Faculdade de Medicina dc Bio de Janeiro THESE DO i. nas i nni nm vL JSsfe *?K4 £# JS»! APRESENTADA A FACDLDADB DE MEDICINA DO BID DE JANEIRO Em 30 de Setembro de 1885 E perante ella sustentada em 13 de Dezembro do mesmo anno PELO |r. liguei de lí liteira puto Ex-interno (por concurso), da Ia Cadeira de Clinica Medica (serviço do professor Torres Homem), ex-interno de Cirurgia da Santa Casa de Misericórdia, Membro honorário do Grémio dos internos dos Hospitaes da Côrte. NATURAL DO RIO DE JANEIRO (CÔRTE). EILHO DE Srancisco de Oliveira rdovAo E W. Maria Tíosa do Sspirito= Santo RIO DE JANEIRO TYP. UNIVERSAL DE LAEMMERT & C. 71, RUA DOS,INVÁLIDOS, 71 1885 j; moEii IDE MEU PAE DE MEU IRMÃO E DE MEUS. TIOS t f . f \ irtiitlia llfâc — Beija-vos a mão sem palavras para expressar-se o vosso filho tte / A MEU CUNHADO aSÂROSL JOSÉ RABSfcX.0 K MEUS IRMÃOS 9. l«pBlw Múm SBife E Não chegaria ao termo do meu tirocínio académico se não fossem o auxilio de vossa dedicação e a dedi- cação de vosso auxilio, que firmarão direito á immor- redoura gratidão que vos devoto. 23 03. S£2 JSL CE> S» A MEUS CUNHADOS A MEUS SOBRINHOS A MEUS PARENTES I MEUS AMIGOS Ao Illm. Sr. Dr. Ernesto E. da Graça Bastos 8 SM HMá. fiM&U. Alta consideração e muita amizade. AO MEU VENERANDO E SABIO MESTRE O Exm. Sr. Conselheiro Dr. João Vicente forres Homem O pouco que sei de medicina pratica devo ao muito que me ensinastes e me fizestes observar. Os vossos conselhos serão a minha bússola inolvidável quando me achar no alto mar da clinica. Agradeço-vos de coração. AO ILLUSTRADO CLINICO O Illm. Sr. Dr. Paulo Cesar de Andrade Não vos devo só as graças do vosso coração bon- doso, mas o provento scientifico do contacto eom um espirito tão cultivado como o vosso. « BIDEIB iffiflffi ID1C1 Os Ilims. Srs. (br. Francisco de Castro (br. Eduardo de Menezes Reconhecimento e amizade. AOS MEUS COLLEGAS DE ANNO Felicidade, AOS DOUTORANDOS Bi fiMS Ba etiologia parasitaria em relação ás moléstias iafecciosas 1B85—D A etiologia parasitaria das moléstias infecciosas, tal como está hoje formulada, sobre uma base solida e experimental, nasceu, como consequência immediata e necessária, da orientação nova que domina o estudo de todas as sciencias. Desmoronon-se o reinado de principios ontologicos. A obser- vação e a experimentação constituem os methodos exclusivos de investigação da força physiocratica em suas múltiplas modalidades. Explora-se o plienomeno com as circumstancias que o envolvem, e despreza-se a hypothese com as causas de erro que as desvirtuam ; o estudo paciente substitne a imaginação engenhosa; as deducções ló- gicas desthronam as concepções a priori. Procnra-se caminhar para attingir a verdade absoluta, e não estatelar para manter a meia verdade adquirida, — e meia verdade, na phrase de Garret, — é uma mentira inteira. Em medicina, o methodo experimental rigoroso traçando-lhe uma trajectória racional e scientifica, dando-lhe uma direcção nova e progressista, tem sido o erário opulentissimo, onde a parte clinica e realmente humanitaria d’essa sciencia, tantas vezes tem ido se locu- pletar de elementos para a realização do seu escopo,—suífocar a mo- léstia ou amainar os sofrimentos do doente. 4 Com effeito não lia therapeutica possível sem o conhecimento da natureza da moléstia e do modus agendi do medicamento empregado. O mais é puro empirismo ; e se muitas vezes o medico submette-se a elle,aviltando o seu titulo,polluindo o seu diploma e transformando-se em perfeito curandeiro, deve-se comprehender que é forçado a isso, vexado e pesaroso, pelo estado da sciencia, que não elevou-se ainda a um grão absoluto de perfectibilidade. E se, em geral, não se póde chegar á interpretação da natureza da moléstia senão pela experimentação laboriosa e paciente, on pelas minúcias da anatomia pathologica ; e se não se póde conhecer o me- chanismo de acção de uma substancia, senão pela experiencia no do- mínio da therapeutica, por que essa guerra infrene, sanguinosa e ingrata da clinica contra o laboratorio, quando é ella impotente para dispensar o auxilio d’este que lhe empresta valor, prestigio e brilho? O professor Semmola, representante illustre d’essa constellação de sábios que illumina a estrada tortuosa e acanthica da clinica, por onde os seus discípulos, agradecidos, podem então enveredar a passos firmes, anathemisou, na Médecine Vieille et Medecine Nouvelle os progressos realisados em medicina pela experimentação, como falsos e corruptores. Reproduzindo, alegre, a historia do cavalheiro Talbot, referida por Yerhlof, o eriídito professor parece preferir á medicina scientifica, a medicina empirica. Ha febre? Dê-se o pó sympathico, que humilhou a tantos médicos ; dia virá, porém, em que a hyperthermia sendo a expressão de uma lesão somatica, a quina será absorvida em vão, e o empírico que só combate a pyrexia essencial, dirá : ou a natureza errou, ou isto não é o pó sympathico. A cafeina é quasi que um especifico da hemicranea nevro-para- lytica, mas quando esta fôr sympathico-tonica, administrada por quem não conhecer a sua acção angio-spasmodica, em logar da sedação a cafeina trará exacerbação da nevralgia. Não ha, pois, impugnar, e assim o proclama um clinico progres- sista, o professor Conselheiro Torres Homem, na linguagem attica e scintillante que lhe é própria, a physiologia, a anatomia e physiologia 5 pathologicas, e a tlieraiipeutica, são a pedra angular do grande edi- fício da clinica. * A doutrina microbiana é um producto do laboratorio, mas antes de o ser, já era uma concepção necessária da razão : nas infecções passam-se plienomenos que só podem ser explicados pela multiplicação do principio morbigenico, e a multiplicação é a funcção de um ser vivo. Aceitamol-a convictamente, não só pelo cunho de racionalismo que a preside, como pelo direito que temos de concluir, da analogia de effeitos para a analogia de causas. Se é verdade que as moléstias infec- ciosas na sua pluralidade, não têm sido isoladas em seu bacterio pathogenico, é certo que as muitas em que este tem sido verificado, constituem base segura de generalização lógica e scientifica. Na contingência de resumir tanto quanto possivel o nosso tra- balho, tivemos de joeirar o que era estrictamente necessário do que era dispensável. Dahi vacillações a cada passo, que concorreram com a incapacidade do autor, para o presente producto, rachitico e some- nos, de seus estudos e esforços mentaes. Compõe-se a nossa these de duas partes ; a Ia, em que tratamos da microbiologia em geral como premissa á 2a, em que estudamos a funcção pathogenica dos microbios. Consideramos a questão, como a questão foi posta,—em um ter- reno geral. Pretendíamos, e começámos mesmo a examinar detida- mente cada moléstia infecciosa em particular; não continuámos, porém, por muitos motivos : Io, porque os trabalhos experimentaes da maioria das moléstias infecciosas carecem de verificação ulterior, e, portanto, * Torres-Homem—Clinica Medica—Lição de Abertura do Curso, escreveríamos largamente sem chegar a um resultado positivo ; 2o, porque este mesmo assumpto tem sido explorado em monographias recentes e extensas como a dos Srs. Cornil e Babès, Du Casal e Zuber, eemum trabalho de exposição, nem ao menos teríamos o mérito do raciocínio; 3o, porque, ou resumiríamos muito, e perdia esta parte a importância que deveria ter, ou daríamos conta do que ha es- cripto, e a nossa these tomaria proporções enormes. Assim, nos será licito acreditar que estamos justificado. PRIMEIRA PARTE MICROBIOLOGIA EM 6EML Parece não haver mais duvidas sobre o que se deve entender por moléstia infecciosa. Já não se pensa que só assim sejam chamadas as moléstias, cujo agente causal origina-se na decomposição pútrida das substancias animaes ou vegetaes, on as que são o producto da absor- pção pelo organismo das matérias excrementiciaes d’esse mesmo or- ganismo — a bile, a cholesterina, a urina, etc.; ou exclusivamente aquellas cujo principio morbigenico existe no ar atmospherico ambiente. Não se considera mais a infecção como a antinomia absoluta de con- tagio, de modo que o cholera, por exemplo, que é uma moléstia conta- giosa por excellencia, só por isso não possa ser infecciosa. Estas e outras interpretações dadas á palavra infecção estão geralmente abandonadas, cahiram por falta de uma base ampla e resis- tente. Hoje que a obra monumental e humanitaria de Pasteur e seus emulos, conquistou o consenso de quasi todo o mundo medico, hoje que a theoria microbiana firmou-se tão solida, que nenhum corso é mais possível nos seus mares territoriaes, a palavra infecção tomou uma maior latitude, e considera-se moléstias infecciosas as produzidas pela penetração no organismo de um principio organizado que n’elle se 8 multiplica, dando logar frequentemente á manifestação de plienomenos geraes. E’ assim que as compreliendemos. As moléstias infecciosas dividem-se em tres grupos : l.° O das miasmatícas, cujo agente etiologico, gerado no meio exterior, sólo, agua ou ar, penetra e multiplica-se no organismo animal, mas n’elle extingue-se, de modo a não poder ser transmittido de individuo a individuo. O criterium do miasma é que o virus se origine, se reproduza em alguns destes elementos, e não repre- sentem elles apenas o veliiculo de sua transmissão. Como unico exemplo deste grupo existe a inalaria. Um doente de qualquer das formas do impaludismo é innocente para as pessoas que o cercam, ás quaescom certeza não contamina a sua moléstia. 2.° O das contagiosas, cujo principio especifico, qualquer que seja a sua origem, trausmitte-se por via mediata ou immediata de um individuo a quem accommetteu, e em cujo organismo reproduzio-se, a um outro em estado de receptividade. Os exantliemas, a vaccina, etc., são exemplos. 3.° O das miasmatíco-contagiosas, nas quaes o contagio é já pri- mitivo já secundário, isto é, ora um individuo tendo adquirido a mo- léstia por contagio, transforma-se em um fóco de infecção miasmatica, ora sendo accommettido em um meio miasmatico torna-se um elemento de contagio. Como exemplos existem a febre typhoide, adysenteria, a febre amarella, a meningite epidemica, etc. E como, em qualquer d’estes grupos, é a introducção no orga- nismo de um agente especifico, organizado,que necessitando para viver dos elementos constitutivos do novo meio em que habita, dá logar a essa luta pela existência, que rompe o equilíbrio funccional e traz a moléstia, e como esse agente especifico é um ser infinitamente pe- queno, é um microbio, a deducção é lógica—toda a moléstia infecciosa é microbiana. Para que, porém, a medicina attingisse ao estado presente, a que se póde chamar a sua phase lúcida, para que chegasse á actual con- cepção, racional, intuitiva, necessária, das moléstias infecciosas, atra- vessou um extenso periodo de perfeita obscuridade. 9 Porque todo o espaço desde a aurora da medicina aos nossoá dias, quer no dominio do naturalismo hippocratico, durante o qual se observava os factos sem os explicar, quer no dominio exclusivo da cliimiatria, que os interpretava pelas leis daphysico-cliimica, todo esse espaço não constitue senão uma longa noite da sciencia. O espirito eminentemente observador do pai da medicina tinha já percebido, e d’isso nos dá conta no seu livro sobre « a natureza do homem», a açcão nociva do contacto do ar, mormente frio, com as feridas expostas, e por isso aconselhava a pratica, sempre que possi- vel, da reunião immediata. O ar frio, dizia elle, corroe as ulceras, ennegrece-as, endurece a pelle, e produz a dôr com suppuração, cale- frios, febre, convulsões e tetanos. Para Galeno, era o ar impuro e impregnado por matérias putre- factas que produzia modificações varias nos humores, e como resultado final a moléstia. Avicenne, Guy de Mauriac, Ambroise Paré, Baglivi e Sydenham reconheceram e estudaram a acção pathogenica do ar em certas con- dições physicas, de humidade, temperatura, podridão, etc., emquanto uma pleiade illustre e successiva de sábios enclausurava-se em seus laboratorios para descobrir e annunciar quaes os gazes que, gerados em determinadas circumstancias, davam origem ás moléstias miasma- ticas. Eram em geral as decomposições das substancias animaes a grande retorta onde produziam-se os agentes deletereos. Para uns era a ammonia combinada ao acido carbonico, ao sulfu- rico e ao acético, porém, segundo Fourcroy e outros clinicos, havia um gaz eminentemente séptico, que fugia ás analyses chimicas. O gaz sulphydrico e a ammonia explicavam, segundo uns, as per- turbações diversas que apresentavam os empregados da limpeza das latrinas. Outros acreditavam na existência de um gaz especial. A inalaria nada mais era do que a reunião do hydrogeno protocar- bonetado, acido carbonico,acido sulphydrico, e hydrogeno phosphoreta- do, formando talvez uma combinação especifica. Encontravam, en- tretanto, uma matéria organica que se putrefazia facilmente e cuja natureza não havia sido determinada. Sabe-se que Gasparine, 1885—I) condensando os vapores que se elevam dos pantanos, obteve-a em quanti' dade sufficiente, para friccionando carneiros, produzir-llies a liydremia. Verdade, é, porém, que já no reinado da chimiatria, uma ou outra cabeça exaltada desagrilhoava-se das idéas dominantes, e em mo- mento de luminosa vibração intellectual, avançava proposições tão arrojadas, mas exactas, que não passando então de utopias, são hoje verdades verificadas ao microscopio, e confirmadas pelo organismo ani- mal que é um reactivo vivo. Assim Varron, que viveu no ultimo século da idade antiga, re- commendando a retirada dos habitantes dos logares pantanosos, dizia « Crescunt quodam animatiam quodum minuta, quce non possunt oculi consequi, et per aera, intus in corpus, per os ac naves perveniunt atque efjiciunt difficiles morhos. » Van-Helmont e Sylvius levantão a hypothese da fermentação dos humores nas moléstias contagiosas e miasmaticas. Kircher e mais tarde Linnêo, baseando-se nos trabalhos de Albur- uoth, que demonstrou a presença no arde germens animaes, igualmente sustentara e professam que as moléstias epidemicas são devidas á in- troducção e pullulação d’esses germens no organismo. Raspail prediz e expõe os pontos cardeaes da theoria bacteriana quasi com a mesma precisão com que os microbistas a sustentam hoje’ estribados em experiencias inatacaveis. E’ assim que elle escreve : « Le développement organisé ne saurait avoir lieu qu’à une certaine température. Le froid est inhabile au développement et ã la fermentation. « L’organe sain n’engendre pas sa maladie : il la reçoit du dehors; il ne meurt avant terme que par accident. Sa maladie n’est pas un être raisou; c’est un trouble apporté dans les fonctions d’im orgaue : c’est un effet dont la cause active est externe à 1’organe. « Les causes de maladies peuvent être divisées eu causes pliy- siques et eu causes morales: parmi les causes pliysiques certaiues agissent eu iutroduisaut dans la cellule, par le veliicule de 1’absor- ptiou ou de 1’aspiration, des germes de desorgauisatiou pour les liquides et de desorgauisatiou pour les tissus. « Nombre de maladies sont causées par la présence dans nos tissus de corps, d’êtres organisés, susceptibles de se développer dans nos organes, et d'y vivre à nos dépens: les uns- nuisent se développant, en augmentant de volume, les autres en desorganisant les tissus. « Certains de ces êtres sont si petits qu’on est obligé de se servir dn microscope. « Emportées par les vents, les sporules on sporidies sont suscepti- bles de s’introduire dans nos organes eu commimication avec 1’air exterieur. Si elles y germent, que d’entités maladives ne sont elles pas dans le cas d’engendrer? « Qu’on évalue qnelle nuée de moisissures, de sporules, nous avalons et l’on sera étourdi de trouver dans 1’invisibilité de 1’air tant de canses visibles de maladies auxquelles on n’avait jamais songé jnsqn’à ce jonr. Qnand ils sont introduits dans 1’organisme, ils amènent la rupture des capillaires et le sang en stagnation, se depouillant de sa vitalité, prendra toiit-à-conp mie tendance à la formulation purulente ; qnelle porte ouverte à la fiòvre et à la desor- ganisation ! « Les neuf dixiemes des maladies sont 1’ouvrage des lielmintbes et ne doivent lenr guérison qu’à 1’usage bien conduit des antliel- mintliiques. »* Mais tarde, Pasteur com a sua grande sabedoria, que é orgulho da sciencia a que a dedica, com o seu trabalho perseverante e vigoroso, estabelece os alicerces do grande edifício da theoria microbiana, como o sonhara Varron, e Easpail o entreverá. Depois, Chauveau, Cose e Felts, Billroth, Recklinghausen, Col- nheim,Klebs, Eberth, Colm, Koch, Bouchard, Bouley, Freire e outros, com as suas experiencias e as suas descobertas consolidam por tal fórma a obra de Pasteur, que ella conserva-se e conservar-se-ha in- abalavel, apezar dos simouns que arremessam-lhe, irritados, os Eolos da medicina, os velhos clinicos. * Raspail .—Histoire natnrelle de la santé et de la maladie chez les végétaux et les animaux en général et en particulier chez Vhomme; suivre d’une methode nou- velle de traitement hygienique e curatif.—1843. Estudámos a questão com ataraxia e espirito calmo. Pesámos os argumentos de um e outro lado ; fômos á clinica e ahi ouvimos as sabias lições de Petter, Jaccoud, Semmola e Torres-Homem — a culminância da medicina brazileira ; e penetrámos no laboratorio para assistir ás experiencias de Pasteur, Boucliard e Kocli. Medimos a fortaleza da doutrina microbiana pela convicção e coragem de seu chefe. Vimos, aos contradictores das suas experiencias, Pasteur pedir que nomeassem commissões julgadoras, viessem elles mesmos assistir ou iria elle proprio ao seu encontro, e forçava-os então a render-se diante da veracidade e do alcance d’essas expe- riencias que tanto combatiam. Pasteur annuncia a descoberta da attenuação dos virus, a prepa- ração artificial da vaccina do cholera das gallinhas e do carbúnculo. No dia immediato ao seu triumpho, no congresso internacional de medicina reunido em Londres—(1881)—,Kocli e seus collaboradores Gaffki e Loeffler publicam um manifesto scientiflco contra a descoberta do virus-vaccina. Da Allemanha vem o ataque ; é na Allemanha que Pasteur vai affrontar os seus inimigos. E em Pakisch, perante a commissão nomeada pelo governo allemão, da qual era presidente Beyer, e membro o notável professor Yirchow, o lastimado Luiz Tlmillier, collaborador e amigo de Pasteur, reproduz as experiencias do mestre. Os processos verbaes e o relatorio da commissão confirmam enftodos os pontos os factos communicados; mas Koch não se dá por vencido e continua o ataque. Pois bem, Pasteur comparece ao congresso interna- cional d’hygiene reunido em Genebra, onde contava encontrar Koch, eahi, do alto da tribuna, face á face com seu contradictor, provoca-o á discussão, no meio de estrepitosos applausos. Koch foge, dizendo que responderia pela imprensa. Tres mezes depois publica um folheto, onde rende-se á verdade, e com a probidade do verdadeiro sabio, con- fessa o seu erro, acceitando, como um factoinatacavel,a attenuação do virus. A descoberta da natureza da pebrina é violentamente impugnada na Italia. Pasteur ainda hemiparetico, atravessa, deitado em um wagon, ou conduzido em um fauteuil, a França, a Italia e chega a Triest, á villa imperial Yicentina, onde ha 6 annos a colheita dos bichos de seda era miserável. Ahi convence os seus antagonistas; o sen methodo de grainage é adoptado e a venda dos casulos dá vinte mil francos de lucro. Uma commissáo de professores da escola veterinária de Turim,para verificar o poder prophylatico da vaccinação carbunculosa, inocula sangue de um carneiro fallecido de carbúnculo, havia 24 horas, e os animaes em experiencia morrem, apezar de préviamente vaccinados. A commissáo exulta e proclama este facto como a nullificação positiva da vaccinação pastoriana. Pasteur escreve-lhe que, tendo se utilisado de um animal já cadaver lia mais de 24 horas, a commissáo empregára um sangue,náo só carbunculoso, como também séptico, A commissáo responde acerba e ironicamente ao Sr. Pasteur,insistindo que só havia os bacillus do car- búnculo no sangue inoculado e, escrevendo-lhe, « náo acreditamos que um sabio possa affirmar a existência da septicemia em um animal que não chegou a vêr. » Em face d’esta attitude, Pasteur offerece-se a ir pessoalmente a Turim, para demonstrar, quantas vezes quizessem, que o sangue de carneiros victimas de carbúnculo, no fim de 24 horas no mez de Março e de 12 ou 15 no mez de Junho, seria ao mesmo tempo carbunculoso e séptico, e separaria então, por culturas appropriadas, a virulência car- bunculosa da virulência séptica ou ambas, á vontade dos médicos italianos. Estes náo aceitaram; mas rejeitando o offerecimento de seu adversário e fugindo, de um modo tão pouco edificante, de uma questão scientifica, a commissáo deixou o attestado mais solemne de sua incapacidade, e a affirmação mais positiva da victoria de Pasteur. Um professor da Academia de Medicina communica á Academia das Sciencias que encontrou no sangue de uma senhora, com infecção puerperal, um numero considerável de filamentos transparentes, simples ou articulados, rectos e curvos, pertencentes ao genero lepto- thrix. Pasteur estranhando o facto, porque empenhado no estudo d’essa infecção, nunca os reconhecera ao microscopio, pede ao seu collega amostras d’esse sangue, e verifica que se trata não de leptro- thrix mas do legitimo bacillus antliracis. Remette tres coelhos inoculados de carbúnculo ao autor da com- municação, e o illustre professor, examinando comparativamente o sangue da senhora por elle tratada e o dos coelhos carbunculosos, confirma a asserção de Pasteur, e vai com toda a probidade declaral-o á Academia.—A senhora residia em um pequeno quarto contíguo a uma estrebaria, e ahi adquirira a moléstia. Mais outra vez o mestre mostrou-se notável pela certeza de sua affirmação ; porém, onde tornou-se imponente pela sua temeridade e depois pela suavictoria, foi nas celebres experienciasdePouilly-le-Fort. A 28 de Fevereiro de 1881, Pasteur em seu nome e nos de Roux e Chamberland, annuncia á Academia das Sciencias a descoberta da vaccinação carbunculosa. Logo depoiso presidente da Socidade de Agricultura deMelun,oBarão de Rochette, convida Pasteur a fazer uma grande experiencia publica. A sociedade põe á disposição de Pasteur 60 carneiros, dos quaes 10 ficariam intactos, 25 sofreriam duas inoculações, com 12 ou 15 dias de intervallo, por dous virus de força desigual. Alguns dias depois os 25 carneiros vaccinados e os 25 restantes seriam submettidos a inoculações de carbúnculo muito virulento. A mesma experiencia seria feita em 10 vaccas, das quaes 6 sofre- riam a inoculação prophylatica e em seguida todas as 10 receberiam o virus muito forte. Pasteur affirmou que os 25 carneiros vaccinados resistiriam ao virus muito virulento, emquanto que os outros morreriam; que as vaccas não vaccinadas se não morressem ficariam gravemente doentes, emquanto que as outras não sofreriam abalo apreciável em sua saude. A grande prova efectuou-se segundo o programma traçado por Pasteur. A 5 de Maio teve logar a primeira inoculação de 24 carneiros, 6 vaccas e uma cabra, que tinha substituído um dos carneiros, com 5 gottas de um virus attenuado. A 17 houve uma reinoculação comum virus attenuado, porém mais virulento do que o primeiro. A 31 procedeu-se á inoculação muito virulenta, e foi convocada para dous dias depois a reunião ultimado grande tribunal julgador. E no dia 2 de Junho a commissão e um numeroso concurso de homens da sciencia foram encontrar no campo de Pouilly-le-Fort os 25 carneiros não vaccinados prostrados por terra, mortos, emquanto os que tinham soffridoa inoculação dovirus vaccinico pastavam tranquillos ou saltavam alegremente; as vaccasnão vaccinadas apresentavam oedemas volumosos nos pontos da inoculação, febre intensa e não tinham força para ruminar, emquanto que as outras nada apresentavam de anormal. Poucas vezes têm-se visto em questão scientifica triumpho tão brilhante. Esta experiencia, reproduzida em numero avultadissimo e sempre confirmada, é um padrão de gloria para Pasteur, e uma das mais valentes columnas da doutrina microbiana. Até 1884, segundo uma estatística fidedigna, em um total de 240 carneiros inoculados com um virus muito forte, de 135 vaccinados houve só um morto, dos outros 105 não vaccinados 97 succumbiram. Pasteur commnnica á Academia de Medicina a experiencia da inoculação do carbúnculo ás gallinhas, com a unica condição de bai- xar-lhes a temperatura. Pasteur levanta-se, pede á Academia para nomear uma com- missão afim de verifical-o, e perante essa commissão de que fazia parte o proprio Colin, torna 3 gallinhas carbunculosas. A’ autopsia todos reconhecem as lesões do carbúnculo, e o sangue contêm my- riades de bacillius anthracis :—o professor da escola de Alfort é obri- gado a assignar o relatorio, affirmando a veracidade do facto annun- ciado, e por elle contestado. O professor Colin nega o facto. Acabamos de vêr o chefe da doutrina bacteriana a cada ob- jecção desafiar os seus contradictores e sempre esmagal-os cora o peso dos factos observados, forçando-os a assignar o contrario do que affir- mavam; penetrámos mais no amago da doutrina e fomos encontrando luz e mais luz para a comprehensão clara de todos os phenomenos que se passam nas moléstias infecciosas; de modo que hoje, o dizemos sem temor, convictamente aceitamos a theoria parasitaria. Vamos analysar as doutrinas reinantes na sciencia sobre a natu- reza das moléstias infecciosas, procurando demonstrar que, emquanto as outras baqueiam a uma critica mesmo complacente, a theoria mi- crobiana, firmada em factos incontestáveis de observação e experi- mentação, impoem-se a todos que estudam sem preconceitos, nem presos ao non cogito dos clinicos, nem alliados ás exigências imperti- nentes dos scepticos. Antes, porém, de abordarmos este assumpto, e para sermos methodico, trataremos summariamente de algumas ques- tões que entram no nosso trabalho como preliminares. FoiLeiwenhoek quem descobrio em 1675 os organismos inferiores em aguas pluviaes estagnadas, descrevendo mais tarde os leptothrix e os vibriões da bocca considerados por elle como animalculos, em uma carta dirigida ao Sr. Arton, então secretario da Sociedade Real de Londres. (Rappim—Lesbacteries dela bouche. Paris, 1881). A melhor denominação e mais geralraente acceita para os proto- gonisraos é a de microbios— pequena vida—dada por Billroth. A expressão bacterio, empregada a principio para significar pe- quenos seres constituidos por filamentos, dotados de movimentos es- pontâneos, recebeu de alguns autores uma accepção mais ampla, que a faz synonyma de microbios. E’ o titulo escolhido pelos Srs. Cornil e Babès para a sua notável obra. A de schisomycetes proposta por Nsegeli é pouco própria, pois, por sua constituição etymologica, exprime reproducção por scisão, que, como veremos, não é a unica. Desde que a microbiologia começou a ser comprehendida em seu alcance, e a ser estudada com rigor e interesse, levantou-se a questão de saber se seriam estes microorganismos animaes ou vegetaes. Comprehende-se a difflculdade de uma semelhante verificação, quando atravez das mais fortes ampliações do microscopio, apenas se consegue vêr pontos inapreciáveis, mal distinctos. Hoeckel os classificou no seu genero neutro dos protistas, col- locado entre os animaes e os vegetaes, incluindo-os na terceira classe das moneras, —as tachymoneras. Muller que impulsionou consideravelmente o estudo dos micro- organismos no século passado, consideraya-os como animaes e incluio-os na classe dos inferiores ; para Elirenberg e Dujardin, porém, de accordo com o autor precedente na idéa capital, eram vibriões. Colm foi o primeiro que, em 1853, divorciou-se da opinião admittida por todos, collocando-os no reino vegetal. Naegeli consi- derou-os cogumelos, e deu-lhes o nome de schisomycetes ; porém, mais tarde, Colm, notando que estes approximavam-se mais das algas do que dos cogumelos, dos quaes se separavam pela ausência de funcções chlorophyllianas, e em alguns d’elles pela possibilidade de se deslocarem e de viverem ao abrigo do ar, mudou o nome dado pelo professor de Breslau para o de sclnsopliytos e mais tarde Fleck para o de schistomycetes. Contra a hypothese de serem animaes, milita ainda a razão de que só os vegetaes têm a propriedade de fabricar substancias proteicas, até em meio mineral, phenomeno esse que se passa com alguns microbios (Huxley). Existem diversas classificações dos microbios, desde a extrema- mente simples de Billroth, até a complexa mas completa de Colm. Billrotli admittia uma só especie, a coccabacteriaseptica, apresentando-se sob duas fórmas: a oval denominada cocais, e a de bastonete a que chamava bacterium, podendo esta transformar-se n’aquella, como elle observou varias vezes em uma mesma cadeia. A classificação de Colm, a mais geralmente admittida, e a única de que daremos conta, encara os microbios conforme o volume, a fórma e a funcção physiologica. Segundo as dimensões emprega os prefixos micro, mezo, e mega; segundo o modo de grupamento divide-os, por exemplo: em coccus (um) ãiplococcus (dous) etc., streptococcus em fórma de rosário, gliacoccns {Zooglca,reunião irregular) petalococcus (em fórma de membrana, mycoderma de Pasteur), ascoccus imbricados, envolvidos em massa gelatinosa, etc. Eis a classificação de Colm. Schizophytos — Thallophytos se desenvolvendo por divisão ou por cellulas germinativas endógenas Ia tribu — A — Cellulas livres e reunidas a duas ou a quatro. — Cellulas espliericas chroococcus (Naegeli). 1885—D — Cellulas cylindricas synechococcus (Nsegeli). B — Cellulas reunidas em zoogloeas por uma substancia amorplia. a — Membrana cellular confundida com a substancia intercellular. — Cellulas esphericas micrococcus (Hallier). — cellulas cylindricas hacterium (Dujardin). h — Substancia intercellular disposta em camadas con- cêntricas. — Cellulas redondas gloeocapsa. — Cellulas cylindricas gloeothece. C—a — Cellulas formando zoogloeas circumscriptas, de fórma definida, familias dispostas em placas em uma só camada merispomedia. — Cellulas redondas dispostas em uma zoogloea rede clathrocystes. — Cellulas cylindricas, cuneiformes, familias divididas por estrangulamento coelosphoerium. I — Cellulas formando familias em muitas camadas, reunidas em corpúsculos cúbicos, incolores, e aguardando disposição quaternaria sarcina. Numero avultado e indeterminado de cellulas in- colores ascococcus. 2a tribu Nematogènos — Cellulas em filamentos. A — Sem ramificações : 1. Cylindricas, incolores, com divisões pouco pronunciadas, muito finas, curtas hacillus. Idem idem, longas leptothnx. 2. Filamentos cylindricos, mais espessos, longos heggiatoa. 3. Fragmentos, a conidias incolores crenothrix• 4. Filamentos espiraes, curtos, ondulados vihrião. » curtos, de espiraes rigidas spirillum. Filamentos longos, a espiraes flexíveis, contendo pliyco- crliomo spirochete. » longos e espiraes flexíveis spirulina. 5. Filamentos em fórma de rosário, sem pliycocliromo streptococcus. 6. Zoogléas cylindricas, incolores myconostoc. » em fórma de rosário nostoc. Filamentos adelgaçados em uma extremidade rivólaria. B -Filamentos com falsas ramificações cladrothrix. » cylindricos, incolores streptothrix* Acreditava-se antigamente que a reproducção d’estes pequenos sores, fazia-se exclusivamente por scisão transversal, mas está hoje averiguado que eífectua-se por duas maneiras: por scissiparidade e por germinação ou sporulação. A segmentação dos schisomycetes póde-se fazer segundo tres direcções; quando a divisão fáz-se em uma só direcção, o fio del- gado que constitue o microbio se allonga, um sulco vai se formando mais e mais, em qualquer ponto da sua longitude mas geralmente no centro, até que separam-se duas cellulas semelhantes ao ser primitivo. Cada uma d’estas cellulas promptamente se fragmenta a seu turno, e este phenomeno eífectua-se com uma rapidez assombrosa. Colm cal- culou que um microbio no fim de uma hora, dividindo-se em dons, em 24 horas terá produzido 16.777.220; em 48 horas 281.000.000; em 3 dias 47.000.000.000.000, e em 5 dias um só microbio poderá encher o oceano. Os schisomyctes, cuja segmentação se faz em uma só direcção, comprehendem os micrococci, os bacteriums, os bacillos, os leptothrix, os clenothrix, os clactotrix. Quando a divisão deve ter logar seguindo duas direcções, vê-se á extremidade terminal dos filamentos, uma cellula apresentar a principio uma separação transversal, depois uma separação vertical,’e finalraente dividir-se em quatro partes. Os leptothrix (raras vezes) os clenothrix e os cladrothrix são exemplos d’este modo de reproducção. * Cornil e Babes Les Bacleries, Paris —1885—pag. 99. A segmentação póde se effectuar seguindo tres direcções, de modo que os organismos neoíbrmados tomam uma fórma cubica ; assim são as sárcinas. A temperatura exerce uma grande influencia sobre este modo de proliferação, que augmenta até 80 grãos máximo, e diminue até 4. O outro modo de reproducção dos microbios é por sporos ou cor- púsculos germens, sorpreliendidos e estudados por Pasteur no microbio productor da pebrina. Elle vio no seio d’esse bacterio uma quantidade extraordinária de globulinos,que em um momento dado tornavão-se in- dependentes, e iam ser origem, em condições favoráveis, de gerações de microbios da mesma especie. Neste caso os corpúsculos germens se entumescem, perdem sua refrangencia, até que rompe-se em um ponto por onde passa a extremidade de um pequeno bastonete, que em seguida torna-se livre. Tem-se encontrado em algumas variedades de cocci, de embriões, de bacillos e de spirillos (estes últimos contra a affirmação de Kocli); porém este processo de proliferação é mais particular aos bacillos. Estes germens têm a propriedade de conservar seu poder gernii- nativo atravez de todas as vicissitudes, de resistir ás mais altas e ás baixas temperaturas e pressões, á deseccação, aos agentes cliimicos como o álcool absoluto, a agua fervendo, o oxygeno comprimido etc. Segundo Pasteur elles não têm vida real, porque falta-lhes os ca- racteres d’esta, isto é, nutrição, desenvolvimento, geração : possuem uma vida latente, uma actividade occulta. Comprehende-se que qualquer que seja o modo de desenvolvi- mento dos microbios, a saa intensidade e rapidez está adstricta á con- stituição, á riqueza em materiaes nutritivos do meio em que vivem, assim como a certas condições physicas; e dá-se mesmo o facto de certos bacterios reproduzirem-se por este ou aquelle processo, con- forme as circumstancias que os cercam. Assim, segundo Pasteur, o bacillus anthracis, entre 35° a 38° reproduz-se por corpúsculos germens ; a 72° por segmentação. Kock affirma exactamente o contrario, mas emquanto Pasteur experimentava em liquidos, elle o fazia em solidos—a gelatina,— o agar-agar. Segundo Klein e Colm, quando existe livre accesso de oxygeno ha desenvolvimento por sporos, e em caso opposto — segmentação. Os microbios não resistem ás altas nem ás muito baixas tempe- raturas. Miquel conhece bacterios que se desenvolvem a 72°cent., sendo porém a temperatura mais favoravel á sua reproducção a de 30° a 35° e 37°.A bacteridia do carbúnculo nãosupporta por longo tempo uma temperatura de 47°,e a 50°perde o seu poder germinativo. Já vimos Pasteúr inocular o carbúnculo em gallinhas com a condição de baixar- lhes a temperatura, assim como ás rans com a condição de eleval-a. Os corpúsculos germens fogem a esta regra e supportam a acção do calor em grau intenso até 130° segundo Pasteur, assim como á do frio algentissimo—87°, como foi verificado por Frisch no laboratorio de Ludwig, podendo apenas a ebulição ou a congelação paralysar o seu desenvolvimento mas não destruil-os. O seu poder de resistência au- gmenta se estão ligados a um corpo solido, d’onde o conselho de Pasteur de esterilisal-os a 250°, quando se acham nestas condições. Segundo estudos minuciosos de Tyndall, o virus secco e o virus fresco tem uma resistência desigual á accão do calorico.— Assim para que a acção mediata do ar quente sobre o virus fresco determine a sua destruição, é necessário que fique durante 20 minutos em uma estufa a 100°; a acção mediata e immediata da agua quente sobre o virus fresco, estando a agua a 100° requer apenas 2 minutos; a acção immediata do ar quente a 100° sobre o virus secco—6 horas; a acção mediata da agua quente sobre o virus secco—2 horas. A resistência d’estes germens é tal que Duclaux communicou ha cerca de dous mezes ao Instituto de França, que germens de microbios cultivados no laboratorio de Pasteur ha 13 annos, conservavam perfei- tamente intactas as suas propriedades morbigenicas. A acção da pressão atmospherica igualmente varia conforme actua sobre o microbio ou sobre o corpúsculo germen : este resiste muitissimo mais, como demonstrou o Sr. Feltz em 1876, fazendo actuar sobre um liquido séptico o ar comprimido a 30 atmosplieras durante 50 dias, e o oxygeno a 30 atmosplieras durante 21 dias : os microbios adultos succumbiram, mas os germens resistiram tanto que os cães e os coelhos inoculados morreram victimas de septicemia. A bacteridia carbunculosa, segundo experiencias de Pastenr, resiste á compressão do oxygeno a 10 atmosplieras. Uns microbios não podem viver senão assimilando oxygeno livre e não são fermentos, ao passo que outros nutrem-se e vivem ao abrigo do oxygeno livre, tirando este sopro de vida a combinações, principal- mente á matéria fermente sei vel que é sempre oxygenada; aos primeiros Pasteur denominou aerobios; aos segundos anaeróbios (Pastenr— Comptes-Rendus da Academia das Scíencias.— 13 de Janeiro de 1879). A fermentação é a vida sem ar, escreveu elle então. Ha alguns, porém, que são ao mesmo tempo aerobios e anaeróbios, como o penicillium glaucum. Os microbios acliam-se espalhados em quantidade prodigiosa no ar, na agua, na superfície e no interior dos corpos solidos. No ar existem em geral no estado de corpúsculos germens, de sporos e mistu- rados ás poeiras mineraes e orgauicas de toda a especie, avultando porém mais nos ampliitheatros e salas de hospitaes, segundo os cál- culos minuciosos de Miquel, e que se acham no seu livro sobre os « or- ganismos vivos da atmosphera». Este autor demonstrou também, por verificações successivas, que o numero d’estes microbios está subordinado á temperatura ambiente e ao estado hygrometrico da atmosphera. Nas aguas os micro-organismos são encontrados aos milhões, no estado de germens, e sob a apparencia de pequenos corpúsculos arre- dondados, muito brilhantes sob o campo do microscopio. Têm sido verificado igualmente na agua das chuvas, no orvalho, e até na agua distillada, naturalmente provenientes das paredes dos vasos que a contiveram. A actividade proficiente de Miquel, dirigida sobre o estudo das aguas, trouxe o conhecimento da sua notável diversidade segundo certas circnmstancias. Assim elle encontrou 64.000 microbios em um litro d’agua da chuva, e 248.000 na agua da Yanne, 4.800.000 em Bercy, 12.800.000 em Arnezes, ambos no Sena; ha 80.000.000 nas aguas dos esgotos em Clichy. Uma das questões mais debatidas em bacteriologia foi sem duvida a da existência ou não de microbios nos liquidos ou solidos normaes do organismo. Os naturalistas allemães em geral affirmavam a sna presença e procuravam proval-a por meios indirectos. Nedwescki e Luders, admittindo como preliminar que os micro- organismos podiam atravessar as delgadas membranas epitheliaes, e chegar por esta via á profundidade dos tecidos, examinaram o sangue e reconheceram no campo do microscopio um germen particular, ao qual denominaram hemococcus, capaz de soffrer em certas condições um des- envolvimento interior. Billroth e Tinguel,de accordo com essas idéas, tomaram pequenos pedaços de tecidos animaes, envolveram-n’os emparaffina fundida que collocaram em vasos hermeticamente fechados, e no fim de alguns dias fôram encontrar microbios n’essas substancias ; d’onde, concluiram, os elementos normaes do organismo contêm microbios. A conclusão é lógica, mas baseada em meios de investigação erroneos: a paraffina não é evidentemente um meio proprio, porque quando esfria, apresenta fendas por onde pôde entrar ar sobrecarregado de microbios, além de que na própria paraffina ha bacterios contra os quaes não fôram empregados os meios de esterilisação conveniente. O Dr. Beale diz: (Disease Germs pg. 64. 1870) « A manifestação a mais alta da vida é, penso, penetrada, por assim dizer, pela mani- festação a mais baixa. Não existe provavelmente um só tecido que seja privado d’esses germens ; o sangue de nenhum homem d’elle é isempto. » (Citado por Lewis,—Os mycrophitos do sangue). Os Drs. Lewis e Canningham, estranhando que em questão de simples verificação, á primeira vista não passivel de debate, tanta ce- leuma se levantasse entre os naturalistas, estudaram-na attentamente em successivas experiencias, e chegaram a este resultado, que effectiva- mente no sangue de individuos em saude perfeita, existem bacterios, porém extremamente fugazes, desapparecendo muito promptamente. « E’ entretanto evidente, diz Lewis {Os mycrophitos do sangue) que, embora o sangue possa conter constante mente um numero maior ou menor d’estes organismos, elles não se accumulam n’elle em quan- tidade, e póde-se seguramente affirmar, segundo experiencias, que sua presença em numero apreciável é incompativel com um estado de perfeita saude. » A maioria dos microbiologistas impugnam estas idéas. que empenhou-se no estudo d’esta questão, nunca conseguio vêr bacte- rios no sangue normal, e o mesmo succedeu ao Dr. Eoch, apezar de ter empregado diversos processos de coloração associados aos mais completos de illuminação artificial. Do mesmo modo pensam Burdon Sunderson, Klebs, Klein, etc., e Pasteur queaffirma cathegoriamente « 0 sangue de um animal em plena saude não contêm nunca organismos microscopicos nem seus germens. » Os microbios gozam,qnasi todos, de movimentos ordinariamente rá- pidos, broAvnianos, attribuidos por Koche Cohn ácilios vibrateis; entre- tanto já foram vistos estes parados e os microbios andando,evice-versa. 0 que é interessante nos movimentos d’estes pequenos seres é a precisão com que desviam-se dos óbices que deparam-se-lhes em sua marcha, facto observado muitas vezes por Miquel. Não se sabe muito sobre as propriedades chimicas dos microbios ; apenas tem-se verificado que resistem á acção dos ácidos mineraes em geral, acido acético, soluções alcalinas, agua, álcool, ether, chlorofor- mio, etc. Colorem-se em geial pela hematoxylina, pelo iodo, e pelas cores de anilina, que exercem o sen poder chromatico sobre a massa interna, ficando o microbrio intacto. Um dos motivos qne levaram os autores a acreditar qne o protoplasma dos microbios era formada por uma sub- stancia albuminóide, a que Nencki denominou microproteina, era a colo- ração vermelha que tomava sob a acção do reactivo de Millon; pois bem, essa substancia não adquire a côr vermelha pela acção combinada do acido sulfurico e assucar, rea cção característica das substancias al- buminóides. A lixivia de soda e os saes de cobre os colorem em violeta. Os microbrios não vivem em todos os meios. Uns exigem um meio acido, outros só vivem em um meio alcalino; para uns o oxy- geno é a vida, ex emplo: o bacillus anthracis ; para outros é a morte, exemplo: o vibrião systico. Pasteur verificou que certos mi- croorganismos aerobios apoderam-se do oxigeno de um meio que d’este modo preparam para os anaeróbios. Os que se desenvolvem no sangue do carneiro, do coelho, do rato não podem viver no sangue dos passaros, como o hracillus anthracis. Como prova irrefragavel da influencia directa e immediata do meio sobre os microbios, ha o vibrião-fermento do acido tar- tarico. Sabe-se que lia dous ácidos tartaricos, um que desvia para a direita a luz polarizada, e o outro que a desvia para a esquerda, e além d’isso não pôde superpor as suas formas. São absolutamente iguaes sob qualquer outro ponto de vista que se os considere ; suas pro- priedades são por tal fórma idênticas, que não haverá ninguém que por ellas tenha a presumpção de os distinguir. Pois bem, o vibrião-fermento, que destróe o acido tartarico á direita, não tem igual acção sobre o mesmo acido á esquerda. O acido racemico é formado por uma molécula de acido tartarico á direita e uma molécula de acido tartarico á esquerda ; pois bem, se submetter-se o racemato de ammonia á fermen- tação do vibrião tartarico á direita, ella se fará até a destruição completa d’esse acido, mas o outro, cujo poder rotatorio sobre a luz polarisada exerce-se para a esquerda, ficará completamente intacto. Este facto importantíssimo servir-nos-ha mais tarde quando tratarmos da acção pathogenica dos microbios. E’ chegada entretanto a occasião de fallarmos sobre a geração espontânea, theoria que imperou por longo tempo, e que foi sempre e é o escolho dos antimicrobistas. Já o sabio Aristoteles considerava a fermentação do lodo dos rios a origem das enguias, e o orvalho a das lagartas. No livro dos Juizes, as abelhas nascem da pelle ou dos restos mortaes de um leão, e Virgílio descreve o nascimento de um enxame de abelhas das entranhas corruptas de um touro. Entretanto, Lucrecio, o eminente philosopho e poeta, que quasi todos julgam defensor da geração espontânea, em muitas de suas notáveis poesias emitte duvidas, que derrocam essa supposição. Huxley, que refere muitos versos que parecem confirmar esse juizo,— do seu monumental De natura rerum, onde se encontram previsões verdadeiramente assombrosas na sua epo- cha, omitte outras que dizem respeito ás poeiras, á digestão, etc., onde positivamente o autor se manifesta contrario á geração espontânea. Van-Helmont afflrma que a putrefacção de uma camisa suja em contacto com grãos de trigo faz nascer rãs, sanguesugas, heras, odores que se desprendem do fundo dos pantanos, e ratinhos! 1885—D Durante e«ta phase histórica domina sobretudo a heterogenia pura, a spontiparidade de Duges, a ontogenia de Hoeckel, isto é, a pro- ducção de um individuo novo muito simples, em uma solução inorgânica de acido carbonico, ammonia, saes binários, etc. (Hoeckel — Morph. gener.) Mais tarde então é que pensa-se que a matéria organisada é a unica capaz de engendrar novos seres; é o que Hoeckel denomina plasmogenia,—producção de um individuo novo em um meio orgânico, albumina, graxa, hydrogeno carbonado, etc. (Loco citato). A crença na heterogenia continuou até o século xvn, em que Francisco Redi, e mais tarde Swammerdam e Vallisnière demons- traram, que se as substancias animaes ou vegetaes, mórmente as carnes em putrefacção, enchem-se de larvas mais ou menos abun- dantes, não é isso devido a que ellas ahi se tenham desenvolvido espontaneamente, mas sim á penetração de moscas que depositavam os seus ovos n’essas substancias; e tanto era assim, que collocando-se essas substancias em um vaso, e cobrindo-o depois com télas de algodão, ninguém verificaria a presença d’essas larvas, fechadas por essa fórma as portas á introducção dos seus germens. Foi Redi o autor da celebre proposição omnis vivum ex-ovo, attribuida erroneamente a Harvey —: o illustre descobridor da circu- lação do sangue acreditava na geração espontânea. Redi não continuou os seus estudos, não só porque não conhecia o mundo dos infinitamente pequenos, como porque as idéas religiosas tudo supplantando n’esse tempo, foi chamado pela Inquisição e obri- gado como Galilêo, a retractar-se publicamente. Mas os heterogenistas discutiam convictamente. Faziam digerir durante algumas horas substancias organicas vegetaes ou mineraes, filtravam-n’as,e examinando ao microscopio o liquido limpido restante, não encontravam absolutamente microorganismos. Collocavam estas infusões em uma camara com uma temperatura de 40° a 30°, e no fim de 24 ou 48 horas, uma gotta d’esse liquido, já turvo e com a superfície coberta de uma substancia gelatinosa, apre- sentava, mirahile dieta, a uma ampliação de 400 a 500 diâmetros, um mundo assombroso de pequenos seres, assumindo todas as formas e dimensões. A prova não podia ser mais expressiva, e elles proclamavam a geração espontânea como uma verdade inatacavel. Needliam, que apparece na luta em 1748, encerra substancias putreciveis em vasos hermeticamente fechados, e submette-os á uma alta temperatura que produza ebullição da agua igualmente contida. E evidente, que não podendo os germens resistir a tão elevado calor, e encontrando-se nos vasos seres vivos, estes ahi desenvolveram-se es- pontaneamente. Spallansani, repetindo as experiencias de Needham, mas tendo o cuidado de aquecer o vaso por mais tempo, chegou a resultado, inteira- mente opposto. O seu contradictor respondeu-lhe, que, diminuida pela deficiência do oxigeno do vaso a força vegetativa do liquido em experiencia, não admirava que chegassem a conclusões tão divergentes. Gay-Lussac traz a sua grande illustração e a sua autoridade em auxilio de Needham. Triturando um cacho de uvas cuidadosamente lavado com hydro- geno para eliminar todo o ar adherente ás pelliculas, abaixo de um provete contendo mercúrio, para o que servio-se de uma haste metallica recurvada, não obteve fermentação. Mas deixando chegar em contacto com o mosto uma corrente de oxygeno, a fermentação manitestou-se. A illação é uma, disse elle, o oxigeno é necessário á fermentação, e portanto a objecção de Needham não póde subsistir. Numerosas experiencias vieram combater a idéa da força vege- tativa do ar. Schwann manteve sem obter a producção de infusorios, atravez de um balão contendo caldo já resfriado de longa ebullição, uma corrente continua de ar, com a condição de ter atravessado um tubo superaquecido, onde soffreu um processo de calcificação. Schultze fazendo passar o ar por um tubo de bolas cheio de acido sulfurico e de potassa obteve o mesmo resultado, confirmado ainda pelas expe- riencias de Schroder e Dusch, que filtraram o ar atravez de uma pasta de algodão. Estes autores, porém, notaram umas vezes conservação perfeita, e outras a alterabilidade das substancias sujeitas á expe- riencia. Mas, qual era o principio que o fogo destruía e que o algodão detinha e que dava ás infusões a fecundidade ? Erao que se procurava descobrir, quando Poucliet veio annuuciar á Academia das Sciencias em 1858, que acabava de obter a prova experimental a mais eloquente e mais incisiva da realidade da geração espontânea. Introduzindo em um balão um decocto de feno, de noz de galha, de urina, de cerveja, ou de albumina, elle manteve a ebullição durante cinco horas e quando teve certeza de que o apparelho estava a 100° fechou-o com uma rolha de crystal atravessada por um tubo lavador contendo acido sulfurico. A ebullição continuou por mais algum tempo, e depois o vaso foi abandonado ao ar. Pois bem, exami- nando ao microscopio reconheceu n’esse decocto a presença de mi- crophytos, apezar de Joly e Musset terem verificado a acção des- tructiva do acido sulfurico sobre os iufusorios. Pouchet fez ainda outras experiencias tendentes a demonstrar, que apezar do emprego de todos os meios possíveis de destruição organica, observa-se a presença de microorganismos nas substancias submettidas á experimentação; e levando as suas experiencias para o seio da Academia das Sciencias, ahi provocou a memorável discussão em que coube a laureola vencedora a Pasteur, que com o seu methodo de experimentação preciso e minucioso, pela força de sua argumenta- ção, « cansou a controvérsia » na sua própria phrase (Discurso de re- cepção na Academia de Sciencias). As conclusões dos heterogenistas eram estas: « l.° 0 ar não é o vehiculo dos germens dos microphytos ou dos microsoarios : Io, porque nunca conseguiram mostral-os ; 2o, porque nem o algodão-polvora, collector do nosso amavel antagonista, nem o aeroscopio de Poucliet, nem as placas de vidro glycerinadas, não os puderam pôr em evidencia; 3o, porque o ar ordinário póde ser substi- tuído pelo ar artificial, pelo oxigeno puro, ou pelo ar aquecido á temperatura branca. « 2.° Não é a agua que acarreta estes malditos germens, porque pensamos, depois de experiencias tantas vezes repetidas, que a agua submettida á ebullição não contêm mais seres vivos, que todos perecem a esta temperatura. Além d’isso póde-se substituir a esta agua assim fervida, a agua obtida pela combinação directa do oxygeno e do hy- drogeno, e a vida ahi apparecerá como na agua ordinaria. « 3.° Emfim, os germens de que se trata, não podem insinuar-se á maneira dos escorpiões de Van Helmont na substancia organica empregada, porquanto nós suppozemos que esta substancia tinha soffrido a acção de uma temperatura de 100 a 150°. » Pouchet e os seus companheiros, pediram que lhes mostrassem os germens do ar. Pasteur e depois Tyndall, fazendo um feixe de raios solares ou eléctricos atravessar o ar ordinário, mostraram innumeros corpúsculos de formas e aspectos analogos aos sporos cryptogamicos, o que aliás todo o mundo vê diariamente ; porém, o ar filtrado atravez de uma tela de algodão, ficava opticamente puro, e não se podia mais observar os mesmos seres. E estes corpúsculos vistos atravez dos raios solares eram seres vivos, por- que semeando-se-os em um liquido putrescivel, no campo do micros- copio, podia-se acompanhar distinctament e a sua germinação e pullulação. Para o demonstrar Tyndall, fez outra experiencia: tomou uma caixa de madeira hermeticamente fechada, na qual duas paredes oppostas eram formadas de vidro, afim de permittir a passagem de um feixe luminoso, e induzio o fundo com uma camada glutinosa de glycerina. A principio o ar interior apresentava-se, sob a acção dos raios solares, tão luminoso como o exterior; mas, no fim de alguns dias, as poeiras pouco a pouco se depositando, pela lei de gravidade, no fundo da caixa e ahi ficando retidas pela glycerina, o ar interno tornou-se opticamente puro. Pois bem, nestas condições, ou mesmo deixando penetrar o ar exterior que tivesse préviamente atravessado um tubo polycurvo e terminado por uma bucha de algodão, podia-se introduzir na caixa qualquer infusão putrescivel, — já submettida á ebullição prolongada, que não desenvolveria organismo algum. Para evidenciar que é a estes organismos que se deve a fecundi- dade das infusões, Pasteur fez a sua experiencia classica sobre geração espontânea, da qual vamos dar uma idéa summaria. Collocou em um balão cujo collo afilado estava ligado a um tubo á temperatura de platina disposto em um forno aquecido ao vermelho, 100 a 150 grs., da seguinte mistura : Agua 100 partes Assucor ... 10 » Matérias albuminóides e mineraes provenientes do levedo de cerveja 0,2 a 0,7 . Depois foi esta mistura elevada á ehullição, processo este que não só expellio o ar do balão, como matou os germens que pudessem existir no seu interior ; á proporção que o líquido resfriou, o ar foi lentamente penetrando,mas já calcinado em contacto com o tubo super- aquecido ao vermelho. Logo que o balão ficou cheio e frio, foi abandonado no interior de uma estufa á temperatura constante de 30°. Pois bem, reunidos ar, agua, calor normal, humidade e substancia putrecivel, condições todas favoráveis á geração espontâ- nea, não houve o desenvolvimento de pequenos seres. Porque ? Por- que, respondem os pauspermistas de mãos dadas com a lógica, faltou o elemento efficiente, o elemento indispensável, o germen. Mas objectaram que pela calcinação por que previamente Pasteur fazia passar o ar, este soífria modificações que impediam as combina- ções moleculares que dão logar á formação de pequenos seres. Pas- teur respondeu alterando o processo anterior de modo a nullificar essa supposta causa de erro. Collocou essa mesma mistura em um balão cujo collo era longo e curvo em fórma de S, submetteu á ebul- lição o liquido interior até que o ar fôsse todo expellido, e deixou esfriar. Nenhum organismo se desenvolveu apezar de estar o balão em communicação com o ar exterior. Quando parava a ebullição natural- mente o ar exterior entrava com violência, mas encontrando um liquido ainda muito quente, os seus germens eram destruídos. Quando o li- quido estava mais frio a entrada do ar fazia-se bastante lentamente para que abandonasse nas curvaturas húmidas do collo, e nas sinuosi- dades do tubo, as poeiras atmosphericas capazes de fecundar a infusão. Yoltando-se, nestas condições, o balão de modo que um pouco do liquido banhasse o tubo em S, e tornasse outra vez para o interior, vêr-se-hia a pullulação de pequenos seres, como se fôsse feita a expe- riencia ao ar livre. Mas, objectaram Freny e Joully, as substancias organicas con- tidas no interior do balão, soffrendo longa ebullição, perdem a facul- dade de germinar espontaneamente. Pasteur fez então as suas experiencias com líquidos animaes — sangue, urina, leite, empregando para extrahil-os instrumentos per- feitamente esterilizados, ou com líquidos vegetaes sãos obtidos pela pipeta de Chamberland; entretanto sem calcinação nem filtração do ar, sem ebullição das substancias, não conseguio obter a putrefacção d’estas. O processo minucioso d’esta experiencia se encontra nos «Etudes sur la bière » mas é em resumo o seguinte : Toma-se um balão de vidro reunido a uma torneira de latão por intermédio de um tubo de borracha, cujo ramo livre é um pouco afi- lado. Introduz-se no seu interior um pouco d’agua que faz-se ferver, tendo-se o cuidado prévio de pôr a extremidade livre da torneira d© latão em communicação com um tubo de platina aquecido ao vermelho. Deixa-se a ebulição permanecer por algum tempo, depois o balão resfriar, até que se encha de ar calcinado; é então que se fecha antes que esteja de todo frio, para que o ar que ahi se encontra esteja a uma pressão inferior á pressão ambiente. Aquece-se por meio de uma lampada de álcool a extremidade afilada do tubo, e, depois de fria, introduz-se na veia, na artéria, on no canal da urethra do animal em experiencia. Abre-se a torneira, o liquido chamado pela aspiração produzida pelo vacuo relativo interior, penetra no balão e fecha-se-a de novo quando tem entrado quantidade sufficiente. Apesar dos golpes lethaes vibrados contra a heterogenia, ella não succumbio por uma vez, e em 1875 a proposito de uma communi- cação de Bergeron sobre a presença e a formação de vibriões no pús dos abscessos ao abrigo do ar exterior, surgio de novo, trazendo animada discussão ao seio da Academia das Sciencias. Perguntou-se então, como explicavam os panspermistas a putre- facção de ovos apresentando cocca intacta, se não era posssivel admit- tir-se a penetração de germens atravez da sua casca impermeável; Pasteur e Gayon responderam que os germens introduziam-se no ovo durante sua formação e seu trajecto no oviducto; fallou-se ainda nas experiencias de Bellamy e Lechartier sobre a fermentação alcoolica dos fructos e sementes da uva intactos, expostos ao ar ou mergulhados em uma atmosphera de acido carbonico, a que Pasteur replicou que as cellulas do parenchyma do fructo, transformam parcialmente seu as- sucar em álcool e acido carbonico ; voltou-se ainda ao argumento an- tigo da fermentação ammoniacal da urina na bexiga ou nos rins, como o mostrou Gosselin, a que Pasteur retrucou com este facto de observação â posteriori: sempre que a uréa se transforma em carbo- nato de ammonia se encontra, a chimica o demonstra, a presença de um fermento orgânico. Ultimamente Bastian, professor de anatomia pathologica de Londres, pretendeu com algumas experiencias, sustentar a eterna questão da geração espontânea. Repetio a experiencia de Pasteur, ferveu um pouco de urina e conservou-a em presença do ar calcinado, sem a producção de organismos ; mas tratando-a por uma solução de potassa fervida e privada de germens e expondo-a em seguida a uma temperatura de 50°, ella tornou-se fecunda em algumas horas. Pasteur, porém, tratando a urina assim preparada, não pela disso- lução, mas por um fragmento de potassa aquecido préviamente á tem- peratura supra, verificou que ella continuava esteril. D’onde concluio Pasteur, era a solução empregada por Bastian o vehiculo dos germens que fecundavam o liquido em questão, o que não admira, porque aquelle professor preparou a dissolução com agua ordinaria — sempre sobre- carregada de germens,— e a aqueceu somente a 100°, temperatura incapaz, como já vimos, de matar todos os sporos. Os Drs. Monnier e Vogt communicaram (Janeiro de 1882) á Aca- demia dasSciencias que conseguiram obter no seio de um liquido apropriado elementos figurados, com todos os caracteres morphologicos dos elementos orgânicos, taes como cellulas simples, com canaes poricos, com septos singelos, e conteúdo heterogeneo granulado, pelo concurso de dons saes, formando por dupla decomposição, já dons, já um só sal insolúvel. Um destes saes deve ser dissolvido no li- quido, emquanto o outro deve estar em estado solido. Não consta entretanto, que semelhantes assertostenham sido ve- rificados, e nem pensamos que o sejam. Não acreditamos que seres, embora microscopicos, mas com uma organisação morpliologica tão complexa, com uma funcção physiolo- gica tão precisa, sujeitos a uma serie de metamorphoses tão compli- cada como provaram Lankester e Giard (citados por Huxley) nos vi- briões cliromogenos, o que suppõe um estado especial de germens, resultado de herança que só pôde vir de uma geração preexistente, não acreditamos, diziamos, que semelhantes seres sejam formados por geração espontânea. Entretanto alguns naturalistas ainda hoje sustentam a heteroge- nia firmados na theoria da evolução. Quando o planeta iniciou o seu periodo de resfriamento, antes do apparecimento dos vegetaes, em uma atmosphera muito rica em acido carbonico e vapor d’agua, e em azoto, sob a influencia da alta temperatura e de fontes poderosas de electricidade, o carbono d’aquelle combinava-se com os elementos d’este pora formar as substancias ternarias, depois com a ammonia, produzida pelo solo, para a construcção das substancias quaternarias; a principio os carburitos de hydrogeno, em seguida as combinações azotadas, mais ou menos analogas ás matérias albuminóides. Apresen- taram-se as moneras, os cytodes, os mais elementares dos seres vivos. Se pois de corpos mineraes primitivos, vieram pelas forças natu- raes os primeiros seres vegetaes e animaes, por que não admittir-se que ainda hoje se possa operar essa transformação, e haver a geração es- pontânea ? Mas se é verdade que a matéria inorgânica transformou-se pri- mitivamente em matéria viva, não é menos certo que os meios de adaptação ás condições de pressão e temperatura não são actualmente as mesmas. Se a tlieoria da evolução de Lamarcli e Darwin, está real- mente assentada sobre bases inatacaveis, se a origem simiana do ho- mem está demonstrada á evidencia, ninguém pensará que um qual- quer homem da actualidade seja o resultado da transformação immediata 1885—D de um macaco. E Spencer, que discute proflcientemente a questão, nos seus «Princípios de biologia» diz que para se dar a transformação orgâ- nica que traz a geração espontânea, é mister longo espaço de tempo, e não se faz em poucas horas, como nas substancias organicas ex- postas ao ar. SEGUNDA PARTE íuurçia umwmik i« «i«m Dissemos no começo do nosso trabalho, com toda a convicção, real e sincera, sem o desejo de seguir o modernismo com a immolação da nossa consciência, que toda a moléstia infecciosa é de natureza para- sitaria. Agora que nas paginas anteriores estabelecemos o arca- bouço da nossa argumentação, dando conta das condições de exis- tência dos protoorganismos nosogenicos, é occasião de demonstrarmos aquella nossa proposição. Para isso estudaremos as theorias reinantes na sciencia sobre a patliogenia das moléstias infecciosas; analysaremol- asem face dos plienomenos que revestem e caracterisam a infecciosidade, procurando evidenciar, servindo-nos de peanha inflexível os severos princípios da lógica, que a doutrina microbiana é a unica acceita- vel na estado actual dos nossos conhecimentos. O processo infeccioso é explicado ou por uma verdadeira into- xicação do organismo, por um principio gazoso solúvel no ar, ou na agua, emanações resultantes da decomposição de substancias ani- maes ou vegetaes ; ou por uma fermentação interna, cujo factor fer- mento é constituído, segundo uns, por substancias organicas, solidas, azotadas e oxygenadas, que esparsas n’aquelles meios,sendo absorvidas produzem a moléstia ; segundo outros por organismos inferiores. Procuremos entretanto elucidar, qual d’estas theorias mais se consorcia com os plienomenos que acompanham sempre as moléstias infecciosas, que caracterisam-n’as e constituem o seu criterium, e cujo estudo passamos a fazer. A disseminação das moléstias infecciosas faz-se ás vezes com assombrosa rapidez, atravez de grandes distancias, porém de um modo irregular e descontinuo, poupando logares e devastando outros contí- guos, revestindo-se a moléstia de todos os horrores aqui, para apre- sentar-se benigna um pouco além.Este facto é de observação commum; estamos sempre vendo a febre amarella poupar certos bairros, por sobre os quaes salta,para ir infestar outros que lhes ficam limitrophes. O cholera muitas vezes respeita um lado inteiro de uma rua emquanto seva-se opiparamente nos moradores do outro ; o mesmo dá-se com a febre typhoide. Não ha, pois, uniformidade homogeneana distribuição da moléstia. A multiplicação é um caracter essencial das moléstias infeccio- sas,—é a consagração pathologica do facto biblico da multiplicação dos pães. A’ excepção da malaria, todas as outras são susceptíveis de re- producção, e esta não pôde ser senão a resultante da multiplicação do agente causal da moléstia ; ura só caso é sufficiente para infeccionar uma cidade, uma nação inteira, e bastaria para assolar todo o globo se todo o globo apresentasse as mesmas condições telluricas e meteo- rológicas. Na historia da medicina acotovelam-se innumeros factos d’esta natureza. A’ ilha Friedeland chegou um indivíduo affectado de escarlatina, e em pouco tempo a população ficou reduzida a 1,000 almas, de 9,000 que eram.Uma creança de 21 mezes accommettida de uma diar- rhéa gravíssima symptomatica do cholera, chegou a Antenburg era Agosto de 1865 ; em poucos dias toda esta cidade e a cidade vizinha de Werdan eram dominadas por uma epidemia que disimou dons terços dos seus habitantes. Em 1849 chegou ao nosso porto o navio Navarre, trazendo um doente affectado de febre amarella adquirida na Bahia onde reinava então esta moléstia ; este doente trazido para terra foi o fóco de irradiação de uma das mais mortíferas epidemias que temos tido. Incubação.—E’uma phase constante das moléstias infecciosas, intermediária á penetração do principio pathogenico no organismo e á explosão da moléstia, parecendo a expressão de um processo prepa- ratório, de um trabalho de elaboração qualquer por que passa esse principio até adquirir força symptomatogenica Ha sempre reproducção da mesma moléstia. — E’ um facto incon- testável: varíola contamina sempre varíola, diplitheria produz sempre diphtheria etc. Accommettem umas especies animaes e respeitam outras. — E’ também um facto de observação banal; o carbúnculo que poupa o cão e o cavallo, accommette o carneiro, o boi, o homem e o coelho; o mormo respeita o cão e o boi, e ataca o cavallo, o asno, o homem e o coelho ; a syphilis, que é o grande flagello do homem, e pôde ser ino- culada ao macaco e ao porco, não assalta os outros animaes; muitas especies animaes têm a sua tsenia particular que somente nellas se desenvolve. Localísação dos viras.— A predilecção dos virus para certos apparelhos, orgãos, ou líquidos da economia, lympha, sangue, etc., tem sido averiguada de um modo positivo e terminante. O virus rábico exerce a sua terrível acção sobre o systema ner- voso central e peripherico, onde localisa-se, assim como na saliva. O virus das moléstias eruptivas tem particular preferencia pela pelle. O do beriberi vai para a medulla, o da febre typhoide e o do cholera para os intestinos, o da diphtheria, para o pharynge e o larynge, o da tuberculose para os pulmões, etc., e outros que seria longo ennu- merar. Variações de intensidade.— Em todos os tempos tem sido obser- vada a gravidade variavel das moléstias infecciosas, vendo-se por ex,, ao lado de indivíduos nos quaes se desenvolvem um a um a gamma dos symptomas mais aterradores da moléstia, outros nos quaes ella se desenha tão subtil, que chega a deixar duvidas no espirito do medico, sobre a sua authenticidade. Immunidade.—Póde se effectuar de dons modos. Já um grupo de indivíduos, por condições de raça, de constituição, de clima, ou outras é refractário á moléstia por maior que seja a sua in- tensidade; os crioulos das Antilhas têm uma completa immunidade relativamente á escarlatina e ao sarampão, facto este assignalado pelo 38 Dr. Rochoux; o negro e o crioulo, entre nós, para a febre amarella e o impaludismo, assim como preferencia para o cliolera. Já o indivíduo resiste a ella em virtude ou de um primeiro accommettimento que lhe garante um certo gráo de immunidade, ou também em virtude de certas condições próprias, especiaes, mas susceptiveis de falharem, porque um bello dia, depois de uma resistência por duas, tres, quatro, dez, vinte vezes, o individuo adquire a moléstia e d’ella póde fal- lecer. Reapparecimento em uma localidade sem importação próxima.— Testemunho inatacavel deste facto é a segunda e recente invasão do cliolera em Marselha e Toulon este anuo, sem uma origem plau- sivel e conhecida; é a nossa infortunada condição de feudo da febre amarella, que desconhecida entre nós, mas uma vez importada, domi- ciliou-seno nosso paiz, conquistou fóros de cidade, e hoje nos avassalla e nos opprime com os seus instinctos vandalicos; é a reviviscencia, por exemplo, da variola sem uma causa explicável, em logares que pareciam por ella de todo esquecidos, e onde é conhecida apenas por longinqua tradição. Ahi ficam rapidamente expostos os caracteres principaes e incon- trastaveis das moléstias infecciosas. Vejamos agora, qual das theorias de que falíamos,—veneno solúvel, principio solido orgânico, ou orga- nismos inferiores, microbios, mais se consorciando com estes caracteres, mais clara e suasória interpretação dando da sua evolução, nos coage a aceital-a como lógica, verdadeira e scientifica. A primeira d’estas doutrinas, a que faz consistir o agente morbi- genico em uma substancia chimica em estado gazoso, ou solúvel na agua, remonta á antiguidade, pois já Bichatfez experiencias tendentes a demonstrar que os gazes fétidos que se respira nas salas de dissecção são os productores das chamadas—febres de amphitheatro, e penetram, no organismo pelos pulmões e pela pelle. Mais tarde, em 1822, Gas- pard, em uma serie de trabalhos experimentaes tentou demonstrar as propriedades pathogenicas dos gazes desprendidos pelas matérias em putrefacção, injectando-os nas veias de animaes. As injecções de acido carbonico e de hydrogeno sulfurado foram innocuas, mas as de ammonia trouxeram accidentes graves. Estas experiencias repetidas por Billroth, que as estendeu a todos os gazes da putrefacção, foram seguidas de phenomenoslocaes, porém completa- mente negativas quanto aos symptomas geraes. Concluindo do resul- tado dos seus trabalhos tão exíguos que os gazes da putrefacção eram o agente determinante da infecção septicemica Gallard commetteu uma ingenuidade scientifica tal, que só o nivel da sciencia em sua epocha o justifica. Esta doutrina foi ainda sustentada por Panum, para quem o virus séptico era um composto chimico dissolvido nos líquidos das matérias em putrefacção, ou adherente á sua superfície, d’onde des- tacavam-se por lavagens successivas. Em prova da sua opinião elle submetteu essas matérias á distillação, e verificou que, nem a eva- poração por longa ebullição tinha o poder de destruil-o. Para elle havia uma perfeita analogia entre o virus séptico e os alcalóides e o veneno das cobras : seu poder é tão considerável que basta doze milligrammas para matar um cão de pequeno talhe. Bergmann procedeu de outro modo, partilhando embora o mesmo modo de pensar de Panum. Filtrou as substancias em experiencia; aqueceu á ebullição o liquido fervido, tratou-o em seguida pelo álcool e o ether, e verificou que elle conservara suas propriedades toxicas; d’onde, concluio, deve haver um corpo solúvel, isolavel, não volátil, eminentemente activo e difíusivel, e productor da septicemia. Depois de longo e paciente trabalho, Bergmann conseguio obter um composto chimico que, combinado ao acido sulfurico, crystallisava em agulhas muito delgadas, producto que denominou sulfato de sepsina. Ora, a inoculação d’esta substancia dando logar á explosão de symptomas geraes graves, era logico concluir e assim o entendeu Bergmann, que realmente tinha encontrado o agente da infecção pútrida. Yerneuil acredita na sepsina, apenas como uma expressão própria para testemunhar a idéa que elle faz de um veneno unico. A idéa da intoxicação do organismo por um principio chimico, não ficou restricta á septicemia, mas estende-se a quasi todas as moléstias infecciosas. E na realidade existem algumas analogias bem accentuadas entre o conjuncto de symptomas que se dão no envenena- mento eos que se passam na infecção. O professor Jaccoud descreve-as em uma synthese rapida, mas tão completa, que não podemos furtar-nos ao desejo de transcrevê-la para o nosso insignificante trabalho: « Eis o traço commum e fundamental das moléstias toxicas e das infecciosas ; n’estas, como n’aquellas, a causa é especial; a inalaria, o veneno cholerigeno são verdadeiras individualidades etiologicas, não se assemelham a nenhuma outra causa mórbida; a causa é unica para uma mesma infecção ; a causa é necessária ; a causa é sufficiente, se bem que n’esta classe de moléstias, os elementos communs da etiologia não têm mais que uma importância secundaria; n’estas, emfim, como n’aquellas, ha uma relação constante e exclusiva entre a causa e o effeito produzido, de sorte que o veneno infeccioso é claramente revelado por seus effeitos, mesmo quando não se tem verificado sua introducção no organismo. Assim como, para servir-me do mesmo exemplo, se reconhece o envenenamento arsenical, ainda que não se tenha assistido á ingestão do arsénico ; assim se reconhece por seus accidentes especiaes, o envenenamento palustre, o envenenamento cholerico, ou typhico, mesmo que não se tenha sido testemunha da absorpção destes venenos « A identidade entre as moléstias infecciosas e as moléstias toxicas persiste ainda, se examinarmos quaes são as vias de absorpção das duas ordens de veneno ; porque estas vias são as mesmas.» Estas analogias, porém, ficam de todo eclypsadas pelas profundas divergências que vamos fazer resaltar, pelo confronto dos phenomenos que constituem a intoxicação com as que caracterisam a infecciosi- dade, acima expostos. Disseminação.—Como explical-a racionalmente com sua variedade de formas e descontinuidade de marcha, invocando-se a theoria de um veneno solúvel no ar ou na agua? Pois póde-se conceber um veneno diffuso no ambiente saltando um individuo e respeitando outros que lhe ficam ao lado, quando sabe-se que elle não faz selecções em seus assaltos, écego em seu caminho, prepotente em seus dominios? Se em uma sala fechada se effectuasse a vaporização rapida de um pouco de acido cyanhydrico, não se iria com certeza encontrar no fim de algum tempo, junto de homens cadaveres, outros em plena saude, incólumes acção eminentemente toxica d’esse acido ; se collocarmos sob uma grande campanula muitos coelhos da índia, por exemplo, e n’ella aban- donarmos uma esponja embebida em chloroformio, a acção hypnotica d’esta substancia reyelar-se-ha, não sobre um ou ontro d’estes animaes, mas sobre todos. Multiplicação.—É o mais formidável escolho da theoria que ana- lysamos, porquanto é um axioma, substancia chimica não se multi- plica, a acção do veneno se esgota no individuo atacado, e a transmissibilidade e disseminação das moléstias infecciosas são factos irrefragaveis da multiplicação da sua causa, —E’ tão pode- rosa esta razão que, subsistindo isolada, bastaria para nulliflcara theoria chimica, que aliás conta ainda hoje numerosos proselytos. Incubação. A iutroducção no organismo de um veneno é seguida de perto da explosão de symptomas alarmantes, por isso que rapidamente se effectua a absorpção. E’ verdade que pôde a administração se fazer pouco a pouco e a marcha da intoxicação ser insidiosa, lenta e progressiva, assim como póde dar-se o accumulo supportavel do veneno na economia, até um extremo em que a tole- rância é quebrada para explodirem ruidosamente os phenomenos do envenenamento. Mas não é a hypothese, nem o facto real tal qual se dá na infecção ; um individuo, por exemplo, atravessa uma localidade onde reina uma epidemia, ou soffre a inoculação de um virus, retira-se para um logar indemne, sadio, e só no fim de alguns dias manifestam- se os primeiros symptomas da moléstia. Ora este periodo intermediário durante o qual o individuo não soffre alteração apparente no seu fimccionalismo orgânico, embora já se tenha discutido, se constitue um estado de saude, ou de moléstia, não existe nas verdadeiras entoxi- cações. Logo, ainda aqui a theoria chimica fallece a uma analyse, mesmo superficial e ligeira. Ha sempre reprodução da mesma moléstia.—E’ verdade que a doutrina do veneno solúvel póde explicar o apparecimento constante da mesma moléstia, mas somente quanto ás que são exclusivamente miasmaticas, e sabemos que só a inalaria é incluida n’esta classe- Nas contagiosas ou miasmatico-contagiosas, ha reproducção no meio exterior ao organismo do principio etiologico, e já vimos que 1885-D uma substancia chimica não é absolutamente susceptível de multipli- car-se ; d’onde, se a doutrina cliimica pôde explicar a producção da mesma moléstia, não explica com certeza a sua reproducção como está no enunciado. Accommettem umas especies animaes e poupam outras.—E’ sabido e aliás intuitivo que uma substancia chimica não discerne entre especies e raças para produzir depois a sua acção; o que se observa são variações na intensidade dos seus effeitos, o desencadeiamento rápido e apparatoso dos symptomas em uns animaes contrastando com a marcha lenta e tranquilla em outros, factos estes devidos á differença de dóses exigidas para o mesmo effeito em indivíduos de especies varias, e á diversidade de mecanismos funccionaes, de consti- tuição anatómica e desígnios physiologicos d’esses indivíduos. Mas a regra é esta: os venenos não respeitam especies animaes. Ora, nas moléstias infecciosas, é o contrario que se verifica; lia algumas próprias do homem, que nem por inoculação virulentissima se manifestam em animaes, e entre estes ha algumas que só affectam determinada especie. Logo, as infecções não podem ser produzidas por um principio chimico. Localisação dos virus.— A’ excepção de um pequeno numero de intoxicações chronicas, cujo agente pathogenico domicilia-se de prefe- rencia em certos orgãos,em todos os outros casos de envenemento agudo a substancia toxica encontra-se em proporção quasi uniforme em toda a economia, embora este ou aquelle orgão resinta-se mais da sua acção, por condições especiaes a que se póde denominar idyosyncrasia orgâ- nica. Ora, na maioria das moléstias infecciosas, ha verdadeira locali- sação do virus; na raiva é o bulbo, na pneumonia o pulmão, no cholera os intestinos etc.; d’onde se póde ainda desta vez concluir, que a dou- trina chimica não se conforma bem com os factos. Variações de intensidade.—N’um cubículo de uma estalagem são accommettidas simultaneamente de febre amarella tres pessoas; em duas a moléstia desenvolve-se em poucos dias com todos os seus sym- ptomas aterradores e os doentes morrem; em uma, a moléstia stereo- typa-se por seus phenomenos capitaes, porém, marcha tão benigna e rapida que em alguns dias o doente restabelece-se ; vê-se ao lado do cholera grave, o cholera benigno, ao lado da febre typlioide grave a febre typlioide benigna. Como justificar n’estes casos frequentes a hypotliese de nm ve- neno solúvel no ar? Como póde elle ser ao mesmo tempo tão forte, que traga a morte aos dous primeiros doentes, e tão fraco que produza só uma leve alteração na saude do terceiro ? Ha ainda uma razão vigorosa contra essahypothese. Como muitas vezes a moléstia se desenvolve, produz os seus effeitos e não foge bruscamente, mas persiste bastante tempo n’um quarteirão, n’uma rua, ou n’uma cidade ; se fosse uma substancia chimica dissol- vida no ar atmospherico o agente morbigenico, a evolução da mo- léstia não se faria em um tempo approximadamente certo, raros casos de cura se dariam, e as recahidas e reincidências seriam a regra. Com effeito, permanecendo o principio chimico patliogenico, a mo- léstia não teria nina marcha regular, porque novas e constantes pene- trações d’esse principio se fazendo no organismo, ella duraria tanto quanto a subsistência d’esse elemento etiologico no meio exterior; raros casos de cura se dariam, porque não é concebivel que a absorpção continua de um veneno, que, em dóse minima é bastante para produzir uma moléstia grave, não determinasse promptamente a morte do doen- te ; as recahidas e reincidências seriam a regra, porque repetidas intro- ducções d’esse veneno na economia, durante a convalescença, ou após a cura, igualmente constituiriam a regra. Isto significa simplesmente que, as substancias chimicas, os ve- nenos, actuam proporcionalmente á sua massa, o que não acontece com os virus. Se com uma dóse de arsénico manifestarem-se os symptomas iniciaes de envenenamento, augmentando-se-a, este se accen- tuará, e se accrescentar-se ainda mais, a morte será a consequência infallivel. Póde-se traçar muito approximadamente a raia limitrophe entre a dóse therapeutica e a dóse toxica de quasi todas as substancias, sal- vas algumas condições individuaes, idyosincrasicas, que aliás, não preponderam nos effeitos. Ora, com os virus isto se não dá ; uma mo- lécula tenuissima de pús varioloso produz variola com uma confluência e gravidade iguaes á que se obteria com a inoculação de milhares de moléculas semelhantes á primeira; e por outro lado esta quantidade seria incapaz de produzir a moléstia em outro individuo garantido por condição de immunidade. Em summa, a hypothese de um veneno so- lúvel no ar, ou na agua, não explica os phenomenos que se passam na disseminação das moléstias infecciosas. Immunidade.•—A resistência do organismo, já uma vez accom- mettido por uma moléstia infecciosa, a nm segundo ataque, não encontra na doutrina chimiatrica interpretação racional. Se qualquer substancia uma vez empregada tornasse uma segunda administração improfícua, mal estaria a therapeutica, que procura sempre executar o aphorismo hippocratico — « Quod applicata juvat, continuata sanat. » E’ certo que ha factos averiguados de tolerância relativa do organismo á acção de alguns venenos, constituindo o chamado mithridatismo, do celebre arsenicophago —; mas taes factos se realisam pela força do habito, que na phrase vulgar crêa uma segunda natureza; e se um individuo n’estas condições, abandonar o seu vicio por algum tempo, e voltar depois a elle na dóse em que o deixou, apresentará infallivelmente symptomas de envenenamento. Na immunidade o facto é outro. Depois da evolução da moléstia e cura do doente este póde, passados longos annos, achar-se em um fóco intensissimo da infecção sem de novo adquiril-a. E’ este. phenomeno de enormes vantagens praticas, que a chi- miatria é incapaz de explicar. 0 reapparecimento da moléstia sem uma importação recente, só póde ser explicado pela doutrina bacteriana. Com effeito, e como preliminar, não se comprehende o factor importação tal como é acceito em pathologia,intimamente ligado á idéa de multiplicação,exercido por uma substancia chimica ; porquanto, a palavra importação não traduz n’este caso o recebimento aguardado d’essa substancia preparada e acondicionada para o seu destino, mas simplesmente o transporte atravez de grande distancia do agente productor de uma moléstia, que assolando uma localidade vai irromper em outra, tomando por si, arbitraria e muita vez furtivamente um meio qualquer de conducção; ora, a substancia chimica na hypothese vertente, é solúvel no ar, e n’esse estado não explica a importação, porque ar não se transporta, senão recolhido e fechado adrede; impregnando diversos objectos, não é ignalmente concebível, porquanto solnvel no ar e por elle constantemente banhado, tenderia sempre a n’elle se derramar, até um ponto em qne cessaria toda a impregnação.— 0 ar contido por um navio que deixa o nosso porto não é precisarnente o que elle encerra, quando chega a um longínquo ; nós não carre- gamos para onde vamos o o gaz carbonico, etc., do ambiente que nos cerca em casa. Se o meio da transplantação da moléstia é uma pessoa por ella accommettida, é mister que dê-se a multiplicação do agente morbigenico, e applicam-se então as considerações, que fazemos no paragrapho com este titulo. Mas concedamos por um momento que este nosso raciocínio não tem razão de ser, e que é uma realidade o facto que contestamos; a importação entra positivamente nos domínios da çhimiatria. Ob- serva-se que uma moléstia infecciosa, depois de longo periodo de tregoa absoluta, invade de novo uma localidade, sem que se possa filiar a sua origem a uma importação recente ; exemplo, a volta á Mar- selha e Toulon do cholera que tem seus limites naturaes perfeita- mente demarcados ; a endemia actual do mal de Sião entre nós, evi- dentemente importado em sua primeira devastação no nosso paiz. Pois bem, affirmamos, taes factos não se coadunam com a theoria chimica : se o principio d’esta natureza, não sendo passível de multi- plicação, actua pela sua quantidade primitiva, pela sua massa origi- naria e statica, parece intuitivo que, esgotado nas desgraçadas victimas que exterminou em sua passagem, estaria terminada a epidemia até nova immigração morbigenica ; no entanto ha um periodo de pausa e uma irrupção consecutiva, sem importação que a racionalise. Examinemos agora a doutrina do principio solido suspenso no ar, ou na agua. Nasceu com a tlieoria catalytica da fermentação de Berzelius e Mitsoherlich e floresceu depois com a tlieoria mecanica concebida e 46 exposta com snmma precisão por Willis, e mais tarde vivificada e de- fendida com tal denodo e dedicação por Liebig, qne chegou a perder o nome do seu auctor. Em face de qualquer d’estas theorias a moléstia é uma fer- mentação interna do organismo, e como a fermentação é o resul- tado, ou do simples contacto— segundo Berzelius, ou, segundo Liebig, de um movimento particular da substancia-fermento, o qual communicado á matéria fermentescivel destróe a união de seus elementos constitutivos, póde-se admittir que o principio morbigenico é uma substancia solida suspensa no ar e dotada d’estas pro- priedades. Pasteur, porém, com os seus trabalhos experimentaes, solapou pela base estas theorias, tornando-as incapazes de servirem de pre- missas a qualquer dedncção scientifica. Assim, elle fez a seguinte experiencia: a uma solução de assucar puro addicionou uma pequena quantidade de um sal de ammonia crystallisavel, e depois phospliatos de potássio e de magnesia, e semeiou n’este meio uma quantidade infi- nitesimal de cellulas de levedo fresco:—as cellulas sementadas multi- plicaram-se e a fermentação do assucar manifestou-se, isto é, o azoto da ammonia e o carbono do assucar, o pliosphoro, o potássio, o magnésio dos saes mineraes reuniram-se para constituir os principios chimicos proprios aos diversos materiaes que compoem o fermento. Esta expe- riencia, altamente demonstrativa, do poder de organização do fermento é o desmoronamento completo das duas precitadas theorias da fermen- tação. Da catalytica, porque affirma a simples acção de presença, ou contacto do fermento,—elle nada cede e nada ganha na sua funcção, e póde ser comparado ao papel da esponja de platina na formação da agua— entretanto, acabamos de o vêr, a matéria fermenticivel forne- ceu ao fermento um dos seus elementos essenciaes — o carbono. Da mecanica, porque invoca um movimento communicado, partido de uma substancia albuminóide, e entretanto esta substancia foi supprimida na experiencia. Tudo se passou entre o assucar e um germen de fermento ; a fer- mentação é, pois, um simples phenomeno de nutrição, e a moléstia in- fecciosa, sendo considerada uma fermentação, não póde reconhecer como agente immediato e determinante nina matéria organica suspensa no ar atmosplierico. Além (Vestas razões, applicam-se á esta hypothese, todas as consi- derações que fizemos sobre a theoria cliimica. Não sabemos se é aqui que melhor assenta a exposição da doutrina dos microsymas, como, acreditamos, não o saberia ignalmente o seu autor. De perfeito accôrdo com as boas leis do methodo, poderia ser tratada—quando estudámos a geração espontânea, porque é umatheoria que erige, embora involuntariamente, em principio fundamental a plasmogenia deHoeckel;—neste momento, porque os elementos iniciaes da evolução pathogenica são granulações solidas organicas de que ora nos occupamos;—d’aqui a pouco,porque o ultimo termo d’esta evolução é a formação .de bacterios, agentes reaes immediatos da moléstia, de que iremos dar conta em breve. Preferimos, entretanto, tratar d’ella já, para aproveitarmos a critica que acaba de ser feita á outra theoria, e reservarmos o ultimo logar para a que aceitamos. Em uma questão tão discutida e emmaranhada, já tardava mesmo que não surgisse um ecletismo conciliador. 0 professor Béchamp trouxe-o, embora revivendo e amalgamando as velhas theorias « dos germens preexistentes» de Bonnet, das « moléculas organicas» de Buffon, e dos « globulinos punctiformes » de Turpin; mas, com a inten- ção de esclarecer o assumpto, deu-lhe uma explicação tão metaphysica e obscura, que continua-se na ignorância d’aquelle, e intrigado para chegar á comprehensão e fundamentos d’esta. Com effeito, dos maitos trabalhos publicados por Béchamp, já em collaboração com Estor, destacam-se os seguintes períodos, como esqueleto da sua doutrina : « Os germens dos proto-organismos existem abundantemente es- palhados em toda a matéria viva. Elles entram na constituição dos tumores, dos tecidos, dos elementos anatómicos e ahi produzem as fermentações physiologicas que regem a renovação molecular. « Os tecidos e as cellnlas, os organitos propriamente ditos, são vivos no sentido em que Bichat os concebia, porque suas actividades particulares e especiaes, são dependentes da vida e da actividade dos microsymas que contêm e que se formam. A unidade vital, o elemento vivo per si, onde quer que se manifestem irrednctivelmente as proprie- dades vitaes, não é nem o tecido, nem a cellula,—é o microsyma. « Por evolução funccional, ou mudança de funcção, elles podem tor- nar-se morbidos, quer conservando as suas formas, quer evoluindo para passar a vibriões; emfim, os microsymas morbidos, em virtude de sua aptidão para mudar de funcção, podem cessar de o ser no orga- nismo doente; voltando ao modo normal de sua funcção elles trazem a saude. «E se a morte sobrevem,sem perecerem mas perdendo suamor- bididade especifica, microsymas, vibriões tornados microsymas não podem soffrer a lei da putrefacção porque são os seus agentes. » (Communicação á Academia de Medicina de Paris. Sessão de 4 de De- zembro de 1883). « E’ preciso banir a palavra germen, quando se trata de vibriões ; não lia nem germen, nem ovo de vibrião. Um microsyma, organismo unicellular de uma pequenbez extrema, não é nem um germen no sen- tido embryologico da palavra, nem um ovo; elle é tudo o que pôde, por evolução, transformar-se em vibrião ; reciprocamente vibrião e o que por via de regressão, por scissiparidade, por divisão espontânea, pôde tornar-se um microsyma-. um microsyma dado, não é mais um vegetal do que um animal - é o que é, por destino. » {Le clwlera et la theorie du microsyma.— Communicação á Academia de Medicina de Paris, 18 de Setembro de 1883). «Um microsyma, se pudesse fallar, parodiando o poeta,exclamaria: Eu sou organizado e sou um ente vivo ; nada do que é da organização e da vida póde-me ser estranho.» {Les microsymas, pag. 592, 11a con- ferencia). « Sem microsymas não ha organização, e sem organização não ha vida ; eis o que é preciso admittir hoje como a expressão da verdade absoluta. (Ibidem, pag. 594). « Os microsymas são vegetaes nos vegetaes, animaes nos animaes, pois que constituem o que ha de primitivamente vivo em uns e em outros. » (Ibidem, pag. 661). Em primeiro logar, o que assalta de prompto o espirito é a nudez de todas estas asserções,despidas inteiramente de provas, sem um facto experimental para alicerce, e só baseada em parte, na observação microscópica. Realmente, a maioria das afíirmações do professor Bé- champ, é á toda evidencia, o resultado de uma elaboração tlieorica do seu cerebro, porque foge á toda a indagação material e positiva. Além d’isso, uma investigação microscópica para merecer con- fiança, por sua extrema delicadeza e pelas numerosas causas de erro a que está sujeita, deve ser cercada dos mais minuciosos cuidados. Entretanto, Béchamp, querendo derrocar as idéas da escola do Sr. Pasteur, que attesta a existência em toda a parte, á excepção do organismo em estado hygido, de germens e microhios, faz os seus trabalhos sem as precauções rigorosas de esterilisação aconselhadas. D’ahi, umas vezes vê no campo do microscopio microsymas organisa- dos,o que todo o mundo afflrma serem cellulas organicas, outras vezes são os germens espalhados na atmosphera que invadiram as suas pre- parações e ahi puderam evoluir, e elle affirma igualmente serem mi- crosymas. Demais, é de uma difficil penetração intellectual, e de uma de- monstração impossível, a constituição quasi que exclusiva do nosso organismo, por esses milhões de organismos autonomos, gozando vida própria, com funcções especificas, etc. Não é menos notável a harmonia entre todos elles, que conhe- cem as raias dominios territoriaes ; os microsymas do figado não vão para o estomago e o duodenum, apezar das snas relações de contiguidade e da sua liberdade ampla, a menos que não haja uma causa qualquer que os faça passar ao estado morbido, porque então in- vadem toda a economia e produzem a moléstia. Por isso, Bouchardat escreveu - um microsyma morbido, um microsyma em revolta é um pa- rasita. E’ também inverosímil e indemonstravel a metamorphose d’esses elementos physiologicos do organismo, em agentes pathogenicos. E sendo factível esta transformação, deveria operar-se em todos, porque a causa a que obedece, é também geral, condições metereologicas e outras; e d7esta fórma teríamos a revolta de todos os microsymas de um organismo, a cessação do todas as funcções, e por consequên- cia, da vida, A morte seria, pois, a regra em todas as moléstias infec- ciosas. 1855—D Elementos perennes de fermentações e em numero sufflciente, deveriam determinar a fermentaçõo total dos liquidos e de outros elementos anatómicos dos nossos organismos. Com esta theoria, fica igualmente incomprehensivel a influencia do systema nervoso no funccionalismo dos diversos orgãos, porque a funcção regular d’estes não depende do influxo nervoso sobre os seus elementos constitutivos, mas da disposição,ou não para o trabalho dos seus microsymas que têm as regalias de um ser autonomo e indepen- dente. Accresce ainda que a doutrina microsymiana não explica muitos dos caracteres essenciaes das moléstias infecciosas. Assim a existência do principio morbigenico no ar atmospherico, explicando a transmissibilidade das moléstias, o contagio, não é admittido por Bechamp: «Si donc 1’air atinospherique contenait des microsymas morbides, la contagiou serait la régle ou lieu d’êtrel’im- mense exception, et seulement quand 1’animal malade est proche » (Bechamp, ohservations sur les ãoctrinesmicroliénnes. Communicação á Academia de Medicina de 8 de Maio de 1883). A disseminação irregular e descontinua, a incubação, a im- munidade, a variedade no quadro symptomatico geral, etc., não podem ser interpretadas racionalmente pela doutrina do professor Bechamp. O professor Bauchardat, que aliás aceita a theoria microbiana da qual é extrenuo defensor,admitte,para explicar a origem dos bacterios, a existência e a transformação ulterior de organitos normaes do or- ganismo em agentes nosogenicos. Esta sua opinião incorre na mesma critica que acabamos de fazer á de Bechamp. Até aqui procurámos demonstrar que as moléstias infecciosas ca- racterisam-se positivamente por um certo numero de factos, em face dos quaes tentámos evidenciar o nenhum fundamento das duas theo- rias:—da substancia chimica solúvel, e a da substancia solida suspensa no ar. Resta-nos, pois, a tlieoria microbiana. Tendo deixado na Ia parte do nosso trabalho um numero conside- rável de factos que servem de base á doutrina dos germens ani- mados, vamos agora igualmente analysal-a, sem preconceitos mas com convicções adquiridas. A disseminação das moléstias infectuosas tem uma explicação clara e racional, por isso que decorre da existência de myriades de microbios e seus germens em toda a parte, como já especificámos al- gures, relembrando as pesquisas minuciosas de Tyndall e de Miquel no observatorio de Mont-souris. Se elles superabundam em todos os meios, á excepção do nosso meio interior e dos que possuem uma acção antiséptica real, é manifesto que podem penetrar nos organismos que circumdam por alguma porta que lhes esteja aberta, e ahi exercer a sua funcção pathogenica, se a possuem. A descontinuidaãe de sua acção resulta da sua desigual distri- buição, e esta prende-se muitas vezes á constituição physico-chimica variavel do ambiente em que habitam. Que a sua disseminação é irre- gular demonstram-no os rigorosos e reiterados trabalhos de Miquel, que escreveu um enorme volume exclusivamente sobre este assumpto, e as que avultam no livro sobre microbios de Tyndall. Que a consti- tuição do meio—pressão, temperatura, correntes de ar,principios chi- micos etc., concorre para esse facto, não ha duvida para quem conhece a susceptibilidade extrema d’estes pequenos seres. O caso que figu- ramos, da moléstia devastar, correr um lado de uma rua, respeitando outro, como acontece muitas vezes com o cholera e a febre typhoide, tem a sua interpretação na baixa do nivel d’agua subterrânea, que dá iogar á fermentação de substancias organicas ora exhuberantes, e se transforma assim em um vesuvio de irrupção microbiana. A multiplicação das moléstias infectuosas — o contagio — só póde ser explicada pela doutrina bacteriana. « Na natureza não ha senão uma força que possa produzir a multiplicação, é a força da vida: d’onde o contagio é a funcção de um elemento vivo.» (Bouley — Discussão sohre febre typhoide na Academia de Medicina de Paris — 1883). Isto que o bom senso estabelece a priori tem sido verificado experimeiitalmente. Ha moléstias, cujos microbios já se couseguio isolar, crear e multiplicar em cultura apropriada extra-organica, e com elles tem-se reproduzido a infecção com todos os seus symptomas. N’este grupo estão as duas especiesde carbúnculo, a septicemia, a cliolera das gallinbas, o rouget dos porcos, a raiva, o cliolera-morbus, o mormo (Bouchard e Koch), a tuberculose (Kocli). Existem muitos outros cujo bacterio pathogenico tem sido encontrado, mas cujo estudo experimental não está definitivamente estabelecido e carece de verificação ulterior. De posse, porém, da concepção theorica de que a virulência é funcção de um elemento vivo e dos factos mate- riaes e positivos que relatamos, podemos affirmar que a somma das moléstias do primeiro grupo irá augmentando com o aperfeiçoamento dos meios de investigação e com o numero de trabalhadores que se atirarem á luta. A incubação também só póde ser dilucidada pela doutrina que sustentamos. O microbio determina a moléstia depois da sua multipli- cação no nosso organismo, onde encontra elementos favoráveis á sua existência:—rouba-lhe os principios necessários á sua manutenção, em troco dos quaes deixa muitas vezes um producto de sua elabo- ração, que augmenta a sua nocividade, ou só por si a constitue. Ora, se é mister para a réalisação da funcçã o pathogenica do microbio, a sua pullulação em cópia sufficiente para vencer as resis- tências organicas e vitaes que encontra, é claro que deve decorrer um certo espaço de tempo entre a sua penetração nb organismo, e o inicio dos seus effeitos morbidos. —Esse periodo representado pela incubação do virus, varia em duração, segundo o microbio penetra directamente na torrente sanguínea, ou pelas vias respiratória, gastrica, etc. A reproducção constante da mesma moléstia é mais uma pedra para consolidar o edifício da escola do Sr. Pasteur. Realmente a doutrina dos germens animados é aunica que explana, á luz da razão, a especificidade dos virus. Hoje ninguém contesta a constituição organisada dos fermentos ; e o resultado da sua acção, que só se des- envolve em condições propicias, é sempre um producto unico; —a moléstia infectuosa que é uma fermentação não exceptua-se a esta regra.—Não está demonstrado, mas é racional acreditar-se, como causa da especificidade dos virus, que cada especie de microbio de- termina a fermentação de um dos princípios immediatos constituintes da substancia organizada de preferencia a um outro. Dissemos que é um caracter das infecções, accommetterem umas especies animaes, respeitando outras, e demonstrámos depois, que nenhuma das theorias que analysámos, dava uma explicação natural do facto. Entretanto sabemos que a constituição physico-chimica das diversas especies animaes varia consideralmente, — o sangue de um animal não serve para transfusão em qualquer outro; sabemos que o estado physico influe sobre a evolução microbiana por tal fórma, que, para a innoculação do carbúnculo a uma gallinha, é preciso baixar- llie a temperatura, a uma rã é necessário eleval-a; a trichina não se desenvolve no organismo dos reptis e dos batracios, mas elevando-lhes a temperatura o desenvolvimento completo da parasita se effectua ; sabemos, que é tal a suceptibilidade dos bacterios para o meio chimico, que o vibrião-fermento, que destróe o acido tartarico á esquerda, não exerce a minima influencia sobre o mesmo acido á direita, quando estes só differem entre si na sua acção sobre a luz polarisada ; sabemos com que difficuldade se chega muitas vezes a formar um liquido de cultura apropriado, onde um principio de mais, ou um de menos, corrompe as suas condições nutrientes ne- cessárias ; sabemos que uma partícula infinitesimal de sublimado cor- rosivo, por exemplo, é bastante para paralyzar o desenvolvimento de colonias inteiras de microbios nas condições as mais favoráveis ; pois bem, com taes elementos de raciocínio, com taes premissas, a con- clusão é uma e lógica —a doutrina microbiana interpreta satisfactoria- mente o phenomeno que estudamos, pela ausência de unicidade na constituição intima das diversas especies animaes, e pela archisusce- ptibilidade dos microbios á adaptação dos meios. Como deducção consequente d’esta verdade resulta tam- bém uma justificação clara para a localisação dos virus. Havendo no nosso organismo differença de um orgão para outro, em constituição somatica, em temperatura, em reacção, em funcção, em productos de 54 desassimilação e secrecção, etc., é evidente que o microbio irá habitar aquelle que lhe garante meios de subsistência, servindo-lhe de cultura natural. Em uma recente commuuicação ao Congresso da Sociedade de Cirurgia, Grawitz insiste sobre o facto que, são os orgãos cujas cel- lulas têm menos necessidades do oxygeno que se deixam de preferencia invadir pelo parasita. Um outro facto de observação banal é a dijferença da intensidade da moléstia em uma mesma epidemia. Resulta de duas causas—da constituição variavel do nosso meio interior, e da luta pela vida que se estabelece no seio do nosso organismo. A primeira é incontestável; a predominância de um ou mais systhemas do organismo sobre outros existe realmente, apezar da eterna discussão que tem acompanhado a theoria dos temperamentos. Da diversidade, por assim dizer, tangivel, de constituição organica de um individuo para outro, verificada pela maior ou menor abundancia das secrecções do suor, da saliva, da urina, pelo numero variavel de globulos sanguineos, pelas idyosincrasias,etc., póde-se concluir para dissimilhanças outras, em grande escala ou minimas, que se dão intimamente, mas não se exteriorisam de modo a se impôr á apreciação dos nossos sentidos. Ora, como o microbio produz a moléstia pela sua multiplicação, esta desigualdade de constituição acarreta differença de meio de cultura intra-organica, e dá em resul- tado modalidades varias da moléstia em sua intensidade. A segunda — a luta pela existência, é uma lei positiva a que o bacterio submette-se no seu assalto ao nosso ser. Não é impunemente que um ente estranho invade um corpo organisado em sua plenitude vital. A’ acção segue-se a reacção, a luta de prompto trava-se,e as suas peripécias reverberam-se no estado do doente, projectam-se na gravi- dade da moléstia. E como se o organismo humano muito póde pelo seu vigor, os microbios têm a vantagem de seu numero e da sua assom- brosa força reproductora, vê-se ao lado de um doente, em quem a moléstia desenha-se muito de leve, outro em quem observa-se a vio- lência do ataque mas também a energia com que o organismo auxi- liado pela therapeutica o repelle, e mais adiante um outro que agonisa nas vascas da morte. Decorre ainda d’estes factos, a diversidade que se nota muitas vezes no quadro symptomatico geral da moléstia. É igual- mente um facto de observação quotidiana. O impaludismo que se revela por suas formas communs assaz conhecidas, apresenta-se- nos ás vezes com physionomia insólita, já aterradora, caracterisada pelo accesso pernicioso, já benigna, traduzida pela affecção larvada. A tuberculose que tem o seu typo comraum, na marcha torpida «caminhando a passo de boi,» e matando por consumpção, toma ás vezes um caracter medonho, marcha a galope, tudo devasta e com- promette, conduzindo o doente ao tamulo em poucos dias. As pyrexias exanthematicas, o cholera, a febre typhoide, e quasi todas as outras moléstias infecciosas, fornecem-nos outros tantos exemplos d’esta ordem. Tudo quanto acima deixamos exarado, é umfóco de luz a aclarar o phenomeno immunidade. A moléstia infecciosa é o resultado da acção de um principio morbigenico sobre o organismo animal. Ora, sendo esse principio um germen, na hypothese vertente que sustentamos, é necessário, para realisar-se a infecção, que o organismo invadido offereça um certo numero de condições que garantam a sua existência : elle é, segundo a expressão de Anglada, o factor interno da moléstia, como o microbio é o seu factor externo. Uma semente não germina em qualquer terreno, requisita uma constituição intrínseca favoravel, hu- midade e temperatura em gráos convenientes, processos artificiaes di- versos. O mesmo se dá com o germen que é uma semente: o organismo deve se achar em estado de receptividade ou predisposição. Um exemplo; Walli que fez as mais extravagantes experiencias para demonstrar o não contagio da febre amarella,ingerindo vomito negro, lavando o rosto com esta matéria, cujas emanações respirou a amplos bronchios sem o menor resultado, vestindo, em ephoca muito pos- terior, a camisa ainda quente de uma victima dessa moléstia, foi por ella atacado e falleceu. Esta opporkmidade mórbida, como a chamou Jaccoud, é diíferente para cada moléstia. Uns parasitas como o bacillus tubercidi preferem para seu habitat as ruinas produzidas na economia por um enfra- quecimento lento da nutrição, estado a que Landousy denominou bradytrophico ; outros exigem um meio acido, como o didium albicans-} outros fazem selecção de raça, como o impaludismo com o negro no Brazil,—respeita-o ; a nobre escarlatina escrupulisa-se em affectar o creoulo das Antilhas. E em muitíssimos outros exemplos que poderíamos accrescentar, verifica-se a immunidade, só concebivel por differença de condições phy- sico-chimicas entre individuos da mesma especie, o que significa diife- rença de meios de adaptação e cultura para os bacterios patliogenicos. Outras vezes, como dá-se, por exemplo, com o virus rábico, o ger- men é impotente para atravessar as nossas mucosas protectoras, e só consegue penetrar no interior do organismo, por innoculação directa ou por alguma erosão fortuita que lhe sirva de porta, e desde que esta não existe, a moléstia não se manifesta, ha immunidade. O facto de um primeiro accommettímento ser até um certo ponto garantia de immunidade, passa a ter uma interpretação racional mediante a theoria parasitaria, comparando-se-o com o que se passa em um meio anteriormente fermentescivel e já fermentado. Quando uma solução assucarada fermenta sob a influencia do levedo de cerveja até não mais restar assucar, póde-se juntar novas quantidades de fermento, que nova fermentação não se effectua. E’ exactamente o que se passa na infecção. Poderão objectar-nos : se o germen consome pela fermentação que determina, algum principio orgânico, é natural que este se reprodu- zisse terminada a sua destruição e desapparecido o agente destruidor. Mas por que ser precisa a sua regeneração ? Por que julgal-o necessário á nossa economia, e d’ahi, obrigatória a sua reproducção, quando é o contrario que, pelo facto em discussão, parece razoavel ? Na verdade, se o individuo, por já ter sido aífectado por uma moléstia, adquire uma notável resistência a um segundo assalto, é logico que da segunda vez elle não estava em condições absolutamente idênticas á primeira, e mais do que logico, que a moléstia não forneceu- lhe em paga uma substancia prophylatica, servindo-lhe de egide em caso de novo ataque : com o seu instincto eversivo, ella nem tem a genero-* sidade dos salteadores calabrezes, que davam ás suas victimas o santo e a senha para livrarem-n’as de novos tormentos. Se é porque a infecção deixa algum principio, qual o mecanismo da immunidade ? 57 Se não é, porque negar a destruição de um elemento fermentescivel, cuja reconstituição ou não se effectua, ou marcha lentamente ? Demais, a predilecção de certas moléstias para esta ou aquella idade, mostra claramente que a nossa constituição não é immutavel, de modo que a ausência de elementos minimos seja incompativel com a vida, e elles tendam a rapidamente restabelecer-se. A coqueluche, por exemplo, é quasi que exclusiva da infanda, o que significa que, nesta idade, o homem possue para dar-lhe receptividade um quid que des- apparecerá com o tempo, se a moléstia não o eliminar. A preferencia de algumas infecções para os não acclimatados, indica positivamente que elles possuem um elemento que nos falta e os torna aptos a contrahil-as. Porque não ser a substancia fermentes- civel necessária ao germen-fermento ? As reincidências observadas tantas vezes, demonstram que em alguns casos, ou dá-se a reconsti- tuição da substancia fermentescivel, ou o fermento vigorosamente combatido pelo organismo accommettido e pela tberapeutica empre- gada, em logar de destruir, é destruido, deixando ainda matéria fermentescivel. D’ahi o preceito pratico, o gráo de immunidade augmenta com a gravidade da moléstia. Accresce que esse principio pócle ser insignificantissimo pela sua fimcção e pela sua quantidade, e exercer um papel preponderante na cultura do parasita. E’ o que se observa com o vibrião-fermento do acido tartarico; é o que collige-se do seguinte facto; Roulin, estu- dando no já celebre laboratorio da rua d’Ulm, de Pasteur, o sterigmatocystes niger, conseguio formar o seu liquido de cultura apropriada, assim composto : Agua 1500,0 Assucar candi 70,0 Acido tartanco ãã Nitrato de ammonia ; 4,0 Phosphato de ammonia } ãà Carbonato de potassa. ) 0,(30 Carbonato de magnesm 0,40 Sulfato de ammonia 0,25 » » zinco 0,07 « » ferro 0,07 Silicato de potassa 0,07 1885—D Pois bem, a ausência de qualquer d’estas substancias era bastante para embaraçar consideravelmente, ou tolher mesmo a pululação do microbio, e a presença de algumas outras a impedia em absoluto ; assim —de nitrato de prata on de sublimado corrosivo promoviam a sua esterilidade completa. Para o Dr. Grawitz a immunidade resulta « da adaptação das cellulas dos tecidos animaes ao poder de assimilação tão energica dos cogumelos, e sua duração durante mezes ou annos é devida a que esta propriedade das cellulas se transmitte por herança » (Revista das Sciencias Medicas, 1882). E’ afinal uma theoria, mas que não se estriba em base experimental e solida. Na primeira parte do nosso trabalho dissemos que era uma ver- dade adquirida, depois de numerosas experiencias, a resistência dos corpusculos-germeus ás diversas causas destructoras. Elles gosamdo quePasteur chamou uma vida latente, e Trecul uma actividade occulta; desde que circumstancias favoráveis se desenvolvem, a vida exhubera em assombrosa pululação, a actividade se traduz pelas funcções varias do microbio adulto. Duclaux conservou durante 13 annos germens de microbios com todo o poder de virulência. Pois bem, este facto justifica a ausência contrastada da im- portação, no reapparecimento de qualquer epidemia. As condi- ções telúricas e meteorológicas mudam extraordinariamente; e são por ellas, sabem todos, que se interpreta phenomenos estupen- dos passados no nosso planeta. Embora só as differenças notáveis de meio, sejam percebidas pelos nossos sentidos, ha outras, peque- nas, insignificantes, microscópicas, que constituem a — opportunidade cósmica — do professor Jaccoud, favorecem a nutrição dos germens, em hybernação por condições antinomicas ao seu desenvolvimento, determinam a sua passagem ao estado adulto, e despertam a sua func- ção pathogenica. E só por este modo póde ser comprehendido o longo intervallo entre duas epidemias da mesma moléstia, como as de variola, de escarlatina, de diphtheria, etc. Não terminam aqui as razões que militam a favor da theoria para- sitaria. Observa-se na maioria das infecções o plienomeno Jebre, ou es- sencial ou de causa organopathica, e n’este ultimo caso, nota-se fre- quentes vezes, um desaccordo real entre o gráo e a extensão da lesão, e a altura da columna thermometrica ; um erythema erysipelatoso insignificante, por exemplo, coincide com uma temperatura respei- tável, um foco pneumonico extenso com uma elevação moderada do calor normal. A febre idiopathica encontra uma explicação clara na doutrina microbiana pois, como resultado evidente de uma fermentação intra- organica, só a penetração de um germen animado no nosso meio interior a póde originar. A discordância factivel entre a temperatura e a lesão somatica, infirma o supposto papel pyretogenico desta, pois, o seu parallelismo devia ser regra sem excepção. Isto vem corroborar as crenças na sua unidade de origem queéafuncção vital do bacterio. O impaludismo é uma das moléstias cuja etiologia parasitaria é mais contestada, e entretanto é a que mais clara e penetrante inter- pretação traz para os diversos typos de que se reveste o seu symptoma febre. Com effeito,como argumento dynamite,levantado contra a doutrina microbiana applicada ao paludismo,é apresentada a falta deimmunidade adquirida que é um dos caracteres melhor averiguados das infecções; esta objecção, porém, não subsiste em face da causa immediata do phenomeno que estudamos. Dissemos que a immunidade era o resul- tado da destruição pelo microbio, de um principio qualquer indispen- sável á sua vida, mas dispensável á nossa, tanto que a sua recon- stituição não se eífectuava, e o nosso machinismo orgânico proseguia ; e accrescentámos depois, que a reincidência tinha logar ás vezes pela reproducção excepcional d’esse principio. Pois bem, o que é excepção nas outas moléstias, é a regra no impaludismo, por condições de meios especiaes á zona paludosa. Na realidade, sabemos que as lesões principaes da inalaria asses- tam-se no fígado e no baço; o que quer dizer, que é ahi que o germen pathogenico encontra terreno proprio e localisa-se ; e sabemos também que em um paiz intertropical como o nosso, aquelles orgãos trabalham tanto,que ao fígado os europeus chamam de pulmão dos paizes quentes, D’onde se conclue, que, producto de secrecção, ou mais provavelmente de desassimilaçâo, esse elemento necessário á vida do protoorganismo morbigenico, está em relação com o funccionamento exagerado dos orgãos d’onde derivam, e uma vez destruido tende a se reproduzir. Temos pois a base para a explicação dos typos na febre palustre. O microbio, penetrando no organismo, determina pela sua multi- plicação a fermentação interna especifica que produz a moléstia, e emquanto existe o elemento fermentescivel especial dura o accesso. Terminado aquelle, os microbios adultos morrem, e está igualmente terminada a exacerbação mórbida. Mas, como os microbios, localisando-se no fígado e no baço pro- movem a congestão activa e consequente irritação d’essas visceras, esse principio, já de formação facil, reproduz-se com rapidez e em larga escala, do que se aproveitam os corpúsculos germens deixados, e cujo poder de resistência conhecemos : ha o seu desenvolvimento ao estado adulto e a explosão de um novo accesso. Póde-se, pois, dizer que, na febre intermittente, cada accesso é uma reincidência da moléstia. 0 typo remittente indica que quando ia se esgotando o principio que mantinha a fermentescibilidade do meio interior, nova producção teve logar, e os microbios reduzidos em numero por falta de matéria substancial, de novo pulularam elevando a febre ao gráo em que estava. O typo continuo exprime que a um dado consumo corresponde producção igual. Os adversários da doutrina dirão que isto é apenas um ideal, uma theoria, sem verificação pratica possivel. Com certeza que, nem tudo se póde averiguar experimentalmente, mas desde que a base é firme, rigorosa e scientifica, o raciocinio sendo logico, a deducção é inatacavel. Quando excita-se um nervo motor, e vê-se o musculo ao qual se distribue, entrar em movimento, ninguém observa a passagem da excitação sob qualquer fórma, mas todos confirmam a ligação de causa a eífeito entre os dous phenomenos. Quando se administra uma substancia, e os seus elementos são elliminados mais tarde sob a fórma de compostos differentes, affirma-se que foi a reacção a, b, ou c que deu semelhante resultado, tal como se passa em um provete ; ninguém o vê, mais todos o reconhecem. Porque, pois, negar o direito do raciocínio cooperador de toda a doutrina, á theoria dos germens animados, quando sabem todos que a conhecem, a microbiologia assenta sobre um numero avultadissimo de experiencias ? A marcha regular, approximadamente prevista da pluraridade das moléstias infecciosas, depõe em favor da etiologia parasitaria. Já vimos que o principio chimico solúvel não a explica, porque esparso no ar, a sua penetração no organismo seria continua, portanto a moléstia o seria igualmente, e a morte tornar-se-hia regra infallivel pelo accumulo do veneno. Quanto á matéria solida suspensa no ar ou na agua, se admittirmos a sua acção como substancia chimica, tollitur questio ; se como fermento é representada por bacterios, segundo está hoje deímitivamente estabelecido. Conhece-se qual o tempo médio que leva uma quantidade dada de fermento, para fermentar um determi- nado peso de matéria apropriada e a marcha que segue a fermenta- ção, os productos intermediários que se formam, etc.: os fabricantes de cervejas, vinhos, vinagre e outros,não andam ás cégas no seu negocio. Pois bem, é o que se dá em geral nas moléstias infecciosas ; o elemento fermentescivel existe em uma média commum, como todos os elementos do nosso organismo, os germens entram em numero que não póde variar muito (e mesmo é o factor que menos vale no calculo); a moléstia deve ter portanto uma marcha regular; e como na fermentação os mesmos phenomenos se revelam, nas moléstias infec- ciosas os mesmos symptomas se desenrolam, tomando-se, como é de rigor, em linha de conta, a differença que vai de um balão de labora- torio para o nosso meio interior, e a distincção a fazer-se entre o reactivo orgânico e o reactivo biologico. A doutrina microbiana vem ainda esclarecer a questão da especi- ficidade das lesões. Uma causa banal dá logar a uma lesão commum; a inspiração de gazes irritantes determina uma pneumonia muito dife- rente da pneumonia fibrinosa, infecciosa; a endocardite alcoó- lica é absolutamente diversa da vegetante, infecciosa; a angina catarrhal da diplitherica, uma ulcera escrophulosa de uma syphi- litica, etc. E’ devido este facto á predilecção dos germens para os orgãos onde encontra elementos de vida ; são os estragos que originam e as ruinas que deixam n’essa luta pela existência que leva-os a extra- hirem pela desaggregação organica, os principios que lhes são neces- sários, abandonando algumas vezes productos de secrecção ou excreção que augmentam ou determinam a lesão. A tlierapentica das moléstias infecciosas é um testemunho pode- rosíssimo, e um argumento soberano em favor da doutrina microbiana. E se apezar da resistência dos práticos, que empregam o tratamento antiséptico baseados na observação clinica, sem aceitarem a exis- tência de germens animados pathogenicos, o seu valor é esse e a sua applicação já tão extensa, calcule-se quanto beneficio á humanidade, e quanta gloria para a sciencia, quando a theoria parasitaria, com- partilhada universalmente como deve, descobrir-se pela perseverança no trabalho, ou um antiséptico geral, ou um especial para cada mi- cróbio. E’ verdade que, ao menos no laboratorio, o sublimado corrosivo tem actuado como parasiticida mais ou menos prompto, mas sempre in- fallivel, de todos os microbios em cujos líquidos de cultura tem sido addicionado, pelo que é considerado por alguns como o antiséptico uni- versal, como o inimigo invencível do reino do microbio. O professor Lister, em uma communicação á Real Academia de Londres, em Dezembro do anno passado, notificou que abandonara o acido phenico no tratamento e curativo antisépticos das feridas, e pas- sara a empregar com estupendo successo o sublimado corrosivo. Na Inglaterra e na Allemanha tem-se generalisado extraordinariamente o uso do bi-iodureto de mercúrio, e o professor Bouchard no Congresso reunido em Copenhague (1884), d’elle trata e fal-o entrar como factor importante na sua tabella dos equivalentes therapeuticos. Mas, dizíamos, a therapeutica das infecções justifica a sua etiologia parasitaria, O tratamento de Guerin, e o listeriano alliviaram de um modo pasmoso as estatísticas da sobrecarga de obitos pelas complica- ções pyosepticemicas, febre traumatica etc., e o tratamento por esses processos, todos o sabemos, tem por fim evitar a entrada pelas feridas, do vibrião pathogenico suspenso no ar ambiente. O sulfato de quinina é um antiséptico poderosíssimo e é como tal que dá sorprehendentes resultados no tratamento do impaludismo, da erysipela, da infecção puerperal, da septo-pyoemia, da lymphatite e muitas outras moléstias evidentemente infecciosas, cuja enumeração seria longa. O mercúrio na sypliilis, o permanganato de potássio—na blen- norrhagia, o sulfureto de cálcio na coqueluche, o iodoformio na febre dos tuberculosos etc., são exemplos da nossa affirmação. A vaccinação pelo processo do Sr. Pasteur, — attenuação do virus, e innoculação do virus attenuado, — entra hoje no numero dos factos positivamente estabelecidos na sciencia, não querendo isto dizer, porém, que não possa soífrer contestação por parte de espíritos cultos, onde a razão fria não esterilisou ainda o preconceito. O pro- fessor Petter, em uma das memoráveis discussões sobre febre typhoide na Academia de Medicina de Paris, vibrou rudes golpes da sua dialé- ctica eristica e terrivelmente irónica, contra a grande concepção do Sr. Pasteur. Mas a presença na tribuna do professor Bouley, strenuo defensor da doutrina microbiana, foi prompta para evidenciar a infelicidade e incerteza d’estes golpes que deixaram illeso o alvo, invulnerável como uma verdade absoluta. De um simples facto de observação que passaria talvez desaper- cebido a outrem, — a menor virulência do parasita do cholera das gal- linhas por culturas successivas, porém a longos intervallos, em presença do oxygeno do ar, o Sr. Pasteur chegou á verificação da attenuação dos virus, descoberta luminosa que augura o futuro da medicina pela hygiene, sem duvida superior ao da hodierna medicina pela thera- peutica. A attenuação dos virus, solida e estável como está firmada, é mais uma prova de elevada monta em favor da theoria parasitaria. Eis ahi exposta, em synthese, a serie de argumentos que nos levaram a aceitar a doutrina dos germens animados como elemento etio- logico das moléstias infectuosas. Conhecemos as objecções classicas de Panum, relativas á ebullição e filtração dos líquidos virulentos com conservação de sua virulência ; de Paulo Bert relativas á alta pressão do oxygeno excercendo-se sobre os microbios sem destruir o seu poder septicemico ; de Picot relativas á resistência dos protoorganismos patliogenicos á acção do silicato de soda — antifermentescivel poderoso; as de Colin, Billroth, Robin, afflrmando a ausência de bacterios na fermentação pútrida ; as de Richardson, Onimus, Stiller, que inocularam sem successo líquidos sobrecarregados de microbios ; as de Chauveau, Hiller e Paulo Bert, pretendendo estabelecer que era a presença de partículas de matéria organisada, e não a de organismos inferiores, a causa da virulência, nos virus da vaccina e do mormo. E’com grande pezar nosso, não podendo nos alongar mais, que não esmerilhamos estas questões, para provarmos, baseado em expe- riências archipositivas de Pasteur e seus discípulos, a improcedência e falsidade das precitadas objecções, que aliás hoje só possuem valor historico. Depois da sua penetração no interior do organismo em estado de receptividade mórbida, os infinitamente pequenos multiplicam-se prodi- giosamente á custa dos meios de nutrição que encontram, e determi- nam as manifestações subjectivas e a exteriorisação da sua força symptomatogenica, ou localisando-se inicialmente, e d’ahise irradiando como uma encyclia por toda a economia, ou produzindo o phenomeno inverso a este, ou localisando-se sem generalisação especial, ou gene- ralisando-se sem localisação determinada. Vamos ennumerar alguns exemplos que justifiquem e corroborem estes processos patliogenicos. Do primeiro grupo é frizante exemplo a pustula maligna; e tanto representa ella o ponto primitivo da moléstia, que cauterisada promptamente pelo ferro em braza ou pelos cáusticos parasiticidas, os phenomenos geraes deuteropathicos não se revelam. Na tuberculose, mesmo na sua fórma commum, torpida, verifica-se muitas vezes a sua generalisação partindo de um fóco original collo- cado nos pulmões ; outro tanto não se póde affirmar quando se trata da sua fórma miliar aguda, da granulia de Empis, onde a sua disseminação é tão rapida, a scena mórbida desenrola-se ás vezes por tal fórma tumultuaria, que não se póde afíirmar a sua origem, se no parenchyma pulmonar, se nas serosas também de sua preferencia, se em outro qualquer orgão. A diphtheria é para alguns auctores uma moléstia geral com deter- minação local, e para outros o inverso. E’ talvez uma questão de observação, ou talvez de interpretação. Dizem os primeiros : tanto é uma moléstia primitivamente geral, que ha symptomas prodromicos á lesão local, máo estar, inappetencia, calefrio, febre, etc. Dizem os segundos: não só em grande numero de casos não se observa esse período premonitor, como, quando elle se manifesta é devido á angina, ou pharyngite que é inicialmente inflammatoria para revestir depois os seus caracteres de especificidade. A pneumonia fibrinosa é exemplo do segundo grupo. Os auctores modernos, em sua pluralidade, revivendo as idéas hippocraticas, acreditam que a pneumonia é uma moléstia infecciosa entre outras pelas razões seguintes, sustentadas por Traube : Ia, a moléstia tem prodromos; 2o, a febre precede á apparição dos symptomas locaes ; 3o, termina por crise; 4o, analogia entre a febre pneumonica ea erysipelatosa; 5o, persistência dos phenomenos locaes quando a febre já tem cabido ; 6o, pela sua notável marcha cyclica. Sem pensarmos que o pulmão exceptue-se ao tributo das visceras organicas de se inflammarem por causas irritantes não especificas, acreditamos que na grande maioria dos casos a pneumonia é uma molés- tia infecciosa incluivel no segundo grupo de que falíamos— infecção geral com localisação especial. Do 3o grupo, isto é, do numero das moléstias que se localisam sem provocarem infecção geral do organismo, é a coqueluche por exemplo. O seu germen pathogenico só encontra condições de vida na mucosa bronchica das creanças, e ahi domicilia-se, e se alguns outros sympto- mas apparecem são devidos á bronchite, aos vomitos, aos quintos altamente expoliativos, á perturbação nervosa, etc. A blennorrhagia também localisa-se,e muito raras vezes, relativa- mente á sua frequência, determina arthropathias especificas, em 1885—D geral das grandes articulações onde se encontram os gonococcus de Neisser. Como exemplo do quarto e ultimo grupo temos a febre amarella, a infecção puerperal, os exanthemas febris, etc. Nos casos numerosos em que lia lesão especifica, esta é constituída ou por congestão local como no impaludismo,— por inflammação limi- tada, ou diffusa como na erysipela, na lymphatite, ou modular, como na syphilis, tuberculose,—por desaggregação de tecidos, como na gangrena, no pliagedenismo,—ou por formação de falsas membranas, como na diphtberia. Estas lesões são produzidas, já pela irritação causada por todo o corpo estranho, reunida á que determinam os microbios na luta pela sua existência que lhes é mantida pelos nossos elementos orgânicos expoliados nessa luta, já por algum producto de secrecção ou desas- similação desses microorganismos, dotado de acção caustica ou corrosiva. Os professores Robin1 Petter2 e Jaccoud3 são os propagadores indefessos de uma theoria que, reconhecendo o papel pathogenico dos microbios, dá-lhe uma interpretação especial. Não se tendo ainda isolado na atmosphera germens ou microbios nocivos ou mortíferos, e todas as inoculações seguidas de successo pelos microbiologos tendo sido efectuadas com líquidos provenientes de doentes ou de seus cadaveres, deve-se antes acreditar, argumentam esses eminentes mestres, que a virulência não está intimamente ligada ao microbio como uma propriedade sua, innata, mas sim adventícia, adquirida por embebição molecular, ou por penetração nutritiva da substancia ora virulenta do animal. « O cryptogamo, tendo pene- trado como levedo ou fermento inofensivo, sahiria dotado de proprie- dades virulentas, rubeolica, variolica, cliolerica, syphilitica, isto é, saliiria fermento virulento infeccioso. » (Robin). Uma tal hypotliese é realmente engenhosa e seductora, mas não 1 Artigo Germes do Dicc. de Dechahibre. 2 Discussão sobre febre typboide na Academia de Medicina de Paris, 1883, 3 Les maladies infectieuses, 1883. deixa de ser uma hypotliese, e contra a qual protestam factos posi- tivos, que esses auctores não podem desconhecer. Em primeiro logar, não é exacto que não tenham sido encontrados microbios pathogenicos no ar. Entre outros, Eansome, Casse, e prin- cipalmente Van-Eimengen {Sociedade de mícroscopía belga,—Sessão de 27 de Janeiro de 1883), isolaram da atmosphera e cultivaram ba- cillus tuberculosis, e o Sr. professor Domingos Freire afíirma, no seu recente e notável livro) ter verificado no ar das localidades infectas, até mesmo á grande altura, como no morro da Jurujuba, porém em menor quantidade, a presença de cryptococci xanthogenicos, que elle cultivou e inoculou com resultado incontestável. Em segundo logar, não se pôde comprehender embebição resistindo a culturas fraccionadas em líquidos innocuos, como está provadamente reconhecido no cholera das gallinhas, no carbún- culo, na raiva, etc., cujos microorganismos específicos vivem e multiplicam-se em um meio artificial inerte durante longo tempo, passando successivamente por muitos balões e conservando sempre a sua propriedade pathogenica. Por outro lado a filtração do liquido de cultura, como fez Pasteur com a bacteridia carbunculosa, vem anihilar a hypotliese de fi- xação de algum principio toxico nelle dissolvido, porque uma tal embebição só se efectuaria pelos microbios no liquido em que vivem, e entretanto, filtrado este, a parte solida microbiana inocula a moléstia, emquanto que a parte liquida filtrada é completamente innocente. Podemos dividir as causas symptomatogenicas geraes das molés- tias infecciosas em tres grupos: fermentação de sangue, embolia capillar pelos microbios agglomerados em massa, e producção de alca- lóides animaes, eminentemente toxicos as,—ptomainas. A fermentação do meio interior é a que mais vezes dá logar á explosão desses symptomas. Com effeito, pela noção adquirida sobre fermentação,sabemos que esta é exercida por um ser vivo nutrindo-se da matéria que fermenta, e decompondo-a em seus elementos constitutivos. Comprehende-se que o organismo não póde soffrer inalterável um trabalho tão activo de destruição que corrompe e aniquila o elemento essencial de sua harmonia funccional, e factor preeminente de sua energia vital e d’ahi a serie de phenomenos geraes que acompanham as infecções, salientando-se d’entre elles a febre, e as perturbações nervosas por excitação directa, ou irritação reflexa. A acção dos microbios sobre o sangue traduz-se já pela absorpção do oxygeno do globulo sanguineo, que o fixa para distribuir como principio de vida á toda a economia, já pela desaggregação profunda das liematias e alteração do plasma sanguineo. A bacteridia carbnncnlosa mata o indivíduo que accommette pelo primeiro destes processos. Ser aerobio por excelleucia, absorve, quando na atmosphera, o oxygeno em troca do qual desprende gaz carbonico. Introduzido no organismo, continúa a sua funcção, e vai exerce-la no liquido sanguineo, onde encontra elemento de vida em grande copia, e de extracção facil. Ora, como o oxygeno indispensável á substancia animal, é assim roubado vantajosamente pelo pequeno ser invasor, o desfecho final é a morte por asphyxia lenta e progres- siva do indivíduo assaltado, como ficou demonstrado experimental- mente pelos Srs. Chauveau e Arloing. Os microbios patliogenicos da febre amarella, do impaludismo, etc., determinam o segundo processo. Ha alteração profunda do plasma sanguineo, apresentando-se as hematias completameute deformadas, e reduzidas a fragmentos adhe- rentes ou esparsos. São estas lesões produzidas no sangue pelos criptococci xanthoge- nicos, descobertos pelo professor Domingos Freire, que promovem aquella serie de symptomas que dão uma physionomia aterradora ao terceiro periodo da febre amarella. O segundo grupo de causas de que falíamos é formado, pela ob- strucção mechanica dos capillares sanguíneos, on outros; dão-se verda- deiras embolias microbianas, que, conforme o departamento orgânico em que se assestam, determinam symptomas diferentes. 0 professor Domingos Freire explica a anuria da febre amarella pela obliteração dos canaliculos urinários : o diâmetro d’esses tubos, di' minuidos pelo affluxo congestivo do primeiro período, é insufficiente para a passagem dos detritos microbianos que ahi chegam para eli- minar-se, e d’ahi embolia dos conductos uriniferos e anuria conse- cutiva. No carbúnculo, segundo os trabalhos dos Srs. Toussaint e Arloing’ os capillares acham-se por tal fórma repletos de bacteridias, que os globulos sanguíneos são completamente expellidos ; é o que esses autores observaram nos vasos do mesenterio, do pulmão e das villosi- dades intestinaes. Nas arteriolas de menor calibre, elles formam ver- dadeiras massas no meio dos vasos, emquanto que a suas paredes se encostam os globulos sanguíneos extraordinariamente viscosos. Estes lotes de bacterios podem ser detidos em certos pontos pelo esporão que fórma a reunião de dous vasos, ou pela estreiteza progressiva do seu calibre, e produzir então verdadeiras embolias que podem a seu turno promovendo rupturas vasculares determinar hemorrhagias múltiplas. Em pouco tempo todas as partes da circulação são invadidas pelo parasita de um modo que se póde, sem exagero, qualificar de espantoso, sobretudo durante as ultimas horas da vida (Du Cazal e Zuber). Toussaint attribue o coma, que quasi sempre precede á morte, á invasão dos capillares do cerebro,que ficam litteralmente cheios de ba- cteridias e em alguns casos dão logar á uma piamerite hemorrhagica de enorme gravidade. O professor Domingos Freire explica a cephalalgia da febre ama- rella pela compressão que exercem massas microbianas sobre os centros nervosos.Não acreditamos que tal se dê, porque quando chegassem a um volume tal que produzisse compressão, deveria determinar a fortiori embolias diversas. A cephalalgia ahi é um facto de congestão parcial, passível da mesma explicação que o illustre professor dá para o periodo congestivo geral. Laverau attribue á obstrucção dos capillares a intermittencia da febre palustre. E quando não é intermittente ? O terceiro grupo resulta da producção e existência no organismo, de alcalóides animaes descobertos por Selmi e Gautier, e estudados por Gí-ianetti e Corone, Brouardel eBoutmy, Etard, Boucliard, Freire e outros. G-antier pensa que estes alcalóides podem ser extrahidos não somente das matérias albuminóides putrefactas, mas também das excreções ou secreções physiologicas dos animaes, no que está em desaccordo com o professor Boucliard para quem as ptoamiuas são pro- ductos de desassimilação dos organismos vegetaes, e só apparecem por- tanto nas matérias animaes onde vivem e pululam seres microscopicos. De posse d’esses factos, Boucliard aventou a hypothese de serem devidos á formação no organismo d’estes alcalóides, cujo poder toxico tem sido por todos averiguado, muitos symptomas gravissimos das mo- léstias infecciosas. Para verifical-a, foi procurar as ptoaminas nas urinas de indiví- duos accommettidos de moléstias infecciosas visto que pelo emun- ctorio renal dar-se-liia necessariamente a sua eliminação. Para isso empregou um processo especial, que vem minuciosamente descripto nos Comptes Rendus da Sociedade de Biologia de 1882. E’ verdade que também encontrou estes alcalóides em quantidade muitíssimo menor nas urinas de pessoas em perfeita saúde, porém, este facto não infirma a sua origem microbiana, porque, é sabido que no estado normal, existem bacterios em grande numero no tubo digestivo como agentes da putrefacção intestinal; d’ahi, producção nos intestinos de ptomainas, que, por sua quantidade minima, ou por seu fraco poder toxico ou mesmo nullo, são absorvidas sem determinarem plienomenos de envenenamento, e vão depois eliminar-se pela secreção renal. Uma prova mais, de que estes alcalóides são formados no tubo intestinal é a sua abundancia nas fezes recentes, como o verificou muitas vezes o proprio Sr. Boucliard. A acção pathogenica dos microbios por uma substancia toxica, producto de sua elaboração, é por emquanto uma hypothese mas uma hypothese acceitavel. Pasteur, e de accordo com elle Perret pensa que a morte no carbúnculo é devida á uma matéria especial resultante da fermentação bacteridiana, e o professor Dr. Domingos Freire attribue grande influencia morbigenica ás ptomainas fabricadas pelos criptococci xantogenicos á custa das substancias albuminóides e de outros materiaes do sangue. E’ ás ptomaiuas que o nosso illustre mestre attribue a fra- queza, os yomitos, a dilatação dos pupillas, a oppressão thoraxica e epigastrica, as modificações do rhytmo cardiaco e do pulso, etc., resultados da sua acção sobre o grande sympatliico, o pneumo-gas- trico e o bulbo. Um symptoma que acompanha as moléstias infecciosas e que por sua frequência merece consideração é a alnuminuria. Segundo os estudos especiaes de Bouchard, a albuminúria é devida á elimina- nação dos microbios e seus detritos pelo apparelho renal, dando logar a uma nephrite infecciosa. Este facto foi confirmado por investi- gações ulteriores do Sr. Cohnhein, que, injectando no sangue diver- sas especies de bacterios, pôde comprovar a sua eliminação pelos rins, e por trabalhos histologicos, que revelaram a presença de mi- crobios no tecido intersticial e nos canaliculos renaes, e a existência das lesões epitheliaes próprias das nephrites transitórias. Ha uma nephrite infecciosa protopathica estudada minucio- samente por Bouchard e c ontida em uma memória apresentada ao Congresso de Londres, 1881. {Revista de Medicina, 1881). PROPOSIÇÕES 1885—D CADEIRA DE PHYSICA MEDICA Da subordinação do organismo ás leis da tliermo-dynamica I Subordinando-se á lei de Mayer sobre a equivalência e constância das forças, nas akinesias a parte paralytica deveria augmentar de temperatura porque o calor não se transforma em movimento, e entre- tanto, as mais das vezes tal facto não se realiza. A lei não falha ; o que se dá é menor intensidade das fontes de calor por diminuição da nutrição intima mantida pelo estimulo nervoso. II Os seres vivos desenvolvem forças vivas (calor, movimento mecâ- nico, etc.), elia uma relação determinada entre a quantidade de forças vivas produzida por um organismo e as mutações materiaes d’este organismo. III Os organismos transformam forças : os animaes sobretudo forças de tensão em forças vivas; os vegetaes, forças vivas em forças de tensão. CADEIRA DE CHIMICA MEDICA E MINERALOGIA Do permauganato de potássio e suas applicações em medicina I O permauganato de potássio é um poderoso antiséptico. II Como tal na uretlirite blennorrhagica é de um valor therapeutico incontestável. III A sua acção neutralisante sobre o veneno ophidico é hoje um facto provadamente adquirido. CADEIRA DE CHIMICA ORGANICA E BIOLOGICA Alcalóides das stryclmaceas I Os alcalóides das stryclmaceas com applicação em medicina são a stryclmina e a brucina. II A strychnina pura não muda de côr pelo acido nitrico, mas se contiver traços de brucina, toma uma côr vermelha que passa á ama- rella pelo aquecimento. III A brucina adquire pela acção do acido nítrico, mesmo em quanti- dade minima, uma bella côr vermelha que passa ao rôxo pela addição do proto-chlorureto de estanho. CADEIRA DE BOTANICA MEDICA E ZOOLOGIA Estudo dos Mmintlios cestoides I Os vermes cestoides observados no homem são de tres especies : a tgenia-solium, a taenia-mediocanellata, e a hatrioceplialo. II Cada um d’estes vermens tem como larya um cystocerco dis- tincto. III Ateeuia mais commum entre nós (Rio de Janeiro)é a solium. CADEIRA DE PHARMACOLOGIA E ARTE DE FORMULAR Dos vinhos I Os vinhos, empregados para as preparações pharmaceuticas, são de tres especies—brancos, vermelhos, e assucarados ou licores. II Os vinhos brancos são pouco aromáticos, de um sabor fracamente acido, e contêm, como elementos essenciaes, álcool e tartrato acido de potássio, em dissolução aquosa. III Os vermelhos são adstringentes e devem a sua côr a uma matéria azul chamada amocyanina ; contêm mais álcool e tannino do que os brancos, porém menos cremor de tartaro. CADEIRA DE ANATOMIA DESCRIPTIVA Circulação cerebral I A circulação do sangue arterial no cerebro faz-se por intermédio das cerebraes anterior, média e posterior. II A cerebral anterior fornece ramos á face inferior do lobo frontal e á face interna dos liemisplierios ; a cerebral média ou sylviana ao lobo frontal, e a cerebral posterior ao lobo posterior. III O systema peripherico dascerebraes que distribue-se na pia-mater, nas circuinvoluções e substancia branca dos hemispherios, não com- munica com o central que irriga os núcleos centraes. CADEIRA DE HISTOLOGIA Do protoplasma cellular, e de sua importaucia anatómica e dy- namica na formação e manutenção da cellula I O protoplasma cellular é a parte essencialmente viva da cellula e n’elle se dão os plienomenos pliysicos e cliimicos, que se passam no interior das cellulas. II O movimento da cellula depende do protoplasma, porque é elle o elemento que dispõe da contractilidade. III A sua importância anatómica e dynamica é perfeitamente com- provada pelos plienomenos physiologicos de que elleé a séde. CADEIRA DE PHYSIOLOGIA Da innemção cardiaca Os nervos do coração provêm de duas origens : pneumogastrico de um lado, grande sympatliico do ontro. I II O pneumograstrico exerce nma influencia moderadora sobre os movimentos cardiacos; o grande sympatliico, ao contrario, nma in- fluencia acceleradora. III Ha no tecido propno do coração pequenos ganglios de substancia nervosa, aos qnaes se attribue a persistência dos batimentos cardiacos mesmo fóra do organismo. CADEIRA DE ANATOMIA E PHYSIOLOGIA PATHOLOGICAS Da tuberculose considerada como moléstia infectuosa I A natureza parasitaria da tuberculose parece estar defmitiva- mente estabelecida. II O sen microbio pathogenico é o bacillus tuberculi, descoberto por Koch em 1882. III O melhor processo de preparação é o de Erlich, modificação do de Koch, e fundado sobre a propriedade que tem o bacillus tuberculi de fixar a cor azul da anilina. CADEIRA DE PATHOLOGIA GERAL Paralysias I A paralysia é uma akinesia completa ou incompleta resultante de uma perturbação da innervação motora (Jaccoud). II As paralysias de origem cortical reconhecem por cansa uma lesão das circumvoluções motoras: frontaes ascendentes, parietaes ascen- dentes e lobulos paracentraes. III Póde liaver uma hemiplegia espinhal, que será diagnosticada pela ausência de hemiplegia facial, e pela coexistência habitual de uma hemiauesthesia do lado opposto. CADEIRA DE PATHOLOGIA MEDICA Das myelites I As myelites dividem-se em systhematisadas e difusas, paren- cliimatosas e intersticiaes. II As lesões das myelites systliematicas podem-se assestar já nas pontas anteriores da medulla (cellulas motoras e tropliicas conjunta- mente,e cellulas tropliicas isoladas); já nas pontas posteriores (feixes ra- diculares e cordão de Goll, conjuntamente ou isolados); já nos cordões lateraes primitivamente, já nos cordões lateraes e cornos anteriores. As lesões das mielytes diffusas são varias, dando logar a diversas for- mas clinicas. III O tetanos é uma myelite central. CADEIRA DE MATÉRIA MEDICA E THERAPEUTICA ESPECIALMENTE BRAZILEIRA Purgativos brazileiros I Os mais importantes e empregados purgativos brazileiros, são o oleo expresso de rícino, o de auda-assu, e a cayaponina. 0 oleo de anda-assu, que obra mecanicamente, é superior ao de ricino, por ser menos espesso, não possuir odor e sabor nauseosos, e produzir o mesmo effeito em muito menor dóse. II III A cayaponina é um drástico muito apreciado pela energia de sua acção. CADEIRA DE PATHOLOGIA CIRÚRGICA Dos aneurismas em geral I Aneurisma é um tumor sanguineo circumscripto ou limitado e em communicação com uma artéria. II Dividem-se em verdadeiros, se são comprehendidos na ectasia todas as túnicas do vaso, e falsos, se apenas a túnica externa ou interna. III Os primeiros são justamente contestados pela maioria dos au- tores. CADEIRA DE ANATOMIA TOPOGRAPHICA E MEDICINA OPERATÓRIA EXPERIMENTAL Da intervenção cirúrgica no empyema I O pleuriz com derrame purulento exige uma intervenção cirúrgica representada pela puncção, pela pleurotomia ou operação do empyema e pela lavagem por meio do siplião outrocater thoraxico. II A pleurotomia, dando livre sabida ao pús e facilitando a lavagem antiséptica da cavidade, é de uma indicação palpitante. III Se existir uma fistula pleuro-pulmonar, a operação do empyema não póde ser seguida de successo, 1885—D CADEIRA DE OBSTETRÍCIA Paralysias puerperaes I As paralysias puerperaes podem se manifestar durante a prenhez ou depois do parto. II Aífectam uma das tres formas : hemiplegia , paraplegia completa ou incompleta, total ou parcial, e paralysia parcial mais frequentem ente de origem traumatica, dependente ou não da intervenção cirúrgica. III O diagnostico, o prognostico e o tratamento das paralysias puer- peraes variam extraordinariamente, conforme as causas que as têm determinado. CADEIRA DE HYGXENE E HISTORIA DA MEDICINA Influencia nosologica cia meteorologia da cidade do Eio de Janeiro I As mudanças bruscas de temperatura, que se dão na cidade do Rio de Janeiro, são causas frequentes de moléstias. II No verão a coexistência de calor e humidade, condição favoravel ao desenvolvimento dos microhios pathogenicos, concorre para a ex- plosão de certas moléstias infecciosas. III A febre amarella, desgraçadamente endemica entre nós, éo re- sultado deste factor, e das detestáveis condições liygienicas da nossa cidade. CADEIRA DE MEDICINA LEGAL E TOXICOLOGIA Das ptoaminas I As ptoaminas, extremamente analogas aos alcaloidas vegetaes,são productos da putrefacção cadavérica. II Os alcalóides cadavéricos,ptoaminas,dão com o ferri cyanureto de potássio addicionado de um persal de ferro, um precipitado caracterís- tico de azul da Prussia, pela réclucção do ferri a ferrocyanureto de po- tássio. III Asptoaminas que se produzem pouco tempo depois da morte, divi- dem-se em dous grupos, compreheudendo um as fixas e crystallisaveis, o outro as voláteis. PRIMEIRA CADEIRA DE CLINICA MEDICA Do diagnostico e tratamento das paralysias peripliericas I As paralysias peripliericas são limitadas á espliera de distribui- ção do nervo affectado. II A abolição dos reflexos é de um valor absoluto para o seu dia- gnostico. III Estas paralysias são habitualmente acompanhadas de anesthesia, atrophia muscular, paralysia-yaso-motora, perturbações trophicas, e perda de contractilidade electro-muscular. PRIMEIRA CADEIRA DE CLINICA CIRÚRGICA Da occlusão intestinal I Ha occlusão intestinal quando, por qualquer causa,dá-se o obstáculo do livre curso das matérias contidas nessa parte do tubo digestivo. II Os diferentes mechanismos que produzem a occlusão intestinal, constituem as seguintes variedades :— occlusão por estreitamento, por estrangulamento, porvolvulos, por invaginação, por obstrucção, e por pseudo-estrangulamento. III A laparotomia é uma operação de que se deve lançar mão sem va- cillar nos casos gravíssimos. HIPPOdATIS APHORISll I Natura corporis est in medicina principiam studii. (Sec. II, Aph. 77.) II In febribus non intermittentibns excretiones lividse, sanguinge, graveolentes etbeliosae, omiies malse, beneautem si prodeant, bonse, tum per alviuis excretiones, tum per urinas. (Sec. IV, Aph. 2.) III Ex sanguinis frofluvio, deliratio aut etiam convulsio, maio est. (Sec. VII, Aph. 9.) IV Ex vigília convulsio vel delirium, malum. (Sec. VII, Aph. 18.) V Sanguine multo effuso convulsio, aut singultus superyeiiiens, malum. (Sec. V, Aph, 3.) VI CibuSj potus, Venus, omnia moderata sint. (Sec. IV, Apli. 2.) Esta These está conforme os Estatutos. Eio de Janeiro, 9 de Outubro de 1885. tl (g. Ma/iaJa. ÊJb. SPelcila. Tyndall.—Tjcs microbes(Trad. franc. 1880). Gr. Nepuey.—Des bacteriens et de leur role pathogenique.—(Rev. de Hayem. 1878). Du Cazal et Zurer.—Du role pathogenique des microbes.—(Ibidem 1881). R. Lewis.—Les microphytes du sang et leurs relations avec les Talcmon.—Durôle des microhes dans la genèse des maladies dó apres les travaux de Pasteur.—(Rev. mensal de Med. 1880). maladies.—(1881). Magnin. —Des hacteries.—(these de Concurso 1877). Duclaux.—Ferments et maladies.—(1882). » Chimie biologique de VEncyclopedie chimique de Frémy. Bouley.—Leprogrès en medecine pour Vexperimentai ion. D’Ardenne.—Les microbes, les miasmes et les septicemies. — (1882). Klein.—Microbes et Maladies.—(1885). Miquel.—Les organismes vivants de Vatmosphere.—(1883). G-uillaud.—Les ferments figures.—(Th. de aggregation Paris 1876). Cypriano de Freitas.—Natureza do cholera morbus.—(Revista dos cursos práticos 1885). Bouchard.—Sur la presence cValcalóides dans les urines au cours de certaines maladies infectieuses.—(Soc. biologique (1882). Jaccoud.—Les maladies infectieuses.—(1883). Hallopeau.—Traité elementaire de pathologie generale.—(1884). Bechamp.—Les microzymas. Bouchart.—Sur les maladies infectieuses. — (Lições resumidas por LandouzyRev. Med. (1881). 8Ô Ra steur, Joubert et Ciiamberland.—La theorie des germes et seS applications à la medecine—(Comptes rendus de PAc. Sc. t. 81 p. 1037)- Dicc. de Deciiambre.—Artigos Contagio,—.(Bernlieim).—Germens— (Reobin). Chaveaux.—LJ immunitè transmise pour Vhérédité.—(C. R. da Ac. das Sc. 1879). Picot.—Les graneisprocessus morhides. Masse.—D es inoculations preventives ãans les maladies virulentes,— (1883), Cornil e Babes.—Les bacteries.—(1885). Domingos Freire .—La doctrine microbienne de lafièvrejaune. — (1885). «Pasteur ».—Histoire cVun savant par un ignorant. Tliese do Dr. Fred. Sanerbroun de Souza.—(R. Janeiro 1884). Discussão sobre febre typhoíde, na Ac. de Medicina de Paris. — (Bulletins de 1882 e 1883). Pasteur.—Eludes sur la hière.— (1876). Layeran.—Nature parasitaire des accidents de Vimpaludisme; des- cription d'un nouveau parasite.—(1881). Sciiutzenberger.—Les fermeutations.—(1879). Bouchard. — Des nephrites infectieuses.— (Rev. de Med.—de 1881).