devendo continuar no es- tudo deste ponto, não só por necessitar de desenvolvi- mento que não comporta a natureza deste escripto, como porque nos afastaríamos do fim principal a que procu- ramos attingir, não proseguiremos nelle, para expormos as conclusões geraes que nos parece se poderem deduzir acerca do movimento da população em todo o município durante o quatriennio de que nos occupamos. CAPITULO V. Summario.— Conclusões sobre o movimento da população em todo o município depois do recenseamento de 1872. Resumindo os dados expostos chega-se aos seguintes resultados que se podem considerar como aproxi- mados da exactidão: 1.° Que nasceram em todo o município, durante o quatriennio de 1873 a 1876, com exclusão da freguezia de Irajá 33.813 crianças, admittindo 10% de aceres- cimo sobre os nascimentos conhecidos. 112 APONTAMENTOS SORRE A MOltTALIDADE 2.° Qued'entrc os nascidos contam-se 3.963 ingênuos. 3.° Que a cifra da mortalidade geral, excluídos os nascidos mortos nesta corte e os 26 de Guaratíba, attin- giu a 53.146, entre os quaes figuram 7.554 escravos, a saber: 870 nas freguezias extra-muros e 6.684 nas ur- banas. 4.° Quedos nascidos vivos eram 15.865 do sexo mas- culino, 15.309 do feminino e 2.639 não determinado. 5.° Que dos mortos incluídos os de nascimento eram homens 35.523, mulheres 19.991. 6.° Qne sendo a média da mortalidade das crianças até sete annos representada pela cifra de 3108,25, sua proporção relativa á dos nascimentos foi de 38,36 para ICO e de 383,6 para 1.000 neste período. 7.° Que figurando a dos escravos nas fregue- zias urbanas com o algarismo 6.684 e com o de 870 nas outras, ou com o total de 7.554 em todas as paro- chias citadas, segue-se que decresceu a população es- crava nessa proporção, e mais na de 185, que foram libertados pelo fundo de emancipação, perfazendo a somma de 7.739 escravos desapparecidos por estas causas. (1) 8.° Que comparando a cifra média da população de facto no decurso do quatriennio com a obtida pelo re- censeamento de 1872, reconhece-se que o augmento obtido neste período, excluída a da freguezia de Irajá, foi apenas de 10.726 pessoas livres, segundo os cálculos parciaes feitos. 9.° Que a dos casamentos regulou annualmente de 4,8 para 100 mulheres solteiras ou viuvas de 16 a 30 annos e de 2,8 homens para 100 no mesmo estado e idade. (1) Fizemos todo o possível para chegar ao conhecimento do total dos escravos libertados, a lim de avaliar do decrescimento da população respectiva, assim cômoda substituição que houve com os novamente importados das províncias, mas nada pude- mos alcançar a este respeito, apezar de todos os esforços que •empregamos. DA CIDADE DO RIO DE*JANEIP,0. H3 10. Que a cifra geral da mortalidade no quatrien- nio regulou na média 4,36 °/„ na população das fre- guezias urbanas e 2,32 nas outras, com exclusão da de Irajá. 11. Finalmente que os resultados obtidos em relação á mortalidade neste período devem ser attribuidos ás grandes perturbações sanitárias que occorreram, e não podem ser tomados com a expressão da mortalidade or- dinária deste município, attentas as razões que para isso influíram. Aqui damos por findo o estudo que emprehendemos jícerca desta importante questão sociológica em virtude da posição que occupámos, emprehendimento superior ás nossas forças comparada a magnitude do assumpto e as difflculdades inherentes a esse estudo na carência dos documentos precisos para semelhante tentamen. E comquanto sejamos o primeiro a reconhecer que está elle muito áquem de satisfazer as exigências da sciencia em questão de ordem tão elevada, apezar dos esforços que empregámos com sobra de boa vontade, não duvidámos de apresental-o, como simples tentativa de tão interessante estudo e para tornarmos bem pa- tente a urgente necessidade de organizar-se o serviço do registro dos nascimentos e dos casamentos e de se fazerem certos melhoramentos no systema adoptado na confecção de nossas estatísticas mortuarias, e de se es- tabelecerem outras medidas necessárias ao conheci- mento do movimento da população do Império, com algum acerto, e finalmente de fazer conhecer de modo succinto as principaes causas da mortalidade desta cida- de, tendo em vista despertarmos sobre ellas a attençao da administração publica,á qual assiste o direito e dever 16 H. U4 APONTAMENTOS SOBRE A MORTALIDADE. de velar sobre tudo quanto diz respeito ao bem estar da sociedade collectiva. Por bem pagos nos daremos dos esforços e sacrifícios que fizemos para a consecução dos dados reunidos neste trabalho, si fôr elle digno de merecer alguma attençao, e si outros mais habilitados quizerem aperfeiçoal-o, preenchendo as lacunas que o pejam, não só por falta de certos esclarecimentos precisos, como pela brevidade do tempo com que foi feito. FIM K1U í APONTAMENTOS f) tODRE SOliUE O MOVIMENTO DE SÜA POPULAÇÃO NO PRLMEIRO 0UATR1ENNIÒ DEPOIS DO RECENSEAMENTO FEITO EM 1872 PELO DO RIO DE JAf PARTICULARMENTE DAS CRIANÇAS' üBarãa de Aauradto . RIO DE JANEIRO TYPOGRAPHIA NACIONAL 1878. I ly, iOO'*-78. NLM 0Q10b525 1 NLM001065251