IMPERIAL GOLLEGll) DE PEDRO II «A» iAj «A* tJCij* ÃO CONCURSO DA. CADEIRA DE GEOGR APHIA W COSM OGR APHIA DO ISTlMFjâT# APRESENTADA A DEFESA PELO DR. LUIZ DE OLIVEIRA BUENO Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; professor de historia e geographia pela Instrucção Publica da Côrte; ex-professor de Geographia Geral e Chorographia do Brazil da Eschola Industrial da Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional; ex-professor gratuito de Geographia, Physica e Chimica da primeira e extincta Escola Normal da Côrte, etc., etc., etc. RI© DE JANEIRO TYPOGRAPHÍA ACADÉMICA 4*7 JD.A.JTJJD 1879 IMPERIAL C0UEG10 BE PEDRO II «A* «a* «Âi«a3>0«a1> AO CONCURSO DA CADEIRA GEOGRAPHIA E C0SM0GRAP3IA DE DO ISTEEIJlTÔ APRESENTADA A DEFESA PELO DR. LUIZ DE OLIVEIRA BUENO Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; professor de historia e geographia pela Instrucção Publica da Côrfe; ex-professor gratuito de Geographia Geral e Chorographia do Brazil da Eschola Industria) da Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional; ex-professor gratuito de Geographia, Physica e Chiraica da primeira e extincta Escola Normal da Gôrte, etc., etc., etc. mo »E JANEIRO 47* TITJ47 TYPOGRAPHIA ACADÉMICA 1879 co;isroxj;R,:R,:B:isrTJBS Os Illras. Srs. Drs.: Ernesto de Souza e Oliveira Coutinho Francisco José Xavier e o oduMm. i s. i. o mmRmm 0 -A.O LEITOR Não foi o desejo de possuir um lugar entre os membros do corpo docente do Imperial Collegio de Pedro II o unico motor que obrigou-me a chegar até aqui; não. A vontade de concorrer quanto em minhas forças para o grande edifício do progresso do ensino contribuio de algum modo para collocar-me na posição actual. Ha tres annos que resignado espero o dia de hoje ; ha tres annos que meus illustres competidores têm assento nos con- selhos do Imperial Collegio, emquanto que eu hei vivido delle afastado; ha tres annos, portanto, que elles hão tido sobre mim toda a vantagem ; por consequência, não esperai senão uma pequena contribuição para o adiantamento litte- rario do Imperial Collegio. IDXJ.A.S Felizmente não somos nós brazileiros os mais atrazados na sciencia da descripção do planeta que habitamos, e de suas relaçOes de vida para com os outros astros que por essa ira- mensidade se movem e vivem ! Outros povos ha, mais avançados em quasi todos os ramos dos conhecimentos humanos, e que, entretanto, excepção feita da Geographia patria, são completos ignorantes. E para a prova do que avançamos, cederemos por ura pouco a palavra a Mr. de Lavasseur. —II y a plusieurs genres d’êtu- des qui on étè jusqulci très négligées en France, deux entre autres: Vétude des langues vivantes et 1’étude de la gèogra- phie. Aqui mesmo, podemos affirm il-o, pois ha nove annos exer- cemos o magistério, ainda o estudo não é conveniente; en- trega-se tudo á memória e o resultado é sempre fatal! Temos o prazer, porém,de já contarmos alguns concidadãos que, devéras entregues ao estudo desta matéria, hão procu- rado todos os meios de melhorar-lhe o ensino. Duvidamos de um bom resultado, já, para seus esforços, pois, começando o mal pelo modo por que se organisão as commissões exami- nadoras na Instrucção Publica da Corte e nas províncias, era as quaes temos visto, como juizes, completos ignorantes, vae o mal se propagando pela maneira por que se fazem os pontos para as duas especies de prova, até terminar no en- sino dos collegios e explicações feito ás pressas e superficial- mente, onde prestão relevantes serviços uns pontos impressos e já preparados. De sorte que o incentivo para o estudo da matéria desapparece, porque a questão principal é ganhar tempo, e o tedio sobrevem, filho da aridez do estudo super- ficial e da falta de comprehensao dos taes pontos, escriptos só de modo a facilitar a decoração forçada. Que uma mudança radical em todo o ensino preparatório é necessária nao resta duvida e que o Imperial Collegio de Pedro II com duas cadeiras hoje, de Geographia e Cosmo- graphia, póde muito fazer e muito obrigar a fazer, estamos convencidos e esperamos. A TEBKA Objecto da Geographia.—Sua historia Adorada pelos Egypcios, Scythas, Gaulezes, Romanos e outros povos da antiguidade, esposou a Terra, segundo elles, a Urano, ou o Céo, de cujo enlace os gigantes e os deuses forão os fructos. Conhecida por Gybéle, Rhéa, etc., foi cognominada Alma mater pelos Romanos, que lhe dedicaram differentes tem- plos e festas. Planeta, cuja orbita é abraçada pela do planeia Marte, é a Terra o objecto de diversos estudos, notando-se entre elles o da geographia, do grego, Gê, graphô. E’ pois a geographia a sciencia que se occupa da des- cripção da Terra. Irmã da historia, ella nos mostra os lu- gares onde se representárão os grandes e pequenos dramas que aquella se encarrega de levar á posteridade; por ella admiramos o quadro dos destroços dos impérios, o berço e o tumulo das civilísações que se forão, e das religiões que se espalhão por entre os povos. As sciencias naturaes nella encontrão grandes elementos, e as políticas documentos va- liosissimos. O estado selvagem que marca o primeiro periodo da geo- graphia apresenta-n’a sob um aspecto limitadíssimo; ahi o homem só conhece a malta que lhe dá a caça, o rio que lhe 12 chama á pesca, a fonte que lhe abranda a sêde, a serra que lhe limita o horisoute e finalmente o céo que o cobre, e onde vé grande porção de sóes a brilhar! Para elle mais nada existe além do que seus olhos lhe moslrão: porém a promessa eslava feita, devia ser cum- prida. A familia pouco a pouco incompalibilisou-se com o espaço occupado, e portanto a serra foi transposta e um novo hori- sonte se desnudou aos olhos daquelles que a terra natal abandonavão; novo céo, novos rios, novas fontes e flores- tas. Eis as primeiras descobertas, as primeiras emigrações, feitas pela necessidade. Formou-se a Iribu, a nação, novos horisontes, novos rios, fundárão-se os impérios. A necessidade cede o logar á ambição e as conquistas alimentão-Ihe a vida; começão as expedições por mar e por terra-, novos elementos, novas serras, outros cóos, mais ricas fontes. Sesostris, o pharaó conquistador imagina o levantamento de uma carta; os Gregos envião os argonautas á conquista do Yelocino de Ouro. Segundo periodo da sciencia. Os Phenicios atravessão o Mediterrâneo e descobrem o Oceano; os Carthaginezes aíirão-se á fundação de colonias e descobrem o Occidenle, mais tarde se internando pelo norte da Europa; Alexandre de Macedonia faz-se acclamar generalíssimo dos Gregos e passa á Azia. abrindo novo campo aos conhecimentos geographicos: Nearco encarre- ga-se de levantar as cartas das costas, emquanto Beton e 13 Diognete levantão os mappas das terras por onde passa o Macedonio. Eis o terceiro periodo. Com Augusto começa um novo periodo : manda que Agrippa levante uma carta geral de todas as regiões occu- padas por povos subjugados ao domiuio romano. Strabão, Plinio e Ptolomeu muito trabalharão para o en- grandecimento da sciencia a que se dedicárão, mas perdê- rão-se na crença de que havião dado a ultima palavra sobre a geographia universal. Com Estevão de Bysancio no século 6o começa uma nova éra, é o periodo musulraano. O grande califa Harum al Raschid tratou com extraordinário apuro o estudo da scieu- cia e entre os geographos de então sobresahe Edrisi, cogno- minado o geographo da Nubia, o príncipe Aboufeda e Ibu- Baloutah, celebre viajante. Chegados somos ao 9o século, que podemos chamar do Renascimento, pois que a sciencia adquiria novos elementos á custa dos Noruegos que des- cobrem a Islandia ; no seguinte século o imperador Conslan- lino do Oriente descreve todos os povos limitrophes de seu império. Os séculos 11, 12 e 13 virão continuar os estudos, as viagens e as explorações, sobresahiudo nesse ultimo o celebre navegante veneziano Marco Polo, o Humboldt do 13° século, e que durante 24 annos entregou-se exclusi- vamenle ao conhecimento do oriente da Asia. Gioja de Amalíi em 1302 accommoda a bússola á navegação, e assim permitte mais rapida propagação ao instrumento que tão util tem sido ao progresso da geographia. Durante o 14° século, uns seguem as pógadas de Marco 14 Polo, outros dirigern-se á Terra Santa, outros para a África ; finalmente os séculos 15 e 16, que podem ser chamados o periodo ibérico, vôm abrir novos horisonles ao estudo. O príncipe porluguez D. Henrique encoraja as descobertas; Bartholomeu Dias chega á extremidade austral da África ; Yasco da Gama dobra o cabo da Bôa Esperança e marca o caminho das Índias, em 1-497, lendo cinco aunos antes o navegante genovez Christovão Colombo realisado suas pre- visões, descobrindo um novo continente, que mais tarde se chamou America, do piloto florentino Américo Vespucio, quo continuando a obra iniciada por Colombo teve maior gloria que seu verdadeiro descobridor. Vicente Pinzou, 1499, dobra pela primeira vez a linha equinocial e Pedro Alvares Cabral, recebendo ordens em Lisbôa para continuar as conquistas do Gama nas índias, e querendo evitar a calmaria que soe reinar na costa de Guiné, foi impellido pela grande corrente allanlica muito para oesle, a ponto de vir com sua frota apresealar-se em frente a uma terra desconhecida a que deu o nome de Yera-Gruz, Nunes de Balbôa atravessa o islhmo de Panamá e des- cobre o Grande Oceano Pacifico, 1513; Corlez, 1M9, con- quista o México e ahi commette as maiores cr leldades; Pizarro descobre e conquista o Perú, 1524, e Ore lana com 50 homens apenas desce o Amazonas, percorrendo mais de 6,000 kilometros, e apresentando ao mundo, então avido de riqueza, a pbautastica existência do El-Dorado. Magalhães descobre a passagem, ou com muuicação entre 15 os dous oceanos Atlântico e Pacifico, 1520, e morre nas Philippinas, sendo seu navio conduzido por Cano, o pri- meiro a fazer a circumnavegação ; Garlier explora o S. Lou- renço e apossa-se do Canadá. Do meio para o fim deste sé- culo os Inglezes e os Hollandezes tomarão parle lambem nas descobertas; é assim que Davis percorre o septentrião do Atlântico, 1585; Drake explora o occidente da America e executa a segunda viagem á roda do mundo ; Raleig funda a Virgínia; Cavendish, o mesmo que em 1591 saqueou Santos e incendiou S. Vicente, e que em 1592 tentando fazer o mesmo ao Espirito Santo, povoações então das costas do Brazil, foi derrotado, tenta a terceira circumnavegação ; os Hollandezes Barents e Der Veer visilão o Glacial do Norte e descobrem Nova Zembla e Spitzberg; Noor, em 1598 empreheude uma circumnavegação, seguindo a derrota de Magalhães ; lermak, 1580, descobre econquista a Sibéria; Hudson e Baffin descobrem ao norte da America os mares que delles receberão os nomes; Thevenol, Turnefort e outros visilão a Pérsia, as índias, a Palestina. Dampier de 1013 a 1711 faz dres circuranavegações. Raia o século 18 e então as explorações, as descobertas se dirigem para o interior dos Continentes. Goudamine na America Meridional, Niebuhr, na Arabia, Bruce, na Aby- sinia, á procura da nascente do Nilo Azul; Browne, Mungo Park, no interior da África; Mackensie ao norte da Ame- rica e Alexandre Humboldl, que começou na America equa- torial, em 1799. Foi o século mais farto em circumuavegações; Cook, La 16 Perouse, Bass, Vancouver, Beering, Kerguelen e outros ahi gravárão seus nomes. O século 19, que se uão acha ainda terminado, já conta um numero superior de viagens e explorações a seu antece- dente. Entre ellas citaremos as que nos parecem mais importan- tes, taes como de Dumonl d’UrvilIe, que penetrou no Antár- ctico, descobrindo as terras de Luiz Felippe, Glarie, Adelia, o Joinville; James Ross, que descobriu a Yictoria, a terra mais meridional conhecida; Mac-Glure, que pertence á pleiade dos navegantes que se dirigirão ao Árctico em pro- cura de John Francklin e que afinal descobriu a celebre passagem do noroeste. A maior latitude a que têm chegado todos estes navegan- tes é a de 83°, 20’, alcançada por Markhan, da frota do capitão Nares, ao norte; 78° por James Ross ao sul. As viagens da fragata austríaca «Novara» e do brigue inglez «Ghallenger», a grande expedição, era que o Brazil também se fez representar, para observar a passagem de Yenus pelo disco Solar são os últimos acontecimentos mais importantes. O interior tem neste século continuado a merecer a allençào dos viajantes e descobridores, entre os quaes sobre- sahem os Francezes e Inglezes; o mais merecedor de elogios é Livingstone que fez 3 grandes viagens á África; uma em 1849-59, outra de 1862-64, e a terceira era 1866. A Azia, as duas Americas, a Oceania e mesmo algumas regiões da Europa, como a Rússia e a Turquia, hão sido lambem objecto de muitas e repelidas viagens e estudos. 17 Com os felizes resultados e o aperfeiçoamento dos meios materiaes jamais semelhantes ideas pararáõ e os horisonles das descobertas se alargaráô ante a vontade inquebrantável dos homens da sciencia. 0 campo é vasto e a inlelligeucia do homem immensa. O oceano está dominado; a distancia ó nulla, a locomoti- va tudo vence. O pensamento transporta-se rápido, como a sua creação, a lelegraphia ahi está ! A palavra articulada será percebida, o telephono prora- ptiíica-se, emfim, avante ! A força fará o estudo e este vencerá o impossível, que só existe para os tímidos ou para os ignorantes. Terra, sua erigem e constituição: densidade, volume, massa e forma.—Raios c diâmetros.—Crosta e temperatura.—Sua vida. E’ a Terra um astro dos errantes e opacos; collocado no syslema planetário, obedece a todas as leis até hoje reco- nhecidas, como governalivas dos corpos celestes de sua classe. O terceiro em ordem de approximação ao centro do movimento, se não contarmos o hypolhetico Vulcano, foi o nosso planeia creado, segando as tradicções bíblicas, pelo Supremo Omnipotente, conjunctamenle com toda essa mul- tidão que povôa o espaço indefinido. Mas, precisaremos nós de um Fiat para a explicação da existência de nosso mundo? Necessitamos nós porventura da intervenção de nosso Ente adorado para comprehendermos e explicarmos a formação desses milhares de corpos que por ahi vivem? Pois o Omnipotente deverá ser equiparado a um machi- nisla que a lodo o momento precisa estar alerta para que não se manifeste algum desastre no meio desses milhões de corpos que dia e noite admiramos, ou Omnisciente, lendo estabelecido as suas leis sabias, immutaveis e irreforma- veis, entrega-se a uma eternidade ociosa no prazer da con- templação de sua obra? Precisamos mais que nunca acabarmos com esse defeito introduzido na educação, precisamos não reduzirmos o objecto de nossas meditações religiosas., daquellas medita- ções que nos ucalmàoo suíTrimento, a um impertinenteintro- 19 mettido ou a um malvado que perraille Lisboa ser engulida por 1755 ! Nem se nos accuse de heresia ; ao contrario so- mos perfeitos chrislãos e por isso mesmo á matéria o que a ella pertence, ao espirito o pensamento. Muitas têm sido as explicações da origem do Globo ter- restre; seria longo, ante a escassez do tempo, disculirmo- 1’as uma a uma, e eis porque estamos resolvidos neste nosso trabalho a manifestarmos immediatamente a nossa opinião. A Terra, como todos os astros, se ha originado de uma grande nebulosa que, em continuo movimento, vio de si se destacarem partes, que, continuando a se mover e se res- friando, arredondavão-se mais ou menos. Esses congregados, sendo era tudo semelhantes ao Todo, ou rapidamente se condensárão ou vierão a soffrer o mesmo que causarão ao Tudo originário; dahi a formação dos cor- pos secundários, dos satellites. Laplace diz : “O globo terráqueo se conslilue de camadas concêntricas, cujas densidades augmentão na razão directa da approximaçào de seu centro.” Devemos e podemos considerar a terra formada de duas parles distinclas, uma central, onde se encontrarão todos os princípios elementares o a outra o envoltorioya consoli- dado, cuja espessura augmenla dia a dia pelo resfriamento. E’ na superfície desta ultima que vemos a grande massa li- quida, que, separando as suas grandes divisões, por ella se iutromelte, sendo finalmenle tudo abraçado pelo grande oceano aereo, elemento indispensável á vitalidade dos in- divíduos povoadores da exterioridade terrestre. 20 De sorte que podemos concluir: Atmosphera, Aguas, Terras. Si a Terra fosse um composto horaogeneo, isto é, si os maleriaes que se achão nas suas ultimas camadas fossem os das primeiras, não seria de certo tão elevada a sua den- sidade, a ponto de ser 4 vezes maior que a do Sol. Seu volume ó igual a 1.082.841000 myr. cub. e a sua massa tomada pela (1) unidade determina a massa de to- dos os corpos. Quanto á forma que apresenta o nosso planeta, por muito tempo discutida, acha-se hoje perfeitamenle demons- trada, ó a de um ellipsoide. Isolada no espaço e dotada de rotação, ella apresenta seus pólos achatados e a região equatorial mais desenvol- vida. 0 seu maior raio ó igual a 6,377™ e o menor a 6.357, e por consequência os seus diâmetros serão o duplo dos res- pectivos raios; a maior differença entre os dous raios é de 21 kilomolros, o que lera logar nos pólos. A crôsta de nosso planeta não é composta dos mesmos maleriaes; alguns são ligeiros, outros resistentes, uns sim- ples, outros compostos. Chamão-se Rochas todas essas mas- sas, quer sejãc pedregozas, quer não, homogéneas ou he- terogeneas; de sorte que o granito, a argilla, ou um e ou- tro em grande volume e massa recebem o mesmo nome geral. Segundo a sua slruclura ou o mudo com que as ca- madas se superpuzerão, dividem-se as rochas em não stratificadas e stratificadas; aquellas recebem os nomes de 21 igaeas, plulonicas ou cristallinas, p us que necessariamente forão formadas no foco incandescente do planeta, ou sob a influencia de um grande calor ou de uma grande pressão atmospherica. O seu caracter constante é de se mostrarem amorphas ou cristallinas, poróm jamais constituindo uma slratificação. As stralificadas, assim denominadas pela sua disposição, são lambem conhecidas pelo n» me de sedimen- tarias, porque não são mais do que depositos sedimento- sos em um meio aquozo. Alem destas duas classes principaes existe uma culra, que poderemos chamar mixla, poisque se resente dos caracteres das duas anteriores; essas rochas são conhecidas pelo nome de metamorphicas. Vejamos rapidamente os principaes elen entos de que se compoe essas grandes massas. Assim é que nas primeiras rochas encontramos ofeldspath (sílica, alumínio e polassa, ou soda, ou cal); o quartz (siliça algumas vezes com oxyd )s melallicos); a mica (silicato alumiuoso de base ferrea ou potassica e contendo um pouco de magnesia); o talco (siliça, magnesia, algum ferro e agua); o pyroxeno (cal, siliça, magnesia), oxydo de ferro, alguns décimos de oxydo de manganez e algumas partes de alumínio. As sedimentarias são formadas de destroços de rochas primitivas triturados e arrastados pelas aguas em as quaes se hão depositado, onde soífrera ou uma acção chimica e ;e cristalisào, como o gypso, ou se ao algamào, formando ca- madas limosas, ou finalmenle se compõe de uma infinidade de pequeníssimos fragmenlosque nenhuma relação deaffini- 22 dade na composição entre si guardão. Do maneira que, segundo os elementos que constituem essas massas, podemos classifical-as em Arenaceas ou Silicas, Argilosas e Calca- reas. Movendo-se conlinuadamente,- e pela condensação se solidificando, foi a crosta terrestre de dia para dia se tornan- do mais espessa pela superposição de novas camadas, e se quizessemos agora fazer um estudo especial, muito leríamos a escrever; mas, nos limitaremos a somente dizer que, desde os terrenos primitivos, onde figuravão as matérias em igni- ção até aos alluviões modernos, onde hoje vivem todos os indivíduos dos reinos vegetal e animal, ha muito que desco- brir, muito que observar. Quão grande a differença entre os povoadores antigos e modernos. Admiramos porventura hoje o estupendo crescimento dos indivíduos ? !.. Quantas alternativas por que tem passado a crôsta de nosso Globo?! Aqui ó a Noruega que se levanta e separa o Árctico do Atlântico ; ali é a Uollanda que se submerge e deixa nascer o Zuyderzée, alem é o Mediterrâneo central africano que se sécca e deixa apparecer o Sahara, deserto que apenas dá o Baodab á cuja sombra descança a caravana errante; adiante é oKamlchalkaque, um dia cioso.deixa o mar correr entre si e sua irmã America, porem que mais tarde arre- pendido, consegue alcançar uma união periódica, visitan- do-se os irmãos levados pelo trenó conduzido pelas rennas. Quanto espectáculo maravilhoso !... A’ semelhança dos vegetaes e dos animaes, o nosso Globo terrestre tem sua temperatura ; o seu calor physiologico, cujo principio está nos movimentos de seus proprios sus- m tenlaculos elementares, e de que o sol é o principal agente. Ella tem u seujcalor physiologico e um calor especial para cada um de seus tres orgãos: o oceano, a almosphera e o fóco lellurico. Alem desta já apontada variante o calor ainda varia segundo as diversas regiões de um mesmo orgão. E’ preciso bem distinguir, pois que a Terra, como planeta que é, si por um lado tem o seu calor intrínseco, que reside era seu fóco, é por outro lado sujeita ao calor emittido pelo centro principal, e por isso difficil a determinativa positiva de sua própria temperatura. Galcular-se em 200,000 gráos centígrados a temperatura inlralerreslre é quasi ura absurdo, pois não comprehenderaos a resistência até hoje sustentada pela crôsta do planeta contra um fóco igneo de tanta força !I Antes digamos com Boscowilz á pag. 600 de seu tra- balho sobre Yolcòes; « O que se pode affirmar, é que os ellluvios de culorico circulão na Terra, mas ignora-se como este calor se distribue pelo corpo gigantesco do planeta. » Muitas tôm sido as opiniões de constituição do fóco lel- lurico; entre ellas citaremos a que considera o fóco tellu- rico cheio de uma matéria pastosa, semi-liquida, agitada por movimentos, incandescente ou não ; a qual, em vez de ser livremenle espalhada em um uniforme recinto, ó ao con- trario fechada por solidas rochas, que a a travessão em todos os sentidos e a dividem om diíferenles zonas, que se com- munição entre si. Vemos uma verdadeira semelhança entro a constituição central e a peripherica de nosso planeia; ainda mais, si atlendermos a essa descripção, só veremos a da vida cellular de todos os corpos organisados ; explicação 24 que, além de nos mostror o porque o volcão está aqui e não ali, o terremoto manif*slou-se la e não acoá, vera tornar bem patente o laço que mine em uma só geração os corpos dos tres grandes reinos vivos da natureza. Nella tudo é feito sob um mesmo plano, e tudo se anima de um mesmo me- canismo. Si attendermos. quanto á circulação, o modo inte- rior de ser do systema ceilular e suas relações, quer entre si, quer para com os vasos sanguíneos, o que vemos ? Uma semelhança perfeita ! A massa pastosa que occupa o fóoo lellurico é um com- po to animado do movimento e funccionalismo, e tão indis- pensável para a vida da Terra, quanto o lôm sido ató hoje o oceano o a altnosphera; e portanto, como elemento physiolo- gico do orgão lellurico de nosso planeta, semelhantemente composto de todos os meios animados, de um'vehiculo e do sustentáculos, é claro que possue uma temperatura própria, como o nosso sangue; que essa temperatura pode vai iar segundo as zonas do foco, como varia a humana segando as regiões; mas, que sua média ó constante o re- presenta o calor physiologico da Terra, como é constante a média do organismo e mostra o respectivo gráo thermome- trico, não resta a menor duvida. Gomo já dissemos, o nosso planeta sofifre uma dupla acção lhermogonica ; porem lugares ha, em que a thermica solar, equilibrando-se com a acção do fóco lellurico, toma a tem- peratura inaltera/el. De modo que podemos dividir o nosso globo terrestre em quatro zonas : duas de temperatura constante, uma superficial ou solar, e outra profunda ou 25 tellurica ; uma progressiva, situada entre as duas antece- dentes e onde por sua vez se acha a zona indifferente. No organismo humano, podendo a temperatura elevar-se a 45°, mostrando é verdade um serio estado palhologico, marca comtudo 37°,5 na média,- assim, não tendo escala certa a temperatura central, mas também pouco indo alem de 1,000° cent., podemos calcular uma média entre aquella maxima e a minima de 500°, que marca no seio da terra o vapor d’agua. O fóco central é um vasto laborotorio natural de movi- mentos e combinações vitaes, como o são o organismo humano e o vegetal. A Terra vive, como vivem todos os corpos que se movem, pois que o movimento é a vida ; uma anatomia e um func- cionalismo semelhantes aos corpos do reino animal obrigarão por força a aceitar os corpos planetários como membros da grande família a que não cabe a propriedade da inércia. Ligados por um só laço commum, os corpos vivos dos Ires reinos sesujeitào ás mesmas leis, ás mesmas vicissitudes do mundo material. Coliocaçào «li» terra no systema planetário.—Duplo movimento, suas causas e seus elfcitos. — Círculos, linhas c pontos. — Satel- lite da terra. Considerada immovel por Ptolomeu, astronomo de Ale- xandria, era a Terra lida como cenlro de movimento dos corpos celestes, alè que Copernico, monge de Thorn, apre- sentou ao mundo scienlifico o seu systema, que, já antevisto por alguns phiíosophos gregos, veio fazer uma grande re- volução entre os povos cultos. Por esse systema é a Terra collocada em terceiro logar, abraçando portanto a sua orbita a dos planetas Venuse Mercúrio e sendo abraçada pela de Marte• Galilôo, celebre professor de Pisa, foi um dos mais enthusiastas propagadores da nova doutrina, e, por isso duas vezes citado perante a inquisição de lloma, leve de humilhanlemenle abjurar aquillo de que eslava convencido; e, tal cra a convicção, quedos lábios lhe cahi- rão: -v- E pur si muove! Move-se a Terra, está hoje mais que provado, e os seus movimentos são o de rotação, executado sobre seu eixo em 23h 48', 49”, lambem chamado diurno, jornaleiro, e o de revolução, conhecido por annual, tropical e translação, per- correndo sua orbita, obedecendo á altracção solar e gas- tando 365 dias, 5 horas, 56’, 57”, etc. O movimento ro- tatorio, executado sobre o seu eixo do occidente para o orien- te, por muito tempo foi a causa illusoria do supposto mo- vimento do sol do oriente para o occidente. O appareci- 27 mento diário do sol e u insensibilidade de nossos avós fize- rão-nos crentes, durante muitos tempos, de que a Terra era fixa, sem saberem que sendo o sol 1.405.000 vezes maior que a Terra, não podia tão depressa executar esse movi- mento. Demais, considerada a Terra um planeta e mos- trando diariamente a lunelta as manchas dos discos de outros corpos semelhantes, o que explica o movimento successivo daquellos astros, como poderia o nosso globo furtar-se a essa propriedade ? A. applicação do pêndulo vem em auxilio da demonstração da existência da rotação. Os alisados existirião sem o movimento de rotação? Não. Pois que, soprando das regiões polares deveriáo, si a Terra fosse immovel, cahir sobre o Equador, o que não acontece, visto que um sopra pelo quadrante do N. E. e outro pelo de S. E. A presteza do movimento de rotação não é a mesma; ella tem o seu máximo no Equador e o seu minimo no Pólo. A Terra, girando sobre o seu eixo, desperta uma força centrí- fuga que decresce da região equatorial até aos pólos, onde é nulla. Attendendo ás circurastancias em que se achão a centrífuga e a gravidade, vemos que no Equador a pri- meira é da segunda — ; quer dizer que a centrífuga é tantas vezes mais fraca, quantas unidades representa o denomi- nador da fracção. O movimento rolalorio, causa primordial da condensação dos elementos constitutivos dos corpos ce- lestes, é uniforme, e para o demonstrarmos basta medirmos, em um mesmo tempo, diversos arcos descriplos por uma ou mais estrellas. Causa unica da successâo do dia á noite pela illuminação continua dos diversos pontos da superfície de 28 nosso planeia, o movimento de rotação é o mais antigo dos movimentos conhecidos. O tempo de uma rotação completa é o dia, que, segundo o modo de delerminal-o, recebe este ou aquelle nome. Assim é que chama-se dia sideral a pas- sagem consecutiva de uma estrella pelo meridiano de um logar, ou antes o periodo gasto entre duas culminações de uma mesma estrella; é contado de noite á noite: dia solar a successiva passagem do sol, que Lambem é uma estrella, pelo meridiano desse mesmo logar; é contado de dia a dia. Entre esses dous dias que poderemos chamar astronomicos existe uma differença de quasi 4’ (minutos). Eis porque o mundo civil, precisando de uma hora certa, embora não verdadeira, creou o dia medio, dando-lhe 24 horas, divididas era dous grupos — do dia, espaço do tempo em que o sol está em nosso horisonte — da noite, na circumstancia opposla. E’ a esse dia que se dá o nome de natural, o qual, como bem sabemos, pois o vemos coustau- temente, é susceptível de augmenlo. Uma das causas desse crescimento é a luz que, já a 18° abaixo de nosso horisonte no nascimento, ou no occaso, o sol deixa perceber e a que chamamos no primeiro caso aurora, e no segundo crepús- culo. Esse phenomeno da luz solar não se apresenta sem- pre igual, o que é facil de comprehender-se; nos solsticios é mais duradouro que nos equinoxios. A revolução da terra ó feita em uma orbita conhecida, chamada Ecliptica, em um certo espaço de tempo a que se deu o nome de anno; esse movimento, bem como o antecedente, são os causado- res da persuasão do movimento do sol. Descoberto por 29 Copernico esse movimento e sustentado por Galilêo, coube a Kepler, auxiliado pela descoberta de Newton, a sua legis- lação. E’ assim que vemos ennunciadas; — l.a O movi- mento planetário ó executado em um mesmo plano, e a area descripla pelo raio vector é proporcional ao tempo. 2.a A trajectória é uma ellipse de que o sol occupa um dos fócos. 3.* Os quadrados dos tempos de revolução dos pla- netas são proporcionaes aos cubos dos grandes eixos de suas orbitas. Pela primeira lei vemos que o movimento não é sempre o mesmo, isto é, que em alguns logares u Terra girará com maior velocidade do que em outros, o que tudo é-nos explicado pela combinação perfeita das forças de attracçãoe repulsão. A segunda demonstra-nos claramente a forma ou a figura geométrica traçada pelo corpo, durante o seu movimento de translação, e a posição occupada pelo centro geral de attracção. A terceira, ennunciando a pro- porcionalidade entro o quadrado do tempo de revolução gasto pelo astro e o cubo do maior diâmetro de sua orbita, mostra-nos que, quanto mais durara revolução do planeta, mais allongada a sua trajectória. Girando, inclinada sobre seu eixo, que durante todo o movimento guarda sempre o parallelismo, a Terra por seu movimento tropical causa as quatro grandes mudanças, chamadas estações, que corres- pondem exactamente ás quatro extremidades dos dous eixos que se cortào. E’ assim que lemos o Verão, o Outomno, o Inverno e a Primavera, No primeiro e no terceiro predomi- não os solsticios e no segundo e quarto os equinócios. Sabemos que o Equador e os tropicos de Gancer e Gapri- 30 cornio são locados, o primeiro em dous pontos, os outros em um ponto cada um, pela orbita da terra. São esses quatro contactos que recebôrão aquelles nomes, pelas razoes que passaremos a expor. Equinocio, noite igual, é o resultado da perpendicularidade do centro solar, em outros lermos ■. a Terra pelo seu movimento colloca-se de tal modo que, si tirarmos uma recta do centro do sol, essa linha virá cahir irremediavelmente sobre um dos pontos de contacto da ellipse com o Equador, e, como os raios solares desse ponto para os pólos se distribuirão symetricamente, resulta que a intensidade de luz e calor é gradual e semelhantemeule dis- tribuída : eis porque ao norte e ao sul do Equador se dá uma igualdade quasi perfeita; eis porque o dia e a noite são lambem quasi iguaes. O mesmo porém não acontece, quando a perpendicular baixada do centro solar vem en- contrar o nosso planeta em um dos pontos do solstício, assim chamado pela predominância do sol. Pela inclinação da sphera, ora cahindo a perpendicular sobre o solslicio de Câncer, ora sobre o do Capricórnio, vemos que, no primeiro caso, a maioria dos raios perpendiculares e dos menos oblíquos ó toda para o hemispherio do norte, e para o do sul a maioria dos raios oblíquos; e, como a intensidade de luz e calor está na razão directa da perpendicularidade dos raios luminosos, segue-se que, emquanto para a meia sphera boreal houver o Verão, para a outra será o inverno e vice- versa. Para o hemispherio em que está o Brazil, podemos dizer — «O Verão começa a 21 de Dezembro, o Outomno a 22 de Março, o Inverno a 21 de Junho e a Primavera a 51 22 de Setembro. Esses números de dias não são absolutos, pois que exacta mente as estações não começão nelles. Uma das causas do que acabamos de avançar é o phenomeno da 'precessão dos equinócios, descoberto ha 2,000 annos por Hipparco, quando observava a Espiga, da Virgem. Esse phenomeno que poderemos chamar —deslocação equinocial— causa a diminuição successiva dos annos de 20’ e 17”. A causa desse phenomeno, disse Newton, e d’Alemberl e Laplace a demonstrárão, é a acção Solar sobre o bojo equatorial. Em virtude desse movimento os poios celestes se irão lambem deslocando, de maneira que, si hoje é a Polar, da Pequena Ursa, a que mais se aproxima ao polo boreal, daqui a 12,000 annos a Wega, da Lyra, que actualmenle tanta distancia tem, ficará apenas daquelle ponto separada por 5.° Afora o que havemos dito, apresenta a Terra em seu eixo um certo balanço, descoberto por Bradley, que lhe deno- minou nutação, cuja causa é reconhecida na acção Lunar sobre o Equador terrestre, acção esta reciproca e cujo effeilo é a deslocação dos nòs. Para bem conhecermos as differentes posições e determinar as diversas relações de nosso planeta, imaginárão os astronomos, tendo por base o movimento apparenle das estrellas, diversos círculos, linhas e pontos. Foi assim que a observação, mostrando no movimento diário de diversos corpos celestes differentes semi-circulos parallelos, creárão-se os parallelos, que successivamente augrnentão até que, dividindo a esphera em duas partes iguaes, recebem o nome de Equador; dos outros parallelos' 32 dous ao norte, e dons ao sul do maior, também recebôrão nomes especiaes. Os que dislão do Equador 23° e 28’, acima e abaixo, recebôrão os nomes de Tropico de Câncer, e de capricórnio, pela correspondência de posição com as constellações de seus nomes. Tropico. que significa volta, forão chamados aquelles círculos, porque a observação in- completa dos antigos fazia crer que o sol em seu movimento ali chegando voltára ao Equador para ir até ao outro seme- lhante. Os que dislão do mesmo Equador 66°, 72’ e portanto das extremidades do planeta 23° e 28’, forão chamados Círculos polares árctico e antárctico. Esses círculos marcão o lugar onde chega o mais obliquo raio do sol, quando este astro, permitla-se-nos, se acha no tropico opposto. Esses quatro círculos e o Equador dividem a superfície da Terra em cinco fachas desiguaes, chamadas zonas : -a Toymida, entre os dous tropicos, dividida ao meio pela linha equino- cial, e assim chamada, porque sobre ella exerce o sol a sua acção mais intensa ; as Temperadas, do norte e do sul, entre os tropicos eos círculos polares, e onde, não havendo grande perpendicularidade dos raios luminosos, existe um tal equi- líbrio na temperatura, que lhes mereceu o nome; e as Frigidas ou Glaciaes, entre os círculos polares e os poios ou as extremidades da Terra, assim chamadas pelo desequi- líbrio entre o calor e o frio, causado pela longitude em que se achão do fóco de calorificação. Alem destes notamos a Eclyptica, supposta orbita do sol, e assim chamada, porque em seu plano tem lugar os eclypses, parte de um tropico a 33 outro, tocando o Equador em dous pontos e com elle for- mando um angulo agudo de23*e 28’. Os pontos de contacto desse circulo com o Equador cha- mão-se dos equinócios e com os troplcos dos soisticios• Os astros em seu movimento apparenle de rotação, chegadosque sejâoá sua culminação, tendem aooccazo para no dia seguinte executarem o mesmo phenomeno ; pois bem, foi pelo ponto de culminação que se suppoz passar um circulo que recebeu o nome de Meridiano, meio dia, de que podemos ter tantos, quantos forem os pontos da superfície da Terra. Esses cír- culos cortão o Equador em angulo recto e confundem-se todos nos pólos; entre elles ba dous que tem o nome de Coiluios, e, que se cortando nos pólos em angulo recto, abstracção feita dos outros, vêm a passar, um pelos pontos dos equinócios, e outro pelo dos solsticios. Durante muito tempo todas as nações calculavão pelo meridiano da ilha de Ferro, nas Canarias; mas hoje quasi todos os paizes tem o seu meridiano, que fazem passar pelo seu principal obser- valorio. De modo que o meridiano sobre que se calcula di- vide a esphera em dous hemispherios. um oriental, e outro Occidental, da mesma maneira que o Equador a divide em hemispherio septenlrioual e meridional. Pelos pontos que marcão o despontar e o recolher dos astros passa um circulo, que divide a esphera em duas partes iguaes, e é chamado horisonte\ óo horisonte astronomico, pois que outro existe, variavel, lendo o nome de horisonte visual, que muda á proporção que o observador se move. Pelo centro do hori- soule, logar occupado pelo observador, passa uma linha, 34 chamada vertical e cujos extremos, um acima e outro abaixo do mesmo observador, chamão-se zenith e nadir ou pólos do horisonle. Cortando-se em angulo recto e passando pelo plano do circulo, duas linhas chamadas Norte, Sul, Leste e Oeste, cujas extremidades, recebendo os nomes de que ellas se compõe, são chamadas pontos cardeaesi entro estes ficão os coiiateraes que recebem os nomes dos cardeaes limitrophes, por exemplo: Noroeste, entro Norte e Oeste; Suieste, entre Sul e Este, etc. Esses pontos formão as extre- midades das linhas Noroeste-Sueste e Nordeste-Sudoeste, que também passão pelo centro do horisonle. Contamos ainda as meia-partidas e as quartas, ao todo 31! pontos do hori- sonle, por onde se suppõe soprar um vento e pelo que o seu coujuncto distribuído em forma de rosa é conhecido pelo nome de Rosa dos Ventos. Todos esses círculos que havemos ennumerado se reunem em dous grupos máximos eminimos. Sao máximos o Equa- dor, o Meridiano, os Colluros a Ecliptica 6 o Horizonte, porque, secções do Globo, como devem ser considerados, elles lem para Centro o mesmo cenlro da sphera. São míni- mos os Tropicos c os Círculos polares porque, secções lambem da mesma sphera, os seus centros não são o mesmo cenlro da Terra. Havemos já citado qaasi todas as linhas e pontos da sphe- ra; falta-nos apenas o eixo e os pólos. Chama-se eixoúa Terra uma linha imaginaria que se suppõe passar pelo centro do planeta, e em roda da qual elle executa o seu movimento rofatorio. O eixo não é perpendicular ao plano da orbita, ao 35 contrario, elle forma com aquelle plano um angulo agudo de cerca de 66, 15, conservando em suas differentes posi- ções um parallelismo, não absoluto, pois que a mutação existo e está provada. As extremidades desta linha são os dous pontos chamados pólos árctico e antárctico, si ao norte ou ao sul do Equador. Emquanlo a Terra gira 360° na região equatorial, u’uma rotação completa, gastando 1 hora para cada 15° os pólos executãoesse movimento n’uma continuidadequasi absoluta. De sorte que, se a um tempo o Sol podesse estar no Equador e em um dos pólos, veríamos que, emquanto os differenles pontos equatoriaes vissem a noite succeder-lhes ao dia, o pólo estaria conlinuamente illuminado. E’ nos pólos que exisle o maior achatamento da Terra, devido necessariamente ao deretimento de matérias que vierão se accumular no Equador, e provado por Huygens, quando médio diversas latitudes. Partida da massa cósmica, desprendida da grande nebu- losa, antes de sua completa condensação para a formação da Terra, a Lua conslituio-se por isso mesmo o satellile de nosso planeta. O mais brilhante e volumozo, para nossa vista, depois do Sol, é o nosso satellile um spheroide um tanto irregular. Em menos de um mez faz a Lua o seu du- plo movimento, em roda de seu eixo e em torno da Terra. Executando o seu movimento de revolução, ella se nos apresenta de quatro fórmas phases e que são o novilunio ou primeira syzygia, o crescente ou primeira quadratura, o plenilúnio, ou segunda syzygia 36 e o minguante ou segunda quadratura. Assim é que na primeira phase achando-se ella entro o Sol e a Terra e re- cebendo toda a sua luz daquelle astro tem a sua face illu- minada para elle voltada; eis porque não a vemos; mas, pouco a pouco, descrevendo a sua orbita, vai deixando per- ceber uma pequena porção de seu disco illuminado e dis- tinguir-se o resto de seu todo como que embaciado. Esto embaciamento, acontecido durante essa occasião que se chama primeiro oitante, recebeu o nome de luz cinzenta. Continuando sua trajectória e no fim de tres dias e algumas horas e minutos, ella se apresenta meio illuminada, na pri- meira quadratura; dabi continuando a illuminar-se passa ao 2o oitante, para finalmento collocar-se em opposição, isto ó, na segunda syzygia. Então ella está complelamente illumi- nada e a Terra acha-se entre ella e o Sol, cujos raios pas- sando pelo nosso planeta vão cahir sobre o satellite. Passa ao 3o oitante, diminuindo a illuminação, d’ahi à segunda quadratura, e 4o oitante, onde tornamos a apreciar a luz cinzenta, e finalmente á primeira syzygia, gastando neste duplo movimento 27d 7l1 43’ 4”, que se chama revolução periódica ou tropical. Mas ó que não se pode collocar em conjuncção, pois que a Terra em seu movimento deslo- cou-se, e por isso é necessário que ella ande mais 2d 5h 1’ 4”, para que o pbenomeno se reproduza. Essa differença junta á quantidade acima ennunciada forma o mez lunar ou revolução synodica, e como, na média, ella diariamente percorre 13° 10’ 35” do zodiaco, acontece que só a vemos sempre quasi 52’ mais tarde que no dia antecedente. A or- 37 bita de nosso salellite toca em dous pontos a da Terra, e esses pontos chamâo-se nós, e a linha que os une Unha dos nòs. E’ nessa linha que na conjuncção da-se o eclypse do Sol e na opposição o da Lua. Desconhecida pelos antigos, quanto á sua constituição, teve Galilôo a gloria de primeiro uella descobrir os montes e os valles. Sem atmosphera, pelo menos semelhante á nossa, e portanto sem agua, apresenta a Lua manchas pe- riódicas e permanentes. Estas, suppõe-se, são produzidas pela côr do terreno ou pela profundidade dos valles, e aquellas, pela projecção das montanhas; é pelo compri- mento das manchas que se tem podido medir a altura do Dorfel, 7603m e do Leibnitz, 112,000'" na cadeia dos Abe- mos lunares. A luz que nos envia o nosso satellite é fra- quíssima e para prova basta dizer que a luz da Lua cheia, que ó amais forte, ó menos fraca que a do Sol, cerca de 300,000 vezes. A distancia que nos separa é de 380,000m sendo ella 49 vezes mais pequena que a Terra. O giro de- sigual em sua trajectória produz na Lua um certo balanço, descoberto por Galilôo e que se chama ubração, de que se distingue 3 especies em longitude, em latitudo e diurna. O primeiro é causado pela discordância entre os movimen- tos do corpo, pois que o movimento de rotação é uni- forme e o de revolução não o é; a segunda é causada pela inclinação do eixo sobre o sua orbita, de sorte que nos apresentando o pólo i° alóm, deixa nos perceber o lado opposto á apresentação; a diurna depende da posição de quem observa na superfície da Terra. Poróm serão reaes 38 essas libraçues ou será tudo effello de uma illusão óp- tica ? A Lua pela sua posição e movimento ou é eclypsada, eclypsesda Lua, ou é eclypsante, eclypse do Sol. Elles são ou lotaes ou parciaes e a maior duração que pode ter um eclypse total da Lua ó de 2 h. Os eclypses se succedem sem ordem, mas com certeza tempo virá que elles tenhão logar no mesmo ponto em que já se manifeslárão. A observação tem mostrado que o menor numero, em um anno, de eclyp- ses é 2; que são ambos do Sol. Já dissemos que chama-se anno o tempo gasto pela Terra em fazer a sua revolução, e como o nosso salellite. durante esse mesmo tempo, faz doze revoluções das suas, dividiu-se o todo em 12 partes desiguaes, que receberão o nome de mezes. Estes forão divididos em quatro partes, pois que quatro são as phases de nosso salellite, as quaes receberão o nome de semanas, que parece originário de sete que é exactamente o numero de dias de que ella se compõe. Estes receberão nomes em altenção aos sele astros mais importantes, então conhecidos— Lua, Marte, Mercúrio, Jú- piter, Venus, Saturno eSol. Os diversos povos hão combinado o tempo de contar os seus annos; esse tempo recebeu o nome de Era; entre ollas citaremos: A christã, chamada vulgar e que começa no anno 4004; a eglra , dos mahometanos, que começa no anno 622 da nossa éra; os seus annos são lumares; a de Diocle- ciano, seguida poios christãos da Abyssinia e que começa 39 a 29 de Agosto de 184 da nossa éra. Tem o nosso satel- lile grande influencia sobre os corpos organisados, porém o phenorneno de que em outro togar nos occuparemos e que por elle é em grande parte causado, é o das marés. Atmoxpliern Já dissemos em outro lugar que em nosso planeta siderávamos tres grandes centros ou orgãos: o tellurico, o atmospherico e o oceânico. Vamos nos occupar do segundo, cujo estudo e phenomenos serão o objecto desta parle de nosso trabalho. E’ a almosphera o orgão que em mais directa relação está para com o centro do nosso syslema planetário, e fórma o grande envollorio que nos abraça e de cujos ele- mentos vivemos. Não a vemos, e no entretanto sentimos-lhe os effeitos; exerce sobre nós uma pressão que não perce- bemos, mas que no emlanto é nos mostrada e confirmada peto haroMetn®• Imperceptível e conhecida, pois que, se agora apenas dobra a rosa no hastil, e sobre as pétalas lan- ça-lhe, amorosa, os seus beijos matutinos, dahi a pouco, um instante basta, para que enfurecida faça os grandes cedros tremerem de medrosos, e, despedaçados, serem em suas azas atirados ao oceano. Aqui, ella aspira os vapores esparsos pela superfície da Terra, e em seu seio forma as nuvens, condensa-as para depois lançar se em chuva ou em orvalho, sobre o mesmo, ou differenles pontos do planeta. Aqui, elia se apodera do gaz carbonico, que conlinua- mente expiramos, para leval-o ao cedro oirá palmeira; lá, nas florestas virgens do Amazonas, do Mississipi, nas eu- 40 costas dos Andes ella se apossa do oxygeno e vem espa- Ihal-o sobre nós outros. Onde a causa de seu movimento? Certamenle nessa zona superior, ainda desconhecida, mas cuja vida deve ser semelhante ao loco tellurico, pois que os eífeitos o são! Si bem alleodermos para o aspecto physico que o grande oceano aereo nos apresenta; si por um momento rellectir- mos sobre os mais pequenos phenomenos, concordaremos em dividir a atmosphera em duas grandes regiões: a das calmas e a das correntes, impossíveis até hoje de serem marcada mente divididas, mas como já dissemos conhecidas em seus effeitos. E’ assim que no intervallo da successão da hriza ao terral, vemos sempre, por muito pequeno que o seja, um certo periodo de calma. Si uma tempestade se prepara, como que o proprio orgão almospherico se encon- tra em um estado todo de calma, calculando as futuras con- sequências. Onde residirá o principio motor, o influxo de todo o mo- vimento almospherico ? E em geral das duas zonas 9 As grandes obras são executadas, ou no fundo do gabi- nete, onde o cerebro do obreiro esteja de parceria com a tranquillidade do ambiente, ou no centro do laboratorio, onde tudo esteja tão perfeitamenle disposto que a mais li- geira necessidade encontra remedio promplo. E' no intimo da cellula pulmonar que chega o oxigeno vivificador do sangue preciso á sustentação do organismo ! Podemos dividir as calmas em Ires grandes grupos : equa- toriaes, iropicaes e polares. As duas primeiras formão zonas 4] de extensão variavel, notando-se porem que a equatorial é continua, e forma uma facha de cerca de 20°, emquanto que as tropicaes não são continuas, mesmo pela posição que occupão; e demais nas calmas tropicaes não ha aquella constância conhecida da equatorial, e por isso podemos chamal-as de transitórias. Quanto ás polares ainda não são bem conhecidas. De um pólo a outro a atmosphera se move, arrastando todas essas zonas calmas até um certo tempo, em que fica estacionaria, para ao depois tudo voltar á opposição ; esse movimento oscillatorio foi determinado por Maury do se- guinte modo: Ires mezes de movimento para o norte, tres mezes ahi estacionário, tres mezes de oscillação para o sul, Ires mezes ahi estacionário, e assim por diante. Que as camadas almosphericas se movem o sabemos, e devemos grupal-as em a seguinte ordem: Correntes con- tinuas ou constantes, correntes e irregulares. Todas as correntes superiores são constantes, pois que exercendo seu funçcionaiismo acima do 10,000m nada ha que lhes emharasse ; o mesmo não acontece com as outras a que bastantes vezes se oppòe as cadeias de montanhas. Dahí duas ordens de obstáculo : ou physico ou physiologico, e, se as montanhas pertencem á primeira, as recortadas costas da Terra, onde se operão os phenomcnos de transição entre os orgãos lellurico e oceânico, devem pertencer ásegunda. Os alizados tornão-se monções, sob a influencia das costas; assim vemos que no hemisperio boreal os1 monções do sudoeste da África e os do sudeste da America central, 42 quando o sol procura o tropico do Câncer não são mais do que os alizados atlânticos, modificados pelas costas das terras. No hemispherio meridional não são vistos estes ven- tos, nem no Atlântico, nem no Pacifico. São pois todas essas correntes aereas o primeiro grupo dos phenomenos almos- phericos, conhecidos pelos nomes de meteoros aereos\ outros ha e são os aquosos e os luminosos. Os ventos são originados por um desequilíbrio thermo- raetrico nas camadas da atmosphera. Em cada hemispherio notamos duas correntes em sentido opposto; uma dirigida do Equador ao Pólo, e outra deste áquelle circulo. O gráo de calor no primeiro e de frio no segundo, combinados com o movimento de rotação da Terra, são as causas desse movi- mento aereo. E, como esse movimento póde ser de diversos modos, seguem-se dahi as diíferentes denominações dos ventos. Os Alizados ou Geraes, que são muito mais regulares no mar do que nas proximidades da Terra, são muitas vezes, como já dissemos, transformados em monções. Esses apre- sentão uma periodicidade de seis mezes, em a qual elles soprão, ora para os continentes, ora para o iargo\ são mais ou menos conhecidos nos mares da Azia e Malasia. Já os Romanos tinhão delle noticia por Hippalus. Entre os ventos periódicos devemos citar o Simoun ou Samiel dos desertos da Arabia e África septentrional, que, atravessando o Mediterrâneo, faz-se sentir na Italia sob o nome de Siroco ; reinando no Egypto elle tem o nome de Kausin',0 Pampeiro S. O. que se destaca das regiões meri- 43 dianas da America e cujos effeilos desastrosos conhecem as costas do Rio da Prata e Rio Grande do Sul, e o Minuano tão conhecido nesta província do Brazil, cuja acção sobre a pelle assemelha-se ao córle de uma faca. Diariamente nota- mos as duas hrizas Viração e Terral se succederem sem in- terrupção. Haverá entre os dous urgãos tellurico e oceânico algum ponto de intersecção que marque a transicção con- linuamente effectuada? Serão as costas essa intersecção entre os dous orgãos do nosso planeta ? A aurora sobrepuja as trevas da noite, o sol magestoso apresenta-se-nos nas pur- puras do Oriente; as ondas do oceano, os vegelaes gigantes ou mesquinhos, os animaes, nós mesmos sentimos uma tal ou qual impressão, que nada mais é que o influxo do grande principio viviíicador da Natureza ; é então que as camadas liquidas era continuo aquecimento raollecular servem de ponto de attracção ás camadas aereas terrestres, durante a noite resfriadas. Mais tarde o sol chega ao zenith, descamba, dirige-se ao occazo; o mesmo phenomeno em sentido inverso porém ; eis a Viração. Quanto mais elevado o observador, junto ás regiões po- lares, mais irregularidade nota nos movimentos das cor- rentes aereas. Os anemómetros, para a velocidade e os cataventos, para a direcção, são os apparelhos principaes de que nos servimos para o conhecimento dos ventos. Havemos dito que a almosphera aspira da Terra os va- pores para condensal-os, e reenvial-os sob formas diffe- rentes; vejamos os principaes meteoros aquosos. 44 As nuvens, que são o resultado da condensação dos va- pores que se elevão da superfície da Terra, são classificadas em quatro grupos: Cirrus são pequenas, á semelhança de flocos esbranquiçados, girando mui alto. cumulus arredon- dadas, á semelhança de montanhas sobrepostas. Stratus, em camadas horisontaes, largas e continuas e que se formão ao occazo do sol. Nimbus, sem forma determinada, se apre- sentâo com uma côr cinzenta carregada e uniforme. As nu- vens girão desde quasi a superfície de nosso Globo até 4,000'". Na região próxima á superfície terrestre formão-se pelo mesmo modo pequenas e tenues condensações vaporo- sas, chamadas nevoeiros > o o orvalho é o vapor condensado em globulos, e que, refrescando as plantas, tantas vezes vemol-o, como aljôfar sobre as pétalas das flôres. o sereno, que principalmente se produz depois dos grandes calores, é a queda de leves camadas de uma agua quasi vaporosa. A neblina, a neve e a saraiva são outros meteoros aquosos, A chuva é o resultado da queda, por falta do densidade, das vesículas condensadas, precipitando-se umas sobre outras. A quantidade delias está na razão directa da evapo- ração e da condensação. Lugares ha onde quasi sempre chove. Andes, Canadá, no valle do Amazonas, e vice versa, no Egypto, Cimbebasia, etc. A maior quantidade de chuvas está para o Equador assim como o maior numero de seus dias para a approximação dos pólos. Chama-se pluviómetro o instrumento que mede a chuva. As diversas especies de chuva de que fallão os naturalistas, e que, de envolta corn todos os preconceitos, são-nos reve- ladas pelas lendas tradiccionaes, ou têm sido de pedras, ou de fogo, ou de enxofre, ou de sangue, ou de carvão. A. chuva úqpedras, não é mais do que a queda brusca das vesículas condensadas, que não ti verão o tempo preciso para a metamorphose; as de fogo não são mais do que o resul- tado de uma tempestade causada por nuvens excessivamente electrisadas. Quanto ás de enxofre forào o resultado da pre- sença do semen Ucopodii, observado em Copenhague em 1804; as de sangue encontrão sua explicação na presença de insectos vermelhos, e as de carvão, na presença do pó de grandes queimadas, levado de uma região a outra. Um dos meteoros aquosos mais importantes, e já poe- ticamente descripto pelo Cantos dos Luziadas em seu 5o canto, é a tromba, resultado do encontro de duas correntes almosphericas oppostas. (í) E' uma das provas do que havemos avançado; a exis- tência da circulação do orgão aereo. Assim como no orgão oceânico se manifeslão os sorvedouros, assim na almos- phera o encontro das correntes oppostas determina a spi- ral ascendente, cuja base, repousando sobre a superfície livre dos mares, serve ao mesmo tempo de foco principal de aspiração. . As aguas que são aspiradas pela tromba serão do oceano sobre que repousa, ou dos vapores, que, condensados, nellas se accumulão? A verdade é que as aguas não são salgadas! Muitas vezes lança-se mão da polvora para des- (1) Hoje muitos pliysicos explicam o phenomeno pela electrisação. 46 pedaçar a tromba, mas nâo poucas lem-se visto, depois do effeito produzido pela bala, as duas parles separadas, tor- narem a juntar-se. E’ o caso de dizer-se, existe nessa occa- sião uma superactividade do funccionalisrao orgânico. Elias são seguidas geralmenle de chuvas, acompanhadas mais ou menos de relâmpagos e raios; e, por toda a zona que lhes serve de theatro, produzem um som especial. As tromhas podem se manifestar, ou sobre o mar, ou mesmo em terra. Dessas a mais importante é a de 1845, na Normandia: aqui mesmo no Rio de Janeiro, não ha muito tempo, o arrabalde da Tijuca soffreu horrivelmente as suas consequências. Outros phenomenos apresenta a atmosphera, conhecidos pelos nomes de meteoros luminosos. Entre elles citaremos: o Relampago que é uma luz offuscante, devida á projecção da faisca electrica, desprendida das nuvenselectrisadas; branca nas baixas regiões e violeta nas altas, ella apre- senta alguns kiloraetros de extensão. As mais das vezes a direcção da luz é em zig-zag, pois que, as camadas almos- phericas se oppondo á continuidade, obrigão-n’a a procu- rar aquellas em que a resistência é menor; e lauto assim é que no vacuo ella segue a recta. Pelo modo por que se apresenta o relampago, ou é em zig-zag, ou em circulo, quando abraça o horisonle, ou em globos, ou finalmente como ondulações luminosas fugitivas, o que tem logar nos tempos de calor, pelo que são chamadas de calor. Logo após, immediatamente, ao relampago succede o trovão que a mui grandes distancias pode ser ouvido; e, si só o perce- bemos algum tempo depois do relampago, ó pela rasão de 47 que a luz atravessa com mais rapidez as camadas atmos- phericas do que o som, que gasta um minuto para cada 337m. O ronco do trovão resulta do abalo que excita a descarga eleclrica sobre o ar e a nuvem. A descarga pro- duzida pela reunião das electricidades contrarias da nuvem e do solo, sobrepujando a resistência opposla pelo ar, cha- ma-se raio, que, segundo as leis de altracção, cabe sobro os melhores conduclores e os objectos mais proximos á nuvem. Senle-se em sua queda o cheiro da electrisação do oxygeno, ou a formação do ozona. Para prevenir os per- niciosos effeitos desse meteoro poude Franklin com o auxilio do papagaio descobrir o pára-raios. A electricidade das nuvens, procurando communicar-se com a terrestre por intermédio dos corpos elevados e pon- teagudos, creou na idade média o phenomeno que ainda hoje conserva o nome de fogo de SanVElmo. O desprendi- mento do phosphoro e a sua immediata inflammação pela presença do ar almospherico, nos cemilerios, ou em outro qualquer local, onde haja matérias em decomposição, crêa o phenomeno chamado fogo fatuo, ainda hoje causa de medo dos ignorantes. O arco-iris é a decomposição da luz solar, reflectida sobre as nuvens oppostas, prestes a se resolverem em chuva; cada raio de luz se compõe de sele raios de diífereute côr e que são: encarnada, alaranjada, amarella, azul-clara, azul escura e roxa\ a combinação dessas sete dá a luz branca com que o Sol se nos apresenta. Em um mesmo tempo podemos observar mais de um desses phenomenos, e 48 a sua apparição e extensão dependem da posição do obser- vador e da altura do Sol. Um outro meteoro é u aurora polar, impropriamente ainda hoje chamada boreal, cau- sada talvez pela electricidade; ella se nos apresenta inleira- mente luminosa e segundo algumas observações as auroras em ambos os pólos são semelhantes. Não ha muito tempo o observatorio do ílio de Janeiro leve a ventura de apre- ciar um desses meteoros. A mirage é uma illusão óptica observada nos paizes quentes; causa a percepção de objec- tos que não existem. Os exercitos de Alexandre e de Na- poleão forão victimas desse phenomeno, bem como o Capitão Cook e sua tripolação em alto mar ficarão illudido. E’ pre- ciso declarar, que, no tarde de 9 de Dezembro de 1871 sobre os altos comôros que povoão a costa do llio Grande do Sul, apreciamos esse phenomeno. Achavamo-nos sobre o tombadilho do Guaporè, quando percebemos ao longe, como que uma cidade situada sobre aquella região. Na Suécia os marinheiros fallão de uma ilha entre a costa e o grupo de Aland, e na Italia a decantada Fala Morgana. Emfim, é o orgão almosphericp, como os outros dous, o lhealro de grandes dramas, comusejão as tempestades. Nem se diga que entre os tres orgãos de nosso planeta deixa de existir um perfeito funccionalismo. Si é a atmosphera qne muitas vezes nos manifesta os eíTeitos de causas não per- cebidas, ide depressa e indagai. Interrogai ao Oceano e vereis como vos responderá; di- rigi-vos ao foco lellurico e reparai como seus antros se con- gestionão, e as crateras o fendas de seus volcões vomitào 49 as matérias que demoradas uo interior, com certeza, sopi- tarião o organismo inteiro. Consultai o vosso lhermomelro, o vosso barometro e respondei-me si o que elles dizem não se assemelha ao que vos responde o centígrado dQ Celcius, quando o levaes até a axilla de vosso doente, cujo estado febril tanto receiaes. E’ que os reinos da Natureza estão tão intimameute ligados que impossível é construir-lhes grandes barreiras divisórias 1 Cobrindo quasi 3/4da superfície da Terra as aguas formão o Mar que constituo o orgão intermediário do Todo plane- tário, carregando as grandes massas solidas que se chamão continentes e unas. Seu fundo desigual o irregular, pelas depressões, até 14,000™ e accidentações, 100m, que apre- senta, é deserto, servindo apenas de deposito osseo aos in- divíduos que em outras épocas existirão, ou habitado pela especie que conhecemos própria destas regiões. Em sua composição chimica é constante nos elementos, porem va- riável na proporção ; é assim que sendo o chlorureto de sodio o elemento que ahi entra em maior quantidade, não ó comludo por toda a parte encontrado na mesma proporção. As analyses tem mostrado que, lugares ha, em que a agua oceanica é quasi doce. Com uma temperatura própria, porém variavel sob as influencias solares, ou dos phenomenos que se passão em seu interior, este orgão marca o seu máximo lhermico em 32° cent. no Indico, Pacifico o mar Vermelho, e seu minimo nos mares polares 6o a 7o abaixo de zero. A’ semelhança do sangue que não possue em todo o orga- Aguns.—Orguo oceânico.—Sons principnes phcnomcnos 50 nismo o mesmo gráo lhermometrico, o oceano apresenta grande variação em sua temperatura ; e, se reflectirmos um pouco, veremos que essa semelhança ó maior. Sabemos que o nosso sangue, comquanto composto sempre dos mesmos elementos, não apresenta em os diíFerenles or- gãos a mesma proporção; assim o liquido oceânico, como já dissemos, formado dos mesmos princípios, não os apre- senta em todas as regiões de seu immenso espaço nas mesmas quantidades. Como o sangue no organismo ó continuamente vivificado e renovado, assim as ondas oceâ- nicas se renovão, e vivificão pela circulação geral do grande orgão peripherico. As correntes oceanicas são verdadeiros vasos arteriaes e venozos e a communicacão circulatória cora os dous outros orgãos da Terra se faz, com a atmos- phera, pela evaporação, circulação das nuvens e sua reso- lução em chuva, e com o foco tellurico, por meio das artérias e veias fluviaes. Entre os pheaomenos mais importantes que tem por scena o oceano sobresahem as correntes e as mares. Des- conhecidas em suas causas ao principio, têm sido o objecto de muitos estudos. Devidas ao aquecimento da região equa- torial e resfriamento das polares, ou á existência dessa cir- culação geral por nós, no decurso deste trabalho, tantas vezes fallado, o certo é que as aguas oceanicas se movem em differeutes direcções, obedecendo todas a dous focos de attracção geral, que se achão collocados, um nos mares de Sonda, grande depressão ao sul do Equador, outros no me- diterrâneo Colombiano, grande depressão também, ao norto 51 do mesmo circulo. Segundo o gráo lliermometrico de suas aguas, as correntes se dividem em quentes e frias. Fòco Colombiano•—A este foco perteucem as tres cor- rentes Gulf-Stream, Atlantica do norte e a de Guiné: como bem se vê é o Atlântico Septentrional delias o prin- cipal lheatro. A mais forte das tres, a Gulf-Stream, parto do mar do México, costeando*a Florida, e depois de dobrar o cabo Hatteras, atravessa o Atlântico de sudoeste para nordeste; passa pelo occidentee norte da Inglaterra, occi- denteda Noruega, para envolver-se com os gelos do Árctico em Spetzberg e Nova Zembla. Depois de se haver perdido por aquellas regiões, nós a vemos descer, dividida em duas pela Groenlândia, confundidas ao depois antes do grande banco da Terra Nova, costeando os Estados Unidos, e con- fundir-se com a ascendente, no recorte comprehendido entre os cabos God e Hatteras. De uma temperatura superior a 30° cent. tem ella a presteza de 38 kilometros por dia, chegando a contar 8 kilometros por hora nos estreitos da Florida e de Bahama. Os seus principaes ramos são a de Rennel ou da Mancha, a do mar Hispano-Francico e a de Portugal ou do A Atlantica do Norte, que se pode considerar como uma dependencia do Gulf- Stream, pois delia se destaca, a NE dos Açores, contorna essas ilhas e, quasi a 3“ de lat. sept., reflue para as Anti- lhas, deixando destacar-se para a costa de África a Guiné - Esta depois de percorrer a curva, formada pelo golfo de seu nome, vai se confundir com a equatorial ou Atlantica do Sul. 52 Foco Soudiano ou Malaio. As correntes altrahidas para esse ponto são: a Gulf- Stream pacifica, a Equatorial do Norte ou do Pacifico de Câncer, de Equatorial proplce 0 a Indo - A tlantica - Paci- fico a mais longa e ramificada. A Gulf-Stream do Pacifico parle do mar de Java, eleva-se no da China, e, depois de seguir ao longo das costas orientaos do Japão, Kurilhas e Kamtchalha, transpõe o estreito de Beerning, lançando-se no mar Polar. Possue duas correntes de retorno; uma que parle do mar de Okholsk, e se dirige por entre a China e o Japão, e a outra, que é considerada a verdadeira, sahe do Beering, vem costeando os Estados-Unidos, México, isthmo de Panamá, e republica do Equador, onde encontra-se com um dos ramos da Indo-Atlantica-Pacifico, com que se anas- lomosa. Sua presteza é de 2 kilomelros por hora e, no largo, sua temperatura é de M° ceut. A do Pacifico de Cân- cer, que na proximidade dos Kurilhas se confunde com a precedente, atravessa o Grande Oceano de oeste a leste, um pouco abaixo dos Alencianos; dirige-se para Sandwich, abaixo de que muda de direcção; atravessa o Pacifico de leste para oeste e ahi se divide em dous ramos, um para o mar de Sulú e outro para o Gulf-Stream. A Equatorial, que tem seu começo nos mares de Java, e Celebes, atravessa o Pacifico de oeste para leste, ácima do equador e abaixo da antecedente, junto ás ilhas Carolinas e depois junta-se á antecedente. A grande Indo-Atlantica-Pacifico, originaria do mar de Java, a mais longa, estende-se pelo estreito de Magalhães 53 em direcção ao Indico; duranle seu longo curso podemos contar os sub-systemas Indico, Atlântico e Pacifico. O pri- meiro sahe do estreito de Malacca, percorre o mar do Ben- gala, atravessa o Indico de leste a oeste, na altura das Maldivas, corre pela costa oriental da África, pelo canal de Moçambique, chega á Boa Esperança, tomando o nome de corrente das Agulhas; e, se curvando sobre si mesma, atravessa de novo o Indico, na latitude das terras de Ams- terdam e São Paulo, e, chegando a sudoeste da Auslralia, se divide em 3 ramos: indo Norte, CentraleSul. O Atlân- tico começa no cabo Boa Esperança, é a continuação do das Agulhas, o, seguindo pelas*costas até Benguela, diri- ge-se obliquamenle de éste para oeste, se bifurcando entre Ascenção e Santa Helena-, o ramo ascendente lança-se na corrente de Guiné, e o transversal corta o Atlântico de leste para oeste até abaixo do cabo de S. Roque; curva-se de N. para S. na altura do Rio de Janeiro, e bifurca-se em ramo descendente que forma a corrente de S. Roque, que, ao longo da America vai até á Terra do Fogo e o rumo circular, em direcção á Tristão da Cunha, a juntar-se no cabo da Boa Esperança ao rumo índo-sul. .s duas corren- tes do cabo das Agulhas em sentido diverso prestão grande serviço á navegação. A região Atlântica do sul comprehende a equatorial, união dos dousfócos; a Atlantica do Capricór- nio, e a de S. Roque. A Pacifica do Sul é a continuação da de S. Roque ; con- torna o cabo d’Horn, e, partindo da Terra do Fogo, dirige-se para o norte até a republica do Equador, ó então chamada Humboidt; recebe a do México, percorre o Pacifico de lesto a oesie, abaixo das ilhas Gallapagos, Marquezes e Novas Hebridas, e, dividindo-se em dous ramos, entra, urn pelo estreito de Torres, e outro pelas Molucas e mar de Banda, abraçando a Nova Guiné. Não apresentam os mares polares senão correntes secundarias, e estas são mais notáveis, os ramos, da grande índo-Atlantica-Paciíico, nos austraes. A observação ha mostrado que os movimentos das regiões não segue cm uma recta, mas sim em uma inclinação paral- lela ao movimento de rotação; donde a hypolhese da existên- cia de uma corrente circular e constante. Se originarão nas profundidades desconhecidas ainda dos mures austraes ou serão a continuidade, por communicações impercebidas da Grande Corrente? O que sabemos é que tres correntes se destacam dahi, e correspondem ás tres extremidades meri- dionaes das terras, e portanto podemos chamal-as : corrente austml-sul-americana, austral-sul-africana, austral-sul- australiana. Todas elias são submarinhas, de fraca inten- sidade, e tão pouco conhecidas, como as regiões em que imperam; Desta ligeira exposição concluímos que: assim como no organismo animal toda a funcção que se executa, ou lorna-se o foco de attracção para as forças em disponi- bilidade, ou o centro de irradiação e ponto de partida das forças emergentes; assim no orgão oceânico a corrente par- tida do foco principal obedece aos pontos de attracção que se achão disseminados pelo todo, até que, chegando a um limite extremo, curva-se sobre si mesma, e, de centrífuga, torna-se centrípeta, procurando o seu foco principal. E’ do mesmo modo que os corpos planetários, gosandoda força repulsiva e sollicitados pela altracção dos oulros astros, fogem de seu cenlro de movimento, até um certo limito, de que volta, obedecendo á attracção do foco!... O outro phenomeuo importante que apresenta o orgão oceânico é o das marés. Conhecidas, ha muito tempo, e consideradas pelos povos, como a resultante da respiração do grande animal sobre cujo dorso suppunhão a Terra col- locada. Todos vemos e sabemos que duas vezes por dia as aguas se elevão e se abaixão; mas, o que nem todos sabem e ninguém o vê, é o porque esse facto se produz. As lheorias de Newton e Boucheporn explicão o pheuo- meno de que nos occupamos: o primeiro pela acção solar e lunar exercida na vertical e o segundo, se admitte a acção vertical diz: « —Uaction horisontale de Vattraction lunaire a un caractere diffèrent et une importance heaucoup plus gy‘ands que Vaction verticale. Si fàible qu’elle soit, en effet? comme elle n’agisse que pour le glissement, et à la façon, par exemple, d’une sphère que Von ferait rouler sur un plan, elle n’a autre chose à vaincre que Vinertie même et la masse des eaux; elle n’a pas à vaincre leur pesanteur, et d’autre part, comme elle s’applique à une immense éiendue et à une immense quantitè de matière, elle a toute la puis- sance de ces grandes masses ; et s’il se prèsent un obstacle à la marche horisontale des eaux, tel qu une cote escarpèe ou le resserrement d’étroit passage, cette quantitè de mouve- ments s'accumulant en avant de lui doit y amouceler flot sur flot et peut porter rinsi localement la hauteur des eaux marines à celle mesure si elevèe que présentent certains points 56 du globe, certains cotes continentates. » (1) A maxima da vertical será ua conjuncção e na opposição 6 da horisontal nos oitantes. Eleva-se a superfície livre dos mares, baixa 0.h 22 depois, para, tornando a elevar-se, baixar uma outra vez; de sorte que de 12h e 25’ em 12h e 25’ temos uma elevação e um abaixamento. O primeiro chama-se -jtuxo ou enchente e o segundo refluxo ou vasante : o maior ele- vação, é o preamar e o maior abaixamento é o baixa-mar. Dessa successâo resulta que de um dia para outro a maré deve ser notada 50’ mais tarde; por exemplo : Si em A o primeiro íluxo foi observado ás 6 horas da manhã em b, dia seguinte, deverá se!-o ás 6h e 50’ da manhã, etc. De maneira que no 16° dia a hora da maré será a mesma, quanto ao numero, porem differente, quanto ao grupo; si no primeiro foi do dia no 16° será da noite e vice-versa. As maiores marés são as das syzygias o as menores das qua- draturas, o que encontra sua explicação ua acção combi- nada ou opposta dos dons fócos de atlracçào Sol e Lua. A observação tem mostrado que não no momento mesmo da phase se manifesta a grande ou a pequena maré, e sim 30 horas depois-, portanto ó a terceira maré que marca a maior elevação ou abaixamento. Ainda são maiores, quando os dous astros se avisinhão do Equador, o que pode acontecer nos equinócios da primavera e do outomno, se a Lua estiver no grande circulo; então admiraremos as grandes marés das syzygias equinociaes; ao contrario, nos solsticios. Si a acção (1) Boucheporn. Philosophie naturelle, pag 175. hmo-solar é a causa do phenomeuo que estudamos, elle pode ser modificado bastante pela intensidade e direcção das correntes aereas, pela configuração das costas, pela profun- didade e extensão dos mares. E por isso vemos quão diífe- rentes são as marés do Hispano-Francico comparadas com as do Gaspio, Marmara e Negro. Como no Pacifico as marés dos archipelagos malaios differem das que se manifeslão nas costas da Asia. Os portos da Mancha, bem como a bahia de Fundy, onde a altura da maré chega a 30 metros, experimentào grandes elevações, não obstante o obstáculo apresentado pela com- pressão exercida pelas costas, é facto observado ; como ex- plical-o? Não caberá a tbeoria das horisontaes do illustre author da Philosophia Natural ?... Não é somente nos mares que o phenomeuo das marés se manifesta ; o vemos lambem nos rios Amazonas, Mississipi, Sena, etc., seb o nome de pororòca e macarèo. E’ mais um facto que serve de sustentação á tbeoria apresentada da harmonia funccional dos orgãos de nosso planeta. Sabemos que os corpos se altrahem na razão directa das massas e na inversa do quadrado das distancias e que o Sol, a Lua e a Terra em seus movimentos proprios, pelas re - laçòes de proximidade em que se achão, têm quotidiana- mente, por factos, se encarregado da demonstraçãodaquella lei enunciada. Sendo o orgào oceânico um corpo liquido, e portanto não gozando o seu systema mollecular daquella coiiesão própria dos solides, e collocado em frente a nosso salellite, acontece que os elementos seus constitutivos, obede- 58 cendo á lei acima referida, tendem á elevação, que seria perpetua, si o nosso planeta não se movesse em rotação. A perpendicular de attracção, cahindo sobre um ponto oceâ- nico, força-o a seguir-lhe a direcção com mais intensidade de que os outros pontos sobre que cahem as obliquas em sua distribuição symelrica; mas, como a Terra sobre si mesma gira do ocidente para o oriente, (1) acontece que a perpendicular torna-se obliqua, e que a primeira deste ge- nero transforma-se em perpendicular e assim por diante, o que explica a successão das marés durante as e 50 do oriente para o occideule. O que se dá no hemispherio em que nos achamos, manifesta-se no opposlo, não com a mesma intensidade, porém sem cousa alguma faltar á seme- lhança. Nem de outro modo poderia ser; pois que a acção exercida no zenith se propaga ao nadir e vice-versa, dis- tribuindo-se igualmente pelos pontos do horísoule; e eis porque a Lua na circumferencia deste circulo determina, pela attracção ao oceano, as vasantes e nos pólos as en- chentes. E’ o sol também causa desse phenomeuo que seria im- meuso, se a acção da grande massa não fosse contrabalan- çada pela distancia que nos separa; pelo que as suas marés são fracas. A acção do Sol, ora augmeuta a lunar, ora a contraria, o que se explica pela .relação de posição. Nas conjuncções e opposições as atlracções sobre a Terra, seguindo uma mesma direcção, devem occasiouar maiores (1) Faz-se aqui abstracção do movimento do Satellite que ainda corrobora a explicação do" phenomeno. 59 marés e muito maiores ainda, si, alem da combinação de acção, o nosso planeta está mais proximo a seu centro de revolução, porque a directa da massa sobrepuja a inversa da distancia. E’ o que se manifesta nas grandes marés equi- nociaes das syzygias. Nas quadraturas, cortando-se em angulo recto as rectas de attracção dos dous focos, a re- sultante não attinge á grande intensidade. Entre os outros phenomenos que nos apresenta o mar, notamos a ressaca, resultado do despedaçamento contra as alcantilas da praia, das ondas em occasião do fluxo; as vagas, resultante da acção dos ventos sobre as aguas, levando-as era grande agitação. As mais altas vagas vê-se no Cabo da Boa Espe- rança por occasião das grandes marés, influenciadas pelo N. 0. do Atlântico meridional, attingir a 12 metros. Si as vagas em seu movimento encontrão obstáculos, diz Figuier, formão-se os turbilhões e os sorvedouros, entre os quaes citaremos os tornados dos mares da China e Japão, os sorvedouros de Mahlstrou, nas costas da Noruega, e de K alo faro, na Sicilia, cantado por Yirgilio, Homero e Ovidio. Um outro phenomeno importante, já observado em 1846 na ilha Bourbon, chama-se Raz de maré, que é o resultado da combinação horrivel dos turbilhões cora as marés. Ainda uma vez encontramos as analogias dos mundos e dos sêres. Toda essa congestão oceanica que faz tremer o marinheiro, quantas vezes não a vemos no mundo em que vivemos, em orgãos differentes do organismo humano !..* Oeeano. — Snau iIívíiòcí. 0 grande orgão oceânico, que se estende pelos 3/4 da superfície plaoelaria terrestre, e que é um só e continuado liquido, chama-se Mar. A sua profundidade média é des- conhecida, e nos parece quasi incalculável, pela irregula- ridade que apresenta o seu fundo: aqui grandes depressões; ali elevações que em sua superfície vão constituir os ca- chopos, os bancos, os recifes, etc. A cor com que elle se nos apresenta varia, desde o azul carregado até ás verde, vemelha,GÍc-, sendo estas ultimas devidas á presença de crustáceos microscopicos, ás algas, aos zoophitos, etc. Uma especialidade com que o mar se apresenta é a phos- phorescencia devida também a animalculos e cuja maior zona, 40 kilornelros de largura, foi vista pelo Capitão Kin- gneau no mar das índias. Entre estes animalculos nota-se o Pyrosoma de uma emissão de luz vertiginosa! A matéria animal, assim como nos cemilerios, em decomposição, con- corre por sua vez para a phosphorescencia. A agua do mar, notavelmente salgada, tem um gosto es- pecial, e, entre outros, encontramos os seguintes saes em sua composição ; chlorureto de sodio, de magnésio, sulfa- tos de magnesia, cal e potassa, carbonato de cal, silicato de soda, bromureto de sodio e magnésio, e em quantidades li- geiras os oxydos de ferro e manganez e os carbonatos e phosphatos de magnesia. Alguns mares apresentão esses princípios em quantidades differentes. Os saes de cal e po- tassa, o iodo e a siliça, si apresentão-se nas analyses chi- micas até hoje feitas em pequena quantidade, é porque são ellos os elementos de vida e composição das plantas marinhas e dos animaes que por essas ignotas regiões se multiplicão. As ilhas de coraes, os bancos madreporos como se formárão ? como crescem ? O uivei dos mares é quasi o mesmo por toda a parte e a sua temperatura média da superfície pouco differe da do ar, comquanto nos tropicos essa differença seja mais sen- sível. Na profundidade a temperatura chegada a + 4o tor- na-se invariável; de sorte que se a camada a que dista da superfície 1,400“ marca +4°, a camada B parallela áquella, porém cuja distancia é de 2,20i)m, marca a mesma temperatura. Formando duas grandes bacias, uma extensissima, apre- sentando em sua superfície grande multidão de terras, e outra, relalivamenle, apertada entre deus colossos terres- tres, o Mar pode ser dividido em cinco zonas diversas, cha- madas Oceanos, lendo de superfície cerca de 580,141,000 kil. q. A zona glacial do Norte que começa no polo Árctico o chega ao circulo polar árctico, recebe o nome de Oceano Árctico ou Boreal, que, gelado durante muito tempo, banha as regiões seplentrionaes da Asia, Furopa e America ; elle communica-se entre a Asia e America por um canal com o Pacifico, e entre a America e Europa, por uma grande aber- tura. Nesta bacia nota-se o mar Branco e os golfos da Rússia e Noruega, na Europa ; os mares de Kara, Sibéria Central e Sibéria Occidental e os golfos de Ob e Borgai, na Asia, e o mar Polar e a celebre passagem do Noroeste, na America. Do circulo polar árctico, entre Europa e America até uma linha tirada da extremidade sul da America á mesma da África, estende-se o Atlântico, que, banhando de um lado a Europa e África ao occidente, e de outro a America ao oriente, se divide em tres zonas bem distinctas: a Ia o Atlântico boreal, desde o circulo polar até o tropico do Cân- cer ; a 2a o Atlântico tropical, entre os dous tropicos, e a 3a o Atlântico austral entre o tropico do Capricórnio e a linha da America á África. A primeira forma todos os mares interiores da Europa, como sejam o Mediterrâneo, seus prolongamentos, Marmara, Negro e Azoff e suas dependencias, de Sicilia, Adriático, Jonio e Archipelago ; o Gantabrico, a Mancha, o Escossio, o Irlanda, o Allemanha ou do Norte e íinalmente o Mediter- râneo Septentrional ou mar Báltico com os golfos de Bothnia, Frislandia e Livonia ; na America, o Mediterrâneo Árctico, composto dos mares de Baííin e Hudson, o grande golfo de S. Lourenço e o mar do México, parle do Mediterrâneo Co- lombiano. A segunda forma o mar das Antilhas, outra parle do ha pouco referido Mediterrâneo, na America, e o grande golfo ou mar de Guiné na África. A terceira constilue apenas alguns golfos, cuja ennumeraçâo estaria fora dos limites do objecto desta these. Estes dous oceanos constituem a bacia Allanlica, assim por nós chamada, porque é no oceano deste nome que existe o foco das correntes dessa região. A outra bacia chamaremos do Pacifico, pois é o oceano desse nome o que occupa a maior area; e alem disso éo formador do foco das correntes dessa outra região. 63 E’ assim que temos o Grande Oceano Pacifico, que, começando no canal entre Azia e America, communicação para a zona glacial do norte, se dirige para o sul, depois de formar de cada ura dos lados dos dous continentes uma bacia secundaria semelhante, o mar de Beering, na America e o de Tarrakai ou Okhotsk, na Azia. Dividido pelo Equador em Oceano Boreal e Austral, ve- mos que o primeiro forma nas castas da America os mares de Cook e Paraná e o golfo da Califórnia, e nas da Azia, se intromettendo pelas dififerentes e muitas abertas que lhe oíferece o grande cordão de terras, que se desprende do contorno do Tarrakai ao Equador, forma o grande Medi- terrâneo Aziatico Oriental de muitas entradas, composto dos mares do Japão, do Teung-Ilouang-hai (Azul-Amarello) ou da China Central e o da China proprio com os golfos de Tankin e Sião e, na Malasia, os das Filippinas e Gelebes. O segundo forma nas costas da America a concavidade para que propomos o nome de golfo do Ayacucho; uaAuslralia o de Gorai, o golfo de Carpentaria , o de Lauchidol, o das Molucas e o Sumatro-Javanez. O Indico ou mar das Índias, que, começando em uma linha tirada do cabo da Bôa Esperança á Tasmania, banha a costa oriental da África, onde forma o canal de Moçam- bique, e o mar Vermelho, hoje em communicação directa com o Mediterrâneo, gigantesca obra executada por Fer- nando Lesseps, mas antevista por Necháo, pharaó do Egypto; a meriodional da Azia, onde se vê os mares de Oman, Bengala e Malacca e os golfos Pérsico, Cambaia, 64 Manaar e Martaban; a Occidental da Ausiralia, onde forma o mar de Sonda-Australio e o Australiano meridional, com os golfos de Spencer e S. Vicente. O Glacial Antárctico que se estende do pólo austral a uma linha que passa pelas extremidades da África, Austrá- lia e America; nesta zona estáo as terras ultimamente des- cobertas e que muitos suppõe formão um continente. Pelo exposto concluímos que a bacia do Pacifico forma-se dos oceanos Pacifico, Indico e Glacial Antárctico, assim como a Atlântica se compõe do Glacial Árctico e do Atlântico. Todos esses oceanos e suas subdivisões, mares, golfos, bahias, enseadas, canaes e estreitos são alimentadas pelas correntes, que partem do interior da Terra, mais ou menos longas e volumosas. Podemos dar uma ligeira idea do que acabamos de dizer, pelo seguinte quadro; Jenissei —Az 3.400 Ob — » 3.200 Sena — * 3.000 Bacia Àtlantica 0. Arclico Amazonas —Am 7.000 Mississipi — » 5.200 Paraná — » 4.500 Niger — Âf 3.700 S. Francisco — Am 3.300 0. Atlântico Bacia do Pacifico 0. Pacifico Azul —Az 4.600 Amarcllo — » 3.200 Indo —Az 3.600 Beramanura — » 2.700 0. Indico > Bera map ura — Terra.—Seu aspecCo e seus phcnoiiicnos Primitiva mente lançada no espaço em estado ainda não per feita mente condensado, a Terra foi pouco a pouco se res- friando até que a solidificação de suas camadas se manifes- tou. Os elementos gazeiformes que do interior erão levados áatmosphera precipitarão-se sobre a superfície do spheroide, logo após a sua condensação. As primeiras aguas cahirão, mas pelo calorico existente se volatilisarão; as combinações chimicas se operarão; grandes oxydacões sc produsirão, e, segundo alguns, de baixo para cima constituirão-se os de- posites. Passarão os tempos, os phenomenos continuarão, os de- posites forão augmenlando, e a crôsta terrestre se espes- sando. As aguas se alojarão nas depressões, e formarão as primeiras bacias, e a almosphera tão complicada deixou-se perceber formada de oxygeno, hydrogeno, azoto, gaz car- bónico o uma certa quantidade de vapor d’agua. Grandes convulsões se manifestarão, os antigos continentes submer- girão-se para ceder o logar a novos; de sorte que podemos reduzir a dous grandes períodos os phenomenos por que ha passado a Terra em sua constituição —o dos calmas e dos cataclysmas. Durante a calma tudo se desenvolveu e aguas depositarão, no fundo de suas bacias, em camadas hori- sontaes, não só os solidos que tinhãu em suspensão, como também os destroços vegetaes e animaes de então; eis a formação dos terrenos slratificados. Chega o cataclysma,deslroe as especies, fazendo-as substi- tuir por outras; os terrenos slratificados guardados no fundo 66 dos mares se levantão, aqui e ali, e constituem as massas continuas e elevadas; formão-se as montanhas. Consli- tuem-se essas immensas e longinquas serranias que alra- vessão kilometros sem conta. E’ que o crescimento dá-se em uma mesma zona continua ; ó que a acção intralerrestre planelaria se exerce simultânea e symetricamente contra a crôsla do orgão. Muitas tem sido as theorias apresentadas para essa explicação. Darwin diz que ellas resultão de uma successão de pe- quenas agitações produsidas, durante o terremoto, pelo mo- vimento das massas fluidas internas, contra as paredes da crôsta terrestre, e os eixos das cadeias, onde ellas produzem vibrações. Segundo a sua opinião os terremotos de 1822 e 1835 elevarão as costas do Chile e a cadeia dos Andes. Mas quantos terremotos tem a idade moderna apreciado e estudado, e que, no entretanto, nem se quer ao longe, ex- plicào-lhe a presença das densas massas que se elevão em suas proximidades? Porventura os causadores circumscriptos de Julia e Monte-Nuovo podem satisfazer ao espirito, de- monstrando-lhe a semelhança em relação ás elevações mon- tanhosas? Estudando a cadeia Alpina, Sharpe chegou á seguinte conclusão: -- « Que os Alpes sahirão do seio do mar por uma successão de elevações, separadas por grandes períodos de tempo, durante os quaes as ondas tratarão de marcar a sua presença nas encostas da cadeia ». O resfriamento das massas internas da Terra determina fendas, por onde se precipitão as matérias interiores que ahi se accumulào; e 67 assim como o monte Branco tem-se constituído á custa do protogyno, assim os Pyrenôos se hão formado pela erupção do granito e da aphita• As montanhas da Terra não são tão elevadas como as da Lua. Vê -se que a crôsta terrestre apresenta duas qualida- des de terreno, o igneo e o sedimentoso; superpostos cama- das a camadas encontramos os terrenos de alluvião moderno. Um verdadeiro spheroide, apresenta o nosso planeta um aspecto externo irregular bastante, desde o centro á peri- pheria. Aqui, são as aguas do oceano que o recortão capri- chosamente; ali, é a própria superfície que se eleva ás altas regiões almosphericas, formando as grandes massas mon- tuosas; acolá, é a mesma superfície que se deprime e deixa ver o mar Morto,• mais alem, são os colossos ligados uns aos outros, como que medrosos das scenas, já presenciadas: adiante, os pigmeus na vasta extensão da massa liquida, sempre prompla a devoral-os. Quanto contraste! Aqui, o monte se cobre de habitações, tem prados floridos e pastos excellentes; ali, elle é taciturno, de vez em quando ruge, e ao depois escancara-se, ameaçando a Natureza. Aqui, é o valle por onde deslisa tranquilla a veia argentea que mata a sede ao camponio fatigado ; ali, ó o S. Lourenço que se despedaça no salto do Niagara ou o Amazonas em toda a magestade recebendo o tributo de seus vassallos 11 Aqui, são as florestas onde reina, altiva, a vegetação; ali, é o Sahara, o grande oceano de areia que levanta as grandes vagas ô sepulta as caravanas. Eis o aspecto do Globo Ter- restre !... São os terremotos e os volcões os phenomenos, cujo foco encontra~se no orgão tellurico. Não ha região alguma de casso planeta, de polo a polo, que não conheça o volcão e o terremoto, notando-se entre elles a seguinte differeuça: que em qualquer latitude o phe- nomeno volcanico é o mesmo, au passo que o terremoto tem a sua intensidade proporcional á temperatura da re- gião, e eis porque nos paizes quentes são medonhos. Pelas muitas observações, principalmente de Yolger, sabe-se que os terremotos são mais frequentes no inverno ou no equinocio do oulomno e de noite, bem como coinci- dem com as variações bruscas da columna barometrica. Elles são anmmciados por uma calma intensa á qual suc- cede ura ruido subterrâneo, notando-se antes ainda, mas não sempre, um abaixamento no nivel dos lagos e um tal ou qual recolhimento do proprio mar. Os volcões tem o seu máximo no verão, o que porém não é para todos, como por exemplo: o stromboli que tem feito suas erupções no in- verno. Os symplomas prodromicos da erupção são a mudança de cor d’agua das fontes, o gemido característico que pa- rece partir dos antros do orgão tellurico, a agitação das ondas contrastada coma calma atmospherica. Haverá li- gação entre os volcões? A cadeia ganglionar volcanica ex- plicará o phenomeno da simultaneidade de erupção e da quietação, muitas vezes observada, em um orgão volca- nico, estando o seu visinho em funccão? 69 Grandes terremotos, assim como horríveis erupções, ha presenciado o nosso planeta. A primeira erupção que melhor se conhece é a do anno 79, quando o Yesuvio despeda- çando o Somma sepultou Pompeia, Hercula e Stabia, jun- tamente com o celebre naturalista Plinio o Yelho. Dos terremotos citamos o de Messina, 5 de Fevereiro de 1783, que fez terriveis estragos em um circulo de 32 kiiomelros de raio, o o de Lisbôa, a 1 de Novembro de 1755, que abrio iunumeras fendas pelas próprias ruas da capital. Ahi o grande ministro portuguez mostrou quanto era grande! Um outro phenomeno são as fontes quentes e sulfurosas que se encontrão em diversos logares, taes como a Gei- sier na Islandia, a Solfatara, na Kalia, cujo terreno dá sob a pisada ura som particular. lerra.—Suas grandes divisões. — Seus habitantes. A superfície de nosso planeta não foi immediatamente conhecida, como ainda hoje não o é. A parte solida forma grandes extensões de terras no seio da vasta bacia oceâ- nica. As grandes e extensas porções de terras não inter- rompidas pelo mar receberão o nome de continentes, assim como as pequenas extensões cercadas de agua per todos os lados o de ilhas. Se por um momento nos debruçarmos sobre um MAPPA- MUNDI ou sob os olhos tivermos um globo geographico, notaremos quatro grandes regiões, continuas, cercadas de uma infinidade de ilhas do tamanhos diíTerentes. Ahi temos 70 os quatro continentes: Azio-Europôo, o Africano, o Ame- ricano e o Australiano. Esses continentes com as ilhas que geographicamente delles dependem formão os tres mundos conhecidos pelos nomes de Antigo, Novo e Novissimo, os quaes encerrão as seis parles em que classificamos as terras da superfície da Sphera terrestre. Assim é que o mundo antigo comprehende a Europa, Asia e África ; o Novo a America e o Novissimo a Australia ou Nova Hollanda e a Po- lynesia, não semelhante ás outras que se compõe de conti- nentes e ilhas. Trataremos de cada uma dessas grandes divisões do melhor modo possivel: A Azia Foi essa região a primeira habitada, segundo nos referem os historiadores ; ahi existiu o Paraiso Terrestre ; ahi teve logar o primeiro peccado e o primeiro assassinato ; ahi ma- nifestou-se o grande phenomeuo, conhecido pelo nome de Diluvio Universal ; ahi fundarão-se os primeiros impérios, fizerão-se as primeiras conquistas das sciencias e artes; ahi finalmente existe o berço das quatro grandes religiões que mais espalhadas estão pelos povos da Terra. E’ a Asia a maior de todas as outras suas irmãs e acha-se situada em porção oriental do hemispherio boreal, entre Io 14’ e 78° da lat. da ponta de Malacca ao cabo Severowos- tochnoi, no Árctico e 24° e 172° de long. oriental do meri- diano de Paris. Sua maior extensão do cabo Oriental ao estreito de Bab-el-i\Iaudeb é de 12.00l)k e do Severo ao 71 Rumania 9.000. A sua superfície está calculada em 45.000 k. q. A sua população estimada em 700,000,000 de habitantes ainda muito atrazados, os indigenas, seguem em maioria ou o Islamismo, ou Brahmanismo, ou o Bud- hismo ou Chrislianismo, governando-se em monarchias mais ou menos absolutas. Seu commercio externo que agora toma proporções, graças á intervenção dos Estados-Unidos, leva aos mercados estrangeiros objectos de sua industria, como sejâo: obras de porcellana, de marfim, damasco, algodão e cachemira. Entre suas riquezas dislingue-se o chá, o café, o arroz, o trigo, o linho, o cravo, a canella, o sandalo, a camphora, o cedro, a pérola, o coral, a saphira, o rubi, etc. Possuindo quasi todas as especies de animaes, apresenta ella o tigre real, o elephanle, o leão, o urso polar, a pan- thera, a renna, o bicho da sôda, o cavallo, o camello e a cabra cujo pêllo ó aproveiladissimo. Suas regiões principaes são a Sibéria, banhada pelo Árc- tico, ao norte; o Japão, grande archipelago, entre o Pacifico e o Mediterrâneo Aziatico e a China, ao oriente; as duas penínsulas de além e aquem Ganges ou Indo-Ghiua e In- dostão, ambas com estados independentes, tributários ou colonias européas, ao sul; e o Belutchistan, Afghanistan, a Pérsia, o Turkestau, a Turquia Asialica, a Rússia do Cau- caso e a Arabia, ao occidente. Banhada pelos oceanos Árctico, Pacificoe Indicoe pelo Me- diterrâneo, apresenta a Asia grande numero de golfos e ba- ilias onde desaguão os seus principaes rios, laes como; o Ob, o Jenissei e o Luna, ao norte : o Amor, o Amarello, o Azul 72 e o Kiang, a leste; o Brhamapura, o Ganges, o indo e o Chatel-Arab, resultado da juncçãodo Tigre com oEufrates, ao sul. Polo centro correm alguns importantes que se lanção nos grandes lagos desse continente. São seus lagos dignos de nota, em um trabalho de tanta pressa, o Asphatelta ou mar Morto, queoccupa a maior de- pressão da Terra, o mar de Arai, o Caspio, o maior do Globo nos limites da Europa, o Vau, um dos elevados, o Baikal, o Dzaizang e finalmente o Manassarovah, o mais elevado do Globo 5.164m, ponto de peregrinações dos Indos. As montanhas da Azia podem ser reunidas nos seguintes systemas: Oriental, cujo foco é a cadeia do Bolor, donde parlem todas as outras cadeias, laes como a Altaica que se dirige para NE, enviando duas ramificações que correm paralle- las ao Jenessei e Lun, e vai terminar no estreito de Beeriug. Da margem direita do Anady destaca-se a Marítima que pelo Kamlchalka e Kurilhas acaba no Japão, A Himalaya, onde se encontra os mais elevados picos do Globo, corre pelo norte do Indostão em arco de circulo, desprendendo grande numero de ramificações pelos valles do Ganges, Bfhamapura e Irnady, vai terminar no Indo China. Para o centro da China deslacão-se do Bolor as cadeias do Tianchan ou Montes Celestes e a Kuen-Lun, e para o oeste a Hindo-Koch em procura das margens do Caspio e a Aklag pelo Afghanistan, Belutchistan e Pérsia. 73 Indostanico que abraça as fies cadeias da península de seu nome abaixo do Ganges e Nerbudda ; as cadeias são a seplenlrional ou Vindleia, a dos Gaths Occidentaes, mais extensa, e a dos Orienlaes. Arábico que abrange as serras da Arabia e cuja cadeia estende-se pela costado Vermelho sob o nome de Hedjaz, donde parte, não mui longe de Mecca a secundaria E-Aared que se dirige para leste em procura do golfo Pérsico. Turco-Persa que comprehende as cadeias Kurdistanica que se dirige para S. E. em parte parallela ao golfo Pérsico; a Armenica que se ramifica pelo N. E. nas vi- sinhanças do Caspio ; a Taurico que se dirige paro 0. pela costa do Negro e a do Libanio pela do Mediterrâneo. Uraliano cuja cadeia dos Uraes separa a Azia da Europa e se ramificando na direcção para S. vai terminar no Arai e no Caspio. Caucasico, de que a cadeia do Caucaso que corre de 0. para L, do Negro para o Caspio, é a prin- cipal. Entre os volcões da Azia notão-se o Avatcha, Damo- vend, Araral, Koo-sima, o Pe-chau, etc. África. A África, que hoje se acha por uma obra da arte sepa- rada de sua irmã a Azia, fórma um grande continente, cuja parte central, apezar das grandes explorações destes últimos séculos, ainda se conserva pouco conhecida. Ahi está o Egypto tão conhecido na historia sagrada e pro- fana ; ahi estão as pyraraidcs, trabalhos gigantes dos pha- raós. o o Nilo, cujas aguas se transformarão em sangue, conforme diz a Biblia, quando Moysés, o mais antigo dos legisladores, tentou salvar seus irmãos. Visitada pelos phenicios vio a África fundar-se e arrazar- se Carthago, sentindo de perto as grandezas da antiga Roma.[Mais tarde, servindo de passagem, admirou o poder dos Califas de Gordova, foi o lumulo do grande Luiz IX de França e da monarchia portugueza com D. Sebastião em Alcacerquibir, tendo antes sentido o braço vigoroso de D. Manoel, o Afortunado, e conhecido a inlelligencia e te- nacidade do infante l). Henrique. Conquistadas e retalhadas as suas costas, foi a África por muito tempo testemunha impassível do infame trafico de seus filhos, que, illudidos e arrancados á patria, erão vendidos a terras estranhas, onde, ou regavão com o suor e o sangue a terra de que o senhor auferia os benefícios; ou marcavão com as carnes em retalhos os troncos dos enge- nhos ! Hoje felizmente é ella o objecto de sérios estudos, e as nações da Europa envidão os esforços possíveis afim de conhecel-a, sendo já o tumulo de intrépidos descobridores, como Mungo-Park, Yogel, Liviugstone e outros. Em sua maioria situada na zona tórrida, ella ainda se estende um pouco para as duas temperadas. Coutando, do Bugaroui ás Agulhas, 8.112 kilomelros, e do Verde ao Or- feei, 7.518, ella tem quasi 29,300.000 k. q. de super- fície, com uma população de 90,000.000 pouco mais ou menos, de negros, mouros, colonos e muetos. Excepção feita das colonias, as outras regiões da África se resentem de um alrazo, em civilisaçào, extraordinário. 0 coramercio externo ó limitado, e consiste na exporta- ção de ouro em pó, marfim, anil, pimenta, pennas de aves- truz vinho de Constança e gomma-.o interno, que se faz por meio de caravanuas, é importante. Os princípaes ge- neros de importação são; o sal, a aguardente, espelhos e missangas; o fabrico do estofo de algodão e lã, o preparo das pelles e objectos diversos de metal, como armas bran- cas, são os principaes productos de sua industria. O ouro, a prata, o cobre, o ferro e as pedras preciosas, á excepção do diamante, ahi são encontrados. O baobab, a maior arvore que se conhece, a palmeira da tamara, alimento ás vezes do camello, a arvore da gomma, o chi, o ébano, a bananeira e a fructa-pão são suas principaes riquezas vegetaes. Entre os animaes no- ta-se o cão, o búfalo, a hyena, o leopardo, a girafa, a pan- thera, o chacal, o cavallo, uma infinidade de especies de macacos; o camello, chamado o navio do deserto, e o dro- medário, que quasi lhe iguala nas vantagens, são os dous grandes meios de transporte. O camello pode andar 150 ki- lometros por dia e passar oito sem beber. Grande quanti- dade de insectos, a formiga ussandi que mata o elephante, quando se introduz pela tromba desse animal; o salalo que reduz a pó a mais rija madeira, e os gafanhotos. Dividida em 3 regiões por uma linha do Verde ao Guar- dafui e pelo tropico do Capricórnio, a África pode se sub- dividir em Seplentrional, entre o Mediterrâneo, Atlântico, Vermelho e a linha citada; Oriental, da ponta de Orphui pela costa do Indico até o Capricórnio; Meridional, ao sul 76 do Capricórnio; Occidental, deste circulo ao Verde, pela costa do Atlântico e finalmente a Central. Na primeira a Berberia (Marrocos, Algeria, Tunis e Tripoli), Egypto, Nubia, Abyssinia e o Sahara, são as re- giões conhecidas e banhadas pelo Mediterrâneo, Vermelho e Atlântico, que lhe formando os golfos de Gabes, Tunis, Sydra e Suez recebem os seus principaes rios; Nilo de cujo delta é originaria a peste, o Medjerdda, o Ghelif e o Mal- nial. Na segunda a península dos Simonlis. cuja ponta é o cabo Orfui, o Zanguebar, onde ainda hoje se vê Melinde e Mombaça visitados por Vasco da Gama, Moçambique, separado pelo canal de seu nome da grande ilha Madagas- car, que não longe fica das Mascarenhas e Comoras; essa região é banhada pelo Indico que lhe forma a bahia de Sofala, e recebe o Zambeje, o Livuma e o Loffi. Na terceira, encontramos a Cafraria com as republicas do Vaal, a Golonia do Gabo e a Hottentocia, banhada pelo Indico, que recebe o Limpopo abaixo do cabo Corrientes, Antárctico, que recebe o Gaurilz, e o Atlântico, que recebe o Orange. Na quarta notamos u Senegambia, assim chamada dos rios Senegal e Gambia que a regão ; o Guiné ou Negricia Marí- tima atravessada pelo Niger, o Guíné Inferior ou Congo, banhado pelo Zaire ou Gongo e pelo Koanza e a Ovampia, Toda essa região é banhada pelo Atlântico que ahi forma o mar de Guiné, e onde se vê os cabos Verde, o das Palmas, Lupes e o Negro. 77 Na quinta nota-se o Sudan, ou Negricia Central, atraves- sado pelo Djoliba e o Darfur. Entre os lagos contamos o Tchad, o Tsana, o Victoria e o Alberto Nyanza, o Tanga- nica, o Nyassa, onde fundou-se a Livingstonia e o Banguêlo, em cuja visinhança falleceu o illuslre Livingstone em 1873. Nas costas da África, mais ou menos afastadas, alem de Ma- dagascar, nota-se as Caaarias, as de Gabo Verde, S. Thomé, Príncipe, Ascenção, Santa Helena, capliveiro do Io Na- poleão, Zamzibar e Socotorá. Gomquanto não mui regularmente conhecido, podemos a bem do estudo reduzir a systemas a orographia Africana, e portanto citaremos os seguintes : O Altico, desde a margem esquerda do Nilo ao Atlântico, cuja cadeia principal ó a do Atlas, que se estende até ás costas do Oceano. O Abyssinio, que encerra a cadeia marítima, que se es- tende ao longo do Vermelho, e a dos montes da Pua, na Abyssinia, donde sahe o Nilo Branco. O Cafro líaenia, que começa na Cafraria e vai terminar ao norte do Equador, apresentando uma pequena ramificação nas costas do Índico ; o Koenia, no Equador, ó o seu ponto culminante. O Madagascariano ou Marítimo, nas ilhas do Indico, lendo por cadeia principal a Ambostomenes do cabo Ambra ao Santa Maria por mais importante. Os volcões da ilha Bourbon pertencera a esse systema. 78 0 Meridional que com prebende o plalo de tres terraços e suas ramificações, abaixo do parallelo de 30° tem por cadeia principal a Newield. 0 Guiné ou Gongo, que se estende do parallelo de 30° por pequenas arestas e vai se apresentar possante no oriente do Congo, formando as montanhas que têm o nome de monte do Sol, onde se vê o Mulundu-Zambi. O Senegambio-Guiné que se forma das serras do Guiné proprio, Sudão e Senegambia ; a cadeia principal é a serra Kouy, que separa a Senegambia do Guiné e este do Sudão, apresentando os Gameruns, onde se vê o Mongo-ma-Lobah. Outros volcões couta a África; taes são o S. Bernardo e o Gros Morne, na Keunião, o Aukober, na Abyssinia, o La Corona em Laucerota, nas Canadas. Europa Mais pequena que todas as outras partes do mundo,é com- tudo a mais importante pela sua grandeza nas artes, com- mercio e sciencias. Tem ella visto fundar-se tantas potências desde a soberba Roma até a pequenina Andorra e passarem todas pelas forcas caudinas da fatalidade ou das necessida- des dos povos pelo adiantamento e esclarecimento de suas razões. O paganismo, o cbristianismo e o islamismo têm ahi imperado; as artes, as letras, as sciencias e as grandes descobertas ou ahi têm o seu berço, ou ahi receberão o seu aperfeiçoamento. Tem a Europa sido o grande theatro dos maiores dramas que a humanidade ha visto representar; e por isso, digna 79 de toda a atlenção pelos conselhos que ás suas irmãs possa transmittir, pois possue a grande pratica da vida. Situada na zona temperada do norte, mede do cabo S. Vicente á cadeia dos Uraes 4,832k ; e do cabo Norskun ao Matapan 3,468k, apresentando a sua superfície 9,643,000kq. Com uma população de 282,250,000 habitantes em estado adian- tado de civilisação, nota-se nella a preponderância do go- verno monarchico-represeutativo, seguindo os seus habi- tantes, excepção feita dos Turcos e Judêos, os diíferentes ramos do Ghristianismo. Occupa a Europa a vanguarda do mundo; seu commercio immenso vai levar ás paragens mais recônditas da Terra os objectos de uma industria activis- sima e florescente que dia a dia em novos horisonles se des- lumbra. Auxiliada por todas as vias de communicação interna, manda a industriosa Europa por meip de sua marinha mer- cante as machinas, os objectos de cutelaria, de gosto e luxo; os tecidos de seda, linho, lã e algodão; os chapéos e os sapatos; o carvão de pedra, etc. Em troca recebe o café, o assucar de canna, o algodão, o ouro, o fumo, o marfim, o chifre, a gomma, a borracha, o incenso, a myrra, o cravo, a pimenta, etc. Situada a noroeste do Mundo Antigo, podemos dividil-a em oriental, comprehendendo a Rússia, a Turquia, a Grécia e os principados do Danúbio ; em septentrional, formando-se da Suecia-Noruega, Dinamarca e Inglaterra ; era central, França, Bélgica, Hollanda, Allemanha, Áustria e Suissa ; em meridional, Portugal, Hespanha e Italia. Ao norte é ba- 80 nhada pelo Glacial Arclico que lhe fórma alguns mares e golfos; á oeste pelo AUanlico, grande bacia externa que fórma-o Mediterrâneo, cujas parles ou mares secundários banhào suas costas austraes. E’ para essas bacias que se dirigem as suas correntes in- ternas principaes, como sejão o Eiba e o Rheno, no mar do Norte; o Sena, na Mancha ; o Loira e o Gironda, no Gan- tabrico; o Douro, o Tejo e o Guadiana, no Atlântico ; o Ebro e o Rhodano, no mar de Sardenha; o Pó, no Adriático; o Danúbio, o Dinesler e o Dinieper, no Negro ; o Dou, no mar d’Ázôff; o Yolga, o maior de todos da Europa, e o Ural, no Gaspio, que é o maior lago do Globo, e fórma a grande depressão para que correm muitos rios da Europa e Asia. Os outros lagos mais importantes são : o Onéga, o Ladóga, na Rússia ; o Wener e o Melarne, na Suécia ; o Gonstança, atravessado pelo Rheno, e o Maior, nas vertentes das cadêas dos Alpes; o Balaton, na Hungria ; e o Janina, na Turquia. As elevações montanhosas da Europa podem se reunir nos seguintes systemas : Scandinavo, na Noruega,.Suécia e parte da Rússia ; o Francico, na França, ao norte do Ga- ronna, e a oeste do Rhodano, na Bélgica, flollanda e parte da Allemanha ; o Ibérico, na parte da França ao sul do Ga- ronna, na Hespanha e Portugal ; o Alpico, o mais extenso e ramificado e onde se encontra o ponto culminante da Eu- ropa, na França a leste do Rhodano, na Suissa, na Italia e na Allemanha e Áustria ao sul do Danúbio e a leste do Una c do Sava ; o Hercynio-Carpalho, na Allemanha a leste do 81 Rheno e norte do Danúbio, na Áustria ao norte do mesmo rio e a leste do Una e do Sava. Este systema apresenta também muitas ramificações. O Slavo-Hellenicu, na Turquia e Grécia ; e o Waldaico, con- tinuada successao de collinas que correm pelo centro da Rússia, partidas dos Uraes em procura dos Carpathos da Ga- licia. São estes os systemas continentaes; os insulares são: o Roreal, no archipelago de Spilzberg ; o Britânico, na In- glaterra, Escossia e Irlanda ; o Açoriano, no grupo das Açores ; e o Sardo-Gorso, na Sardenha e Córsega. O unico vulcão continental da Europa ó o Vesuvio na Ilalia meridional: o de Santorim, na Cycladas, o Etna, na Sicilia, o Slromboli e o Vulcano nas Lipari, o de Pico nas Açores e o Saritchef na Noxa Zembla, são os vulcões insu- lares. Próximas ou afastadas conhecemos as ilhas de Loffo- den-Mageroe, as Eeroe, o Archipelago Dinamarquez, as Ilhas Britânicas e as Açores, na bacia do Atlântico. As Ba- leares, a Sardenha e Gorsega, a Sicilia, o grupo de Malta, a de Candia, as Jónicas, as Cycladas e as Sporadas Occi- dentaes no Mediterrâneo e seus mares. Esta grande região, chamada Mundo-Novo, foi desco- berta em 1492 pelo genovez Christovão Colombo ao ser- viço da Hespanha ; mais tarde visitada por Américo Yespucio delle recebeu o nome. Tornada immediatamente o objecto de cobiça das nações européas, nella se fundaram as grandes colonias hespanhola, frauceza, ingleza e portu- gueza. America. 82 Pouco a pouco consliluirão-se estas em estados inde- pendentes, sob a forma republicana, excepto a portugueza, que abraçou a monarchia representativa, e a franceza que foi conquistada e annexada á ingleza e ainda hoje a esta corôa pertence. Estendendo-se quasi que de um pólo a outro em 14,lMk, pouco mais ou menos, apresenta a America a sua maior largura em 5,200 k- marcados do cabo Charles no Lavrador ao S. Lucas na Califórnia, com uma super- fície de 38,223,500kq. Fórma um immenso continente que se póde dividir em duas partes pela porção estreitada chamada islhmo de Panamá, as quaes se denominão Ame- rica Septenlrional e America Meridional. Possue uma população superior a 85,000,000 de ha- bitantes, descendentes, ou dos indígenas, ainda hoje conhe- cidos pelo nome de indios, ou dos portuguezes, hespanhoes, inglezes, allemães, francezes, africanos o seus cruzamentos. Civilisados em sua grande maioria, acompanhão os ame- ricanos aos europeus na senda do progresso material e intellectual de seus respectivos paizes. A’ excepção do Brazil e as republicas hespanholas que seguem a religião catholica, os outros paizes, ou apre- senlão uma diversidade nas religiões professadas pelos seus habitantes, ou, colonias, seguem as suas metrópoles. Grandemente rica, conta-se o ouro, a prata, o carvão de pedra, o cobre, o ferro, a platina, o diamante, a esmeralda, a saphyra, etc.; sua vegetação variadíssima, bella e opu- lenta, apresenta-nos quer naturaes, quer ahi aclimados, 83 o café, o fumo, a caona de assucar, o algodão, o milho, o cacáo, a bananeira, a mandioca, de que se faz a farinha, o páo campeche, a ipecacuanha, a jalapa, a salsa, a quina; da construcção e marcenaria, o cedro, o jacarandá, o vi- nhalico, a peroba, a canella, o páo brazil, o Gonçalo Alves, o jequilibá, etc. Os macacos formão uma variedade imraensa, além de que possue o boi, a cabra, o carneiro, o porco, o cavallo, o burro, o urso, a renna, o castor, de cujo pello se pre- parão os chapéos, a alpaca, o jaguar, etc. Variadas e riquissimas especies de aves, desde o soberbo condôr que dos píncaros andinos contempla a immensi- dade dos mares, até o pequeno colibri, de tão variadas cores, que ás flores suga o mel necessário ao seu sustento, notamos as aráras, os papagaios, os tucanos, os coleiros, os canarios, as patativas, clc. Entre os reptis, a cascavel, a jararaca, a gibóia, que engole um boi inteiro, e a mussum de que alguns preparão excellentes alimentas. A garopa, o méro e o bacalháo, ahi encontra-se em grande quantidade. Entretanto grandes relações commer- ciaes com todos os outros povos da Terra, os americanos tralão aclivamenle de augmenlar o seu commercio externo, dando grande impulso á sua industria fabril e agrícola, já construindo grandes vias de communicações internas, já fazendo tremular no Oceano os seus estandartes, já fazendo conhecido o grande numero de suas artérias fluviaes. São seus objectos priucipaes de exportação o café, o fumo, o 84 algodão, o assucar, o cimento, as carnes e peixes salgados, os couros e machinas para diversos misteres. Dividida naturalmente, comprehende a America Septen- trional as Terras Árcticas Americanas, cujas principaes são Groeulandia, Devon Septentrional, Príncipe Alberto, Vic- toria, Gumberland, etc.; a Nova Bretanha, sujeita á In- glaterra, formando em parte a confederação do Canadá; os Estados-Unidos ou União Americana, o primeiro que na America levantou o grito da emancipação; o México, que tantos dramas horríveis tem assistido e a Confederação das republicas de Guatemala, Gosta Rica, S. Salvador, Hondu- ras eNicaragua, conhecida por America Central. A America Meridional comprehende as Guyanas Hollan- deza, Franceza e Ingleza, o Brazil, a Patagonia e as Repu- blicas de origem hespanhola, como sejâo; o Uruguay, Ar- gentina, Paraguay, Chile, Bolivia, Perú, Equador, Colombia e Venezuela. Entre as Americas acha-se situado o Grande Archipelago Colombiano, formado dos grupos de Bahama, Grandes e Pequenas Antilhas. E’ a America banhada ao norte, pelo Glacial Árctico; ao sul, pelo Glacial Antárctico; a léste, pelo Atlântico que lhe fórma os mares de Baffin e Hudson, do México edas Anti- lhas e os golfos de S. Loureuço, S. Malhias e S. Jorge, e as bahias de Honduras, Todos os Santos e Rio de Janeiro ; a oeste, pelo Pacifico que lhe forma os mares de Beering, Gook e Panamá, e os golfos da Califórnia e Ayacucho. Nelles se lanção as suas grandes correntes d’agua doce, como sejão o Mississipi-Missouri, de cujo delta é originaria a febre amarella, o S. Loureaço que fórma acataracta do Niagára, o Orenoco, o magestoso Amazonas, rico de aífluen- tes, o S. Francisco que fórma a cachoeira de Paulo Affonso, o da Prata, formado do Uruguay e Paraná que apresenta, muito antes de receber o Paraguay, o Salto das Sele Quédas, e o Negro, na vertente do Atlântico. Na do Pacifico o Co- lômbia e o Colorado. A maior massa d’agua da America é o mar do Canadá, constituído pelos lagos Superior, Mrchigan, Huron, Erié e Ontario ; o Grande Urso, o Escravo e o Winipeg, ao norte, e o Titicaca o mais elevado de toda a America. As montanhas desta região se reunem nos seguintes sys- lemas: Alleghanico entre o Mississipi e o Atlântico; o An- lilhano nas Antilhas ; o dos Andes, que comprehende dous grupos: o primeiro,cha mado Missouri-Mexicano, estende-se do Oceano Árctico ao isthmo de Panamá, apresentando as cadeias das montanhas Rocheas e Serra Nevada. Na primeira achão-se os volcões de Popocatepell, Citla- lepell, o Golima, o Jorulo, o d’Agua, o do Fogo e o Masaya; na segunda o Bom Tempo e Santo Elias. O segundo grupo, que chamaremos Andino Meridional, estende-se do mar das Antilhas e isthmo de Panamá até o estreito de Magalhães ; nelle nota-se os volcões Antisana, Pechincha, Cotopaxi, Arequipa, Auloco, Ghilan e o Aconcagua, o mais elevado do Globo (7,300”). O Goyano, entre o Oceano Atlântico e o Amazonas, eo Brazileiro, comprehendendo tres cadeias entre o Amazonas, o Oceano e uma linha tirada da foz do Prata ás cabeceiras do Mamoré. Não longe das costas notamos o 86 Archipelago da Terra Nova, as Lucayas, as primeiras terras vistas por Colombo, as Antilhas, as Falkand, os Archi- pelagos Patagonico, Gallapagos e Alencianó. Oeeanla Assim chamada por occupar graude parto da vasta su- perfície oceauica, é também conhecida sob o nome de Mundo Marítimo. Mal conhecida pelos intrépidos viajantes arabes, começou a sel-o melhor do século XVI para cá, de- pois das viagens de Magalhães, Tasman, Lemaire, Dampier, Cook, Yanckover, Lapérouse e outros. Situada nos oceanos Indico, Pacifico e Antárctico, pode a Oceania dividir-se em duas partes bem distinctas, como sejão : a Australia, continente e ilhas, a semelhança das outras partes do mundo, e a Polynesia, que quer dizer muitas terras, completamonle dissimilhaule. O estudo nada perde com a divisão que apresentamos. Assim temos Aus- tralia ou Novíssimo Continente e a Polynesia. Austrália Banhada pelos mares de Sonda-Australia e o Austra- liano meridional formados pelo Indico e pelos de Coral e Lanchidol peio Pacifico compõe-se do continente da Nova Hollanda, onde se notão os golfos de Carpenlaria, Spencer e S. Vicente e dos archipelagos da Nova Guiné, Salomão, Espirito-Santo, Nova Caledónia, Nova Zelandia e Hha Tosmania. Cora uma população superior a c2,600,000 habi- tantes, entre indígenas, inglezas e seus cruzamentos, que seguem o christianismo ou o islamismo ou o paganismo, 87 proprio dessa parte do Mundo, procurão adiantar-se na ci- \ ilisação, contando já boas vias de communicação, fazendo algum commercio e apresentando ao Mundo as celebres minas de ouro que descobertas em 1852 eclypsarão as da Califórnia. O Darling ó o principal aífluente do Murray, lido como o mais importante de toda Australia. O seu lago mais im- portante é o Torrey e as suas montanhas formão o systema auslralio que comprehende os Ires seguintes grupos: o Continental, cujas cadêas mais importantes são a Oriental ou dos Montes Azues, onde se acha o Kociusko ; a dos Al- pes Australianos onde se acha o Holhan, a Occidental e a Spencer-Arnhiana. O Papnasio que comprehende as mon- tanhas da Nova Guiné, Nova Bretanha, Salomão, Espirito- Santo e Nova Caledónia. O Zelandio que comprehende as cadêas da Nova Zelandia onde se encontra o monte Cook. Polyuesk». Damos este nome ás terras espalhadas pela immensa su- perfície do Pacifico e Antárctico e que dividimos em Poly- nesia Occidental ou Malasia, Polynesia Septentrional, ao norte do Equador, Polynesia Meridional, ao sul do mesmo circulo, e a Polynesia Antárctica. E’ na Occidental, que se compõe do Archipelago de Sonda, Sumatra, Java, etc.; do grupo de Bornêo, Philippinas de que as ilhas Luçon e Min- dannáu são as mais importantes, Gelebes, Molucas do que Gilolo é a maior, Timor e outras, que encontramos os ma- res Sumatro-Javanez, das Molucas, Lanchidoll, Gelebes e 88 Sulú formados pelo Pacifico e o de Sonda-Auslraliano pelo Indico. A septenlrional comprehende os archipelagos de Maga- lhães, Mariannas, Garolinas, Mulgraves, Sandwich e ou- tros menos importantes. A meridional comprehende os archipelagos das Marque- zas, das Baixas, de Cook, de Taiti, de Tonga, dos Nave- gantes e de Viti. A Antárctica comprehende Enderby, Sa- brina, Adelia e Yictoria; ao Sul da America Luiz Philippe, Trindade, Novas Shelland, Novas Orçadas, Pedro Ia e Alexandre Io; espalhadas entre a África e o continente, Príncipe Eduardo, Crozet, Kerguelen, S. Paulo e Amster- dam. Com uma população superior a 28,000,000 de ha- bitantes na maior parle Malayos mais ou menos sociáveis e de colonos hespanhoes, hollandezes, francezes e portu- guezes, seguem estes as suas religiões e aquelles ou o isla- mismo ou o paganismo. A mais adiantada das quatro di- visões da Polynesia ó sem duvida alguma a Occidental, graças á influencia européa, merecendo comludo ser ci- tado o grupo de Sandwich. Os rios principaes da Polynesia sõo: o Kapuas e o Bandjermassing em Bornêo. As montanhas podem se reunir nos seguintes systemas; Malayo, comprehendendo o grupo Sondiauo onde se notâo as cadeias Sumatra-Javaneza cujo ponto culminante é o Gounong-Kosumbra (A,575m) e os volcôes Berapi, Djede e outros; o a Sumbava-Timôr. O Bornêo-Philippino, cujas cadeias são as de Bornêo e a de Luçon. O Moluco- Cele- biano cujas cadeias são a de Celebes e a de Gilolo. Os 89 systemas polynesios são : o das Carolinas, o das Ma- riannas, o de Sandwich onde se nolão os volcões Mona- Kôa, Mona-Loa e Mona-Vorônay,• o delonga onde se nota o volcão da Tofôa; e os antárcticos comprehendem as montanhas das Terras Antárcticas, notando-se na da Vicloria o volcão Erebus. Os habitantes da Terra podem ser classificados ou at- tendendo-se ás suas raças, ou ao estado de adiantamento moral em que se achão, ou segundo a religião que pro- fessão. Quanto ás raças admittiremos a classificação de Blumenbach que considera, ao em vez de Liuk, cinco raças distinctas, laes são : a caucasica, a semetica, a ethiope, a malaia e a americana. Outros apresentào diversas classi- ficações, chegando até a quinze as ordens, mas basta nelias encontrar o pardo ou o mulato, o mestiço ou o mame- luco, para vermos que os classificadores descerão até aos cruzamentos. Segundo o estado moral temos tres grandes classes : selvagem, já muito reduzida ; barbaras, ainda em algumas nações da Azia, África e Oceanía, e civilisados, em a to- talidade das nações da Europa e America. Em relação á religião, classificamos os povos da Terra em dous grandes grupos ; os monotheistas e os poly- theistas. a estes pertencem os fetciiistas e sabuitas espa- lhados pela África, Oceania e algumas regiões intimas da America ; os brahmanistas, os budhistas, os confucistas, os magistas, os manehistas, os sintistas e os espiritistas 90 mythologos, estes quasi em sua grande maioria nas re- giões da Azia, encontrando-se também na África e Oceania. A’ primeira classe pertencem tres grandes grupos reli- giosos, como sejão : o Judaísmo, hoje conservado nos poucos judeos que ainda restão espalhados pelas nações da Europa, America e Asia; os seus templos são as synagogas, os seus padres levitas, os seus doutores rabbinos. O Islamismd ou Mahometismo, cujos templos chamão-se mesquitas, se di- videm principalmente em Sonnitas e Schylas, os primeiros são os mais espalhados e se dividem hoje em quatro seitas. O Ghristianismo que podemos dividir em dous grandes grupos, si reconhecem em matéria de fó só a Biblia ou não. Os que reconhecem só o Livro Santo se dividem ainda em unitários, os que reconhecem na divindade só o Pae, e os trinitarios, os que reconhecem os trez. Os trinitarios com- prehendem os protestantes> divididos em lutheranos, zvoin- glios e calvinistas, os anglicanos e os mysticos que com- prehendem os quackers, os arminios, os mennonitas e os methodistas, espalhados pela Europa e America, os vemos aqui mesmo no Brazil. Os quer econhecemem matéria authoridade além da Biblia formão as duas igrejas grega e latina. A primeira também chamada oriental comprehende quatro igrejas que são a ortodoxa, em grande parte da Áustria, Turquia, Grécia e Bussia * a nestoriam ou dos christàos de S. Thomaz; a monophysita, que se divide em jacoUta, copta, na Nubia, Abyssinia, Egypto, arménia e maronita. 91 A segunda chamada Occidental ou romana, seguida por grande numero de povos da Europa e America, soífreu um grande abalo por occasião do concilio da Infallibilidade. Não sabemos hoje, si com o successor do convocante daquelle concilio, os factos e os desgostos se modificarão e a Igreja Gatholica continuará no trilha progressiva. O quadro seguinte dá uma ligeira idéa da força em adeptos das differentes religiões : Judaismo 4.000i000, Isla- mismo 96.000.000, Chrislianismo 162.000.000* Bud- hismo 170.000.000* Brahmanismo 60.000.000, Outras U7.000.000, Gatholica U3.000.000> Grega 62.000.000, Protestantes, etc., 57.000.000. Lougitudes e latitudes Para conhecermos a posição relativa dos differentes la- gares da superfície da Terra nos servem os pontos cardeaes, collateraes, etc.; mas para chegarmos á determinação exacta de um qualquer ponto de nosso planeta lançamos mão das longitudes e latitudes. Os elementos indispensáveis para esse resultado são os dirculos chamados Equador, Paralle- los, e Meridianos. Chama-se latitude a distancia do Equador ao lugar, que enunciamos, isto é, o arco de meridiano desse ponto comprehendido entre elle e o grande clPculo equa- torial. Sabemos que a linha equinocial divide a Terra em dous hemispherios, um ao norte e outro ao sul, tendo cada um em sua maior distancia, nos pólos, 90°. Dahi a divisão das latitudes em septentrional e meridional; de sorte que desde 92 0o no Equador alé 90° em cada um dos pontos extremos da Terra vemos os gráos se augmenlarem progressivamenle, notando-se porém que elles são desiguaes, pois que o acha ■ tamento dos pólos assim determina, e as observações tem mostrado que o gráo médio de latitude é igual a 125 k. sendo o dos pólos maior 625” que o precedente e o da pro- ximidade do Equador igual a 124,375”. Determinamos o gráo de latitude peia elevação do pólo, quer dizer que, conhecido o gráo de elevação da Polar, está determinada a latitude, pois que, sendo nulla no Equador, isto é, estando o pólo confundido no Equador, acontece que á proporção que formos nos approximando das regiões septentrionaes vamos observando a Polar, o que nos permilte dizer que a latitude é o arco da Polar e o Horisonte e que podemos representar pela seguinte formula : Lat.= PH No ensino collegial para conhecermos os gráos de latitude nos servimos ou dos mappas, onde á margem vem já es- criptojo numero, fazendo do alumno conhecida a differença, ou então, que é o melhor, pelo auxilio do Gloho Terrestre. Sabe-se que este grande elemento material do ensino apre- senta um circulo metálico graduado, alem de todos os de- senhos dos círculos, linhas, etc.; pois bem, declarado que seja o nome do lugar, cuja latitude desejamos saber, basta fazer o alumno achal-o e collocal-o sob o referido circulo metálico, que representa então de meridiano desse lugar, 93 para ao depois ver o numero que corresponde na graduação. Obtemos assim qualquer latitude, que será septentrional ou meridiana, conforme o hemispherio em que estiver situado o local publicado. Chama-se longitude a distancia que vai de qualquer lo- gar a um meridiano convencionado; é o arco do Equador comprehendido entre o meridiano do logar que ennuucia- mos e o meridiano sobre que fazemos o calculo, que nesse caso recebe o nome de primeiro meridiano ou meridiano convencionado. Sabemos que a terra executando o seu movimento de rotação, emquanto no Equador anda 15° por hora, uos pólos ella nada marca, pois queelles girão sobre si mesmos; por isso e pela approximação progressiva que entre si vão tendo os meridianos, que suppuzermos, até se coufundi- rem|nos pólos, é que, sendo ahi nulla a longitude, attinge o seu máximo no Equador. Neste circulo cada gráo corres- ponde a 100 k.; no parallelo de 20°, a 94. k.; no de 40° a 61 k.; no|de 80°, é apenas de 18 k. Sendo o meridiano convencionado aquelle sobre que calculamos, e dividindo elle, como sabemos, a sphera em dous hemispherios, um oriental e outro Occidental; dahi o chamar-se a longitude do nome da meia sphera em que se acha o logar, cuja distan- cia se deseja conhecer. Alguns povos antigos e ainda hoje os allemães não divi- dem as longitudes em occidentaes e orientaes até os 180°; conlão sempre até os 360°. Para determinar a longitude de um logar nos servimos do chronomelro, e sabida a hora dos respeclivos logares obtem-se hmmedialamente a longi- tude. Já dissemos que a terra anda 15° por hora e que se move do occidente para oriente ; portanto é neste ponto que as horas se apresentão primeiro; por consequência sabidas as horas e obtida a differença, multiplicando por 15° tere- mos infallivelmente o gráo de longitude, oriental, si a hora do logar, cuja longitude queremos determinar, for maior do que a marcada pelo nosso chronometro. A seguinte for- mula nos guiará; Long. — H—ET x 15°. Nos mappas geographicos as longitudes vem marcadas alto, no lugar onde se achâo desenhados os pólos. Mas o melhor meio para o ensino é o do Globo escolar; dado o meridiano convencionado, sobre o qual lemos de fazer o calculo, e o logar cuja longitude desejamos saber, basta collocar esse logar sob o circulo de metal graduado, correr depois com o indicador livre ate o encontro do Equador, e ahi contar para o meridiano que se combinou os gráos marcados. Por meio do Globo escolar obteremos toda e qualquer longitude, e facil será o sabermos que horas marcará o chronometro do logar, cuja longitude conhecemos. Para isso divide-se o numero de gráos por 15°, que é o tempo de 1 hora, e juntamos ou subtrahimos o quociente do nu- mero de horas que o nosso chronometro marca. Juntamos, si a longitude dada for oriental, porque no oriente ó dia primeiro que no occidente, e subtrahimos siella é Occidental, porque sendo lá dia depois de ter sido para nós, 95 lemos que o relogio calculador está adiantado. Tudo se oblém pela seguinte formula ; H=Long.-f 14° + ou — H’ que é a hora do nosso chro- nometro. Em relação ás latitudes e longitudes os habitantes da Terra se chamão antiedos si achão-se sob o mesmo me- ridiano, porém sob parallelos oppostos e equidistantes do Equador, o que acontece, seudo um do hemispherio boreal e o outro do austral; periecios, os que ficão sob os mesmos parallelos, e sob os mesmos meridianos, mas cada um em seu hemispherio, isto e, cada um sob uma semicircurafe- rencia do mesmo circulo, e antípodas, se vivem parallelos e meridianos oppostos. Climas A superfície do Globo habitada por uma diversidade ira- raensa de individuos, apresentando pheuomeuos diversos, quer da ordem physica, quer da moral; mostrando aqui as grandes e gigantescas florestas, ali os desertos áridos, onde a caravanna sequiosa espera alcançar o oásis ; aqui a ma- geslade das coyrentes que fertilisão as íerras, acolá a au- sência delias; aqui as montanhas que se elevão, quebrando a direcção dos ventos e cobrindo-se de neves; ali as cam- pinas, os campos longos perraittem ás correutes aereas o seu imponente império; aqui é oceano e suas pequenas di- visões que banhão as costas das terras, ali a sua completa ausência; aqui são os raios perpendiculares do Sol, ali os oblíquos que cahem sobre as diversas regiões; emfim os tres orgãos de que se compõe o nosso planeta concorrem simultaneamente para o augmento do gráo de calor e frio que os indivíduos aprecião e sentem. E’ pois o gráo de calor e frio o phenomeno da constituição do clima. (1) Os antigos geographos, á semelhança do tempo de um dia, contavão 24 climas, representados por igual numero de zonas parallelas do pólo ao Equador; de sorte que nos equinócios si os climas estavão para meia hora, nos solsti- cios erão para hora e meia, o que se explica pela intensi- dade dos raios caloroficos solares. Podemos reunir todos os climas em tres grandes classes: frios, temperados e quentes, notando-se que estes últimos podendo se resentir mais ou menos de uma tal ou qual força hygrometrica da localidade, se subdividem em quentes seccos e quentes húmidos. Espalhados pelas cinco zonas era que se acha dividida a superfície da Terra, os climas podem ser constantes ou va- riáveis. Assim como os parallelos determinão as distancias dos Pólos á Linha dos diversos lugares do Gloho, assim se ha convencionado na ligação dos pontos de igual tempera- tura por meio das sinuosas linhas isothermicas e das sínuo- sissimas isochimenas e isotheras. Foi A. Humboldt o primeiro que apresentou a idéa da li- gação dos lugares de uma mesma temperatura por meio dessas linhas, denominando Equador thermico a que pas- (1) Clima é o resultado da combinação dos phenomenos tellu- ricos e meteorologicos de uma região. Oliveira Bueno. — Tbeze Inaugural, pg. 44. sasse por aquelles que apresentassem a maior media. Nas mesmas latitudes, encontra-se climas diííerenles, pois que a altitude do lugar, os ventos que ahi reinão ea proximidade das grandes massas d’agua e das florestas são causas reco- nhecidamente modificadoras. Coutadas todas as causas modificadoras e tomadas as médias animaes, classificaremos os climas em 6 grupos prin- cipaes: ardente, superior a 25°; quente, a 20°; regular, a 15°; temperado, a 10°; frio, a 3o e gelado de + c2° até a temperatura mais baixa que havemos conhecido. A mais alta temperatura observada até hoje foi de 47°, 4’ e a mais baixa de 56°, 7’. O seguinte quadro mostra a média ther- raometrica annual, assim como do mez mais quente e do mais frio, que graças a alguns amigos pudemos obter em 1877, de algumas cidades importantes em diversas regiões. S, Petersburgo. . . 3o,8’ 18,6 — 13,1 Londres 10,1 18,0 + 3,2 Paris 10,6 18,5 + 2,3 Lisboa 16,5 22,7 + 11,9 Pekin 12,9 29,3 — 4,1 New York 12,1 27,2— 3,1 Havana . . . : . 25,6 28,9 + 21,1 Rio de Janeiro . . . 23,5 27,7 + 14. Si altendermos um pouco para o quadro ácima, vemos como se differenção os climas pelos modificadores; como entre Paris e Londres que em latitude ha para a segunda mais !2° 39’ 47” existe apenas uma differença na média 98 annua de 5’ que se nota ainda na média do mez mais quente, mostrando porém no mez mais frio a differença dez vezes maior. Emíira das numerosas observações thermicas con- cluímos que o hemispherio boreal recebe mais calor que o austral; que os climas europêos gozão de uma temperatura mais elevada que os da Azia e America sob os mesmos pa- rallelos, e que as costas occidentaes da África são mais quentes que as orientaes, em as mesmas condições. No mar a temperatura é mais constante e regular, notaudo-se que ella diminue á proporção que descemos, as grandes massas d’agua doce também experimenlão a diversidade dos climas, concorrendo por seu turno, já o dissemos, a modifical-os nas regiões em que se achão. Em um mesmo paiz, como no Bruzil, todos os climas podem ser encontrados. E’ assim que, se soffremos os abra- zadores calores do Pará e Ceará, nos sentimos outros, quando passamos pelos campos da Bocaina na Serra do Mar ou pelos do Jordão, na Mantiqueira, depois de haver- mos sentido a inconstância do clima do Ilio de Janeiro. Que os climas exercera grande influencia sobre os habi- tadores da Superfície da Terra, todos o sabem, todos vêm e por isso permitta-se-nos somente dizer;—«Que os climas quentes favorecem o desenvolvimento gigantesco da Natu- reza. E' ahi que vemos as grandes iuteiligencias de parce- ria cora a magestade da vegetação e a força gestativa do solo, é ahi que vemos as grandes massas d’ agua paradas ou alimentadas por outras occupar grandes areas ou per- correr, grandes extensões. Os grandes animaes, as altas serranias, ascalaractas, tudo o que ha de grandioso pertence ás regiões desses climas. Depois, pouco a pouco, os climas se vão temperando, os in- divíduos se vão modificando, são outros sêres, até que che- gomos ás altas latitudes onde de parceria com o Lapão vê-se tão grandes animaes como na zona Tórrida. E a influencia que o clima exerce sobre os indivíduos passa á família que formão, e finalmenteá sociedade que constituem. Conclusão. Finalmente de tudo quanto havemos exposto podemos tirar as seguintes conclusões. Que a Terra é um spheroide, gerado da grande nebulosa, formadora de todos os corpos. Que se move em rotação, causando o dia e a noite, em torno de seu eixo, e em revolução em torno do Sol, centro do movimento planetário, gastando o tempo chamado anno, e causando as quatro estações. Que nesse movimento ó acompanhado por seu satellite, que se move em roda de seu eixo; sendo esse duplo movi- mento executado ao mesmo tempo e se apresentando a Lua sob formas diversas, chamadas phases. Que a collocação do Sol, Lua e Terra occasiona os eclipses dos dous primeiros; sendo que os do Sol tem logar nas con- juncções e os do Satellite nas opposições. Que o nosso planeta é um corpo, composto de Ires grandes orgãos, cujo funccionalismo se assemelha ao do corpo humano. Que o foco tellurico, bem como a Atmosphera e o Oceano são thealros de phenomenos importantes. Que o Oceano assim como as terras apresenlão divisões geraes e muitas subdivisões, que não podem ser referidas em uma thezede tão curto tempo. Que o conhecimento exacto dos diversos logares da Terra só pode ser determinado por meio das latitudes e longitudes. 100 Que, íinalmenle, em todas as partes da superfície de nosso planeta não se sente a mesma temperatura e que os climas tem grande influencia sobre os sêres. Algumas palavras sobre o uiethodo de ensino da Geographia Receiando que o tempo concedido para a prelecção não seja sufficiente para a exposição da matéria que for objecto do exame oral, perraitta-se-me dizer algumas palavras sobre o modo por que se deve ensinar a Geograpbia. Entendo e me parece que entendo muito bem, tratando de aífaslar do estudo toda a acção isolada da memória. E’ precizo que as regiões, os estados, as cidades, os rios e outros accidentes physicos fiquem gravados do mesmo modo por que a memória guarda o segredo de um romance ou a lopographia de uma paisagem, ou finalmente a distri- buição das ruas e edifícios de uma cidade. E’ necessário que a memória tudo receba e tudo archive, mas que não se aborreça, porque cança immediatamente. Por isso as grandes cartas geographicas á vista dos alum> nos, onde possa o professor explicar e preparar a lição do dia seguinte; as lições dadas pelos mais rebeldes discípulos, estando a attençâo de todos em seus respectivos mappas; os exercícios feitos em casa sobre cartas mudas das differen- tes divisões e subdivisões da superfície da Terra; os appa- relhos elementares para o ensino da cosmographia, de sorte que á proporção que a explicação ennuncie ura facto o apparelho reproduza, bem ao vivo, que ficará gravado; os exercícios oraes, por meio de conferencias e escriptos por meio de recordações, onde o alumno não só se habitue á uso da palavra,' como também se familiarise com a orto- graphia especial da sciencia, que encerra palavras, vindas de todas as linguas; taes são os elementos sem os quaes entendo não se poder cousa alguhia fazer. Que ao menos saibamos mais do sabe actualmeule de nós!...