DE Oscar Nerval de Gouvêa RIO DE JANEIRO 1880 THESE DE COIERSO A UMA DAS VAGAS DA PRIMEIRA SECÇÃO DO CURSO DE SCIEUCIAS PHYSICAS E IATURAES APRESENTADA A CONGREGAÇÃO OA ESCOLA POLYTECHNICA POR ©atar, flertai te dmtbèa mo DE JANEIKO Typographia Universal de E. & H. Laemmert TI, Rua dos Inválidos, 71 1880 CONCURRENTES i OR, JOAQUIM HU33T BACSLLAR E O AUTOR PONTOS DISSERTAÇÃO G-EOLOGIA (N. 2.) ROCHAS PLUTONICAS DO BRAZIL PROPOSIÇÕES (N. 4.) BOTA1TIGA ESTUDO GERAL DOS COGUMELOS ZOOLOGIA ESTUDO GERAL DOS ECHINODERMAS GKEJA SULPHURETOS DISSERTAÇÃO * Rochas Plutonicas do Brazil « II est prouvé pour Ia plupart dentre les roches pluto- niques, et il devient de plus eu plus probable pour toutes, que les matières dont elles secomposent, ont été soulevées de 1'intérieur du globe par les forces d’expausion dont ou altribue 1’crigine à la chaleur souterraine, joiutes sans doute aux contractious produites daus la croúte superficielle par sou refroidisseiuent successif. » (Delafosse — De la manière d’ètre des mineraux.) « Le caraclère schisleux a été imprimé très íréquemment aux roches eruplives, et souvent, en mêine temps qu’aux roches sêdimentaires voisines, de manière à présenter un parallélisme géuéral. Ou conçoit qu'un tel parallélisme puisse laisser dans le doute sur 1’origine eruptive ou sédi- mentaire de certames roches cristaliines. » (Dàubrée — Application de la mêlhode exjpérimentale á 1’étude de la schistosilé des roches.) E de incontestável e notoria supremacia o papel exercido pelas rochas de- signadas sob os nomes de plutonicas, eruptivas antigas, ou melhor de hydato- pyrogenicas, na constituição do sólo do Brazil, e bem raro será o viajante observador que, percorrendo as províncias do litloral, bem como as do in- terior do nosso paiz, não se sinta impressionado pela natureza e aspecto das elevadas cordilheiras, dos montes isolados e das numerosas collinas ou morros de barro, que parecem outros tantos capitulos da historia evolutiva desse fertilíssimo sólo, onde os mais poderosos agentes de decomposição, lu- tando contra a força natural de cohesão dos elementos mineralizados, os transformam em facil presa da absorpção radicular dos vegetaes. 8 Cumpre, entretanto, confessar que a opinião que emittimos relativamente ao logar importantíssimo, que occupam as rochas plutonicas entre as nossas for- mações, é muito contestada por todos os geologos, alias do mais reconhecido mérito, que, excluindo do grupo dessas rochas o gneiss, verdadeira variedade de granito, caracterisada por uma orientação especial dos seus elementos, exa- geram, segundo nos parece, a influencia exercida pelas acções metamorphicas sobre o fácies geral e sobre a disposição intima das rochas. Baseados sómente na impressão sobre nós produzida pelo estudo compa- rado do gneiss e do granito, bem como em nossas insignificantes observações não ousaríamos arrostar contra a hypothese da origem metamorphica do pri- meiro, se não nos sentissimos escudados, de um lado, pela valiosa opinião do illustrado Conselheiro Capanema, fundada em factos que facilmente podem ser verificados no grande livro da natureza, e de outro lado, sobre as notáveis experiencias do professor Daubrée, tão ferteis em corollarios applicaveis ao estudo das formações geológicas. É, portanto, em virtude desta questão, assim como para melhor definir os caracteres das rochas plutonicas no Brazil, que se nos afigura necessário eslu- dal-as em sua origem e formação, tentar descobrir as forças que entram no ar- ranjo e disposição dos seus elementos mais ou menos crystallinos, fixar as differenças que as distinguem sob o ponto de vista petrographico, acompanhai-as, embora por alto, em sua distribuição sobre o sólo do Brazil, e, se possive! fòr, através das diversas idades da terra, para assistir íinalmente á sua lenta de- composição e estudar os produetos que delias resultam. Estndo petrogenetico das rochas plutonicas Muitas e mui diversas têm sido as hypolheses formuladas sobre o estado da massa central ou nucleolar do nosso planeta, e diííicil, senão impossível, será fundamentar qualquer asserção verdadeiramente positiva sobre um facto que, por sua mesma natureza, não se presta a uma observação directa e a cujo res- peito os dados experimenlaes têm servido de base ás mais opposlas e contradic- torias illações. Deixemos, portanto, a cada um a liberdade de engendraras mais phantasticas ficções, para com ellas povoar o centro da terra. Limitemo-nos a admirar essas exaltadas imaginações, que, a exemplo de Leslie, impressionadas 9 pelo accrescimo de densidade, attribuida ás camadas profundas da crosta ter- restre, não encontraram a menor difficuldade em figurar logo uma enorme caverna central, cheia de um fluido luminoso por compressão, dotada de tem- peratura uniforme, e onde dous novos astros, Plutão e Prosérpina, deviam gyrar em orbitas prescriptas. Não nos occupemos também com a razão pela qual essas doutrinas tanto influíram no animo dos seus sectários; induzindo-os a convidar instantemenle sábios, como o Barão de Humboldt e Sir Humphry Davy, para emprehenderem uma instructiva excursão a essas ignotas regiões por um vasto orifício, que deveria se achar situado mais ou menos a 8ã° de latitude norte, e através do qual se deveria escapar a luz das auroras boreaes ; em todo caso, porém, não nos esqueçamos de fazer notar que todas as outras hypotheses redu- zem-se a cenlralisar ou a descentralisar os fócos de fusão e elaboração chimica das rochas, multiplicando-lhes o numero de modo a explicar as differentes manifestações, que surgem nas mais afastadas localidades. Qualquer, porém, que seja o ponto em que se originam as massas eruptivas, caracterisadas então por um estado de amollecimento muito diverso da fusão ignea, que, segundo Humboldt, distingue os productos das erupções moder- nas; o certo é que ellas contam no Brazil numerosos representantes, como são os granitos, principalmenle na variedade gneiss, os syenitos, eurilos, por- phyros, dioritos e diabases. Como, entretanto, cumpria explicar a razão da diversidade de composição dessas rochas, Bunsen pretendeu resolver a difficuldade, imaginando duas rochas typicas, das quaes uma, rica em acido silicico, recebeu o nome de normo- trachylica; outra, predominante em elementos básicos, íoi designada sob o ti- tulo de normo-pyroxenica, e fazendo-as depois contribuir por cooperação desigual á formação de duas séries, que se lhes assemelham em grão mais ou menos proximo. Essa hypothese foi substituída pouco tempo depois pela de Walters- hausen, que é muito mais razoavel, pois refere as variações de composição á diversidade de natureza dos elementos, capazes de se associarem sob a acção de uma temperatura e de uma pressão, que varião com as diversas camadas da crosta terrestre. Ora, se por um lado a diversidade dos elementos immediatos permittia a espeeialisação de cada rocha, por outro lado numerosos caracteres communs tendiam a grupar em uma só classe todas as rochas eruptivas antigas. Com effeito, quasi todos os geologos são concordes em admiltir que não só a ausência de impressões fossilisadas, a disposição em veios, sua influencia sobre os terrenos proximos e o estudo da microstructura e inclusões, como lambem a falta de estratificação ou schistosidade, contribuem para assignalar às rochas plutonicas uma communidade de origem. I)ahi veio a supposta necessidade de excluir o gneiss, que apresentava a ultima propriedade mencionada, do grupo das rochas plutonicas, afim de in- cluil-o no das rochas sedimentarias melamorphisadas por agentes eruptivos; sem atlender não só á sua identidade de composição com o granito, como também ao parallelismo observado nos crystaes de certos porphyros, tracbylos e outras rochas de origem evidentemente eruptiva, e sem procurar saber se a schislo sidade se não podia manifestar em certas erupções de massas mais ou menos pastosas. Quando mesmo admitíamos como muito razoavel, que os terrenos conside- rados até agora como os mais antigos, isto é, os laurenceanos, produzidos na época em que as formações pyrogenicas deviam ser mais abundantes, sejam pela maior parte formados de gneiss sedimentario; suppomos que parecerão estranhos aos proprios sectários d’essa doutrina os factos, aliás muito communs, em que o granito se superpõe ao gneiss, ou áquelles em que as transições de uma para outra rocha são insensíveis e se manifestam em diversos pontos do mesmo massiço, como se póde vêr no Corcovado. No entretanto, diariamente se observam exemplos em que o gneiss se acha decomposto em barro vermelho, tão frequente nos cortes da estrada de ferro D. Pedro II; e não menos nu- merosas são as nossas pedreiras, onde é possivel verificar que os elementos guardam uma disposição crystallina irregular e incompleta, muito mais consentânea a uma formação eruptiva. Apezar disto, não se tem querido admiltir que seja o gneiss, isto é, a rocha mais antiga, a verdadeira origem d’essas argillas, depostas no seio dos mares ou atravessadas por injecções de vapores sob uma pressão sufficiente e que affeclam hoje a forma de schistos argillosos, micaschislos, etc. Todavia, sem ser ainda preciso sahir dos limites do nosso paiz, vamos encontrar uma prova da influencia das correntes de vapor sobre a eslructura das rochas, em uma das encostas da serra de Meruóea, em Balurilé, onde, segundo a plirase do Conselheiro Capanema, se observa a emergir do gneiss camadas empinadas de schistos argillosos. Emfim, tal é a nalureza dos laços, que sob os pontos de vista pelrogenetico e pelrographico, ligam o granito ao gneiss, que nos parece que atlribuindo uma origem pri- miiivamente sedimentaria a este ultimo, se deverá levar essa doutrina ás ultimas consequências, e admiltir com o autor do Fim da Creagão todas as extravagantes conclusões tiradas acerca das formações graníticas e da acção exercida sobre os demais terrenos por essas grandiosas concreções. Ora, os mesmos defeitos se não apontando na hypothese do Conselheiro Capanema, vamos procurar analysal-a sobre as formações gneissico-graníticas das diversas épocas. Os materiaes fornecidos pela analyse immediata do granito reduzem-se ao quartzo, ao feldspatho e á malacacheta ou mica, que se acham distribuídas nesta massa composta ou aggregado em proporções variaveis e de um modo facil- mente perceptivel á simples vista. De accôrdo com as experiencias do pro- fessor Daubrée, se não deverá mais estranhar que substancias caracteri- sadas por tão diversos gráos de fusibilidade, se achem associadas e;n uma mesma formação, visto que basta para explicar este facto a presença da agua super-aqu cida e activada mesmo pelos vapores de chloro, de fluor ou de boro, a qual, segundo as observações de E. de Beaumont, goza da propriedade de dissolver esses diversos silicatos em uma temperatura muito inferior á que é por elles exigida para a fusão secca. O proprio vidro exposto a esta acção, sob uma temperatura relativamente baixa como é a de 400°, não tarda a tomar um caracter folheado ou schisloso, e o que mais é, segrega da sua massa numerosos e pequenos cryslaes de qujrlzo, por vezes caracterisados por suas modificações plagiedricas, e apresenta mesmo no campo do mieroscopio abun- dantes e variadas inclusões vitreas. O que, porém, nos parece muito razoavel, segundo este modo de vêr, é a presença necessária das rochas gneissicas entre as mais antigas formações da crosta terrestre, quer se attribua em parle a schistosidade do gneiss á própria acção hydato-pyrogeniea, quer se attribua sua orientação ou parallelismo ao simples peso dos cryslaes, e ao resfriamento mais ou menos calmo da massa geral. Com effeito, basta recordar os phenomenos bem conhecidos de uma erupção volcanica para relraçar em pequena escala o quadro dos acontecimentos occorridos nas primeiras épocas da formação dos mais antigos terrenos. Basta contemplar de longe a immovel columna de fogo, reflexo da incandescência interna do lago de lavas expandidas em uma cratera, para observar as alternativas de obscureci- mento e de vivíssimo brilho devidas á producção de crostas sombrias sobre a superfície do resfriamento, logo após despedaçadas, fendidas e sobrepujadas pelas lavas subjacentes em fusão. Taes deverão ler sido os primeiros phenomenos da existência de uma crosta bem definida em nosso planeta; rola e despedaçada a primitiva camada de gneiss, cuja formação foi explicada pelo Conselheiro Capanema, toda a massa fundida deveria ser injectada pelas fendas do sólo, pro- duzindo serranias e montes elevados, derramando-se mesmo sobre o sólo primitivo, cujas linhas de estratificação poderia inclinar e inverter da posição pri- mitiva nas proximidades das fendas assim praticadas. Qual deverá ter sido a disposição estructural dessas rochas, é esta uma questão que nos parece resolvida pelas experiencias de Daubrée e de Tresca, realizadas com verdadeiros jactos de uma mistura de argilla e mica, sob a pressão da prensa hydraulica, de modo a produzir uma schistosidade segundo planos parallelos á direcção dos jactos. Até certo ponto essa experiencia póde explicar a estratificação vertical dos gneiss nos terrenos iaurencianos, que algumas vezes passa á disposição em leque ou fortemenle inclinada, como tivemos occasião de observar na Barra do Pirahy, e tem sido assignalada no Canadá, nos Andes e nos Alpes. No entanto, as massas espalhadas sobre os gneiss primitivos, furtando-se em parte ás causas, que provocaram a schistosidade em outros pontos, soffreram uma distribuição irregular dos seus elementos, constituindo-se sob a fôrma de granitos, que podem ter um aspecto mais ou menos porphyrico, conforme as circunstancias do res- friamenlo ou da erupção através de outras massas. Quanto áquellas porções, que, não podendo vencer a resistência da crosta primitiva, se destinaram como que a consolidal-a internamente, sujeitas a uma enorme pressão em um estado semi-pastoso e soffrendo como que um attrito de escorregamento por parte das camadas, que procuravam alcançar as fendas produzidas, realisavam todas as condições exigidas pelas experiencias de Daubrée, de Tyndall e de Sorby, para a producção de uma outra camada de gneiss, como que disposta em iages, constituindo uma variação de estructura ajuntar ás que já mencionámos e que se acham todas representadas nos nossos terrenos. Apres- semo-nos comtudo em observar, que por fôrma alguma combatemos a exislencia, perfeitarnente provada, dos veios graniticos e que não applicamos os raciocinios precedentes a toda e qualquer massa que irrompe através dos terrenos inferiores, como os gneiss dos períodos iaurencianos. Forças de natureza mui diversa actuam para a elevação dessas massas; quando mesmo drsprezemos a acção da agua super-aquecida, que lhes augmenta extraor- dinariamente o volume, permittindo a projecção de apophyses através das formações mais próximas, é facil perceber que um estado de resfriamento mais ou menos adiantado da massa tende a contrariar a orientação dos crystaes, segundo planos parallelos, e a produzir granitos que se podem dispôr acima ou abaixo das camadas gneissicas, afastando-as ou elevando-as. Ora, a compressão dos massiços rocheos sobre as camadas assim formadas em alguns pontos, e em outros o impulso dos gazes e materiaes fundidos, ten- dendo a escapar-se, deveria ter exercido sobre os terrenos uma acção que se poderia comparar á uma leve torsão. Esse facto repetido em algumas experien- cias effectuadas sobre laminas de vidro revestidas de papelão collado, reproduz fendas, segundo dons systemas de linhas quasi rectangulares entre si, que são designadas na natureza sob o nome de lithoclases ou juntas, e aíTectam quasi sempre direcções fixas, a cujo angulo as linhas de estratificação servem algumas vezes de bissectriz. São essas juntas que, ora tomando o caracter de paraclases, ora o de simples diaclases, se unem á porosidade das rochas para permittir a circulação da agua, facilitada pelas acções capillares, até ás camadas mais profundas, afim de compensar as grandes perdas trazidas pelas manifestações eruplivas ou volcanicas. Ouanto á distribuição dos seus mineraes constitutivos, essas rochas variam muito; é assim que vemos gruparem-se ao lado do granito as variedades, conhecidas sob os nomes de pegmalito, hyalomicto, leptinito etc. Em outros pontos o typo granítico parece tornar-se incompleto pela predominância ex- clusiva de um só dos mineraes, como se observa nos veios da pedreira de S. Diogo; ainda outras vezes são os proprios elementos essenciaes que são substituídos, como se nota com a turmalina preta em relação á mica nas rochas do Ceará, nos schorlquartzitos da Barra do Pirahy, ou na Estrella onde a substituição é realizada pelo titanato de ferro. A modiíicação das rochas em relação á sua composição immediata póde ainda ser devida, não á substituição dos elementos essenciaes, mas á introducção de mineraes accidenlaes que vão muitas vezes surgir no seio dessas rochas pela acção de um verdadeiro metamorphismo. Esse effeito póde ser realizado pelas aguas thermaes, de um modo perfeitamente analogo â formação dos zeolithos estudados nos tijolos das conslrucções romanas, destinadas ás antigas thermas em Plombières, ou em outros casos por uma verdadeira injecção de vapores e gazes capazes de reagirem sobre os mineraes existentes, e transforma-los em outros mais adaptados ás forças incidentes assim modificadas. É indubitavelmente ás acções dessa natureza que se deve ainda altribuir, não só a formação decrystaesde pyroxeno nas experiencias do professor Daubrée, realizadas com a agua elevada a uma temperatura de 400°, sobre um tubo de vidro, como também a producção dos crystaes de magnetito no seio dos schistos argillosos da ilha do Cardoso ao sul de Canauéa, produzidos segundo o Conselheiro Capanema por um 14 metamorphismo devido á acção de correntes de gaz carbonico e vapor de agua. Na opinião do mesmo iIlustre geologo a presença de finas agulhas arnphibolicas nas fendas dos crystaes feldspalhicos observados no gneiss verde, junto ás fortalezas de Santa-Cruz e do Pico, na cidade de Ubatuba etc, deve ser ex- plicada pela acção do ferro magnético sobre a oligoclase, meio fundida por influencia de um calor não muito intenso. Atlendendoás considerações precedentes e ao facto muitas vezes verificado de que o amphiboleo, quando fundido, recryslalliza ao esfriar no estado de pyroxeno, não será diflicil explicar como em virtude das reacções elTecluadas no interior da terra, o granito e o gneiss se apresentam tão frequentes vezes associados aos syenitos. Em todo o caso, porém, é facto averiguado que, ou pelo grão do calor que geralmente acompanha a formação dessas rochas, ou melhor pela influencia da agua aquecida e em vapor que circula na massa eruptiva, e é por vezes ahi retida sob a fôrma de inclusões liquidas mais ou menos desenvolvidas como as que tivemos occasião de observar em uma amostra vinda de Lavras, as rochas plutonicas exercem sobre os terrenos circumvizinhos uma influencia notável designada muitas vezes sob o nome de aureola metamorphica. Essa influencia se define quer pela transformação dos calcareos em mármores saccharoides, sem desprendimento de gaz carbonico, quer pela producção dos zeolilhos ou pelo transporte dos proprios elementos constituintes ao seio das camadas próximas, de modo a imprimir-lhes um caracter elementar semelhante ao que possuem. Cumpre comtudo notar que a faculdade de metamorphisar os terrenos proximos não é a mesma para todas as rochas plutonicas, e que diminue quasi a ponto de desapparecer no grupo das que recebem por sua côr dominante o nome de grúnstein, onde se collocam os amphibolilos, dioritos, aphanilos e diabases; apezar de não haver uma profunda e infranqueavel barreira entre a composição elementar dessas rochas c as do typo gneissico-granilico. Pelo con- trario, não só se encontram transições entre seus typos de composição, como lambem entre os typos de estructura; pois ao lado das variedades compactas ou aphanilicas, são observadas outras que apresentam um caracter porphyrico ou mesmo schístoide; embora esses caracteres mais fracamente accenluados in- duzam a crer que forças analogas, porém menos energicas no aclo de sua formação, actuaram ainda sobre uma tal distribuição molecular. Quanto aos porplryros, ellos se prendem a toda a serie de formações e apresentam os mais variados aspectos, que é possível obter, redistribuindo diversamente elementos seme- lhantes a esses de que nos havemos occupado. Nos terrenos superiores e modernos ainda vamos encontrar rochas eruptivas, ás quaes a Geologia grupou em outra classe sob o nome de volcanicas ou eruptivas recentes, pois se referem immediatamente a volcões aclivos ou extinctos e são sempre acompanhadas de tuffos, escorias, bombas e outros productos volcanicos analogos aos que hoje vemos provir de erupções bem co- nhecidas. O fácies caracterislico da rocha volcanica não impede entretanto de encontrar entre os seus principaes representantes, que vem a ser o basalto, o trachyto, o phonolitho, etc., numerosas relações de semelhança com as rochas plutonicas, estabelecendo assim uma filiação directa das erupções modernas ás erupções antigas. Entretanto, como a presença desta ultima classe de rochas no nosso paiz tem sido muito discutida e ainda não está sufficientemente provada, e que por outro lado não convém divagar em tão importante assumpto, passaremos a occupar-nos da natureza e distribuição dos elementos mineraes em cada rocha plutonica, antes de occuparmo-nos da natureza e distribuição das rochas plutonicas em todo o sólo do Brazil. Estudo petrographico das rochas plutonicas e de sua distribuição no sólo do Brazil Os mineraes, em virtude mesmo da natureza mais estável dos seus elemen- tos, que só lhes permilte mui lentas redistribuições de matéria, devem con- servar mais facilmente um typo de composição ou de eslructura intima e definida do que os corpos orgânicos, em que a força expansiva, manifestada no estado molecular das substancias consideradas simples, que os compõe, lhes imprime um gráo de mobilidade indispensável ás condições exigidas para a sua vida. Entretanto, se apezar disso os seres animaes e vegetaes sabem manter o seu typo de organização é por que procuram ao mesmo tempo grupar-se como que em colonias, â medida que diminuem em volume, para melhor resistir á acção destruidora dos agentes externos. Assim considerando, não nos deveremos portanlo admirar de que os indi- víduos mineraJogicos também se grupem afim de melhor distribuir sobre maiores massas a acção das forças incidentes, que tendem a destruir-lhes o equilíbrio molecular. Sob este ponto de vista o estudo petrographico das rochas se torna tão necessário e interessante, quanto o poderia ser no reino orgânico um exame, embora summario, da morphologia e physiologia das especies, que se desen- volvem no mesmo habitat. Na verdade, a determinação completa dos ele- mentos de uma rocha implica necessariamente a descripção da estructura, do typo de organização emíim, se assim se pôde dizer, de cada elemento mineral immediato, bem como a enumeração, embora rapida, das suas principaes func- ções; estudo esse que se reduz á analyse da fórma crystallina e da composição, seguida do exame das propriedades physicas echimicas. A esta resenha, faremos succeder ainda o estudo de alguns mineraes, que por sua associação mais ou menos fortuita dão togar ás variedades mais communs das mesmas rochas. O granito é um aggregado mais ou menos granular de quartzo, feldspalho orthoclase algumas vezes acompanhado de oligoclase e malacacheta ou mica, dispostos em grãos ou partículas de grandeza muito variavel, que lhe im- primem uma eslructura, ora fina, ora grosseiramente granulada, porphyrica ou schistoide. Quanlo aos seus elementos, começaremos a estudal-os pelo quartzo, Si, isto é, acido silicico crystallizado, mui facil de reconhecer pelo seu brilho vitreo ou ceroide, por sua côr branca levemente acinzentada e translúcida, e por outros caracteres chimicos e physicos, como sejão: entre os primeiros, a infu- sibilidade, manifestada mesmo sob a acção da chamma do maçarico, a producção de uma pérola limpida e a eífervescencia, quando fundido com o carbonato de sodio ; e entre os segundos, sua elevada dureza representada pelo gráo 7 na escala de Mohs e seguida da faculdade de produzir scentelhas, bem como sua fractura conchoide levemente ondulada. Esse mineral em seu estado de perfeclibilidade estructural tem para fórma fundamental o rhomboedro de 94° e 15’ ; mas crystalliza habilualmente em prismas hexagonaes terminados por pyramides, produzidas pela combinação das faces dos rhombcedros primitivo o inverso, que se difíerençam pelo seu proprio aspecto e pela direcção das estrias e dos planos de clivagem latente, revelados sómente por uma especie de tempera docrystal. Muitas vezes nos cantos basilares das pyramides, que terminão os prismas do quarlzo-hyalino, se apresentam as facetas do plagiedro trigonal, que gozam da propriedade da polarisação rotatoria levogyra ou dexlrogyra, con- forme o sentido para que se inclinam, e produzem além disso, quando super- postas em laminas na pinça de turmalina, o phenomeno optico conhecido sob o nome de espiraes de Airy. Quanto ao mais, as laminas desses crystaes apre- sentam os phenomenos caracteristicos da refracção dupla a um eixo, neste caso positivo, além de que parallelamente á face da pyramide e juntas á turma- lina em posição conveniente constituem a base do polariscopo de Savart. Todas essas propriedades tornando-se de difíicil observação nos casos, em que misturas estranbas lhes turvam a limpidez ou mesmo os coloram intensamente, con- tinuaremos a fazer notar que em pedaços não coloridos o atlrito desenvolve a phosphorescencia e mesmo a eleclricidade, que se accumula mais rapidamente quando se lança mão do calôr; pois manifesta então verdadeiros pólos contrários nos extremos dos eixos secundários do rhomboedro fundamental. Estudado ao microscopio principalmente quando é retirado do granito, do gneiss e de outras rochas eruptivas, o quartzo apresenta inclusões liquidas, devidas ora á agua carregada de sáes, ora, como affirma Credner, ao acido carbonico liquido, sem tratar dos numerosos microlilhos, os quaes, como os do vidro da experien- cia de Daubrée, parecem resultar da acção da agua super-aquecida. O feldspatho, que nas rochas de que nos occupamos, é a orlhoclase, al- gumas vezes acompanhada pela oligoclase, pôde, no primeiro caso, ser facil- mente caracterisado pelo brilho nacarado dos seus crystaes geralmente roseos, côr de carne ou cinzentos, cmquanlo a oligoclase por seu brilho mui diverso, pela eslriação frequente de suas faces hemitropas e por sua como que leitosa transparência, se deixa promptamente definir. Quanto ao meio mais seguro de reconhecimento, consiste no estudo das propriedades da orthoclase, ou orthosia, que não é mais do que um silicalo duplo de alumínio e polassio (K Al2 Si4), cuja fórma fundamental é o prisma klinorhombico, caracterisado por clivagens rectangulares, que passam umas pelas rnicro-diagonaes das bases, outras parallelamente ás mesmas bases, sempre distinctas porém das outras cliva- gens extraordinárias. A sua fórma mais commum na natureza é a de prismas por vezes de 4, 6 ou 8 faces, terminados por vertices cuneiformes, em geral resultantes da combinação da base com as facetas modificadoras do angulo A. Pelo que diz respeito ás suas propriedades physicas, o feldspatho occupa na escala de dureza o 6o logar; os seus crystaes são negativos e gozam da dupla refracção a 2 eixos, cujo afastamento varia de 309 a 120°. Exposta á ctiamma do maçarico a orlhosia passa difficilmente ao estado de esmalte branco nos bordos, e dissolve-se no sal de phosphoro com producção de um esqueleto de silica; a dissolução de cobalto tinge em azul as partes fundidas deste mineral, que no mais resiste á acção dos ácidos em geral. A oligo- clase, no entretanto, differe da precedente por ser um silicalo polybasico e correspondente á fórmula seguinte : (Na, K, Ca) Al2 Si3; a sua crystalíiza- ção se refere ao systema kliuoedrico e sua fôrma dominante é o prisma bio- bliquo, inclinado para a esquerda, aflectando frequentemente uma disposição hcmilropa, segundo a qual os crystaes se achatam e unem-se parallelamente ao eixo, de modo a deixar vér em uma das bases um angulo saliente e na outra um angulo reentrante ou goteira. Cumpre observar, todavia, que nu- merosas estrias revelam este grupamento nos crystaes de oligoclase, menos frequentes porém e de grandeza geralmente mais considerável do que os de orthosia. Esse feldspalho funde mais facilmente do que a orlhoclase em um vidro incolor e sob a acção dos ácidos manifesta, nas variedades muito ricas em cal, um principio de decomposição; entra na constituição de muitas ro- chas eruplivas, como sejam: o granito, o gneiss, o protogyno, o porphyro, o diorito, etc., e faz parte de outras de origem vulcanica moderna. Exami- nado finalmente ao microscopio, o feldspatho das rochas plutonicas revela, embora em menor escala do que o quartzo, traços da sua proveniência ignea, attestada por algumas inclusões e microlilhos. A malacacheta ou mica é um outro elemento essencial do granito, que se revela á simples vista pela sua disposição em palhetas, de contorno irre- gularmenle hexagonal ou rhombico, flexíveis, elaslicas, realçando por sua côr sombria ou clara, ou por seu brilho nacarado e semi-metallico, das mas- sas de que faz parte. A cryslallização da mica tern por typo o prisma ortho- rhombico; pois, segundo o parecer dos Srs. de Senarmont e llauy, julgamos que a presença de um unico eixo optico nas micas do Vesuvio póde ser expli- cada, desde que admitíamos que os crystaes deste mineral são constituídos por elementos grometricamente isomorphicos, os quaes tendem a desviar os seus eixos opticos em torno da mesma bissectriz, mas em planos differentes que coincidem ora com o macro ora com a micro diagonal das bases. Além disto, esses eixos podem ainda ser desviados segundo certos ângulos que variam com a proporção dos elementos componentes, e que portanto podem dar logar a uma simplificação ou annullação de effeilos no caso for- tuito, em que essas proporções fôrem opticamente equivalentes ; o que por outras palavras se póde resumir, dizendo que o angulo dos eixos opíicos nesta especie varia de 0o a 70(). Cumpre além disto observar, que tendo-se reconhecido que essa bissectriz é o eixo de maior elasticidade, ficou por este facto provado, que os crystaes ahi são sempre negativos. Pelo que diz respeito á composição, é ella muito variavel; mas em geral reduz-se a um monosilicalo de alumínio combinado com um bi ou trisilicato alcalino ou terroso, sendo a base predominante quasi sempre a potassa ou a magnesia ; entretanto as micas alcalinas a 2 eixos do granito correspondem quasi sempre á fórmula r Si + m AI2 Si, podendo rn ter os valores 2, 3 ou 4. Sob a acção do maçarico as micas polassicas determinam com o sal de phosphoro um vidro amarelio-esverdeado, que revela a presença do ferro, emquanto que no ensaio em tubo aberto se reconhece a existência do fluor. Na mica muitas vezes se observa em vez da alumina o sesquioxydo de ferro, de manganez ou de chromo, e em vez da potassa, a sóda ou a lithina, dando origem a numerosas variedades. A sua origem ignea parecerá provada se observarmos a frequência com a qual a mira é encontrada nas rochas erupti- vas, e ainda mais, referindo a observação do Sr. Mitscherlich, que diz ter assistido á sua producção artificial nas escorias de uma mineração de cobre na Suécia. A ausência ou mesmo a diminuição notável na proporção de qualquer dos elementos constituintes transforma o granito em outras rochas, que são para elle verdadeiras variedades; é assim que a falta ou quasi completo desappa- recimento do feldspatho dá logar ao hyalomicto; que a presença de raros crystaes de quartzo e mica em uma rocha quasi exclusivamenle formada de orthosia vermelha e de oligoclase, dá-lhe o nome de granitito; em outras massas é a ausência quasi absoluta da mida, algumas vezes representada por grandes laminas prateadas, que produzo caracter distinctivo du pegmatito, que toma o nome de graphico, todas as vezes que o quartzo simula em sua distribuição os verdadeiros caracteres hebraicos. As transformações da estructnra podem lambem occasionar variedades, entre as quaes já classificámos os guetes, que pela desapparição da mica se tornão leptinitos; assim a segregação de grandes crystaes dá por vezes logar a granitos porphyroides, onde os maiores crystaes de ortboclase parecem passar a adularia no seu interior. Emfim, imaginando que aestructura gra- nular se torna de mais a mais compacta e semi-crystallina ou meio vitrea, le- remos o eurito, que apresenta alguns caracteres de micro-íiuctuação na estrue- tura, e onde o augmento na proporção do quartzo ou do feldspatho póde produzir os felsit-porphyros ou porphyros quartzosos no Io caso, e no 2o caso os felsitfels ou porphyros orthoclasicos, que por sua estructura parecem esta- belecer o verdadeiro laço entre os produclos das erupções antigas e o das erupções recentes. A substituição de alguns elementos do granito por outras substancias, dá origem a rochas, que se lhe filiam pe'a communidade de alguns prin- cípios ; tal como o protogyno, onde a mica é total ou parcialmenle substi- tuída pelo talco, cuja composição (Mg6 + H2)Si5 segundo Scheerer e Delesse, tanto se assemelha a um bisilicato de magnesia, induzindo a crôr que elle re- sulta da decomposição dos amphiboleos ou pyroxenos. Caraclerisados por sua estructura ora fibrosa, ora lamellar, o talco, não obstante, distingue-se da mica não só pela ausência de elasticidade em suas palhetas, como lambem pelo seu grâo de dureza apenas representado por 1 ; embora a crystalliza- ção lambem se faça segundo prismas orlhorliombicos, facilmente cliváveis em um sentido parallelo ás bases, e apresente dous eixos de dupla refracção, que ahi formam um angulo de 7o e 24', cuja bissectriz negativa é normal á base; quanto á sua coloração varia do branco da neve ao verde, com um brilho na- carado ou graxo. Emfim, por seus caracteres chimicos é facil ainda caracteri- sal-o ; visto estar veriticado que elle accusa sempre um forte desprendimento de vapor d’agua, quando muito aquecido; bem como uma prompta exfoliação, que não é seguida de fusão ; sem tratar de sua propriedade de ser inatacavel pelos ácidos. Muitas vezes a mica ou o quarlzo do granito são em parte ou na totalidade substituídos pela hornblenda e então temos o syenito, que é em certos casos constituído exclusivamenle por este ultimo mineral e pela orthoclase. A horn- blenda, que é o mineral caracterislico da rocha que estudamos, não é mais do que um amphiboleo e como tal deve, segundo Bonsdorff, ser formado de um bi e de um trisilicato, correspondendo á fórmula (r3 Si + r4 Si3) e onde o oxygeneo da silica está para o das bases na relação de 2,5:1. Entretanto Rammelsberg lhes dá uma composição analoga á dos pyroxenos r3 Si2, baseando-se além do mais na transformação, observada por Mitscherlich e Berthier, do tremolito no diopsideo pela fusão ; como, porém, alguns amphiboleos não se deixam re- duzir á fórmula dos pyroxenos, sem a intervenção de hypotheses mais ou menos forçadas, admiltiremos ainda, com a maior parte dos autores, a fór- mula de Bonsdorff. Em todo caso a hornblenda apresenta, além das bases or- dinárias, isto é, da cal, da magnesia e do oxydo de ferro, uma outra base ter- rosa, como a alumina, que póde se achar em porporções que variem até l6°|o. Caracterisado no mais pelas seguintes propriedades physicas: dureza, representada por 5,5, coloração habitual verde-escura ou preta, o mineral 21 que descrevemos se apresenta sob íórmas cryslallinas pertencentes ao systema klinorhombica, clivando-se sómente segundo laminas parallelas ás faces in- clinadas de um angulo de 124° 30’, e muito semelhantes no aspecto exterior ao augito. Finalmente, é faoil distinguil-a no ensaio chimico por sua prompta fusibilidade em esmalte prelo, e nas variedades ricas em ferro ainda por sua solubilidade e decomposição parcial sob a acção do acido chlorhydrico. Entre- tanto o typo de composição dos syenitos póde muitas vezes variar como o seu lypo de estructura, e produzir no primeiro caso algumas rochas como o mias- cito, em que parle da hornblenda é substituída pela mica preta, á qual se vêm associar alguns mineraes do grupo dos feldspathidos, como o eleolilho e o sodalilho, e além deste o syenito zirconiano, e outros que não possuímos entre nós, ou que ainda não têm sido aqui encontrados. Quanto á estructura, foram mais de uma vez observadas no Brazil nume- rosas variedades que se revelam, ora com um aspecto ou disposição gneissica, ora francamente porphyrica, tendo, neste caso, recebido o nome de orthophyro, quando privadas de quarlzo. Imaginando agora que a oligoclase do syenito passa da categoria de ele- mento secundário a se tornar essencial, e que a orthoclase seja inteira- mente substituída por u na pequena proporção de labrodorito, teremos formado com a hornblenda, e por vezes, uma pequena quantidade de quarlzo, a rocha conhecida sob o nome do diorito. Essa rocha, de estructura granular e crystallina, se apresenta na natureza com uma coloração verde-escura, quasi negra, em virtude da predominância da hornblenda, que ahi se deixa vêr sob a fórma de grãos, de crystaes tubu- lares, ou em fórma de agulhas finissimas, e se mostra no campo do micros- copio porosa e rica em microlithos de feldspatho e de magnetito, bem como em inclusões vitreas. Quanto ao feldspalho plagioclasico e algumas vezes o quartzo, apparecem sempre como grãos microscopicos, excepto nas variedades quartziferas. O diorito possue entre nós variedades de estructura como sejam o diorito aphanitico, tão finamente granulado, que simula uma massa homogenea; o diorito porphyroide, a que se prendem os porphyrilos, onde sobre um fundo escuro e aphanitico se destacam crystaes de oligoclase de côr clara e outros de hornblenda verde-escura, e emíim as variedades schistoides devidas ao paralle- lismo, por vezes affectado pelos crystaes de hornblenda e da mica. Quando o amphiboleo predomina excessivamente, de modo a constituir quasi 22 por si só a rocha, teremos um amphibolito ; se, porém, conservado o feldspatho plagioclasico substituirmos a hornblenda pelo pyroxeno augito, e o fizermos acompanhar pelo chlorito, embora menos frequente, teremos em vez de um diorilo uma diabase. 0 feldspatho é ainda ahi dislribuido em grânulos microseopicos, só percep- liveis a olhos nús nas variedades granulares da rocha ; o augilo, porém, que se nos revela agora como o mineral caracteristico, se distingue por sua côr escura, pelo brilho vilreo das suas polidas faces, e pelos demais caracteres communs aos pyroxenos, a cujo grupo pertence. Dentre os mineraes desse grupo é facil dis- tinguil-o ainda pela presença da alumina, que pôde se elevar até a proporção de 12 %, além das bases mais communs como a magnesia, a cal e o oxydo de ferro. Estudado em sua fórma cryslallina, o augito nos apresenta prismas klino- rhombicos, cujas faces se inclinam sob um angulo de 87°, e soffrem clivagens paralielas a essas faces, além de outras, que também o são em relação ás secções diagonaes,ainda que menos accentuadas. Cumpre, porém, notar que não incluímos nesse numero as que são paralielas á base dos prismas, as quaes podem ser apenas o resultado da separação de numerosos crystaes laminares mas distinctos de augilo, que em todo o caso funde mais difficilmente em um vidro preto do que os amphiboleos. Quanto ao chlorito é um verdadeiro intermediário entre a mica e o talco, prendendo-se antes á primeira pela sua composição chimica, a qual, embora mal estudada, tem sido referida a um hydrosilicato de magnesia e alumina, que produz por decomposição certas terras verdes. Asuafórma crvstallina deve ser contada no numero das variedades do lypo hexagonal, e em outros exemplos entre os prismas rhombobasicos ; emquanlo que por sua flexibilidade e pela falta da elasticidade de suas laminas, se o tem comparado ao talco, do qual aliás distingue-se não só por suas propriedades opticas e pela quantidade da agua que desprende no ensaio por via secca, como também pela sua solubilidade nos ácidos. A estruclura das diabases também varia de modo semelhante ao que deixámos apontado para as outras rochas. Resta-nos, pois, somente na rapidaresenha que fizemos dos caracteres petro- graphieos das rochas plutonicas, tratar dos mineraes que frequentes vezes se lhes associam, antes de enlrar no estudo da distribuição desses colossaes mate- riaes, considerados até agora como os mais importantes fundamentos, sobre que repousa a historia da formação dos terrenos do Brazil. No numero dos prineipaes mineraes, que acompanham o granito, citaremos apenas alguns, que por sua frequência e abundancia se tornam notáveis, ou os que pelo contrario são salientes por sua grande raridade e pouca frequência. Entre os primeiros, nos apressaremos em citar a granada, mineral por lai fórma frequente nos granitos, gneiss, leplinitos, etc., que serviode base á creaç-ão de uma outra variedade do granito sob o nome de granulito. Mostrando-se geral- rnente com uma coloração vermelha, a granada pòde affectar outras còres, mas distingue-se facilmente por sua crystallização em dodecaedros rhomboidaes, ou em trapesoedros, e pela sua composição chimica resultante da mistura de bases isomorphicas no typo de um silicato aluminoso, unido a uma base monoxydada e terrosa: (Si2 R r 3). Em suas propriedades chimicas, physicase exteriores avulta o brilho vitreo, a fraclura conchoidal, a fusibilidade ao maçarico, dando em resultado um globulo vitreo colorido e um tanto magnético depois de resfriar, que revela a presença do ferro ; sem tratai da sua dureza representada por 6,5 a 7,5. O calcareo também se associa frequentemente ao gneiss em possantes veios, constituindo uma especie de mármore em certas regiões do valle do Parahyba, principalmente junto á Barra do Pirahy, onde é explorado para extracção de excellente cal, que tem servido de base á aceumulação de magnificas riquezas. Em outros pontos, como em Carandahy e na serra da Ibitipoca não longe de S. João d’El-Rei, esse mesmo mineral fórma curiosissimas e esplendidas ca- vernas. À lurmalina, principalmenle na variedade preta, denominada aphrisito pelo illustrado mineralogista brazileiro José Bmifacio de Andrada, foi por nós mais de uma vez observada em rochas eruptivas, de modo a poder ser em alguns casos confundida com oaugilo ou com a hornblenda, dos quaes não obstante a sua fórma cryslallina quando visivel a faz claramente separar. Os caracteres crys- tallographicos que a distinguem reduzem-se ao prisma trigonal, com numero de faces geralmente impar, estriadas longitudinalmente, e possuindo nas extremi- dades do eixo fundamental dos rhombojdros polos analogos e antilogos, que re- velam as propriedades pyroelectri as intimamente ligadas á hemiedria polar de suas bases. A composição chimica da turmalinaa faz classificar como um boro- silicato de aluminae de uma base monoxydada alcalina ou alcalino-terrosa; ex- posta á chamma do maçarico ella funde em uma massa escura ou parda, e revela, quando misturada em partes iguaes com o bisulphato de potássio e a fluorina, a presença do acido borico pela coloração verde, que imprime á cliamma. Neste mesmo ensaio é possível também se conhecer os casos em que a coloração escura é devida a substancias biluminosas ou a oxydos melallicos. No gneiss do Riacho do Sangue em Balurilé, bem como em certos calcareos.que de Muriahé a Canlagallo vêm na direcção da Barra do Pirahy, tem sido revelada a presença do graphito,que, segundo o Sr.Liais, lambem é encontrado em sua chacara da Atalaia em Nitherohy. A sua pouca dureza comprehendida entre os gráos 1 e 2 da escala de Mohs, permitlindo-lhe a faculdade de dar traços pretos sobre o papel, o seu aspecto opaco junto a um brilho melallico ou de aço, finalmente a sua combustão embora difflcil ao fogo da oxydação, e os resíduos ou cinzas provenientes da mistura com o ferro, o oxydo de titanio, a silica, ou a alumina, podem caracterisar de um modo preciso e indubitável o graphito. Cumpre não esquecer na presente enumeração surnmaria o magnetito, que é encontrado algumas vezes atravessando em grandes massas os gneiss e mi- cascliislos, outras disseminando-se em pequenos crystaes irregulares ou em simples grãos no seio das rochas plutonicas ou das volcanicas, tanto nos dioritos como nos basaltos. A fórma dominante pertence ahi ao systema cubico, variando entre o octaedro regular e o rhombo-dodecaedro, estriado parallelamenle á grande diagonal, segundo facetas derivantes do oclae- dro, emquanto que a sua composição chimica deve ser referida aos oxydos intermediários de ferro, da fórmula Fe. Estudado em suas propriedades phy- sicas e chimicas, o magnetito se apresenta com um aspecto metallico e bri- lhante com reflexos de aço, quando compacto ou crystallizado, e de uma côr negra de carvão quando reduzido a pó ; diflicilmente fusivel produz nachamma de oxydação com o bórax uma pérola vermelha-escura, quando quente, que passa ao amarello e torna-se clara pelo resfriamento, adquirindo a coloração verde-garrafa na chamma de reducção; fmalmenle, é com facilidade solúvel no acido chlorhydrico. Resultando da substituição parcial na fórmula pre- cedente do sesquioxydo de ferro pelo de titanio se torna notável o cordie- rilo, pelo simples facto de predominar nas rochas volcanicas e fazer parte de muitas arêas pretas tão communs nesses logares; entre nós podem ser obser- vadas nos arredores da fazenda da Resaca, pertencente ao illuslrado fazen- deiro o Dr. Tebyriçá Piratininga, que nellas quiz vêr uma prova, além de outras, da origem volcanica da terra rôxa em S. Paulo. Muitas vezes os gneiss e granitos apresentam mineraes accessorios que pare- cem resultar da injecção de gazes através de sua massa; tal é o meio de explicar a coloração vermelha, impressa por um sal de ferro volátil, como talvez o chlorureto, a certos granitos e syenitos da zona que vai de Santa Catharina até ás proximidades de Porto-Alegre ; tal é provavelmente a origem das eflo- rescencias de chlorureto de sódio nos gneiss de Uruburetama no Ceará, bem como em Sobral e nas fontes tépidas de Carnahupagé. É de accôrdo com as observações do geologo Pissis que o distinclo astro- nomo Em. Liais divide os gneiss do Brazil em dous grupos ; ao primeiro dos quaes designa sob o nome de gneiss não raetalliferos para contrastar com o 2o, que é o grupo dos gneiss metalliferos, onde numerosas formações ricas em certos metaes se deixam vêr ligadas ás primeiras. Ora, deixando de lado o cobre nativo encontrado nos gneiss da Cachoeira, província da Bahia, ao qual os Srs. Spix e Martius attribuiram uma origem aerolithica, e que foi pelo professor Hartt filiado a um diorito poi phyroide, orbicular, existente nessas proximi- dades e no Serro da província de Minas-Geraes, vamos lançar um rápido olhar sobre os depositos auríferos existentes por vezes em simples calháos rolados sobre formações gneissicas a que não pertencem, como são os de Jaraguá na província de S. Paulo, e os de Cantagallo na nossa província do Rio de Janeiro. Os terrenos auríferos podem ser referidos a uma variedade de grão fino, muito schistoide, das rochas granitico-gneissicas, passando em insensíveis transições ao quartzito micaceo e aos veios de quartzito metallifero, que em razão de sua friabilidade, tem sido por alguns considerado como arèas convenientemente deslocadas e modificadas, e por outros como veios que representam uma verdadeira atrophia no desenvolvimento elementar do lypo granítico. 0 ouro nativo geralmente associado á prata, ao cobre e ao palladio se apre- senta na natureza frequentemente acompanhado pelas pyriles e principalmente pela pyrite commum, mineral de que não obstante se distingue por vanos caracteres. Entre elles faremos notar a côr, que é de um amarello mais vivo e brilhante, a elevada densidade, que varia de 17 a 19, 4, a mallea- bilidade e resistência á acção de todos os dissolventes, excepto á agua régia e a fusibilidade em um globulo na chamma do maçarico, sem entretanto alte- rar a pérola do sal de phosphoro. Esles caracteres podem, nfio obstante, falhar nas variedades argentiferas que lhe imprimem uma coloração amarellada, e no porpesito ou variedade palladifera, encontrada em Gongo Socco, na provín- cia de Minas. A sua cryslallização se refere ao primeiro syslema, e no ensaio por via húmida a presença do ouro é muitas vezes assignalada pela produc- ção da purpura de Cassius sob a arção do protochlorureto de estanho, ou melhor de uma mistura desse ultimo reagente com o bichlorurelo de estanho. Quanto ás pyrites que sempre acompanham o ouro, e podem ser encon- tradas nos dioritos, etc., ora são pyrites de ferro commum, ora chalkopyrites, ora pyrites arsenicaes conhecidas também pelo nome de mispickel. A pyrite commum, que se acha extraordinariamente espalhada na natureza, corresponde á formula Fe, e começa por caracterisar-se pela sua fórma crys- tallina, que é o dodecaedro pentagonal ou hexadiedro, resultante das mo- dificações parahemiedricas das fôrmas holoedricas do primeiro systema ; e ainda se define por sua densidade representada por 5, por sua coloração amarella semelhante á do latão, e pelas suas reacções chimicas. Além disto, aquecida em um tubo, fechado por uma das extremidades, desprende gazes sulphurosos ; sobre o carvão começa por arder com chamma azulada, e dá depois pela aeção reductora do dardo luminoso um globulo preto ou muito es- curo, cujo pó é facilmente altrahido por uma barra magnética; emfim mis- turada ao borax produz uma pérola verde-garrafa. i i > A chalkopyrite ou sulphurelo duplo de cobre e ferro (Cu+ Fe)2 Fe se distingue quasi sempre á primeira vista da precedente pelo aspecto irisado da sua superfície facilmente alteravel, apezar da semelhança geral de côr, que toma a primeira uns toques, ora esverdeados, ora côr de cobre, e ainda mais pela sua crystallização no systema quadrático, principalmenle nas for- mas antihemiedricas, como a do sphenoedro. No entretanto, segundo Hauy, essa fórma cryslallina deveria ser referida ao systema cubico, opinião essa que foi um verdadeiro engano da parte do celebre mineralogista, aliás justificável, attendendo ao imperfeito goniometro de applicação de que se servia, e que o induzio a tomar o angulo de 108° e 40', quando muito de 109° e 53', do quadroctaedro do 2o systema pelo angulo de 109° e 28' caracteristico dos octaedros do systema regular. Quebrada em pedaços a chalkopyrite revela uma fractura irregular e im- perfeitamente conchoidal, e, submettida sobre o carvão ao maçarico, produz um globulo quebradiço, cujo pó é atlrahido ao iman; misturada ao carbonato de sódio produz o globulo caracteristico de cobre; submettida ao ensaio por via húmida, a chalkopyrite dissolve-se no acido azotico, ao passo que a solução tinge-se de azul pela addição do ammoniaco, precipitando abundantemente o oxydo de ferro. Mui diversas das precedentes são as propriedades do outro typo de pyrites, a que nos referimos, isto é, do mispickel. Na verdade, constituído por um arsenio-sulphureto de ferro, que muitas vezes se desdobra da fórmula Fe (As2, S2) nesta outra Fe S"2 + Fe As2, a pyrite arsenical crystalliza em prismas ortho- rhombicos com clivagens fáceis parallelamente ás faces, e em certos casos, degenera na estructura bacillar. As suas propriedades physicas e chimicas reduzem-se ás seguintes: dureza representada por 5,5, densidade por 5, e, em virtude de sua tenacidade, producção de scentelhas ao choque com desprendimento de cheiro alliaceo; emfim, coloração de um branco de prata nas variedades puras, passando fre- quentemente à côr de aço ou amarellada. Reduzida a fragmentos, que apre- sentam traços de uma fractura granular e desigual, submettidaem um tubo, fechado por um dos extremos, ao fogo, produz um sublimado avermelhado de sulphureto de arsénico. No carvão desprende, sob a chamma do maçarico, vapores dotados de cheiro alliaceo, acabando por produzir um globulo magnético, einquanlo sob a influencia do acido chlorhydrico concentrado, o mispickel dissolve-se com deposito de enxofre. Outro mineral accidental mui diverso é o que se observa frequentemente nos quartzitos de Queluz, sendo, por sua composição chimica, um oxydo silicoso de manganez, de côr negra ou bastante escura, em diversos pontos associado ao bisilicato e ao hydrato de manganez. Essa côr escura não deve ser estranhada, desde que soubermos que o oxydo silicoso de manganez ou rhodonito Mn3 Si2, tendo uma côr vermelha ou rosea, muitas vezes apre- senta uma variedade de coloração negra, que resulta de um comêço de alteração e é conhecida por opsimose, embora não deva essa côr á presença do manganilo ou acerdèse, encontrado em Queluz. Esse ultimo mineral, que corresponde á fórmula Mn H crystalliza em prismas orthorhombicos, es- triados longitudinalmente e facilmente cliváveis, segundo planos parallelos á macrodiagonal. Este modo de crystallização, bem como a sua coloração escura, passando ao negro metallico o faz por vezes confundir com o pyrolusito, do qual aliás se distingue não só pela côr avermelhada do seu pó, como também pelo ensaio chimico. Com effeito, aquecido em tubo aberto, desprende vapores d’agua, que se condensam áciraa sob a fórma de pequenas gottas na super- fície resfriada do tubo, revelando no mais o caracter dos oxydos de man- ganez. Alguns dos nossos quartzitos lalcosos são acompanhados de wavellita e de barytina: o primeiro não é mais do que um phosphalo hydratado de alumina, conhecido apenas sob a fórma de delicadas agulhas, resultantes da deformação de prismas orthorhombicos e dispostos em estructura fibro-radiada nas massas ou estalactites, sob cujo aspecto se apresentam na natureza. Dotada de uma côr cinzenta esverdeada ou mesmo escura, a wavellita (Ph2 Al3 4- 12 H) parece ser infusivel e é solúvel sómente a quente nos ácidos. O segundo mineral, isto é, a barytina.é o sulphato neutro de baryo.da natureza Ba S, conhecido também sob o nome de spatho pesado, em razão de sua densida- de, que se eleva a 4, 5, Crystalliza também em prismas orthorhombicos, cujas faces parecem ser quadradas, em virtude da pequena differença nas dimensões das arestas e facilmente clivavel, possue a dupla refracção a dous eixos, de modo que a linha média é parallela á pequena diagonal das bases. O aspecto desse mineral é vitreo e muitas vezes transparente, sua côr mais commum é branca ou amarellada, e exposta á chamma externa do maçarico diífi- cilmente funde em um esmalte branco, emquanto que na chamma interna se transforma em sulphureto de baryo. Finalmente, resiste á acção dos ácidos e dos carbonatos alcalinos, como se póde verificar nas amostras recolhidas na proximidades de Antonio Pereira e de Ouro-Preto. Aos quartzitos das minas do Morro-Velho se associa muitas vezes a dolomia, carbonato duplo de cal e magnesia, correspondendo á fórmula média Ca C + Mg C e que se distingue do calcareo pelo angulo do seu rhomboedro de clivagem, de- terminado exactamente pela fórmula resultanle da lei de Beudant: A=r^“bí A interpretação da precedente fórmula depende apenas do conhecimento da composição da dolomia e do estudo goniomelrico das fôrmas dominantes dos carbonatos extremos desta série, na qual a dolomia é uma verdadeira hy- brida, isto é, do calcareo e do giobertito. Caracteres de natureza physiea assim como outros de natureza chimica ainda separam esta especie do calcareo; com effeito, o brilho nacarado das suas faces, a sua solubilidade lenta e sem effer- vescencia sensível no acido asolieo, o abundante precipitado branco ecrystal- lino produzido em sua solução, aquecida pela addição do oxalato de ammonio, que reprecipita ao esfriar, bastam para dislinguil-a de um simples carbonato de cálcio. Ainda poderemos encontrar acompanhando os quartzilos do Morro-Velho, os mineraes mais diversos sob o ponto de vista da composição chimica; taes como a siderose, o albito, o vivianito, a galena e algumas vezes a bismutbina, as quaes procuraremos estudar a traços rápidos. Começando pela siderose ou carbonato de ferro da fórmula Fe C, observa- remos ahi como fórma dominante o rhomboedro de 407°, cuja clivagem se apresenta facil em direcções parallelas ás faces. Tanto a sua densidade como a dureza são representadas mais ou menos por 4, emquanlo que a sua culoração varia do amarello ou cinzento amarellado a côres escuras e approximadas ao pardo mais ou menos avermelhado; atacada pelos ácidos dissolve-se com fraca effervescencia e sob a chamma do maçarico produz um globulo preto e magnético, quando reduzido a pó. O albito é um feldspatho de base sodica, cuja fórmula é a seguinte: Na Àl2 Si4; quanto á sua fórma erystallina deve ser referida ao systema klinoedrico ; apresenta tres clivagens, e mesmo em algumas variedades quatro, sendo a mais facil parallela ás bases. A frequência da himitropia effectuada em torno de um eixo perpendicular ás faces M da fôrma fundamental, parallela- mente ás quaes se dá o grupamento mais commum, produz em uma das bases um angulo reentrante, que se torna um traço distinctivo em relação a algumas outras especies. A sua dureza é representada por 6 a 6,5, easua côr mais commum o branco leitoso; inatacavel pelos ácidos o albito funde difíicilmenle ao maçarico, imprimindo â chamma a caloração que lhe dá a soda. Quanto ao vivianito não é mais do que urn phosphato de ferro azul corres- pondendo à fórmula Ph Fe3ll8, cuja crystallização deve ser referida ao systema klinorhombico e assemelha-se á do gesso ; ernquanto que a densidade é apenas de 2,6 e a dureza é representada por 2. Algumas variedades terrosas do vivianito apresentam o phenomeno notável de ter a parte central branca, emquanlo a parte externa affecta a coloração azul intensa commum a esta especie ; facto que induz a crêr que ahi como em outras phosphatos ferro os artificiaes, a coloração branca primitiva se transforma em azul por umasuper- oxydação do ferro. Submettido, íinalmente, ao ensaio por via sêcca, esse mi- neral começa por desprender vapores aquosos para fundir afinal em um globulo, que, reduzido a pó, é attrahido pelo iman. Como acima dissemos os quartzilos do Morro-Velho, assim como os que se apresentam nos arredores de Calta-Branca e de S. Vicente, contêm muita galena, algumas vezes argentiferae mesmo a bismuihina ou sulphurelo de bismulho * rn crystaes aciculares e rodeados quasi sempre de um pó amarellado, que nada mais deve ser do que o oxydo de bismulho resultante da sua decomposição. i A galena ou sulphureto de chumbo Pb tem para fôrma dominante o cubo, a cujas faces as clivagens se apresentam parallelas e fáceis, de modo a permiltir ao mineral umafractura sempre lamellar, onde mais brilhante se torna a sua côr de um cinzento metallico. Dotada de uma densidade média de 7,5e de uma dureza de 2,5 a galena goza ainda da propriedade de dar traços sobre 0 papel semelhantes aos do graphilo e que se distinguem facilmente dos do molybdenito; exposta sobre 0 carvão â acção do maçarico cerca-se de uma aureola amarella de oxydo de chumbo e dssprende vapores sulphurosos até produzir um globulo malleavelde chumbo. Finalmente, dissolvendo-se pelo acido asotico, a solu- ção resultante produz um precipitado branco de sulphato de chumbo pela addi- ção de qualquer outro sulphato, ou preicpita 0 chumbo no estado metallico pela immersão de uma lamina de zinco. Quanto á bismuthina ou sulphureto de bismutho, Bi, se apresenta na natureza em longas agulhas ou prismas orthorhombicos, estriados e sempre deformados como os da stibina, coloridos em cinzento metallico, tirando um pouco sobre o amarello, e em alguns casos irisados superficialmente. No entanto se distingue da stibina não só por sua densidade 6,5 que é mais elevada, como pelos caracte- res observados sobre o carvão ; onde a bismuthina entra em ebullição, e projec- tando pequenas gottas incandescentes, cerca-se de uma aureola amarella 0 pro- duz um globulo quebradiço de bismutho. A camada dos gneiss metalliferos, que segundo o Sr. Liais não fica áquem de uma possança de 2,000 metros, apresenta-se em alguns pontos como em Caethé, Pitangui, nos arredores de Serraria, etc., atravessada por massas mais ou menos desenvolvidas de serpentina, rocha que segundo alguns geologos deve ser considerada como uma mistura adelogenica de steatito, diallage e hydrato de magnesia, e por outros como um mineral resultante da mistura ou combinação do bisilacato com o bihydrato de magnesia. O que é certo, porém, é que a base magnesiana é por vezes substituída pelo oxydulo de ferro, que lhe imprime uma coloração verde amarellada ou escura, e outras vezes parda atra- vessada por listras de côr mais clara, que lhe valeram o nome de serpentina. A sua estructura é compacta, mas um tanto macia ao tacto ; a densidade pôde ser representada por 2,5, sendo 3 o grau de dureza; submettida á calcinação a serpentina desprende agua, e sob a acção do maçarico difficilmente funde nos bordos, tornando-se mais branca e mais dura â medida que se prolonga esta acção. Na serra de Ibiturema as massas serpentinosas são atravessadas como os quartzitos da Timbompeba junto a Ouro-Preto por veios de asbesto filamentoso, nome que antes designa um modo especial de estructura do que uma especie particular, pois os mais conhecidos são simples variedades dos amphiboleos actinoto e tremolita. Km muitos veios quarlzosos também se encontra frequentes vezes o rutilo, o qual obedecendo como o anatasio e o brookilo à fórmula Ti, cryslalliza em prismas do systema quadrático, muitas vezes alongados em agulhas ou fibras. A densidade desse mineral regula 4,3 e a dureza 6,5; quanto á côr de um ver- melho escuro, ou mesmo de um amarello tirando sobre o pardo, é realçada por um brilho adamantino ou metalloide. Infusivel ao maçarico, o rutilo, quando puro, funde addicionado ao carbonato de sódio, produzindo um sal so- lúvel no acido chlorhydrico, cuja solução deluida affecta uns tons arroxea- dos, quando nella se immerge uma lamina de zinco ; sob a chamma de reduc- ção e na pérola do sal de phosphoro, muito principalmente quando se junta um pouco de estanho, o mesmo mostra uma côr azul tendendo para o rôxo. Ainda nos mesmos veios e outras vezes na massa dos gneiss e dioritos selem observado o disthenio, silicato de alumina, da fórmula AI3 Si 0/1 disposto em agu- lhas azues e mais raramente brancas ou amarelladas, que resultam da defor- mação dos prismas do systema klinoedrico, geral mente terminado por facetas obliquas. A sua densidade é representada por 3,7 e a dureza, que varia conforme o angulo ou face experimentada, regula 5 nas faces do prisma, emfim apresenta a propriedade, revelada pelo seu nome, de desenvolver pelo altrito a electrici- dade, que nas faces de certos crystaes é positiva e na de outros negativa; gozando além do mais de infusibilidade, foi o disthenio applicado porSaussure para servir de supporte em ensaios pyrognosticos. Terminando ahi o exame de alguns mineraes mais frequentemente assignalados entre os que acompanham as rochas plutonicas em seu estado mais ou menos completo, e que por sua disposição ou natureza parecem ligar-se-lhes pelo laço de uma communidade de origem até certo ponto perceptivel; abandonando o exame dessas diversas phases, durante as quaes, uma redistribuição especial da matéria constituinte ou da adventícia, segregou nessas rochas as especies mineraes, que acabamos de descrever, passaremos a seguil-as em sua distribuição sobre o Brazil, para depois procurar, se possivel fôr, ligal-as aos terrenos, que na opinião geral dos geologos resumem os capítulos da historia evolutiva de todo o nosso planeta. Juntando nesta parte ao enorme material, que após longas e laboriosas excur- sões recolheram os viajantes, geologos e naturalistas, que, como os professores 32 Hartt, Gapanema, Gardner, Agassiz, Pissis, Liais, Darwin e outros, percorreram o nosso paiz, o insignificante e mesquinho cabedal, fructo dos nossos restrictos exercícios práticos, tentaremos dar uma idéa geral e muito summaria da vasti- dão das formações, plutonicas, que, em estado de aggregação ou de desag rre- gação, constituem quasi todo o sólo do Brazil. Qualquer que seja a província, pela qual comece-se a estudar a distribuição dessas rochas, encontra-se logo o granito, o gneiss, o diorito, o syenito, ou emíim qualquer das suas variedades a constituir o traço caracterislico dos terrenos. É assim que desde o Rio-Grande do Sul se reconhece esse typo de rochas a se destacar, já sob a lórma de collinas de syenito, como que circumscrevendo as bacias de carvão de pedra em Candiota, e elevando, segundo Nathaniel Plant, seu dorso arredondado á altura de 200 a 300 pés; já associando-se ao granito, ao mi- caschislo e mesmo a rochas eruptivas modernas, que dizem ser trachytos e ba- saltos, para vir se abaixar sob as formações de grés e de carvão de pedra em de- clive suave, emquanto na face opposla o terreno foge em perfis ondulados até 3 a 4 léguas de distancia. Outras vezes é o typo granítico que, perdendo seus mineraes essenciaes, se apresenta como quarlzitos ricos em elementos accidentaes, onde avulta o cobre e o ouro geralmente menos abundante nas camadas superíiciaes dos veeiros. Em La- vras no município de Caçapava, por exemplo, são elles cercados pelos gneiss por- phyroides, que constituem a rocha dominante, e pelos syenitos, dioritos e outros onde se faz notar a presença frequente da hornblenda. Approximando-nos do littoralparacosteal-o, vamos encontrar, a partir do Paraná e seguindo, em geral na direcção ENE, a costa das províncias do Paraná e S. Paulo, a grande Serra do Mar, que se eleva em alguns pontos a uma altura de 2,500 a 3,000 pés, formando como que um enorme paredão gneissico a sustentar as terras altas do massiço central brazileiro. Ora, se galgarmos esta serra em sua parte denominada Cubatão, que domina a cidade de Santos, chegaremos ao planalto sobre que repousa a de S. Paulo em um sólo argilloso, resultante da decomposição de um gneiss granitoide, cercada ao longe por algumas collinas, entre as quaes mencionaremos a de Jaraguá, cujo núcleo raras vezes apparente ó de um granito passando a gneiss, quasi inteiramente occulto sob numerosos conglomerados e espessa camada de terra vegetal. Dahi por diante o terreno mais ou menos on- dulado se eleva gradualmente até Campinas, donde se desenrolam cintas de col- linas, que se dirigem com algumas interrupções na direcção do Paraná, para dahi descerem até as planícies do Paraguay e da Republica Argentina. Partindo, porém, de Campinas e seguindo a estrada que leva ao Rio-Claro, ou mesmo a que se dirige para Casa-Branca e que cortam ambas a zona de terra roxa, encon- traremos não só junto á Limeira como em Resaca verdadeiros dykes, ou simples veios da chamada pedra de ferro, que nada mais é do que um diorito, p ssando á diabase, encontrado não somente nestes pontos, em que elle se acha em via de decomposição entre as argillas, como também mais longe em Ypanema, acom- panhado de porphyros, grés e grandes massas de ferro em exploração. Abandonando porém o interior, se voltarmos a acompanhar a Serra do Mar, vel-a-hemos inclinar-se para NO, ao entrar na província do Rio de Janeiro, e assim afastar-se do littoral, deixando estender-se uma vasla planície, em que se acha situada a cidade do Rio de Janeiro, onde apparecem, como ilhas granitico-gneissicas, os montes que se destacam no seio da cidade, ou que emergem das aguas na vasta bahia do seu nome. Deixando, entretanto, de lado as formações gneissicas da ilha da Enxadas e da ilha das Cobras, em cuja massa rochea abriram-se os collossaes diques, que se prestam mesmo ao reparo dos mais importantes vasos de guerra ; não tratando também da ilha do Governador, em parte formada de gneiss; nem tão pouco da ilha de Paquetà, onde as massas dessas rochas são ligadas por trechos arenosos mui conchyli- feros ; occupar-nos-hemos Ião sómente dos montes que se avizinham á cidade, ou que imprimem-lhe um fácies orographico especial. É assim que do lado Occidental da entrada da bahia do Rio de Janeiro, faremos notar o Pão de Àssucar, que parece pertencer á cadêa de monta- nhas situada ao occidente da lagôa de Rodrigo de Freitas, e que é separado do Corcovado e montes adjacentes pelo valle de Botafogo. A sua altura pouco deve exceder a 1,100 pes, embora Burmeister lhe tenha dado 1,213, e outros ainda lhe atlribuam maior elevação. Estudado pelrographicamente o Pão de As- sucar, se nos revela como formado por gneiss mui finamente granulado, passando a outra variedade mais grosseira, e por vezes porphyroide, graças ao maior desenvolvimento de grandes crystaes de orthoclase côr de carne. Quanto à posição estratigraphica, parece concordar com a das collinas que o rodeam; cujas camadas mergulham todas na direcção do Sul, sob um fraco angulo, como é facil observar antes de chegar à praia de Copacabana. Dominando o valle de Botafogo se ergue o Corcovado, pico de fórma mais ou menos cónica, que mede cêrca de 2,179 pés de altura, e é terminado em abruptas encostas por seus tres lados ; caracter que distingue muitos dos montes do Rio de Janeiro; emquanlo, por uma outra face, elle prende-se à massâ de collinas à qde pertence, permitlindo a subida por uma escarpada rampa dirigida sobre o valle opposto. Constituída na base por um gneiss por- phyroide, que se apresenta com caracter bem laminado junto ao vertice, e possue largos crystaes de feldspatho e granadas como os da Copacabana, essa monta- nha apresenta na parle superior urna estratificação levemente inclinada para o Sul, quando, por seu caracter geral, as camadas em toda a massa se dirigem para o Norte, como se observa em muitas rochas espalhadas na bahia, e como se deve realmente admitlir, segundo Agassiz, attendendo ao caracter anliclinal do valle de Botafogo. Uma passagem montanhosa de cêrca de 1,000 pés de altura, designada sob o nome de Bôa-Visla, separa o Corcovado daTijuca, e se eleva ao Norte do primeiro até uma altura de 3,447 pés, sob a fórma de um outro pico agudo e conico formado de gneiss, que se prende á Léste a uma série de collinas, e domina de um lado o valle do Andarahy, e do outro uma planície alluvial cir- cumdada por um cinto de collinas, sobre as quaes se despenha a Cascata- Grande. Proximo ao local conhecido sob o nome de Benett se encontram pe- nedos soltos e arredondados, constituídos por gneiss ou por diorito e quartzo, que parecem provir das montanhas próximas por desaggregação ; mas que Hartt attribuio á decomposição dos dykes dioriticos que ahi devem emergir, emquanto Agassiz quiz vêr nelles um phenomeno errático caracleristico das acções glaciaes. Ora, além dos picos conicos, conhecidos sob o nome de Tres-lrmãos, que se acham a umas 3 milhas ao Sul do Corcovado e da Gavea, a qual eleva o seu cume achatado a uma altura de 3,000 pés, e cinge, com algumas das outras que descrevemos, em uma especie de annel a lagôa de Rodrigo de Freitas, todas as de mais collinas ou morros se achão inteiramenle decompostos sob a fórma de barro vermelho, ou constituem as bem conhecidas pedreiras de S. Diogo, Morro da Viuva, etc. No entretanto, a Serra do Mar, separada do littoral por uma extcnsissima varzea, perdendo em alguns pontos o seu papel de muralha de sustentação com referencia ao massiço central, cede-o á serra da Mantiqueira, a que per- tence o pico de Itatiaia, por muito tempo considerado como o mais alto do Brazil. O Itatiaia, que se eleva a cerca de 9,073 pés, é inteiramenle constituído por gneiss, apezar da opinião de Burton, que alii quiz vôr 2 crateras, bem como fontes sulpliurosas e outros caracteres dos terrenos volcanicos. A serra do mar, prolongando-se porém aquém do valle do Parahyha, encontra a serra do Tinguá e continua para Léste, como que descrevendo um arco concêntrico á bahia, sob os nomes de serra da Estrella, dos Órgãos, do Morro-Queimado, etc., em cujos planaltos repousam Petropolis, Theresopolis, Friburgo, etc. É facto muitas vezes observado na serra dos Órgãos, a estrati- ficação quasi vertical; entretanto, nas porções do Norte e do Sul, os leitos das camadas não se inclinam tanto, de modo que a desintegração, sendo me- nor, os cumes se formam mais solidos e menos abruplamente recortados do que os picos, que valeram a esta serra o nome que possue, alguns dos quaes têm uma altura avaliada pelo Sr. Liais em 7,000 pés. Desde a base do Morro-Queimado, isto é, desde os terrenos montanhosos e gneissicos de Cachoeira, que affectam uma estraliiicação quasi vertical, até o Porto das Caixas, as formações revelam a existeucia de rochas eruptivas, pelo menos no estado de decomposição a mais adiantada, produzindo o barro tão frequentes vezes encontrado, ao qual Darwin altribuio uma origem toda sedimentaria, emquanlo Agassiz ainda via provas de um drifl collossal. Abslra- hindo dos dioritos porphyroides de Itaborahy para entrar na cidade de Ni- therohy, encontraremos ainda na Ponta da Arêa e na Armação gneiss geral- mente cinzento, umas vezes íinamenle schistoso e quasi sem traços percepti- veis de estratificação, outras com grandes crystaes de feldspatho côr de carne, pouca e esverdeada mica junta a um quartzo avermelhado, sendo o caracter mais ou menos porphyroide. A rocha é ahi notável pelo facto de apresentar ge- ralmente a maior dimensão de crystal feldspathico no sentido da estratifica- ção ; o que parece confirmar as vistas do Conselheiro Capanema sobre a for- mação dos gneiss. A segregação de grandes crystaes de feldspatho na massa cinzenta e de granulação um tanto fina, se faz ainda notar na pedreira si- tuada a Eéste da igreja de S. João Baptista; bem como junto ao forte de Gragoatá, onde se tem assignalado do lado do Sul, alguns pequenos veios de ferro. Seguindo na direcção da Praia de Fóra e Imbuy, encontraremos dioritos analogos aos que podem ser observados no Pedregulho e em Santa-Cruz ou na província de Santa Catharina, em Desterro, e na bahia de Porto-Bello. Ainda acompanhando o Iittoral da nossa província, veremos, da 1'onta Negra a Cabo-Frio, uma extensa planície arenosa, bordada de lagoas, e que parece terminar ante a ponta escarpada de Cabo-Frio. Essa grande massa rochea, separada em uma ilha das collinas da costa por um canal estreito, mas bastante profundo, é constituída, desde a extrema ponta do Sul até â furna da Thetis, por formações todas porphyricas, as quaes mais longe continuam como porphyros syeniticos e como dioritos mais ou menos aphaniticos. Cumpre, não obstante, observar que estas erupções porphyricas não abrangeram zona mui vasta, pois que do Cabo-Frio até á Ponta dos Busios ha poucos montes até mesmo de simples gneiss, e que estes só apparecem da Ponta dos Busios ao Cabo de S. Tliomé, com um carader laminado e uma estratificação ma s ou menos contornada, quasi sempre encobertos por argilla, a que o professor Harlt considerou como ter- ciária. Entretanto á medida que a praia, desde este ponto até Macalié, se vai abaixando e recortando em lagunas, as montanhas parecem fugir na direc- ção de Campos ou para o seio do proprio mar, donde se eleva a algu- mas milhas da cidade de Macahé, a ilha de SanfAnna, quasi inteiramente formada de um gneiss alterado, servindo de abrigo aos pescadores, quando surprendidos pelas tempestades. Proximo ainda a essa cidade se destaca como um obelisco o chamado Frade de Macahé, ao qual Mouchez attribuio uma altura superior a 5,300 pés, e não muito longe deste, o elevado morro do Sapateiro, que conta cêrca de 2,000 pés e se acha em frente ao da Onça, cuja altura é de 4,200 pés, a pouca distancia da fazenda do Ou- teiro não longe de Campos. No trajecto desta ultima cidade a S. Fidelis se apresenta o terreno a principio bastante plano, e vai pouco a pouco on- dulando em collinas mais ou menos elevadas, cujos ílancos abruptos ou ar- redondados lembram as da cidade do Rio de Janeiro, tanto mais quanto ahi domina o gneiss porphyrico e granatifero. Retrocedendo um pouco até Cantagallo, não deixaremos de dar uma idéa das suas rochas graníticas, ás quaes a presença da hornblenda tende a fazer passar ao syenito, rocha que se reproduz em Santa Rita, situada a cinco léguas de distancia ao Nordéste. O aspecto do gneiss, comtudo, é diverso, não só na região que costeia o caminho do Vallão-Grande a Oéste do Rio Muriahé, como na Serra do Motuca, que se estende até Bom- Jesus; com effeilo a sua laminação mais accentuada, e principalmente sua estratificação quando comparada á da Serra dos Órgãos, a faz distin- guir francamente; pois é leve a sua inclinação na serra de Itabapoana, e é complela a sua horizontalidade em S. Pedro e no forte da Limeira. Dentre os montes, que avultam nas proximidades da Limeira, não se deve omittir o pico denominado Garrafão, em virtude de sua fôrma estreita, es- carpada de todos os lados e alongada na direcção de Léste a Oéste, de modo a lhe imprimir um aspecto especial, variavel com o ponto de obser- vação ; a sua altura regula de 2,000 a 3,000 pés. Emfím, fazendo parte do grupo de collinas de gneiss, que se estendem entre os rios Itabapoana e Parahyba e situada a 5 ou 10 milhas do Garrafão, destaca-se a agulha bas- tante aguda, mas de fórma cónica regular, conhecida pelo nome de Pedra-Lisa. Transpondo o rio Ilabapoana e penetrando na província do Espirito-Santo, atravessemos a extensa região do barro e grés vermelho, que se estende sob o nome de Barreiras do Siry para o Norte da bahia de Marobá. Seguindo para Oéste até 20 milhas distante de Itapemirim, chegaremos á base do notável e irregular pico de gneiss, conhecido sob o nome de Frade, e que é acompanhado ao Nordéste por uma série de agulhas, algumas das quaes alcançam a altura de 3,000 pés, e fazem parle da Serra de Ila- pemirim, onde em diversos pontos se tem encontrado ferro especular. Se proseguirmos acompanhando o littoral, encontraremos ao Norte do ponto correspondente a Itapemirim planícies, cujo sólo grosseiramente arenoso é coberto por uma vegetação própria das restingas, como sejam pitangueiras, cajueiros e cardos. No trajecto, porém, de Piúma a Benevente, se avista fre- quentes vezes montes e collinas de um gneiss cinzento, bem laminado e cir- cumdado por outros cuja base é de grés cinzento e a parte superior de ar- gilla; emquanto que mais adiante, depois de novas e extensas planícies de arêa branca, se vai observar outras collinas, cuja base é então o gneiss, como na serra de Guaraparim. É também um gneiss cinzento e abundante em mica preta que se observa nos penedos e ilhas fronteiras ã cidade de Guara- parim, ou subindo a costa, nas pontas da Fruta e do Jacú, que, separadas por 7 ou 8 milhas de pantanos, parecem ter sido anteriormenle ilhas, mais tarde ligadas á costa por grandes bancos de arêa. Antes de entrar na barra do Espirito-Santo se avista ao Sul um monte co- nico, irregular, porém gneissico, conhecido por monte Moreno, e que, ele- vando-se a 700 pés, se acha separado por um curto banco de arêa de uma outra collina bastante regular, situada a Oeste e sobre a qual repousa, 400 pés ácima do nivel do mar, o pittoresco convento de Nossa Senhora da Penha. Na base desse monte se póde observar penedos, arredondados por effeito de uma decomposição regular, que fazem lembrar os penedos erráticos ; principal- mente porque o mar, encarregando-se de transportar para longe e espalhar as matérias resultantes da decomposição, deixa-os perfeitamente isolados uns dos outros. A Oésle dessa collina, entre outros picos elevados de gneiss, se abre a pro- funda enseada de Villa-Velha, ainda no mesmo rumo ligada ao Pão de Assucar, pelo lado meridional do canal de Santa Maria, guarnecida de numerosos pontos rochosos, unidos por bancos de arêa. O monte conhecido como o do Rio de Janeiro, sob o nome de Pão de Assucar, apresenta apenas 400 a 500 pés de altura; mas é também escarpado e irregularmente conico, inclinando-se para o Norte de modo a apresentar uma face quasi aprumo que domina neste ponto o canal. A praia opposta mostra um caracter geralmente semelhante ; proximo á embocadura emergem das aguas duas grandes ilhas gneissicas acompanhadas de outras que parecem querer obstruir o canal nos pontos proximos ao Pão de Assucar. Além dessas ilhas o braço do mar mantém-se ainda um tanto estreito para depois alargar-se, formando um bom porto no logar occupado pela capital e cercado por um amphilheatro de collinas gneissicas fina- mente granuladas on poi phyricas, analogas em eslructuras ás que já descrevemos na provincia do Rio de Janeiro, e que, por serem muitas vezes monolilicas, soffrem uma decomposição uniforme, capaz de rapidamente lhes arredondar as irregularidades das vertentes. Sobrepujando nesse grupo de collinas algumas outras, se eleva pelo menos a 700 pés, na opinião de Mouchez, a montanha de Jutuquara ou Frade do Leopardo ; que no entanto cede a supremacia á mais bella montanha desta região, ao Morro da Serra, mais conhecido pelo nome de Mestre Álvaro. A sua altura de 3,500 pés o torna facilmente visivel algumas milhas ao Noroeste da cidade da Victoria, e a sua fôrma perfeitamenle symetrica, o seu isolamento, e o cunho piltoresco que imprimem às suas encostas as regulares plantações de café a alternar com as florestas, o tornam ainda mais facil de reconhecer; além disto, segundo a versão dos habitantes do paiz, o gneiss desse monte já foi notável pelas frequentes esmeraldas e pelo ferro que ahi se encontrava. Deste ponto para o interior se adianta uma série de collinas a unir-se com a serra dos Aymorés, que limita o horizonte a uma distancia de 15 a 25 milhas. Esta serra dos Aymorés parece ser uma continuação da Mantiqueira, que se entranhando pela provincia de Minas até Barbacena, segue dahi por diante mais ou menos na mesma direcção até além do Rio-Doce, que nasce em uma das suas vertentes de Léste, emquanlo na vertente opposta nasce o Rio-Grande, tributário do Paraná. 0 gneiss constitulivo dessas serras, a Lésle do rio Guandu, é grosseiro, acinzentado e fôrma picos, mais ou menos elevados e escalvados, cuja su- perfície, por vezes estriada pelas aguas, é em alguns trechos coberta por for- mações arenosas, grosseiras e amarelladas. Depois destes logares, o gneiss se torna mais raro, o littoral passa a ser francamente paludoso, ou arenoso e deserto, principalmente da lagôa de Juparanan até ás formações de grés de Itaúnas. Continuando em nossa rapida resenha da distribuição geographica das rochas plutonicas no Brazil, penetraremos na provincia da Bahia seguindo o littoral, e deixando quaesquer outras formações começaremos por assignalar ao Norte de Caravellas, delia afastado cérca de 40 milhas, porém á dis- tancia muito inferior da praia, o monte Paschoal, de fórma cónica e irregular» em um grupo de outras collinas granito-gneissicas, tendo para altura mais de 536 metros, segundo o calculo de Mouchez. Ora, esse monte é ainda mais notável sob o ponto de vista historico, por ter sido o primeiro signal de terra avistado no horizonte por Cabral, na tarde de 21 de Abril de 1500. Seguindo para o Norte podemos observar, no sitio denominado Cachoeirinhas, numerosas e pequenas quedas do rio Jequitinhonha, devidas á presença de pontas graníticas muito duras, nimiamente quartzosas e cercadas de schistos conglomerados e de seixos de quartzo leitoso, que parecem constituir, em larga extensão, os alicerces do leito deste rio. A costa, no entretanto, não nos occupando das collinas que se elevam na embocadura dos rios Pardo e Jequitinhonha, continua para o Norte em geral plana, e só limitada a umas 20 milhas no interior, a Oéste de Comandatuba, por elevadas collinas de gneiss. Desse ultimo ponto a llriéos o sólo se torna mais granítico, principalmente na bacia do rio Gyboia, terminada a Oéste pela serra do Mundo-Novo, cujos cimos elevados, cobertos de massas graníticas e de grandes fragmentos de quartzo branco se arredondam ao longe. Em Camamú o gneiss se apresenta em collinas exlremamente despidas de vegetação e segue dahi para Oéste em uma série de cadêas, constituindo a serra de Condurú, que se continua ás serras costeiras e apresenta como no- tável caracter a presença de schislos betuminosos. Mais adiante, a Lésle da embocadura do Una e do Tinharé, se faz notar o monte de S. Paulo, o qual, como um escarpado promontorio de gneiss, fórma a extremidade septentrional da ilha de Tinharé. Entrando agora na baliia de Todos-os-Santos, vemos avançar sobre o mar a ponta de Santo Àntonio, qne é toda de gneiss, elevada até á altura de 200 pés e tem cérca de 4 milhas de comprimento; a Leste, a região se mostra mon- tanhosa, graças ás numerosas collinas, que pela regularidade dos seus contornos e pela ausência de basta vegetação, permittem avistar a Oéste a cidade do S. Salvador, dividida em Alta e Baixa. Essa cidade descansa sobre um gneiss extremamente compacto, muito frequentemènte privado de mica e sem planos distinctos de estratificação; além de que, segundo as observações de Darwin, pela ausência da orthosia e do quartzo passa em alguns pontos a um bello diorilo cinzento ; emquanlo que em outros o quartzo e a liornblenda se alinham em uma massa quasi amorpha de feldspatho. O granito ahi se mostra também com um caracter syenitico, de aspecto orbicular, graças a numerosas linhas ferruginosas, e o gneiss apresenta con- crecções de feldspatho granular, de granada e de mica, sendo por vezes cor- tado por dykes da rocha hornblendica preta de eslructura quasi aphanitica, contendo traços de feldspatho vitreo e de mica. Em muitos pontos estes dykes separam pedaços de gneiss, que incluem na sua massa, ainda então amolle- cida, sem lhes fazer perder os traços de estratificação; o que, porém, con- firma de um modo concludente a nossa opinião relativa ao gneiss eruplivo, é que em outros pontos, assegura Darwin, que aliás não póde ser suspeito como defensor da presente theoria, ainda se vê o gneiss, incluindo em seu seio massas angulares e bem definidas de rochas hornblendycas em tudo seme- lhantes ás que os rodeiam. Cumpre comludo notar que, se alguma differença existe entre as rochas circumvizinhas e as incluídas, é que essas ultimas se apre- sentam um pouco melhor crystallizadas, contendo além da liornblenda um pouco de augito, como observa Miller; o que é tanto mais comprobativo quanto sabemos que o amphiboleo, quando aquecido e fundido, resfria passando a pyroxeno. Afastando-nos pouco da cidade de S. Salvador, observaremos gneiss cuja estratificação um tanto irregular e por vezes ondulada, e affecta a direcção geral de E 50° N, a qual com uma differença de 5o para mais ou para me- nos caracterisa os gneiss do Ceará, a 400 ou 500 milhas ao Norte de S. Sal- vador, bem como os da Goyana, de Venezuela e Colombia, observados por Hamboldt; facto que parece revelar um traço de união entre as épocas de formação dessas rochas. Dominando a barra da cidade, se vê um pharol conslruido sobre uma rocha escura, ainda referida ao me.-mo typo; mas cujos leitos de estratificação ondulados se prendem á terra firme por um isthmo estreito e baixo, pa- recendo resultar da decomposição da rocha, de que era anligamente for- mado ; visto que os seus materiaes constituintes são penedos arredondados, por entre barro commum. Do lado oriental do pharol a rocha é muito falhada, 41 ondulada e atravessada por veios de granito finamente granulado na parta central; essa mesma variedade gneissica ou outra mui semelhante se apre- senta á alguma distancia da costa, batida pelas ondas e affectando as fôrmas mais irregulares. Abandonando agora o littoral,o qual da altura do morro do Conselho em diante apresenta dunas de areia, que se deslocam sob o impulso do vento e cobrem em parte as planícies e collinas adjacentes, peneiremos no interior da provincia, para ahj acompanhar a bacia do rio S. Francisco ; passando em revista as vertentes mais próximas. As cabeceiras do rio S. Francisco, no que até hoje tem sido explorado, se compõe de rochas eruptivas antigas, que apresentam a maior elevação proximo á cidade do Ouro-Preto, em Minas-Geraes, sendo separadas das bacias dos rios costeiros pelas lombadas de um cinto de rochas e pela linha das chapadas formadas de grés e calcareos, caracteristicos da Serra do Espinhaço, a qual mais ou menos interrompida segue até Piauhy, emquanto as chapadas continuam além com o nome de Serra do Araripe. Deixando, porém, perder-se de visla a Serra da Matta da Corda, cujas cupolas dioriticas parecem em certa extensão limitar os horizontes dessa bacia, e entrando propriamente na provinda da Bahia, da qual neste momento nos oecupamos, mencionaremos não longe da foz do Carinbanha a existência do granito, cercado por possantes formações de grés meio decompostas. Seguindo dahi para Léste por espaço de algumas milhas, encontramos antes de chegar á Serra dos Montes-Altos, algumas montanhas despidas de vegetação e formadas por dioritos, ao passo que a própria Serra dos Montes-Altos é constituída por gneiss e granitos, que surgem de um sòlo todo impregnado de salitre. Junto ao serro de Catolé, bem como á pouca distancia da villa do rio das Contas, as formações se assemelham, e se ele- vam do grés das chapadas sob a fórma de schistos quartzosos e quartzitos, mi- caschislos granitos e gneiss, passando por variadas mudanças de aspectos até produzir entre outros um monte de cerca de 1,200 pés de altura na Serra da Villa-Velha. Dahi proseguindo na direcção Nordéste, encontrámos logo a Serra de Sincorá, onde os granitos, tendo um caracter syenitico, bem como os dioritos, se acham encobertos por formações argillo-arenosas de côr amarellada, rodeadas nas proximidades por formações gneissicas, que ora se mostram associadas ao grés do Carabato, resultado provável da decomposição dos porphyros, ora aos micas- chistos e amphibolitos do Itio-Sêcco. Comtudo mais adiante, desde a villa da Pedra-Branca até Cachoeira, as observações de Martius e Spix só tratam dos gneiss e granitos, e uma ou outra vez da presença occasional de amphibolitos e micaschistos. É essa, pois, a natureza da zona sobre que curre o Paraguassú, bem como a das serras do Mocambo, do Caldeirão, da Onça e da Saude, próximas á cidade de Paraguassú, ou das collinas que em Bahú se elevam até 150 pés dispondo-se segundo uma cadêa de pequenos montes, conhecida sob o nome de serra das Pedras-Brancas. Penetrando no valle da Jacobina, cercado por paredões rocheos quasi verticaes, até uma altura de cerca de 1,000 pés,e de outro lado limitado por picos isolados de gneiss ou granito, acompanharemos a Léste as collinas, que dahi se afastam a encorporar-se no plató ou massiço médio da província, e observaremos que, de Jacobina à Cachoeira, em uma distancia de cerca de 200 milhas, só apparecem em um ou outro ponto as variedades do gneiss, emquanto que a rocha hornblen- dica predomina junto ao arrayal de Jacuhipe. Nessas vastas regiões as aguas cias chuvas formam lagoas, que se evaporam nos tempos sêccos, e deixam sobre as pedras do fundo uma formação de humus, devida aos detritus das vegetações lacustres, que se extinguem. A frequência das massas limitadas d’agua, justifica o nome de planicie dos Lagos, com que Allen designa essa região de 50 milhas de extensão, semeada ora de montículos, que por seus contornos arredondados fazem lembrar os penedos de decomposição ou de erosão, anleriormente descriplos, ora de cal- deirões, especie de vastas cisternas de contorno elliplico, que se enchem d’agua e medem algumas vezes 18 pés de comprimento, sobre 9 ou 10 de largura e 27 de profundidade. O gneiss desta zona, tão differente por seu aspecto das regiões de collinas, que observamos ao Sul, e mesmo das regiões das maltas, é não somente muito duro, como também mui pouco provido de malacacheta. Ainda nas vizinhanças da Cachoeira a rocha mais commum é um gneiss avermelhado ou amarellado, no qual a mica é muitas vezes substituída pelo magnelito e pelo ferro especular; devendo-se nolar que a própria região, duas léguas mais longe, se mostra descampada e apenas dominada por planaltos de gneiss graniloide, avermelhado, amarellado ou escuro. Essa rocha ainda se deixa vêr em penedos, mais ou menos isolados, ao lado da rocha hornblen- dica, na serra do rio do Peixe, bem como proximo ao arrayal de Queimados, a 130 milhas da cidade de S. Salvador. As proximidades da serra da Tiiiba, que se eleva a 1,200 pés, são ricas em um granito vermelho, passando a syenito e onde o epidolo ferrifero ou pislacito, de um bello verde, se torna tão frequente que em parte substitue a mica ou dispõe-se segundo zonas. Seguindo ainda a estrada que de Yilla-Nova da Rainha conduz a Monte-Santo, galga-se algumas collinas, cuja base é de gneiss granitoide, emquanto o cimo, constituído por barro, tem sido explorado pelos paleontologistas, que ahi descobriram ossadas de animaes antigos. Preferindo, porém, o caminho que leva de Villa-Nova da Rainha a Joaseiro, póde-se estar certo de encontrar o gneiss caracterisado pela presença do pis- tacilo, além de grandes massas de granito soltas sobre o terreno decomposto e ricas em mineraes accidentaes, como a turmalina, a opala, o quartzo esverdeado e o iibrolito. Finalmente, seguindo de Joaseiro até o Rio Salitre se encontra, comoafíirma Martius, dioritos acompanhados por schistos argillosose calcareos, ricos em chlorilo e em granadas. Alcançando o rio S. Francisco e descendo por elle entre as províncias de Ser- gipe e Alagoas, encontraremos logo as celebres cachoeiras de Panlo Affonso, situadas, segundo calculo do professor Ilarlt, a 56 léguas do mar, e cuja pri- meira queda, quasi vertical, mede uma altura de 44 palmos e 6 pollegadas sobre uma bacia de granito. Nessa bacia as aguas se dividem para a direita e para a esquerda, antes de despenhar-se entre escarpados rochedos até a base de um abysmo de 66 palmos pouco mais ou menos, elevando grandes massas d’agua, que, pulverisadas como se fòssem vapores, occultam em parte á vista as ondas de espuma, que se revolvem sobre ponlas graníticas até ir ferir quasi em linha recta a muralha que limita a margem esquerda com uma altura de 368 palmos acima d’agua e 120 de espessura. As aguas, encontrando com Ím- peto essa rocha, ora elevam, ora abaixam seu nivel, precipitando-se logo após para a direita tumultuosamente, e deixando excavada por esta acção constante e energica uma gruta, cujo comprimento foi avaliado em 444 palmos e a lar- gura em 40, sendo na entrada pelo menos de 80 palmos. F,ssa gruta, denomi- nada vulgarmente Furna dos Morcegos, é constituída por um gneiss duríssimo finamente granulado; mas onde a presença do calcareo spathico, bem como de veios feldspathicos côr de carne, facilitam extraordinariamente a desaggre- gação. De Paulo Affonso a Piranhas, como diz Halfeld, é tudo granito, embora o professor Harlt explique melhor esse termo generico, indicando a presença do gneiss e do syenito. Nos arredores de Piranhas destaca-se, entre as collinas de gneiss, um outro Pão de Assucar, caraclerisado por sua fôrma e que, er- guendo-se á altura de 700 pés, se moslra constituído por um gneiss mais com- pacto, associado muitas vezes ao syenito avermelhado ; emquanto que muilo afastado deste ponto, todas as rochas encontradas na cidade do Pão de Assucar, que ainda deve o seu nome a um pico de fórma cónica pertencente ao grupo de collinas, que corre para Sudéste, se apresentam frouxas, pouco consistentes e com uma estratificação quasi vertical. Ora, entre esses dous picos designados sob o mesmo nome e especialmente nas duas aldeolas de Alegria e Collete se observa o mesmo syenito avermelhado, de que já fizemos menção. Continuando a seguir o curso do S. Francisco, poderemos vêl-o estreitar o seu leito entre altas collinas de gneiss, logo depois de passar a ilha de S. Pedro; não tratando, porém, das formações de gneiss frouxo, que podem ser vistas do lado de Alagoas, proximo á Lagôa-Funda, nem Ião pouco das pequenas collinas isoladas, que porventura costeiam o rio, só mencionaremos os montes, elevados de 300 a 400 pés, constituídos por gneiss e micaschisto, designados sob o nome generico de serra da Tabanga, e que se acham situados em frente á Traipú, sobre a margem do rio pertencente á província de Ser- gipe. Dahi por diante só se avista, junto á Lagôa-Dourada, elevadas collinas de gneiss, atravessadas por veios de quartzo e circumdadas de micaschistos, as quaes se repetem no trajecto de S. Braz a Propriá, transformando-se em frente a essa ultima cidade em uma formação frouxa e meio decomposta. Os terrenos gneissicos ainda se fazem notar na província de Pernam- buco, junto ao Rio S. Francisco, onde se apresentam com muito ondulada estratificação; mais adiante no interior da província ou propriamente no sertão os terrenos ainda se apresentam pedregosos ou bastante montanho- sos, mas vão entretanto cedendo o logar aos grés, á medida que se ca- minha para o Norte. Esses grés começam por encobrir os gneiss das mon- tanhas como na do Araripe, que separa Pernambuco do Ceará e na dos Cayrirís-Velhos, que o separa da Parnahyba do Norte, e é apenas um pro- longamento das primeiras na direcção de Léste, e, finalmente, acabam por constituir vastas extensões do sólo. Na província da Parahyba do Norte as serras de Barbacena e do Tei- xeira, que correm para o Nordéste, são as duas mais importantes forma- ções gneissícas, que se filiam ás da Serra dos Cayrirís-Velhos. Abando- nando-as, apezar disto, para seguir em parte o valle da Parahyba do Norte» observaremos, a partir das praias do mar, desde Tombahú até Parahyba, um sòlo juncado de conglomerados grosseiros e ferruginosos, de seixos rolados de quartzo, gneiss e outras rochas schistosas, ligadas por um ci- mento ferruginoso. Á margem direita do Rio Parahyba, no local denomi- nado Batalha, se pôde examinar uma rocha hornblendica atravessada por 45 veios delgados e muito inflectidos de quartzo e feldspalho; embora a rocha dominante desde Parahyba ao Pilar seja um gneiss grosseiro e abundante em grandes crystaes de feldspatho branco e de mica preta, facil sobretudo de ser encontrado no Pilar, em Mendonça, Mogeiro e Ingá ; emquanto que em Logrador se junta ao gneiss branco e porphyroide, um outro de natu- reza granitoíde ou syenitica. Entre Logrador e Campina-Grande avultam massas de um porphyro gra- nitoido, elevando-se a 50 ou 100 pés de altura acima dos terrenos de- compostos que as rodeiam ; entre Campina-Grande e Cacimba-Nova, pre- dominam schistos micaceos e hornblendicos sobre os granitos e gneiss. Desviando-nos agora do valle do Parahyba até alcançar Caraúba, quasi nos flancos da serra de Barbacena, encontraremos ahi formações em tudo semelhan- te ás de Logrador, ao passo que até Queimada e Minas de Cachoeira segue-se a mesma serie gneissica, onde se vê em alguns pontos leitos de quarlzitos coin uma espessura de 100 pés, ricos quasi sempre em ferro titânico e hematite. No leito do rio Bruscus as quédas d’agua são causadas por massas de gneiss sye- nitico, que delle emergem e são sulcadas por veios de um syenito azulado. Em um ponto não muito afastado e conhecido pelo nome de Cacimbinhas, junto á mina da Bôa-Esperança, encontra-se um largo veio de gneiss syenitico per- feitamente caraclerisado e encravado em rochas mais ou menos auríferas, quasi todas simples quartzitos, ricos emmineraes accidentaes como os sulphatos de ferro, de cobre, de chumbo e de zinco, as galenas antimoniferas, e outros re- sultantes da decomposição destes, como são div ersos carbonatos, oxydos o sul- phuretos. Penetrando na província do Rio-Grande do Norte deixaremos notado que, não só a sua parte meridional como também a oriental é bastante montanhosa e mais ou menos gneissica, embora os dados colhidos sobre a sua geologia sejam muito vagos, devido á falta de observações competentemente coordenadas sobre as suas formações. Quanto ao Ceará, separado da província do Piauhy pela serra de Ybiapaba, que se continua sob o nome de Serra de Àraripe, separando-a de Pernambuco e em parte da Parahyba, e sendo na base constituída por gneiss, repousa sobre terrenos, que se elevam da costa para o interior ou sertão, apresentando um aspecto variado de planícies e montanhas onde predomina o gneiss e o micas- chisto. Segundo as observações de Gardner, o viajante que penetrar no Ceará pelo lado de Nordeste, e proximo á cidade do Aracaty só avistará, estenden- do-se para o Noroèsle immensas planícies arenosas, semelhantes às pampas de Bnenos-Ayres, onde avulta a 2 l/% léguas de distancia o monte Ererê e onde vegeta a carnaúba, a providencia do deserto. A Sudoeste deste monte, afastado porém de Aracaty talvez outras 2 */a léguas, sc elevam grandes massas de um gneiss vertical; e dahi por diante, seguindo o curso do Jaguaribe em uma ex- tensão talvez de 8 léguas, até S. Bernardo, só se vêm planícies de arêa, sobre as quaes jazem penedos um tanto arredondados de granito, gneiss e quartzo. Ainda por espaço de 10 léguas as arôas continuam com uma côr mais ou menos ama- rellada, devida á presença de argillas, sendo acompanhada por algumas rochas graníticas, das quaes destaca-se a serra de Camará, onde repousa a pequena cidade de Pereiro, situada a 10 léguas de Icò. Nessa mesma província, não longe de Fortaleza, cumpre-nos mencionar a serra de Aratanha, onde Agassiz foj encontrar, segundo sua opinião, penedos errá- ticos e traços de uma moraine, que devia pertencer ã geleira de Pacaluba, e seria como que tributaria da grande geleira do Amazonas, cujas morames colos- saes elle assignalava desde o rio Aracatyassú até á Serra-Grande ou de Ibiapaba. O sòlo da província de Piauhy também se apresenta como inteiramente gneis- sico, principalmenle na base das montanhas que a limitam ao Sul e a Sudoeste. Cumpre não .omiltir, porém, a linha de montanhas gneissicas, sobre que passa a estrada que leva desde Joaseiro, na margem direita do rio S. Francisco dentro da província da Bahia, até Oeiras, á margem esquerda do Canindé, afíluen- te do Parnahyba, e que apresenta picos de 1,250 pés de altura, regularmenle esboçados, e por vezes quasi inteiramenle despidos de qualqner vegetação. Penetrando na província do Maranhão, qu j é bastante montanhosa, basear-nos- hemos sobre as observações de Marlius e de Spix para dizer que o valle do Itapicurú é um dos que mais abunda em granitos, principalmente ricos em pistacilo, e passando facilmente a sycnitos nas proximidades de Cachoeiras, ligados como se acham ao Sul, a Lésle e a Oéste com outras formações de gneiss e micaschitos. Nada dizendo sobre as províncias do Pará e Amazonas, onde as formações plutonicas são pouco abundantes ou mesmo quasi nullas, não nos podemos comtudo furtar á necessidade de assignalar, embora sem commentarios, a pre- sença de algumas massas dioritieas, ás quaes o professor Agassiz ainda considerou erralicas, e transportadas da serra do Ererê no Ceará para cima do que elle considerava como o drift argillo-arenoso do valle do Amazonas. Entrando na província de Matto-Grosso, depois de subir o curso do Tapajoz, faremos notar com Chandless, a uma distancia de 10 milhas acima da embo- cadura do rio dos Peixes, granitos, que na opinião do professor Hartt induzem a crêr, que o grande massiço brazileiro, como o da Goyana, é lodo de rocha gneissica, desembaraçada em um ou outro ponto, por enormes denudações, das formações de grês, que a encobrem geralmente e podem ser observadas nas bacias dos rios Tocantins, Araguaya e junlo aos montes Pyrineos, cujos picos gneissicos se elevam em Goyaz a uma altura maxima de 9,500 pés. Ainda na chapada da Mangabeira se observa o gneiss encoberto por grandes forma- ções de grés, e segundo Gardner é o granito, que occupa uma posição ana- loga em relação a outras rochas schistosas na serra da Natividade. O mesmo facto se póde ainda notar, com ligeiras differenças, na rocha sobre que repousa a cidade de Arrayas; pois que na parte superior é schislosae arenacea, emquanfo que na base é formada por uma rocha compacta como um gneiss, cinzenta e es- tratificada. Em resumo, baseados na autoridade e observações de St. Ililaire, de Castelnau e outros, poderemos dizer que as rochas fundamentaes dos ter- renos do Sul e de Ésle de Goyaz são os gneiss, acompanhados de micaschis- tos, schistos argillosos e calcareos. Passando á vasta província do Minas, daremos apenas uma idéa muito geral das rochas plutonicas ahi encontradas. O sòlo é ainda constituído pela for- mação argillosa bem conhecida, e as rochas que constituem os fundamentos dos terrenos e immergem em grande numero de pontos, também podem ser em geral referidas ao gneiss. Nas bacias do Rio-Pardo e Jequitinhonha, isto é, na parte pertencente a essa província, predominam os gneiss, os syenilos e quarlzitos, de modo a fazer classificar essa porção do território nos de origem verdadeiramente plutonica. Assim, desde a embocadura do Arassuahy até Cachoeirinha, só se obseiva gneiss e micaschislos, e as vertentes que se inclinam para o Setúbal como as do Seturna e Selubinho, se apresentam quasi inteiramente despidas de vegetação, pedregosas e cobertas de fragmentos arredondados de quartzo, que ainda se deixam vêr entre as argillas, que cobrem o gneiss micaceo, predo- minante nas regiões que dahi se dirigem para Corrego-Grande. Não muito longe deste ultimo ponto, no local denominado Trovoadas, se faz notar por seus in- clinados stratus de feldspatho e mica e pela presença do aphrisito e do dislhenio a acompanhar os pequenos e arredondados grãos de quartzo, uma rocha muito decomposta, mas de estruclura crystallina, ainda fácil de reconhecer, que não 48 se assemelha senão pelo seu estado de decomposição a uma outra rocha quartzosa branca ou pardacenta, a qual, continuando-se aos gneiss cinzentos, é encontrada na passagem do valle de Gravata ao valle do Calháo, afíluentes do Jequiti- nhonha. Seguindo o caminho que leva do Calháo a Minas-Novas, e especial- mente nesta ultima cidade, as rochas graníticas de variedade gneissica apre- sentam uma estratificação quasi vertical, e são cortadas por veios de quartzo leitoso, geralmente aurífero, associando-se muitas vezes a quarlzitos cinzen- tos, que se continuam para o Sul com deposilos argillosos vermelhos e cin- zentos, referidos ás variedades da tabatinga. Mais adiante, do proprio alveo do rio Jequitinhonha, surge á certa distancia de Minas-Novas a ilha de Cu- bango, cortada por veios quasi verlicaes de granito, que em certas partes adiantam-se pelas aguas. Em outros pontos do mesmo valle do Jequitinhonha, desde o arrayal de Itinga, por exemplo, até o Estreito, só se vê gneiss, for- mando collinas de mais a mais elevadas e escarpadas, até chegar á chamada Pedra do Bode, que sobrepuja as outras em altura, sendo dahi por diante o rio beirado por collinas de Íngremes encostas e despidas de vegetação. Deixando agora o valle do Jequitinhonha pelo de S Simão, notaremos as cha- padas, que se estendem até Salto-Grande, e que depois de S. Simão separam-se em montes gneissicos sob os nomes de Serra da Vigia à direita, das Panellas á esquerda, do Feijoal mais além, para depois de algumas planícies, dar logar á Serra da Lua Cheia, que, vindo na direcção do Sudoéste, apresenta alguns eleva- dos picos. Emfim a pequeno numero de milhas se avista o salto do rio Jequitinhonha entre núas penedias de gneiss, queahí, como em alguns pontos dos arredores, se apresentam mais ou menos hornblendicos. Deixando, porém, os limites da pro- víncia da Bahia para nos approximarmos das cidades mineiras, que se acham si- tuadas junto à linha, que separa a província de que nos occupamos agora da do Rio de Janeiro, não podemos terminar sem mencionar a presença de dioritos de uma coloração quasi negra, junto a Juiz de Fóra, bem como de frequentes am- phibolitos nas zonas que nesse ponto se approximam da região favorecida pela Es- trada de Ferro D. Pedro II. Para concluir, e antes de passara um outro assumpto, dever-nos-hiamos occupar, embora resumidamenie, da questão relativa á determinação da idade dessas rochas; mas exceptuada a opinião de E. deBeaumont, que inclue a Serra do Mar no numero das formações mais antigas do mundo, raros geologos têm se manifestado sobre este assumpto de um modo mais preciso, do que aquelles que se limitam a classificar no numero das formações eozoicas os gneiss brazi- leiros. Ora, esta hesitação nos parece muito razoavel e justificada, altendendo a que nessas rochas faltam os pontos de referencia apontados por todos os geologos como sendo os guias seguros para o estabelecimento da chronologia das rochas sedimentarias, isto é, o caracter paleontologico além da composição petrogra. phica ; caracteres esses que mesmo em massas sedimentarias se nos afiguram ex- cessivamente fracos e variaveis para serem admittidoscomo um principio geral de sciencia, capaz de estabelecer a identidade chronologica de duas rochas. Estudo sobre a decomposição das’ rochas plutonicas no Brazil, e dos productos, que delia resultam Percorrendo com rápido olhar o quadro geral da natureza, já precedentemente fizemos observar que na maioria dos casos o equilíbrio movei, directo ouindirecto, que mantém a unidade de estructura e de lunccionalismo nos sêres, resulta sempre da efficaz resistência, opposla pelas reacções internas â resultante das forças incidentes externas, que tendem necessariamente a alteral-o. Ora, a primeira consequência que dahi dimana é que se os corpos organizados tendem pela natureza mesma dos seus elementos a soffrer maiores effeitos sob a acção de menores forças, os mineraes devem, em razão da impossibilidade, em que se acham de gozar das vantagens da auto-locomoção, embora prote- gidos em parte pela immobilidade relativa dos seus elementos, obedecer á lei de grupamento, que os constituindo em rochas, não faz mais do que aquillo que estamos acostumados a observar nos organismos por assim dizer fixos, isto é, naquelles que effectuam o cyclo do seu desenvolvimento sem se deslocarem, como por exemplo, os vegelaes superiores e alguns animaes das classes inferiores. A segunda consequência nos induz a prever, que a acção dos agentes externos de decomposição se exercerá mais facilmente, desde que, em qualquer rocha, se tiver produzido a segregação em veios, por exemplo, de um dos mineraes componentes, cujos elementos apresentarem um gráo de resistência inferior ao gráo de resistência média da rocha; e que pelo contrario o mineral segregado se conservará na massa geral já decomposta, se as forças interiores que mantêm a sua individualidade fôrem superiores ás que conservavam a rocha no estado de aggregação. É realmente este o facto mais frequentemente observado na natureza. Com effeito, em alguns penedos que constituem ilhotas graníticas na nossa bahia, se póde vêr uma bipartição ou divisão em duas partes, que por seu proprio peso se afastam, e cuja singular disposição é devida ã decom- posição do veio feldspathico, que os atravessava. Pm outras massas granitico-gneissicas, onde a segregação dos crystaes de feldspatho imprimio um caracler porphyroide se póde notar que este ele- mento é o primeiro a esboroar-se, a diminuir de volume até mesmo a des- apparecer, transformando em certos pontos o gneiss em um quartzito mi- caceo. Exemplos de natureza contraria se apresentam no logar denominado Tapéra, proximo a Juiz de Fóra ; ahi, massas volumosas de um quartzo perfeitamente byalino, dispostas em direcção determinada jazem sobre o barro vermelho, resultante da decomposição da rocha preexistente de um modo semelhante ao que refere o Sr. Liais, observando os gneiss metalli- feros de Minas, onde as massas quartzosas, destacadas no meio da argilla, são conhecidas pelo nome de batatas. Procurando, porém, averiguar agora quaes os agentes, de que a natureza lança mão para desaggregar as massas pedregosas mais resistentes, no- taremos que podem ser referidos a diversos typos, conforme predomina a acção chimica ou a acção meramenle mechanica. Na verdade, sabemos que as alternativas bruscas de calor e humidade tendem já por si a trazer um desequilíbrio eslruclural, que, auxiliado pelas fendas naturaes ou lilhoclases, permittem que as aguas, mais ou menos car- regadas de gaz carbonico e de carbonatos alcalinos, se insinuem através das rochas, e por meio de decomposições e duplas trocas, produzam saes solúveis, que acarreiam como consequência natural a destruição do equilíbrio ele- mentar, e a consecutiva desaggregação. Não ha quem não conheça essa po- derosa acção da agua sobre as mais duras pedras, e quem não lenha obser- vado o seu poder erosivo, lançando os olhos sobre muitos córles de qualquer estrada de ferro, onde os filetes dagua tenham imprimido o seu sulco, ou tenham produzido os desabamentos e socavões, que constituem as primeiras phases da existência dos valles e montanhas de origem erosiva. Sabemos ainda mais, de accôrdo com as experiencias de Chevreul, Becquerel e Dau- brée que as acções mechanicas, como o allrito e trituração, que se effecluam po leito dos rios, por occasiâo do rolamento dos seixos, dão logar a uma especie de decomposição lenta revelada por uma certa proporção de alcali no liquido em que se passa o phenomeno. Variando as condições das experieneias, que foram realizadas em cy- lindros ora de grês, ora de ferro, aos quaes se imprimia uma rapida rotação, o professor Daubrée chegou a observar que, nestes últimos, o feldspatho rolado na agua decompõe-se, e deixa que a agua revele traços de silicatos alcalinos, emquanto as partículas de feno, destacadas das paredes do vaso, se oxydam e apoderam-se da silica, deixando livre a potassa. Esta acção, produzida pelos cylindros de ferro, é digna de nota; porque sob a influencia decomponente dos agentes atmosphericos, a mica e o amphiboleo fornecem o peroxydo de ferro, que actuando, como na experiencia, sobre o silicato alcalino, póde dei- xar livre a potassa ou a soda, explicando assim a presença desses alcalis, bem como da silica e alumina, nas aguas da nossa bahia, que apenas recebe alguns pequenos e pouco importantes rios, como fizeram observar em sua intelligente analyse os professores Guignet e Augusto Telles. Na opinião de Chevreul essa decomposição se dá sómente quando a agua aclúa por seu poder mechanico, ao mesmo tempo que por sua acção dissolvente, de modo a exercer a sua força de afiinidade capillar. Das experiências ácima citadas ainda se concluio que, emquanto certas substancias, como o gaz car- bónico, e certos estados da substancia, como o fendilhamento do feldspatho, facilitam a acção chimica, outras como o chlorureto de sódio ou mesmo a cal tendem a retardal-o. No entretanto cumpre também tomar nota, de que o feldspatho dá logar a uma especie de lama finíssima, que se mantém em suspensão na agua, depois de sêcca conserva-se fusível, refractaria á acção dos ácidos, e que sendo quasi anhydrica parece ter servido de base á formação de certos argil- lolithos e phyllades dos terrenos estratificados. Quanto ao quartzo reduz-se á arêa mais ou menos grosseira, tal como se observa nos rios, e parece ter sido destinada nas formações antigas á producção dos grès. Finalmente, a malacacheta ou mica algumas vezes não desaggrega-se, e apresenta-se em placas delgadas por entre os restos da decomposição; outras vezes soffre a acção geral e imprime a coloração vermelha ou amarellada do peroxydo ou do oxydo hydralado de ferro ás argillas, ás quaes se acha geralmenle ligada. As argillas constituem a mais abundante formação que possuímos, e que tem sido referida pela generalidade dos geologos á decomposição das rochas, de que nos occupamos, principalmente em sua parte feldspathica. Pela sua parte chimica ou estructural ella nada mais é do que um hydro- silicato de alumina nas variedades puras, mas a que ordinariamente se acham associados outros elementos, principalmente os oxydos de ferro, que lhe forne- cem a coloração. Pelo seu aspecto e propriedades, as argillas são rochas ter- rosas, que se caraclerisam, por exemplo, por formar uma pasta mais ou menos consistente e tenaz com a agua, que ellas absorvem em certa quantidade ; pela impressão especial que produzem sobre a lingua, e pelo cheiro terroso que exhalam ao contacto de um hálito humedecido. Infusiveis e diílicilmente ala- caveis pelos ácidos em suas variedades, as argillas, entretanto, são menos fixas, quando outros mineraes privam-nas em parte da sua unidade de composição. Entre nós a argilla se acha frequentemente misturada ao quartzo e á mica, da qual alguns crystaes se mostram muitas vezes rodeados de uma aureola vermelha, resultante da sua decomposição e da producção do oxydo de ferro anhydro. Assim todas essas terras conhecidas sob os nomes de kaolim, de barro vermelho e amarello, tão frequente na grande maioria dos morros do ltio de .laneiro, de labalinga confundida por Gardner com o gis na serra do Àraripe, de massapé e terra rôxa na província de S. Paulo, não são mais do que va- riedades de argilla, ás quaes a presença de certos oxydos ou de outras substan- cias imprime um cunho especial, que as faz mais facilmente distinguir. Ora, desde a opinião que só admitte a formação de argillas no seio dos mares, até á que a faz provir exclusivamenle da mineralisação do humus, quasi todos os modos de pensar são, não obstante, concordes em attribuir a sua origem á decomposição das rochas plulonicas, o que até certo ponto explica a abundancia dessas colossaes formações sobre lodo o sólo doBrazil, que apre- senta um dos mais imponentes, senão o mais notável exemplo da possança de um sólo granítico, de que ha conhecimento no mundo seientifico. A cir- cumstancia, porém, da presença das primeiras formações desta natureza nos terrenos carboníferos, em que a vegetação devia ter predominado, e as próprias observações feitas sobre as nossas collinas gneissico-graniticas, nos induzem a crêr, com o professor Harlt, que a vegetação muito contribue para accelerar e como que coadjuvar a formação desta especie de terras. Para convencermo-nos disto, basta observar a successão de plantas que se desenvolvem sobre um rochedo árido. Desde o lichen, que parece procurar apenas um apoio para sobre elle nutrir-se da alga que soube encerrar no seu thallo membranoso, até ás plantas mais elevadas, que para se desenvolverem precisam tirar partido do humus accumulado por numerosíssimas gerações, as quaes, repousando aos seus pés, actuam como um verdadeiro estrume; todos os vegetaes satisfazem, por um lado, ás suas necessidades immediatas, e por outro lado atacam, com o auxilio das decomposições organicas, o proprio rochedo, de modo a dispôr os seus elementos, segundo novas redistribuições mais aptas a satisfazer as exigências da vegetação vindoura. Assim, pois, a desaggregação, devida ás raizes das plantas, permittindo a circulação dos fluidos atmosphericos, o desprendimento e acção do gaz car- bónico do humus, a influencia do oxygeneo fornecido pela reducção dos sáes de ferro, etc., constituem outras tantas causas que apressam a decomposição das rochas, e mostram o papel da vegetação sobre a producção das argillas, resul- tantes dessa decomposição. Ora, assim como a influencia e diversidade dos agentes externos devem se traduzir pela producção de variedades na argilla, assim também a natureza difterente das rochas, de que ellas provêm, deve concorrer para differençal-as. Assim, por exemplo, em S. Paulo, emquanto as rochas gneissico-graniticas pa- recem produzir por decomposição diversas especialidades de terra solta, cha- mada massapé, estamos convencidos de que a terra rôxa resulta da desaggregação da pedra de ferro, que nada mais é do que um diorito ou talvez uma diabase, visto que analyses do professor Daubrée, a pedido do Dr. Tebyriçá, tenderam a provar, em algumas amostras, a presença do pyroxeno augito em vez da hornblenda. Cumpre, porém, notar que tendo as analyses revelado entre as substancias, capazes de imprimir tal coloração, sómente a presença do ferro na terra rôxa, é provável que ella deva a sua côr especial á hematite parda, cujo pò, semelhante ao chocolate, lembra exactamente á da variedade de argilla de que nos occupamos. O sólo de terra rôxa fôrma como uma verdadeira zona em S. Paulo, que surgindo proximo a Ypanema e cortando o Tietê vai passar por Piracicaba, Limeira, Araras, deixando á esquerda Pirassinunga e Santa Rita, vai mais adiante atravessar SanCAnna e Ribeirão-Preto, parecendo continuar-se na direcção de Matto-Grosso. Cumpre, entretanto, observar que fóra desta zona, a terra rôxa se apresenta como que em ilhas em Botucatú, no valle do rio Jahú, etc. Diflicil tarefa seria emprehender o estado da distribuição geographica das differentes variedades de argillas, existentes no nosso paiz; limitamo-nos por isso a fazer notar que ellas são o resultado quasi que infallivel da decompo- sição das rochas plutonicas, principalmente granitico-gneissicas nas províncias do meio e do Sul do Brazil; ou melhor, nos logares em que a vegetação auxilia a acçào das forças que sobre ellas actuam no sentido de desaggregal-as, modificando o seu arranjo molecular. As arêas quartzosas e os grês, que predominam nas províncias do Norte, bem como muitos outros schistos lambem vêm a resultar da desaggregação de rochas plutonicas, devendo enlão a sua estructura especial a acções metamor- phicas, que, entretanto, não as privam completamente do seu caracler primitivo. Assim, pois, ao terminar podemos dizer que toda a geologia do Brazil repousa sobre o estudo dessas rochas eruptivas antigas, a que se deu igual- mente o nome de plutonicas, e que, fornecendo numerosas analogias com as rochas eruptivas modernas ou volcanicas, constituem as manifestações palpá- veis da existência de um ou mais fócos de actividade chimica, situados no seio do nosso planeta. Quanto ao mais, embora sirvam em certos pontos de alicerces a outras formações, as rochas plutonicas se desaggregam não obstante em muitos loga- res, fornecendo sólos araveis, necessários ao desenvolvimento dos vegelaes, e como tal prestando uma notável coadjuvação á evolução organica, que indo pedir-lhes elementos para alimentar o turbilhão vital, os restitue depois inte- gralmente ao reino mineral. PROPOSIÇÕES BOTA1TIOA Estudo geral dos Cogumelos I Na escala progressiva de desenvolvimento da série vegetal, os Cogumelos occupam um logar mais elevado do que as Algas, graças á sua mais completa especialisação de funcções. II O apparelho vegetativo dos Cogumelos é lodo constituído pelo mycelio, que a partir do filamento alongado, unicellular e privado de chlorophylla dos Phycomycetos, passa ao filamento pluricellular ou articulado dos Cogumelos mais communs; ramilicando-se ou entretecendo-se para produzir os pseudo-paren- chymas observados nas sclerolas. III O apparelho reproducl >r dos Cogumelos se aperfeiçoa e especialisa desde o filamento articulado, que emilte propagulos ou cellulas terminaes, dotadas da faculdade germinativa do esporo, até ao hymenio. Ás vezes acompanhado de paraphyses, esse produz, ora em receptaculos, ora em conceplaculos, esporos, que por sua formação exogenea ou endogenea recebem o nome de basidiospóros ou de ascospòros. Os conceplaculos em alguns casos reunidos e envolvidos por um peridio, recebem o nome de gleba, e dispõe-se no seu interior segundo-uma disposição alveolar, escapando-se em certas especies com os esporos para o exterior, sob a fórma de uma finíssima renda, conhecida pelo nome de capillicio. IV A reproducção dos Cogumelos apresenta muitas vezes os caracteres de uma heterogenese, isto é, de uma alternancia de gerações sexuaes e assexuaes, como nos Mucorineos. É facil encontrar nessa familia não só a genese por scissiparidade na formação dos propaguíos, como também uma especie de segmentação externa ou exogenese na formação dos basodiospóros, que repetida em um mesmo filamento dá logar ao rosário de esporos do Rhodocephalus candidus. A genese por formação livre é encontrada na origem dos aseospóros, e a que se effectua por simples condensações do protoplasma nos zoospóros dos Peronosporeos e dos Monobiepharis. No genero Phycoinyceto a propagação se faz pelos zvgospóros resultantes de uma verdadeira conjugação; ao passo que uma geração sexual, analoga á das plantas superiores e eíTectuada pelos antherozoides, que partindo de uma autheridia vão fecundar as oospheras encerradas no oogonio, e que por esse aclo se transformam em oospóros, conslilue 0 systema de reproducção dos Saprolenhaceos no grupo dos Phycomycetos. y Á germinação dos esporos exige um certo grão de calor e humidade; dahi ura limite mais restricto, embora ainda vastíssimo, imposto ã habitação dos Cogumelos comparativamente ao das Algas. A luz embora não influa sobre o poder vegetalivo dessas plantas, que preferem geralmenle a sombra aos raios directos do sol, comtudo exerce uma acção apreciável sobre o desenvolvimento do apparelho reproductor 11a maior parte das especies. YI A nutrição dos Cogumelos se eííectua sobre os elementos assimiláveis, que elles vão roubar ao humus, e aos organismos vivos ou mortos, de que são ver- dadeiros parasitas. Produzindo varias degenerescencias nos tecidos são causas de muitas e diflerentes affecções pathologicas. Quanto á outra nutrição, de que gozam as demais plantas, por meio da funcção chlorophylliana, delia se acham privados em virtude da falta do indispensável meio de obtêl-a. VII A respiração dos Cogumelos é analoga á dos animaes, e consiste na absorpçâo do oxygenoo e emissão do gaz carbonico, não obstante a opinião de di- versos autores que, tendo nelles encontrado o azoto, quizeram attribuir-lhe uma origem atruospherica. Algumas experiencias que se têm feito provam ser esse azoto devido á decomposição das matérias organicas, sobre as quaes se desenvolvem taes plantas. VIII O crescimento dos Cogumelos se effectúa não por uma só cellula terminal ; mas sim pelo desenvolvimento combinado das cellulas terminaes de cada fila- mento. Esses grupos de filamentos não manifestam tendências a ramificarem-se, e quando o fazem, como nos generos Clavaria e Xylaria, ó antes por uma sub- divisão de eixos semelhantes do que por uma differenciação em appendices folliares. Um tal modo de crescimento póde servir de critério para levar o botânico a affirmar ou a predominância do Cogumelo sobre a gonidia no thallo de um Lichen fructiculoso, como por exemplo, a Usnea barbata, ou da Alga sobre o Cogumelo no thallo da Euphebe pubescens e outras. IX Os Cogumelos se desenvolvem ora ao ar livre, sobre os troncos cahidos e meio apodrecidos, bem como sobre outras matérias organicas em decompo- sição, do que temos exemplo nos Chapéos de sol e Orelhas de pdo, dos generos Agaricus e Thelephora; ora sobre vigas e madeiros na obscuridade das adegas, como o Merulius destruens. Os vegetaes vivos offerecem muitas vezes base para um tal desenvolvimento, como se observa na raiz dos carvalhos a Truffa, nas bagasda uva o Oidium Tuckerii, nas folhas das Cruciferas de nossas hortas o Cystopus candidus, sob a íórma de ferrugem branca, emfim, o Cogumelo Lichen na gonidia que envolve e que geralmente pertence ás famiiias das Nos- tochineas, das Palmellaceas ou das Chroococcaceas. Os animaes também lhes servem frequentemente de estação ; quer mortos, como os insectos e chrysalidas em relação á Isaria crassa, quer vivos, soffrendo com isso a infecção de numerosas moléstias, como as que resultam da Herpes corrosiva, etc. Os logares húmidos e escuros são a estação preferida pelos generos Aspergillum e Penicillum que ahi se desenvolvem sob a fórma de môfo ou faolôr; e os proprios líquidos, constituindo um excedente habitat para tal desenvolvimento, soffrem muito da acção dos Fermentos. Convém notar, porém, que a alternaneia de gerações póde acarretar a heteroecia ou a mudança cor- relativa do habitat. X Os Cogumelos se grupam em cinco grandes classes, conforme o seu desen- volvimento morphologico e disposição do apparelho vegelativo e reproductor: assim o Io grupo dos Phycomycelos, é o que se prende mais intimamente a certas Algas por seu apparelho reproductor; o 2o grupo, dos Hypodermicos, se caraclerisa pelo seu desenvolvimento geralmente endophyla; o 3o grupo, dos Basidiomycetos, abrange todos os Cogumelos que se reproduzem por basidios- póros; o 4o grupo, dos Ascomycetos, comprehende os que se reproduzem por ascospóros, como os Fermentos, os Lichens, etc.; emfim, o 5o, grupo dos Myxomycetos se caracterisa pela ausência de cellulas ou tecidos bem definidos e pela singularidade das suas plasmodias. ZOOLOGIA Estudo geral dos Echinodermas I Distinguindo-os dos Coelentereos pela presença de um canal intestinal e de um perisoma ou envoltorio tegumentario, o estudo das larvas dos Echinodermas ensina a considera-los como verdadeiros grupamentos ou colonias de organismos vermiformes, provenientes de uma mesma fórma rudimentaria, e aos quaes uma parada de desenvolvimento ou uma separação incompleta manteve ligados. II À calcarisação dos tegumentos, ou a producção de um perisoma pôde ser seguida da formação de um pequeno esqueleto interno, servindo sempre de sustentáculo e protecção ás partes molles do corpo. A distribuição e grandeza das placas calcareas ou das ambulacrarias, no corpo dos Echinodermas, pòde ser um critério para sua subdivisão em classes, bom como pela sua disseminação ou destruição indicar antes um estado degenerado do que um estado caracteristico desse typo. III O desenvolvimento muscular dos Echinodermas se acha infimamente ligado ao seu dermo-esqueleto; notando sempre nesta parte uma defferenciação es- tructural mais elevada de que nos vermes. Quanto á sua distribuição, os musculos se apresentam ora estriados como no apparelho mastigador dos Ouriços do mar, ora lisos e dispostos annullar e longitudinalmente como no corpo das Hololhurias, ora emfim transversalmente como nas peças do sulco ambulacrario das Asterides. IY A locomoção se effeciua nestes animaes pelo chamado systema ambulacrario, cujo nome vem do otgão denominado ambulacro, que nada mais é do que um 60 rudimento pedicular, devido ao alongamento do systema tegumentario, e munido de paredes musculares que lhes permittem destenderem-se algumas vezes através dos pòros situados nas placas calcareas, sob o allluxo do liquido interno até fixarem-se, graças a uma especie de ventosas que os termina, a qualquer ponto de apoio, do qual se approximam pela contracção do ambulacro. V O systema nervoso desta classe é subordinado aos troncos maiores, que acompanham os raios ou divisões do corpo, e ramilicam-se indo animar os vasos ambulacrarios, apresentando dilatações em seu curso, que Muller asse- melhou a rudimentos cerebraes ; elles ligam-se uns aos outros por meio de simples commissuras em torno do canal oesophagiano, formando um annel algumas vezes pentagonal nos Echinidos. As extremidades dos feixes nervosos parecem em alguns adaptar-se a funcções especiaes; assim é que nos ambulacros e nos tentáculos ramificados das Holothurias se destinam á percepção de impressões tactis; nos Synaptos, apresentando-se ramificados e irradiados em torno de cinco pares de vesículas, tem sido por alguns considerados como orgãos da audição; emquanto que nas Asterides indo ter a corpos esphericos, situados nas extremidades dos braços e assemelhando-se a baguetas crystallinas envolvidas em pigmento, parecem animar os rudimentos de um orgão da visão. VI O canal digestivo começa nos Eohinodermas a desenvolver-se pela parte anal, emittindo um prolongamento em fórma de coecum, ao qual pouco depois se liga urn outro tubo ou depressão proveniente do orifício bucal, que surge em ponto diverso, pertencendo, porém, ambos á camada celluiar peripherica. O tubo digestivo, composto de um oesophago contractil, de uma parte mais dilatada ou estomago por vezes muscular, de um coecum e de um orifício anal, é provido, junto á boca, de orgãos de mastigação, que dependem em geral do prisoma, nas Asterides e Crinoides, e que em certos individuos podem ser bas- tante complicados, formando a chamada lanterna de Aristoteles. Quanto às glandulas e orgãos accessorios do tubo digestivo parecem encontrar homologos em certos appendices ccecaes, como também em algumas cellulas glandulares coloridas. VII O liquido que se poderia chamar sanguineo, circula em canaes fechados bem como na cavidade dos intestinos; esses canaes, ao que parecem, circumdam a a boca, e recebem os vasos, que vêm dos intestinos, e são ligados por um tubo pulsátil, considerado como uma especie de coração, a um outro vaso annular, que em certas especies circumda o orifício anal, a que vão ter outros vasos inteslinaes. O systema aquifero porém é constituído por canaes primitiva- mente oriundos do tubo intestinal, os quaes abrindo-se na face dorsal por um póro, são internamenle ciliados e apresentam dilatações ou vesículas do Poli em seu curso, bem como bolhas na base dos ambulacros e tentá- culos, com o fim de provocar-lhes um estado erectil ; traço anatomico este que caracterisa esse grupo de animaes. VIII Os apparelhos, a que se tem altribuido a funcção respiratória nos Echino- dermas, podem ser referidos a 2 grupos, conforme constituem appendices na superfície ou na cavidade do corpo : no Io grupo, se acham, não só os que se prendem em parte ao systema ambulacrario e aquifero, onde os cilios vibrateis se destinam á renovação da agua, como também verdadeiros bronchios dermicos, situados no dorso das Asterias e dos Echnides, e banhadas interna e externamente pela agua. O 2o grupo abrange os tubos fechados e ramificados em fôrma dendritica das Holothurias, abertos junto á cloaca desses pequenos animaes, e que podem simplificar-se até á fôrma infundibuli- forme e mal ciliada do tubo dos Synaptos. IX A differenciação sexual na presente ordem é mais elevada do que na dos Vermes, e salvo alguns casos raros em que se apresenta o hermaphroditismo ó por assim dizer geral o dioicismo. Os apparelhos testiculares e ovarianos não apresentam complicação, e reduzem-se a saccos ou cavidades, de onde partem tubos mais ou menos ramificados, que ora expellem por uma fenda os produc- tos da sua actividade, deixando que a agua sirva de intermediária á fecundação, ora os derramam na própria cavidade interna. X A classe dos EcTiinodermas se subdivide em 3 grupos, o das Asterides, dos Echinidos e dos Holothuridos: No Agrupo, os organismos elementares apresentam a maior independencia, como se deduz do estudo dos antimeros ou braços da eslrella do mar; no 2o grupo a producção de um corpo unico mais se accenlúa pela cooperação dos braços e por sua incorporação á massa central mais ou menos provida de espiculos calcareos como os do Ouriço do mar. Emfim no 3o e ultimo grupo o caracter dis- linctivo reside na presença dos tentáculos por modificação dos antimeros, e na distribuição do dermo-esquel9lo, segundo placas calcareas isoladas. IIVCIIISTiEiR^IIlOGrlE-A. Sulphuretos I Os sulphuretos devem a sua origem, na natureza, ou á acção do gaz sul- phydrico, injectado através de rochas diversas, como foi verificado em relação á pyrite de ferro das fumarolas da Islandia, ou a acções reductoras exercidas sobre certos sulphatos existentes em dissolução na agua do mar e de outras fontes geral mente tliermaes. II Os sulphuretos grupados, segundo sua fórma crysíallina e excluídas as especies adelomorphicas, cujo syslema de crystallização é duvidoso, tal como o akantilo da Bohemia, entre os sulphuretos simples e o berlbierilo de Auvergne entre os sulphuretos múltiplos, apresentam fôrmas que se referem a todos os syste- mas cryslallinos, com excepção do klinoedrico, e que são por vezes isomor- phicos dos seleniuretos. m Esludados em seus caracteres exteriores, os mineraes dessa vasta familia apresentam lypos geralmente dotados de brilho metallico, opacos, de fractura desigual ou conchoide, embora possua especies dotadas de brilho adamantino e transparente, como são os crystaes de blenda, rosalgar, ouro-pimenta, cinabrio, greenockito e outros. Quanto á côr e estruclura variam ; a primeira, desde o cinzento, mais commum ao aço e ao chumbo, até as côres vermelhas e vivas do cinabrio e da prata vermelha ; a segunda, desde as estructuras granulares e mais ou menos compactas até á estruclura friável e esbroadiça da covellina e do dufrenoysito. No mais, exceptuando algumas especies, que, como a chalkopyrile, apresentam irisações superficiaes, ou que pela co- loração do pó e faculdade de dar traços se tornam caracteristicas, como o molybdenito em relação â galena, poucos são os caracteres exteriores que gozam de importância. IV A série dos sulphuretos apresenta as mais notáveis differenças em suas propriedades physicas; é assim que a sua densidade varia desde 3,463 que é a do hauerilo até 8,82 que representa a do cinabrio; a dureza desde I e 1,5 que pertence molybdenilo, até a de 6 e 6,5 que exprime a da pyrile commum e mispickel, permitlindo a producção de scentelhas. Quanto às outras propriedades têm sido raramente observadas; mas sabe-se que a eleclricidade negativa é desenvolvida por atlrito no rosalgar e panabase, bem como a phosphorescencia; emfim que o cinabrio produz uma polarisação rotaioria mais intensa do que o quartzo, e que as variedades amarellas da blenda despolarisam a luz na pinça de turmalina. V Expostos á acção do maçarico ou de um calor intenso, os sulphuretos des- prendem fumaças dotadas de ura cheiro sulphuroso, e misturados aos fun- dentes habituaes no fio de platina lornam-o frequentemente quebradiço, emquanto que fundidos juntamente com a sóda, dão logar a uma massa que, projeclada na agua acidulada, desprende acido sulphydrico. VI Os sulphuretos distinguem-se analyticamente, segundo o seu gráo de solu- bilidade, em 3 grupos; no Io se acham comprehendidos certos sulphuretos solúveis na agua, como os alcalinos e os alcalino-terrosos; no 2o os inso- lúveis na agua acidulada, que são comludo capazes de combinar-se com os sulphuretos alcalinos para produzir sulpho-saes solúveis na agua; emfim no 3o grupo se acham os insolúveis nos sulphuretos alcalinos. A analyse por via húmida basèa-se muitas vezes no conhecimento das propriedades desses diversos grupos. VII r A presença de um sulphureto é logo revelada em um ensaio por via húmida desde que, pela addição de um acido energico, se desprende um gaz, com o cheiro caracteristico do acido sulphydrico, que ennegrece um papel humedecido em acetalo de chumbo. Tratados ainda pela agua régia ou pelo acido azotico, os sulphuretos convertem-se em sulphatos com desprendimento de vapores rutilantes, e muitas vezes com deposito de enxofre. VIII O modo de ser dos sulphuretos na natureza, ou melhor as suas jazidas, estão infimamente ligadas á sua origem; é assim que a pyrite de ferro que se fórma por todos os modos que deixámos apontados, é encontrada em todos os terrenos; emquanto que outros como a argyrose, a stibina, o molybdenito, etc., parecem preferir juntar-se ás rochas eruptivas como o granito, gneiss, etc. Os schistos argillosos resultantes da decomposição dessas rochas constituem a jazida mais frequente da blenda, do cinabrio, chalko- sina, mispickel e outros; emquamo que os schistos betuminosos e outros depó- sitos carboníferos são procurados pela sperkiese ou pyrite branca. Nos terrenos volcanicos e solfataras são frequentemente encontrados o ouro-pimenta, o rosalgar, a covelina e por vezes a pyrite magnética ou leberkiese, que é também achada nos aerolithos. Quanto á galena, ora se apresenta em veios muito regulares denominados plu nbiferos e ricos em outros sulphuretos, ora nas rochas crystallinas como os granitos, formando ramificações irregulares desses veios, que são designadas pelo nome de jazidas de contacto; ora, finalmente, em nodulos disseminados nos terrenos antigos. IX Os sulphuretos, considerados em suas applicações industriaes ou metallur- gicas são geralmeate procurados por sua grande frequência na para fornecer os principaes metaes, exceptuando a pyrite que é antes pre- ferida para a extracção do enxofre e fabricação do sulphato de ferro. Outros sulphuretos, como o ouro-pimenta, o rosalgar e raras vezes o cinabrio na- tural são usados nas pinturas; na th9rapõutica o rosalgar serve aos filhos da Sibéria para debellar as febres intermittentes, e aos chins para prepa- rar pequenos vasos, que, segundo sua opinião, imprimem virtudes pur- gativas aos cozimentos vegetaes ahi collocados. Além dessas, muitas outras applicações se têm dado a sulphuretos naturaes, tal é a que se fazia anti- gamente ás pyrites, substituindo as pederneiras nos arcabuzes e armas de fogo, ou servindo de espelho entre os antigos Peruvianos. X Os sulphuretos têm sido considerados como formando uma família mineral da grande classe dos combustíveis metallicos, e se subdividem em 2 sub-ordens : a Ia dos sulphuretos simples; a 2a dos sulphuretos múltiplos. Na primeira sub-ordem se deve incluir cinco tribus: a 1* dos sulphuretos cúbicos, a 2a dos orthorhombicos; a 3a, dos klinorhombicos; a 4a dos rhomboedricos; a 5a dos adelomorphicos. A segunda sub-ordem abrange seis tribus que vêm a ser : 4*, dos quadráticos; 2a, dos cúbicos; 3a, dos orthorhombicos; 4a, dos rhom- boedricos; 5% dos klinorhombicos; 6a, dos adelomorphicos. Essas tribus se subdividem ainda em generos, cujo grupamento é feito segundo o typo de estruclura molecular; e são, finalmente, formados por diversas especies mine- raes, que ficam assim definidas por seus typos de composição e de estructura intima. 67 Esta these está conforme os estatutos.—Escola Polytechnica, 20 de Fevereiro de 1880. Joaquim Murtinho. E. Pitanga. Dr José de Saldanha da Gama. Rio de Janeiro, 1880.—Typ. Usiversal de E. & H. Laemmebt, rua dos Inválidos, 71.