BBE7E HISTORIA BA FEKRE-VMRELL4, QUE TEM REINADO EPIDEMICAMENTE NA BAHIA, DESDE SEU APPARECIMENTO EM 1849; RELAÇÃO DOS DOENTES TRATADOS NO HOSPITAL DÉ MONT-SERRAT DESDE 1853 ATÉ O ANNO CORRENTE DE 1859. PELO Dr. Tito de Adrião Rebcllo Cavalleiro da Ordem deCbristo, Inspector de Saúde do Porto, Director do Hospital de Mont-Serrat, Ciruigifio-mór do Commando Superior da Guarda Nacional da Capital etc. etc. BAHIA: TYPOGRAPHIA DE ANTÔNIO 0. DA FRANÇA GUERRA, Rua do Tira-Chapéo m 3. 18S9. DIMIPÇáO MU ou BREYE HISTORIA DA FEBRMMARELLi QUE TEM REINADO EPIDEMICAMENTE NA BAHIA, DESDE SEU APPARECIMENTO EM 1849; E RELAÇÃO DOS DOENTES TRATADOS NO HOSPITAL DE MONT-SERRAT DESDE 1853 ATÉ O ANNO CORRENTE DE 1859. PELO Dr. Tito de Adriào Rebello CavaUeiro da Ordem de Cbristo, Inspector de Saúde do Porto, Director do Hospital de Mont-Serrat, Cirurgião-mór do Commando Superior da Guarda Nacional da Capital etc, etc. ^s^==ssS^ BAHIA: TYPOGRAPHIA DE ANTÔNIO 0. DA FRANÇA GUERRA. Rua do Tira-Chapêo n. 3, 1859. |<3 S^ /-,/*» 7 7^ . j+cím <4 AO ILUSTRÍSSIMO E EXCELWnSSMO SENHOR CONSELHEIRO DEZEMBARGADOR SENADOR DO IMPÉRIO, COMMENDADOR DA IMPERIAL ORDEM DA ROZA OFFERECE COMO PENHOR DE CONSIDERAÇÃO E AMISADE O Author. .y^Y1 ^ 8000 Cabia-me o imperioso dever, publicando este meo primeiro trabalho sobre o hospital de Mont-Serrat, dedical-o a V. Ex. não só por ter sido o seo fundador, quando digno Presi- dente d'esta Província, como por ter em mim confiado, nomeando-me para dirigil-o. Digne-se V. Ex. de acceital-o, desculpan- do por sua illustracão e bondade, as faltas que sem duvida terá de encontrar. De V. Ex. o mais obdiente e fiel criado Dr. Tito Adrião Rebello. 2 as formas, sobresaindo todavia seus caracteres spe- ciaes—o vomito negro, a côr amarella da pelle, e da mucosa ocular; ainda que as veses sejão estes symptomas mais, ou menos mascarados, e falhem nos casos muito benignos, e até o segundo não per- tença exclusivamente á febre-amarella, sendo com tudo este mais freqnente, que aquelle. Entendemos, que fallando á respeito da febre- amarella corria-nos o dever de dizermos—qual era nossa opinião sobre sua naturesa, e por isso o fize- mos, apesar de reconhecermos a dificuldade, de de- finil-a. A explosão da febre amarella rebentou na Capi- tal da Rahia depois da chegada do brigue Norte-ame- ricano—Brasil—(â 30 de Setembro de 1849) pro- cedente de NpvaOrleans, trasendoá seu bordo doen- tes da febre, segundo uns, e segundo outros o referi- do brigue foi admittido â liyre pratica, por isso que na occasião da visita de saúde deste porto toda tripu- lação, e passageiros estavam sãos, tendo em sua derrota 75 dias de viagem. Fosse o brigue—Brasil—o importador da febre, 3 ou fosse apenas uma coincidência, questão, que não ventillaremos, ella manifestou-se n'aquclla epocha, e foi se extendendo aos navios ancorados n'este porto, e também á cidade baixa, e alta, onde fez muitas victimas, ceifando a população d'esla bella Bahia, e propagou-se ao jlittoral, aos arrebaldes da Cidade, á alguns logares centraes, poucas legoas distantes das praias, (talvez 20 legoas) decimando grande parle dos habitantes da nossa Província. Esta epidemia durou na Capital até Abril de 1850, e foi diminuindo progressivamente até extinguir-se, continuando à fazer estragos até Agosto em outros logares da Província, fora da Capital. De 1850 para 1851, e de 1851 para 1852, poucos casos apparecerão, quer entre os extrangei- ros recém-chegados, e acclimatados, quer entre os naturaes do paiz, atacando de preferencia os extran- gciros de bordo. Em 1852 para 1853 reapparecco a epidemia, accommettendo extensa e intensamente os extrangei- ros marítimos recemchegados, e invadio a população de terra em pequena cscalla, preferindo sempre os 4 extrangeiros e nacionaes não aclimados; exercendo as leis climatericas a mesma influencia, que para os extrangeiros, sobre os filhos do paiz, naturaes de-lo- gares especialmente centraes (sertões), onde a epi- demia não pôde tocar os raios de sua sphera de acoão gosando somente de immunidade os que ja tinhão sof- frido do mal nos annos anteriores^ excepto um, ou outro caso raro de reincidência. Desta epocha em diante a febre amarella tem ap- parecido todos os annos em Janeiro, ou Fevereiro, e termina em Setembro, mais ou menos dias, invadindo epidemicamente os não aclimados, e sporadicamente os aclimados, para os quaes não ha epocha determi- nada, visto que os casos sporadicos prorompem em qual quer occasião, sendo com tudo mais freqüentes no mencionado intervallo de Janeiro à Setembro. Aquelle reapparecimento, e recrudescencia da epidemia em 1853 produsio no animo do Ex.m0 Sr. Conselheiro e Senador do Império João Maurício Wanderlcy, então Presidente d'esta Província, o pen- samento da necessidade da creação de um hospital spccial (1), onde fossem recolhidos e medicados os accommcttidos d'eslc horrível devastador, oriundo do Senegal e Gambio, d'onde passou à America; e de feito seu pensamento foi realisado, instituindo-se o hospital em Mont-Serrat á 23 do Maio, para receber os indivíduos do mar, e de terra invadidos pela febre amarella. Esta instituição tem preenchido seus fins bené- ficos. Primo:—a sequestração, ou segregação dos indivíduos doentes pertencentes ás trípulaçoens dos navios surtos n'este porto, onde a febre produz maio- res estragos; conseguindo-se d'est*arte não só a sepa- ração dos doentes, dos sãos, mas ainda sua subtrac- ção â acção da atmosphera marítima, e do próprio navio, onde adoecem, e onde ha menos condiçoens favoráveis para o tratamento; c minora-se assim o foco existente, não se alimentando-o com novos ma- teriaes, como as exhalaçoens, c excreçoens dos pró- prios doentes. (I) Esta idea já tinha sido aventada, quando era Presidente o Ex.m0 Sr. Conselheiro e Senador do Im- pério Francisco Gonçalves Martins. 6 Secundo:— a disseminação, ou separação dos próprios doentes entre si, para que não se formem focos de infecção, o que accontece nos navios, onde dormem accumulados, respirando o ár pútrido dos poroens. Tertio:—a extineção dos diíTerentes focos, que se formavão, e se alimentavão no centro da população, onde erão antigamente tratados os doentes como nos dos hospitaes, principalmente no da Mizericordia, e também em casas particulares; o que nada menos produsia, que terror na população, além da mistura de doentes de outras moléstias, que podião facilmen- te adquirir o caracter da constituição epidêmica. Quarto:—hospitalidade prestada pelo Governo de S. M. I. aos subditos marítimos das outras naçoens, atacados da fatal febre, mediante muito pequena contribuição, barateando-lhcs d'esta sorte soccorros promptos n'este porto, anima-os mais á virem tra- zer-nos suas mercadorias, e levar os produetos do paiz, e afugenta d'este modo maiores tropeços ao nos- so pequeno commercio, e por conseqüência embaraça a diminuição das rendas dos direitos de importação e exportação. Por tanto, o pensamento do Ex.m0 Sr. Conselheiro Wanderley e sua execução foi, som duvida, uma me- dida humanitária, hygienica, política, e civilisadora até para aquelles, que não acreditão no contagio. Agora não posso furtar-me â obrigação de dizer algumas palavras sobre a etiologia da febre amarel- la, e sua transmissibilidade, afastando-me do meu propósito; visto como pareceria excentricidade saltar por sobre estes dous pontos. Etiologia. A questão de causa occasional, ou productora da febre amarella é uma questão transcendente de sum- ma importância, que ainda está occulla em espessos veos, como a causa próxima de todas as epidemias, (2), c não serei eu, certamente quem se abalançará á querer tentar descobril-a; com tudo, expenderei (2) Suivant Ia belle expression deM. Liltré, est maladies pestilenciellesn'ont pas Ieur origine dans de circonstances que rhomme puisse pivparer, quelà 8 minha humilde opinião á respeito do que penso, pos- to que nada explique. Os contagionistas entendem, que são necessárias duas influencias, ou causas para a producção da fe- bre amarella epidêmica, as quaes são o excitador epidêmico, ou germen, e a matéria prima—substan- cias orgânicas em decomposição — e sem as quaes ella não se desenvolverá, embora as condiçoens me^ teorologicas sejãofavoráveis. Os não contagionistas querem, que ella se desen- volva sem o concurso, ou intervenção do excitador, ou germen, e careça somente de um certo estado, ou influencia meteorológica (geralmente calor e humi- dade), c da existência de focos de emanaçoens de substancias orgânicas—animaes e vegetaes—em de- composição, de cujos componentes, ou elementos se desdobrão,ou formão-se compostos intoxicantes, co- mo o hydrogeno carbonado, o hydrogeno phosphora- do, o hydrogeno sulfurado, e o ácido carbônico. tout est invisible, mysterieux, et que tout est produit par des puissances d'ont les effets seuls se révèlut. (Tard. Tardieu Dice. de II. P.) 9 Huns attribucm a febre á estes corpos deletérios indicados; outrosà novos corpos formados á custa do azoto, e do oxygeno do ár com o carbono dos mias- mas, isto é, um composto cyanico, e ó oxido de car- bono. Tanto aquelles, como estes, não prescindem da influencia meteorológica para seu desenvolvimento. Os contagionistas explicão a falta de appareci- mento da epidemia n'este, ou n'aquelle logar, apezar da existência do excitador, e do foco de substancias orgânicas em decomposição pela ausência de cir- cunstancias, ou condiçoens meteorológicas adequa- das á seu desenvolvimento. Os não contagionistas firmão-se na mesma ra- são, para explicarem a falta de sua explosão, quan- do existem effluviosde substancias orgânicas em de- composição, e entre tanto ella não se desenvolve. He n'este estado de controvérsia, e de duvidas que ainda permanecemos, e nem nos attrevemos á emittir opinião nossa acerca da causa essencial, e occasional da febre amarella; com quanto nos pare- ça, que nas epidemias geraes, que não são depen- 10 dentes de causas inteiramente locacs (provenientes da alimentação, das águas, do ár das localidades & &) o cuja sphera de acção é limitada, e que se pro- pagão, e se transmmittom á logares diversos e dis- tantes, ha um principio material orgânico, ou inor- gânico, que he levado á este, ou aquelle ponto pe- las pessoas, ou pelas coisas (oár &), o contempla- mos a febre amarella epidêmica n'este gênero, ou quadro. Transuiissi»ilida poder de transmittir-se sem se saber explicar o como, e o porqne. {3) Si este principio estabelecido he verdadeiro, si pois, qualquer epidemia pôde transmittir-se de uma localidade á outra, e de um paiz á outro paiz por alguma circunstancia extranha á nós, ainda quando não seja ella de natureza essencialmente contagiosa, como duvidar-se de poder transmissível da febre a- (3) L'épidemicitéd'une maladie peut lui iraprimer accidentellement le caracter contagieux, comrae on te voit fréquemmeot dans les petites localités, notam- ment pour Ia fièvre typhoide, et d*une autre part, les Coyers épidémiques peuventêtre mobiles, et se dépla- cer par voie d'immigration sansque Ia maladie impor- tíe soit rèellement contagieuse, come il arrive pour le cholera, et Ia fièvre jaune. Tardieu Dicc. H.P. O Dr. Fodéré diz—as moléstias simplesmente epi- dêmicas podem tornar-se contagiosas. 12 marella, moléstia de natureza pcstilencial, como são a cholera—a peste—e o typho? Si o principio não he verdadeiro, se ha de con- vir, que toda moléstia epidêmica, que não for essen- cial, e immediatamente contagiosa, como a variola, e que por tanto não se transmittirpor contacto di- recto, e indirecto, dependerá, ou nascerá de causas inteiramente locaes, próprias á cada clima, e ácada paiz, e será collocada entre as epidemias locaes, a qual não se transmittirá á paiz e clima differente: o que é um absurdo; porque como se explicaria o de- senvolvimento, e a existência de uma mesma molés- tia epidêmica em paizes e climas diversos? Como se explicaria a mesma moléstia, reinando epidemicamente em estaçoens differentes no mesmo clima, e em climas inteiramente oppostos? A Cholera — a peste—e a febre amarella, por ventura, não tem reinado epidemicamente em cir- cunstancias climatericas inteiramente adversas? Conseguintemente somos levados forçosamente á admittir, que além das leis climatericas geraes, pró- prias á cada um paiz, ha uma condição peculiar, que 13 favorece, e quiçá, é um dos factores da cauza, edo desenvolvimento das epidemias, e ha outra condi- ção, ou influencia special, que lhes dá o poder de transmittirem-se á paizes differentes; o que depen- derá talvez da formação de algum corpo, que é des- conhecido, no próprio organismo,—depois de actu- ar sobre os princípios entoxicadores absorvidos,— ou então de alguma influencia meteorológica inapre- ciavel. E si pois, a febre amarella pode transmittir-se, porque negar-se a possibilidade de sua importação, porque negarem-se immensos factos, que vem em seu apoio, appellando-se somente para a coincidên- cia, e attribuindo-se seu apparecimento sò à causas locaes? Sem duvida, que ella pôde gerar-se, e desen- volvelver-se em um determinado paiz e de seus próprios alimentos, sem precisar de apadrinhar-se com a importação; mas d'isso não se segue, que não possa ser importada. Podemos estar raciocinando erradamente, po- rem nos parece, que à priori não se poderá negar sua transmissibilidade, em quanto que á posteriori os factos se contradictão, e se destroem de modo, que não podemos attingirâconclusões legitimas, e á pro- vas irrefragaveis. Não podemos dizer, por tanto, restringimos á questão da importação â Bahia, si a febre amarella nos foi importada, ou si gerou-se n'esta Província, onde primeiroappareceo em 1849 (4); e ao de mais faltão-nos dados directos e indirectos para chegar- mos á provas luminosas e evidentes, que nos guiem ao descobrimento da verdade. (4) O elegante historiador Sebastião da Rocha Pit- ta relata, que houve uma epidemia em Olinda em 1688 denominada —Bicha—que de Pernambuco passou á Bahia, e que ainda existioem 1687, e 1688 para as pessoas, que vinhão de mar em fora, ou dos sertoens, mas não dá noticia, de que os doentes ficassem com a pelle amarella, nem tivessem tido vômitos pretos. O Medico Portuguez Ferreira da Roza diz ter havido fe- bre amarella epidêmica na Cidade de Olinda em Per- nambuco em 1687. (Dr. Japi-assú em sua These, sobre febre amarella.) Vi RELATÓRIO. Relação dos doentes recebidos e trata- dos no Hospital de Mont-Serrat des- de o anno de 1853 até 1859, com- parativamente ás Idades, naciona- lidades, marcha da epidemia nos mezes de seu maior incremento e períodos, em que entrarão; e conta do resultado geral dos dilTerentes annos, considerados englobadanien- te sob as mesmas relações (5). Installou-se o hospital, como já dissemos, a 23 de Maio de 1853, e já a epidemia reinava com mui- ta intensidade dês de Março; mas somente em Maio (5) Não falíamos relativamente a profissões, nem á sexos; por quanto, excepto um, ou outro doente dos recolhidos á este hospital desde aquella epocha, todos os de mais são marinheiros, até hoje nem uma mulher tem side recebida: não encaramos a questão tam- bém em relação ao tempo de residência, ou aclimata- mento; porque todos os accommettidos ali tratados são recém-chegados. 16 poude principiará funccionar o novo estabelecimen- to, em virtude do tempo preciso para apromptal-o, e de então para cá tem funccionado regularmente, abrindo-se logo, que apparece a febre nos navios surtos n'este Porto, e fechando-se immediatamente que ella extingue-se, como se verá dos quadros sta- tisticos apresentadas a diante. Quanto as idades: Entrarão para o hospital do dia 8 de Junho á Agosto de 1853, 74 enfermos, to- dos marinheiros, cujo gênero de vida expõe-nos á ex- cessos de toda specie, e por isso mais aptos á contra- hir a febre, além da circunstancia predisponente de estarem sob a influencia de novo clima, e de se en- tregarem ao uso immoderado de bebidas alcoolisa- das; e é sabido, pois que a observação tem de- monstrado, que a febre amarella tem predilecção pa- ra os homens de constituição forte, de temperamen- to sanguineo, e que são habituados ao regimen sti- mulante. A mesma predilecção tem-se observado, que guarda pana as idades, em que a vida gosa de mais 17 vigor, e actividade, como demonstrará o quadro se- guinte de 1853, e assim os dos annos successivos. o o o o o O ■ 1 o> O O O O Q Q O H Homens... 29 21 19 4 1 0 0 74 D'este quadro se deduz, que foi a idade de 10 á 30 annos a que maior numero de aífectados da fe- bre appresentou, seguindo-se depois a idade de 30 á 40, decrescendo progressivamente de 40 em di- ante; de modo que em 74 doentes 50 ou 6 7 Va % tinhão de 10 á 30 annos, e 19, ou 25 */3 erão de 30 á 40. Esta demonstração torna-se evidente, atten- dendo-se aos -quadros seguintes, em que o numero dos entrados e tratados foi muito maior, e por con- seqüência mais bem aquilatada deve de ser á propor- ção dos invadidos, quanto as idades. Em 1854 entrarão desde o dia 2 de Março á 8 de Novembro 325 doentes, e veremos que o maior 18 numero, ou quasi todos, são de idade de 10 á 30 annos—eis-ahi—. IDADES. o es O ^» «3 3 CS 5 cs o CO o 3 cs o o o cs o ao 93 O o cs o CO <ü Q 1-QJ O 13 o H Homens... 96 463 45 17 4 0 0 1 325 D'aqui conclue-se, que a idade de 10 á 30 an- nos, não só é a época da vida, em que o numero dos accommettidos é maior, como também que este numero cresce progressivamente ao passo, que vai subindo a idade até chegar aos 30 annos, e, vice versa, vai decrescendo progressivamente de 30 an- nos em diante* visto como sohre 325 doentes, 259, ou 79 7, % erão da idade de 10 á 30 annos, e 45, ou 13 V, erão de 30 á 40. Em 1855 entrarão desde o dia 20 de Janeiro á 31 de Outubro 614 doentes, (6) e a mesma consequen- (6) Em vista do crescido numero de doentes n'este anno o governo da província sollicito em melhorar a sorte dos infelizes accommettidos de tão terrível mo- léstia, e de accordo com a illustrada Commissão de 19 cia se deduz do quadro respectivo, que se segue, sobre a época da vida, que a febre assalta mais, e inversamente. o o CO o •** o ao o o o Es 03 CS IDADES. cs o cs o cs o #0 cs O CS O ao CS o CO o H a 03 Q 0) 03 03 03 ■o a a Homens... 236 298 59 10 4 i 0 7 614 D'elle se vê, que de 614 entrados 534, ou 86 2/3 pertencem a casa da idade de 10 á 30 annos, e 59, ou 9 7S á de 30 á 40. Em 1856 entrarão do dia 5 de Março á 11 de Outubro 284 doentes, e a mesma conclusão emana do seu quadro seguinte. Hygiene Publica (a), e á requisição d'ella, que fre- qüentemente visitava o hospital, fez a acquisição de mais dous prédios separados do edifício, próprio na- cional, afim de dar mais commodos aos doentes, e de desinfeetar as enfermarias. (a) Â Commisaão de Hygiene Publica n'aquella occasião era composta do illustrado Professor Dr. José de Góes Siqueira — Presidente, do illustrado Professor Dr. Malaquias Alvares dos Santos—Secreta lio, e do illuslrc Dr. Horta—Adjunto. 4 20 o o o o o o .i ou 13 por cento são de 30 à 40. Ainda mais vem reforçar esta verdade, que so- bresahe dos factos o quadro de 1858. Em 1858 entrarão dês d'o dia 4 de Março à 31 de Maio 8 doentes, e, como se colligirá do seu qua- dro, apezar do diminuto numero dos entrados, a pro- porção' dos atacados em relação ás idades, foi igual- mente narasão directa da idade de 10 á 30 annos, e vice versa. o o o o o o .i ©i CO *»* ao CO r- F • cs es cs cs CS cs «- 5£ «-" IDADES. o O o O O o Oi o «N. D. C. oO TOTAL. MORTOS. Dcidades in- ternai nadas e agonisando.... 12... 12 (100%) a mortandade. D'este quadro statistico se conclúe, que as ida- des de 30 á 40, e de 10 á 20 annos soffrerão quasi igualmente; por quanto a mortandade dos de 30 á 40 foi de 33 á 34 por cento; e a dos dc 10 á 20 annos foi de 34; e muito provavelmente a mortan- dade da idade de 30 á 40 annos ficou equiparada á da idade de 10 á 20, por amor das idades indeter~ minadas d'aquellcs que entrarão agonisantes, e que durarão poucos minutos no hospital, e d'estes quasi todos terião de 10 á 20, c de 20 á 30 annos; e por isso crescêo a proporção de mortos da idade de 30 à 40 annos: depois das duas indicadas idades, col- locou-se cm 3.° lugar a dc 20 á SO annos, cuja mor- tandade subio á 31 por cento, vindo om seguida a casa da idade de 40 á 50 annos, cuja proporção do mortos foi doz vezes menor, e ainda menor a da ida- de de 50 á 60 annos, que nenhum óbito dêo; e„ pois, foi a mais protegida; c dc feito, fallando em theze, é a casa das idades a mais benignamente atacada. 51 A conclusão geral é, que a febre amarella é mais mortifera na época da vida de 10 á 40 annos, e que a de 40 á 60 é a mais favorecida; excluindo os dous extremos das idades—os menores de 10 annos, e os maiores de 60—cuja mortandade é sempre a maior, segundo está demonstrado statisticamente (8). Mortalidade segando as nacionalida- des em 1853. TOTAL. MORTOS. Inglozes........ 14... 13 (923/4°/0) a mortandade Allemaens...... 27... 13 (48%) Portuguezes.... 12... 4 (33 1/3% » Suecos.......... 7... 3 (42 a 43 %) Italianos....... 7... 3 (42 a 43 %) Francezes...... 2... 2 (100 7J » Americanos.... 1... 1 (100%) » Russos......... 1... 1 (100%) Dinamarquezes 3... 0 (100 %J » (8) Não tratamos das segundas mencionadas idades, porque todos os doentes recolhidos ao hospital tinhão de 10 á 60 annos, como se vê dos mappas inseridos. 8 52 Os Inglezes, pois, forão os que mais soffrerão, qnanto a mortandade n'aquelle anno, apoz elles os Allemães, e depois os Suecos, os Italianos, e Portu- guezes, que menor numero de mortos derão; e a ra- zão única, que temos para explicar este resultado é, que muitos dos Portuguezes entrarão em melhor es- tado, dentro das primeiras 24 horas, depois da in- vasão e no primeiro período da febre. Quanto aos estrangeiros das outras nações em virtude do muito limitado numero de entrados não podemos bem apreciar a proporção de sua mortan- dade, e por isso não cantamos com elles. Mortandade segundo as nacionalida- de em 1854. TOTAL. MORTOS. Inglezes........ 106.. 47 (461/3%) a mortandade Portuguezes... 53.. 19 (35a36°/0) > Suecos......... 41.. 11 (26 a 27%; » Francezes...... 37.. 12 (32 1/2%) » Allemaens..... 19.. 7(36a37%) » Dinamarquezes 17.. 6(35 1/3%) » 53 TOTAES. MORTOS. Hollandezes.... 14.. 8 (57%) a mortandade. Hespanhóes.... 10.. 5 (50 %) » Italianos....... 9.. 5 (55 1/2 %) » Americanos.... 8.. 3(371/2%) » Nacionaes...... 7.. 4 (57%) » Belgas.......... 4.. 2 (50 %) » Os Hollandezes forão os mais decimados n'aquelle anno, á estes succederão os Hespanhóes e depois os Inglezes, e em seguida os Allemaens, os Portuguezes, os Dinamarquezes, os Francezes, e os Suecos, que me- nor mortandade appressntarão, e a mesma razão, que em 1853 fez que os Portuguezes offerecessem menor mortandade, assistio em 1854 aos Suecos, cuja maior parte entrou nas primeiras 24 horas, e no pri- meiro período, e não deve proceder outra razão para explicação de igual facto; visto como todas as demais circunstancias, ou disposições índividuaes capazes de favorecer o bom, ou máo êxito do tratamento Ih^s são subordinadas. 54 Mortandade scgrundo as nacionalida- des em 1855. TOTAL. MORTOS. Inglezes........ 185... 50 (26 %) a mortandade. Portuguezes ... 99... 33 (33 1/3%) » Franceses 88... 40 (45 1/2 %) » 79... 25 (312/3 %) » Allemaens 71... 16 (22 1/2 %) » Italianos....... 22... 10 (45 1/2 %) » Americanos... 21... 3 (141/3 %) » Dinamarquezes 19... 4 (21 %) » Hespanhóes.... 17... 6 (35 1/4 %) » Hollandezes... 4... 3 (75 %) » Gregos......... 3... 2 (66 2/3 %) » Nacionaes 3... 1 (33 1/3 %) » Belgas......... 2... 1 (50 %) » 1... 0(0%) » A mortandade appresentada pelos Francezes e Ita- talianos foi a maior, logo depois seguio-se a dos Hes- panhóes, e á estes seguirão os Portuguezes, Suecos, Inglezes, Allemaens, Dinamarquezes, e Americanos, cujo numero de mortos, foi menor, e â respeito des- tes se deo a razão ja mencionada, de terem entrado em melhor estado, e no primeiro período da febre. Mortandatle segrundo as nacionalida- des em 1*54». TOTAL MORTOS. Suecos......... 91... 20 (21a22%)a mortandade. Inglezes....... 81... 19 (23 %) » Portuguezes... 35... 10 (28 2/3 %) » Francezes .,, 23... 7 (301/2 %) » Allemaens..... 22... 5 (22 2/3 %) » Hollandezes... 11... 4 (36 1/3 %) » Hespanhóes... 3... 8 (37 1/2 %) » 5... 2 (40 %) » 4... 1 (25 %) » Americanos... 2... 2 (0 %) » Dinamarquezes 1... 1 (100 %) » 1... 0 (0 %) » Resulta d'aqui que forão os Hespanhóes, cujo nu- mero de mortos excedeo aos de mais, e á elles sue- 56 cederão os Hollandeses, aos quaes acompanharão os Francezes, os Portugueses, os Ingleses, os Allemaens, e os Suecos, que menor mortandade appresentarão. Mortandade segundo as nacionalida- des em 1857. TOTAL. MORTOS. Ingleses........ 110... 45 (40à41%)amortandade Allemaens..... 57... 27 (47 1/2 %) » Portugueses.... 51... 13 (25 1/2 %) » Franceses...... 32... 12 (37 1/2 %) » Italianos....... 27... 12 (44 1/2%) * Suecos......... 24... 5 (20á21 %) » Dinamarqueses 14... 5 (35 2/3 %) » Americanos... 11... 6(54 1/2%) » Belgas.......... 11... 4 (36 1/3 %) » Hespanhóes.. . 10... 2 (20 %) » Nacionaes...... 5... 0(0%) » Hollandeses..,. 2... 0(0%) » A mortandade dos Americanos foi a maior em 1857, cm segunda linha collocarão-se os Allemaens, 57 por cento, e passarão para o mez de Agosto 5i, que, unidos á 14 entrados »'este mez montão á 19, dos quaes fallecerão 9, regulando a mortandade 47 Vs porcento; por conseqüência a proporção da quantidade dos mortos em Junho é dupla da de Ju- lho, e a de Agosto é vinte vezes maior, que a dc Ju- lho (11). (U) E' de notar-se, que além do máo estado dos que passarão de Julho para Agosto, entrarão alguns r.-m péssimo estado n'este mez, ao que altribuimos o crescimento da mortandade respectiva. 62 Em 1854 entrarão no mez de Março 22 doentes, dos quaes fallecerão onze, por conseguinte a mortan- dade foi de 50 porcento, e passarão para o mez de Abril 4, que reunidos á 46 entrados n'esle mez, pre- enchem o numero dd 50, e d'estes morrerão 25, re- gulando a mortandade 50 por cento, e passarão para Maio 8, que, unidos á 152 entrados no mesmo mez, sobem á 160, d'estessuccumbirão65,ou 402/3cpas- sarão para Junho 30, que, reunidos a 54 entrados n'estc mez, montão á 84, cujo numero de mortos foi de 23, ou 274/3,e passarão para Julho 13, que som- mados á 33 entrados n'cstc mez, avultão á 46, cuja mortandade regulou 5, ou 10 à 11 por cento,e pas- sarão para o mez de Agosto 7, que juntos á 15 en- trados no mesmo mez, sommão 22, dos quaes ne- nhum morreo; e também ninguém fallecco em Se- tembro . Procede d'aqui, que a proporção da mortandade conservou-se a mesma em Março, eAbril, e começou á decrescer em Maio, continuando á diminuir pro- gressivamente cm Junho c Julho, até que em Agosto á não fallecco nem li um. 63 Em 1855 entrarão no mez de Janeiro 17 doentes e d'estes fallecco 1, regulando a mortandade 5 á 6 por cento, c passarão para o mez de Fevereiro 7, que, unidos á24 entrados n'este mez, perfasem o numero de 31, dos quaes morrerão 8, ou 255/* porcento, e passarão para o mez de Março 15, que sommados á 217, entrados no mesmo mez montão á232, e destes suecumbirão 54, ou 23 4/4, c passarão para o mez de Abril 74, que reunidos á 189 entrados neste mez sommão 263, dos quaes fallecerão 76, ou 28 á 29 por cento, e passarão para Maio 44, que juntos á 114, entrados n'este mez, elevão o numero á 158, dos quaes morrerão 39, ou 24 à £5 porcento, e passarão para o mez de Junho 22, que com 39, entrados no mesmo mez, completão o numero de 61, c d'esles fo- rão victimas 12, ou 19 2/3 por cento, e passarão para o mez de Julho 7, que unidos á 10, entrados n'esse mez, sobem à 17, ed'estes fallecerão 4, ou 23 72por cento; e passarão para Agosto 4, que, com 1, entra- do n'este mez, enchem o numero de 5, dos quaes nem hum morreo. Iniere-se d'ahi, que a mortandade foi crescendo Oi feté Abril, e dcclihoü de Maio em diante, sendo cotií tudo maior em Julho, que em Junho; por quanto o numero dc mortos Cm junho foi dc 12, ou 19 2/3 por cento, e de 4, ou 23 1/k em Julho,—facto este, que fica explicado pela circumstancia de terem passado 7 em muito máo estado de Junho para Julho, o que augmentou a proporção da mortandade em Julho. Em 1856 entrarão no mez de Março 104 doenlesy dos quaes morrerão 29, regulando portanto a mor* tandade 27, á 28 por cento, epassarão para Abril 28T que unidos á 95, entrados nesse mez, preenchem o numero dc 123, d'estes fallecerão 20, ou 16 '/, por cento; e passarão para Maio 29, que addidos á 56, entrados no mesmo mez* elevão o numero á 85, e destes suecumbirão 13, ou 15 */4 por cento, e pas- sarão para Junho 17, que, com 19entrados, sommão 34, dosquaes forão victimas 8, ou234/2 por cento, e passarão para Julho 4, que juntos á 7, entrados n'esse mez, completão o numero de 11, dos quaes fallecerão; 2, ou 18porcento,epassarãoparaAgosto2,que com 1 entrado, sommão 3, e d'estes nenhum óbito houve. —Do que fica exposto resulta, que a proporção da 65 mortandade foi maior cm Março, que cm Abril, e ainda menor cm Maio; mas crescêo em Junho, para tornar á declinar em Julho, e terminar em Agosto,. que não houve óbito. Em 1857 entrarão no mez de Fevereiro 42 do-» entes, d'ostes fallecerão 16, mortandade, que regula 38 por cento, e passarão para o mez de Março 11, que unidos á 121,'entrados n'cste mez, montão á 132, dos quaes morrerão 40, ou 30 por cento, c passarão para a Abril 26, que com 63 entrados, sobem á 89; d'cstcs suecumbirão 26, ou 29 */, por cento; e pas- sarão para Maio 14, que somniados á 23, entrados preenchem o numero dc 47, dos quaes morrerão 10, ou 21 7*i e passarão para Junho 8, que com 66, en^ trados n'csse mez, importão em 74, cujas victimas lorão 25, ou 332/3 porcento; e passarão para Julho 16, que addicionados á 24, entrados n'cssemez,per^ fasem o numero de 40, e d'estes forão victimas 11 ou 27 79; c passou, para o mez de Agosto 1, que reu^ nido á 4, entrados n'este mez, sommão 5, dos quaes nem hum morreo. 4 illação, que se segue d'aqui é, que a mortan- 66 dadc foi maior cm Fevereiro, diminuio gradativamen- te cm Março, Abril c Maio, crcscco de novo em Junho, decresceo em Julho para dcsapparecer em Agosto, facto este, que succcdeo também em 1856, conforme a observação supradicta. Em 1858 entrarão no mez de Março 3 doentes dos quaes nem ura foi victima: em Abril não entrou nem hum,e em Maio,entrarão 5 ed'estesnão fallecco um; por tanto a febre em 1858 foi nimiamente limita- da e benigna. Em 1859 entrarão no mezde Fevereiro 2 doentes, que unidos á 48, entrados em Março, completão o numero de 50, dos quaes morrerão 7, regulando a mortandade 14 por cento, e passarão para Abril 24, que, reunidos á 61» entrados n'esse mez, elovão o numero á 85, e destes forão victimas 12 ou 14 1/9 % e passarão para Maio 16, que juntos à 30, en- trados n'esse mez, sobem á 46, dos quaes suecum- birão 9, ou 19 1/2, e passarão para Junho 8, que sommadosá 14, entrados n'osso mez, prefasem o nu- mero de 22, destes nem um fallecco, c passarão para Julho 6, queadjunetos, a 18, entrados no mcs.- 67 mo mez, sommão 24, e d'estes forão victimas 3, ou 12 1/2 por cento, e passarão para o mez de Agosto 7, que com 14 entrados n'esse mez elevão-se á21 dos quaes morrerão 3, ou 14 1/3, e passarão para Setem- bro 3, que juntos à 10 entrados n'esse mez, montão á 13, cuja mortandade foi de 1, ou 7 2/3, e passarão para Outubro 6, que reunidos á 4, entrados no mesmo mez, preenchem o numero de 10, dos quaes forão victimas 2, ou 20 %. A conseqüência necessária da marcha da epide- mia n'este anno é que a mortandade foi quasi igual em Março, e Abril, e menor que em Maio; que não morreo ninguém em Junho, e parecia que a epidemia ia desapparecer, quando reapparecerão casos graves em Julho, Agosto e Setembro (12] e alguns d'esses fo- rão decimados, com quanto a mortandade fosse pe- quena, extinguindo-se a epidemia em Outubro. Os augmentos, e diminuições passageiras em qualquer epidemia estão ligados á condições alhmos- (12) E' para observar-se, que em Julho e Agosto as alternativas de calor, e humidade athmosphericas fo- ram bruscas e muito sensíveis durante muitos dias. 10 68 phericas conoorrentes, que varião muita vez rapi- damente, taes são o calor, a humidade, a electrioi- dade, os ventos etc, e a mortandade relativa é tam- bém ligadas á estas influencias; por conseqüência o obituario de cada mez está strictamente dependente d'ellas: e pois attribuimos á estas circunstancias me- teorológicas as differenças havidas entre a mortan- dade de cada um mez. A conclusão geral é que a epidemia tem sido mais extensa, e mais intensa nos mezes de Março, Abril, e Maio, principiando â declinar de Maio para Junho, e acabando em Agosto para Setembro; ainda que a mortandade tenha sido alguma vez maior em Junho, que em Maio, e em Julho que em Junho, o que parece-nos ter sua explicação nas razões prece- dentemente ponderadas. Tratamento da febre amarella segui- do no Hospital de Mont-Serrat. Ha muitos escriptos, e muito se ha dito acerca do tractamente da febre amarella, e entre todos os me- 69 thodos, ou praticas seguidas no curativo d'ella, não se encontra uma só racional, ou impirica, que seja efficaz, em cuja confiança descanse o animo do me- dico, e salve o doente, e n'essa área estão compre- hendidas todas as pyrexias malignas e pestitenciaes; por tanto o que direi de novo, de bom, e de agradá- vel? Cousa nenhuma: apenas lembrarei cousas ja sa- bidas^ mui repetidas,mas resultantes da observação própria, e da escolha d'enlre as que mais tem apro- veitado: é pois n'este intuito, que indicarei o que julgo de mais proveitoso. Os meios empregados para combater o horrível e tremendo mal—febre amarella—varião conforme o período, que se nos apresenta,e no mesmo período— segundo os symptomas, que mais predominão sob as disposiçoens índividuaes. No primeiro tempo do primeiro período, quando apparecem horripilaçoens frio, applicamospara pro- vocar a reacção pediluvios sinapisados, sinapismos às extremidades, bebidas quentes aromaticas e dia- phoreticas, compostas de infusão de flores de sabu- guciro, de violas e de tilia com algumas goltas de 70 acetato de ammonia, ou de infusão de caffé com sue- co de limão, e uma ou duas colheradas dc agua-ar- dente francesa, de chá da índia com algumas gottas de ácido acetico, agasalhando-se sufficiente e conve- nientemente os doentes (13). Si estas applicaçoens pro- dusem a reacção, acompanhada de suor, continua-se áentretel-o por meio de bebidas mais ou menos quen- tes e diluentescm relação ao gráo deseccura e sede, que apresentarem os indivíduos até que estes suem copiosamente, depois do que se lhes dará um dos pur- gantes brandos (14) taes como óleo de ricino, sulfato de magnesia, citrato, e tartrato de magnesia ou de (13) Temos usado também da infusão de folhas de pitanga, da de borragem com algumas gotas de am- moniaco liquido, ou de ácido chlorhydrico deluido, do carbonato de ammonia; porem estes tem aprovei- tado menos. (14) Cumpre não usar dos purgativos drásticos, se- não com muita reserva, porque quasi sempre não são tolerados pelo estômago, e produzem, ou augmentão a excitação da mucoza do tubo digestivo, predisposta ã hemorrhagias, sem trazerem dijecções alvinas abun- dantes. 71 soda, ou magnesia ligeiramente calcinada (15J; e en- tão se consegue muitas vezes conjurar os symptomas febris. Si porém, a reacção se estabelece (2.° tempo do 1. período), e não é acompanhada de suor, ou este é em quantidade insuficiente para debellar, ou abortar os symptomas febris, applicamos ainda um dos pur- gativos indicados na primeira hypothese, e depois do effeito cathartico provoca-se de novo o suor, para o que recorre-se ao banho de vapor, agasalha-se nova- mente os doentes com coberturas de algodão,e de lãa, e continua-se a ministrar-lhes alguma das bebidas diaphoreticas já lembradas, como a infusão de sabu- gueiro unida á algumas gottas de acetato de ammo- nia, ou simplesmente mistura salina, limonada sul- furica, água fria, si ha sede intensa, sequidão da lingua e da mucosa da bocca; e então, si o suor appa- (15) Temos applicado igualmente osoIeos',de amên- doas doces, e de Oliveiras simplesmente, ou mistura- dos com sueco de limão, mas sem vantagens e preferi- mos geralmente o óleo de ricino, cujo effeito é maior, e mais prompto. 72 rece, ou torna-se abundante, se o entretem tanto, quanto seja conveniente, e, logo que os symptomas declinão, ou remittem consideravelmente, applica-se o bisulfato de quinina, e ajuda-se a diaphorese dan- do-se-lhes á beber limonada sulfurica, com o que conseguimos as mais das veses abortar a febre, e não passar ao 2.° período: se com tudo o pulso sobe em freqüência e força, a pelle torna-se secca, e as veses urente, e a febre tende á passar ao segundo período, ainda aproveitão os banhos tepidos geraes, depois dos quaes agasalhão-se os doentes, edá-se-lhes al- guma das bebidas refrigerantes ábeber regularmente. 0 tartaro emetico em pequena dose, quer só, quer unido ao extrato de aconito, ou ao sulfato de magne- sia, muitas vezes elimina, ou faz declinar a febre, produsindo dejecções alvinas e promovendo a dia- phoresis, mas é contra indicado, quando ha grande excitação das vias gástricas, taes como vômitos fre- qüentes, lingua ponteaguda, e secca, e sede inten- sa (16). (16) Deve-se ter toda reserva na applicação do tar- taro emetico; porque em alguns casos desafia vômitos pertinases, anciedade, inquietação, e prostação. 73 A sangria geral deve ser applicada com muita cautella e reserva (17), aproveitando-se a occasião opportuna, que consideramos ser logo depois de es- tabelecida á reacção; e somente deve ser praticada nos indivíduos de constituição forte, predispostos às congestoens, e quando apresenta-se o pulso cheio e duro, ou vibrante, pelle secca e abrasadora, grande oppressão na respiração, somnolencia, ou coma: ésò n'essas condiçoens, que a temos praticado muito pou- cas vezes; porque tem sido bem pequeno o numero d'aquelles entrados nas condiçoens enumeradas, ou exigidas; por quanto, a grande parte dos doentes vem para este hospital, depois de decorridas as primeiras 24 horas após a invasão da febre. Si por estes meios se não consegue a revolução dos symptomas febris, e a febre continua, offerecen- do congestões dos apparelhos gastro-hepatico, e ce- rebro-spinal, recorre-se ás emissões sangüíneas lo- (17) E' com rasão que o Dr. Domingos Rodrigues Seixas, argmentando á priori oppõe-se ao uso da san- gria na febre amarella, em sua bem elaborada Memó- ria sobre a Salulridade Pubbica, 74 cães por meio de sanguesugas em pequena quanti- dade, applicadas ao ânus, e de ventozas scariíicadas, postas nas regiões gastro-hepatica, cervical pos- terior, ou nuca, e na sacro-lombar; e também aos sinapismos volantes, e aos vesicatorios. 0 uso dasbebidas temperantes, taes como as li- monadas de cremor—sulfurica—acelica—ligeira- mente nitradas, as laranjadas,a mistura salina sim- ples, deve accompanhar á estas applicações. Si ha náuseas, vômitos, anciedade, inquietação, affeições precordiaes, em vez de bebidas meramente refrigerantes, ministra-se água distillada de louro— cereja, deluida em água, ou infusão de tilia, água de flores de larangeiras e água de hortelã simplesmente, ou de mistura com algumas gotas de tinetura ethe- rea de camphora, e recorre-se à ventosas seccas so- bre o epigratrio, e região dorsal, á fricções excitan- tes ao longo da spinha, à clysteres purgativos fortes (18), e á vesicatorios. (18) Os clysteres de sueco da herva de bicho, da berva de Santa Maria, e da herva crista de gallo são convenientes por serem purgativos, e deureticos, 75 Esses meios referidos applicados opporlunaniente^ são geralmente suficientes para esconjurar oestado febril, e entrarem os doentes em convalescença: em alguns casos porem se manifesta o caracter, ou typo remi Mente ou intermiltente, cé necessário recorrer-se para combatel-os à fortes doses de bisulfato de qui- nina, cuja applicaeão é quasi sempre coroada de vic- toria; mas entre esses casos existem outros, em que os symptomas febris, depois de terem se desvaneci- do consideravelmente e quasi se dissipado, appre- sentando-sc uma remissão mais ou menos franca, rcapparecem, ou crescem, ainda quando a applica- ção do bisulfato dc quinina é feita sem perda de tem- po, e a febre passa ao 2.° período: então redobrão sobre maneira as dificuldades para o Medico nadi^ recçãodo tratamento pelas modificações, ou transic^ çõcs, que se cffectuão de momento à momento, e que exigem indicações differcntes. Tratamento do £.° e 3.° per iodos» Ha factos, cm que asuecessão dos symptomas è lão rápida c confusa, que não se discrimina bem a 76 transicção do 1.° para o 2.° período, e ainda menos se distingue a passagem do 2.° para o 3.° período, os quaes sãogradações de um mesmo estado que affecta ou reveste esta ou aquella forma, conforme os sym- ptomas predominantes; e por isso entendemos que o tratamento deve ser dirigido em relação a forma, que se nos manifesta por seus symptomas próprios. Reconhecemos na febre amarella três formas, que são—algida—hemorrhagica, comprchendendo o vo- mito negro—e lyphoica, as quaes resumem todas as outras formas intermediaes, que são modos destas três formas principaes, que caracterisão o 2.° e 3.° período. Na forma algida os meios que mais aproveitão são o bisulfato de quinina em pequenas doses de mistura com água ingleza, os vinhos do Porto e da Madeira, a tintura ethcrea camphorada, e a de cravos da índia cm água de hortelã, os cosimenlos de serpentaria, e ode quina unido á seu extrado e ao alcoolato de ca- nella; as fricções excitantes de alcoolato, ou balsamo de Fiorarentti, de linimento húngaro; ossanapismos, as ventosas seccas applicadas à columna vertebral, 77 o à região precordial; os clysteres excitantes, eantis- pasmodicos, tacs como os dc cosiineuto de quina o valeriana, os do vinho da Madeira* ou de água In- gleza com bisulfato de quinina, os de pimenta, de assafetida, o os cãmphorados e almiscarados. Na forma hemorrhagica também aproveitão as applicaçõesexcitantes,feitasà pelle, ealém d'estasas adstringentes, como o cosimento e o extrato do rata- nhia, a tintura muriaticadc ferro bastante deluida, o perchlorureto de ferro liquido deluido em água, as limonadas geladas, como a sulfurica, ou simples- mente água gelada ou nevada. (19) Quando apparece o vomito negro,(20) que as vezes é precedido pelo vomito dc sangue, os meios indica- dos podem aproveitar, mas não bastão muitas vezes, (19) Menos quando ha soluços, que não aproveitão. (20) Cumpre fazer sentir que a suspensão do vo- mito nem sempre é proveitosa, porque as vezes sobre- vem tal anciedade, que desespera ainda mais o doen- te, e n'estes casos é indispensável lançar mão de clys- teres, e de bebidas evacuantes em pequenas doses, de- pois de ter desafiado o vomito. 78 oénocossario recorrerá vesicatorios (21) sobre oepis- gaslrio,ehypochondrio direito (22J á poções um pouco opiadasálargossenapismos, à poções antispamodicas, em que entrem águas de hortelã vulgar, de flores dc larangeiras, e decanella com algumas gotas de ether sulfurico, ou de água de louro-cereja, ao vinho da Madeira deluido em metade, ou terça parte de água, e ao sueco de laranjas. Excepto esses meios, que muita vez mallogrão, tem aproveitado om diversos casos desperados as af- fusões, ou emboroações de água fria, si a permittem o estado do pulso, o calor de pelle, e as forcas do doente; porém são contraindicadas toda vez que ha pequenhez, c concentração do pulso, pouco calor de (21) Os vesicatorios devem ser cobertos de uma camada de camphora dissolvida em ether sulfurica para diminuir, ou neutralisar a acção das cantharidas sobre o aparelho urinario, cuja secrecçãoé diminuída, e as vezes paralisada. (22) Tem aproveitado curar as superfícies vesica-» das com uneto de porco laudanisado, ou pommada opiada, o que concorre para sustar os vômitos, e parar a hemorrhagia. 79 pelle e algidez, ou adynamia E' indispensável aga- salhar com cobertas do lã, e convenientemente os doentes depois detaes emborcações, e deve dar-se- lhes alguma bebida excitante, como o chá da índia o vinho da Madeira, para provocar ou ajudar a reac- ção, favorecer a transpiração e continuar no uso dos tônicos, já lembrados, ou da água ingleza, si o estô- mago o tolera. (23) Quasi sempre uma só emborcação não basta, eé necessário prosoguir em sou uso por duas, três, ou mais vezes, si a natureza vai assentindo, e em geral em taes casos a crizo se estabelece, e se effectua pelo suor, ou pelas ourinas, que de escassas e raras tor- i não-se abundantes. 0 que nos devo servir de bússola, quanto ao tem- po quo deve espaçar de uma affusão á outra, é o es- tado do pulso, da temperatura da pelle, e o estado (23) Não se tem tirado fruto da applicacão de sul^ fato de quinina no vomito negro, especialmente em período adiantado; posto que seja precouisadp por ai* guns práticos. 80 geral,que succedc à cada uma emborcarão depois da reacção consecutiva. Na forma typhoica aproveitão os banhos tepidos geraes, quando ha secura da pelle, freqüência de pulso, seguidão da língua, sede, e superexciteção ge- ral, acompanhada ou não de phenomenos nervosos* ajudados com bebibas refrigerantes, emolientes e calmantes: aproveitão igualmente os purgativos, co- mo sejão a magnesia ligeiramente calcinada, o ca- lo mclanos só, ou unido ao bisulfato de quinina e os revulsivos da pelle. Quando ha adynamia, convém mais os tônicos* que forão indicados na forma algida, e também os excitantes, e revulsivos da pelle. (24) Quando predorainão os symptomas nervosos, co- mo o tremor da língua, as vigilias, ou somnolencia, os sobresaltos tcndinosos, o tremor dos membros, o delirio, as convulsões, convém mais os calmantes an- tispamodicos e tônicos internamente, e externamen-- (24) Os banhos geraes de cosimento da casca de páu pereira, e de folhas aromaticas cosidas em água sal- dada, são empregados as vezes com vantagem. 81 te as emborcações frias, applicadas do modo jà ex- posto, excepto os casos, em que ha dyspnea, so- luços, dyarrhéa, (que são considerados signaes dc morte. (25) riu. (25) Não devo deixar passar em silencio o descobri- mento feito pelo Dr. Humboldt de uma substancia, cujo principio activo é o veneno de um ophidio, e que esta substancia inoculada, como a vaccina, preserva da febre amarella, segundo relata o Dr. Manzini em sua historia da inoculação preservativa da febre ama- rella publicda em 1858. •r---------------------■ I ' ===== TYP. DE FRANÇA GIEKRA. v> NLM041401485