FÁCülS ■^gffi, 9, F THESE DE CONCURSO DO Gzfáú % a nu te ^báímào- isffàêntoto •-M m Qâ^^- ■yc .Md FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. S®S:€®»g@ PARA OPPOSITOR DA SECÇAO MEDICA. FUNCÇOES DO GRANDE SYMPATHICO. THESE SUSTENTADA mi iroTOiiBiQ m «a PELO JDr. Icrnura Rfíomo íflontetro. ■ oi» 6a-í/'í •'.- *. BAHIA TYPOGRAPHIA DE J. G. TOURINHO 1871. FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. DIHECTOR O Ex.mo Snr. Conselheiro Dr. Vicente Ferreira de Magalhães. OSSnS.DOUTORKS l.'ANNO. MATKSIAS aPDlicaçõos á Medicina. Francisco Rodrigues da Silva. . . . / Chimica e Mineralogia. Adriano Alves de Uma Gordüho . . . Anatomia descripliva. 2.* ANNO. Antônio de Cerqueira Pinto.....Chimica orgânica. Jeronymo Sodré Pereira . ... . Pliysiologia. Antônio Mariano do Bomflm.....Bolanica e Zoologia. Adriano Alves de Lima Gordüho. . . . Repetição de Anatomia descrlpliva 5.* ANNO. Cons. Elias José Pcdroza......Anatomia geral e pathologica. José de Góes Sequeira.......Pathologia geral. Jeronymo Sodré Pereira......Physiologia. 4.* ANNO. Cons. Manoel Ladislao Aranha Dantas. . Pathologia externa. ...............Pathologia interna. ^ ,u • u H.-.OM ,ni„c,mn,,n S Partos, moléstias de mulheres pejadas e de meninos Conselheiro Mathias Moreira Sampaio j reccn»nascidos. 8.» ANNO. ..........•.....Continuação de Pathologia interna. , . _ ., i Anatomia topographiea, Medicina operatorla.e José Antônio de Freitas......\ apparelhos. .........,......Matéria medica, e lherapeutica. 6.' ANNO, ................Pharmacia. Salustiano Ferreira Souto......Medicina legal. Domingos Rodrigues Seixas.....hygiene, e Historiada Medicina. ..............Clinica externa do 3.* e 4.• annoi ÂntonioJanuario de Faria......Clinica interna do 3/ e 6.» armo. Rozendo Aprigio Pereira Guimarães. .) lgnacio José da Cunha.......f Pedro Ribeiro de Araújo......) Secçao Accessona. José lgnacio de Barros Pimentel. . .\ Virgílio Clymaco Damazio...../ José AlTonso Paraizo de Moura, . . Augusto Gonçalves Martins. ... Domingos Carlos da Silva......> Secçao Cirúrgica. Demetrlo Cyriaco Tourinho Secçao Medica. Luiz Alvares dos Santos......( O Sr. Dr.Cincinuato Piuto daSilva. cesso de actividade vital (permittão-nos dizel-o). Até certo ponto ella pôde desapparecer sem deixar vestígios, as delitescencias e as resoluções o attcstão. Sc Robert de Latour quer ver na moderação ___ v>9 da circulação capillar, no abaixamento do calor animal, na dimi- nuição das combustões orgânicas, na falta, emfim, do elemento ar, os miraculosos resultados de sua medicação isolante, porque não vê também, e por caminho mais curto, estes resultados depen- dentes da perturbação nutritiva, provocada pelo accumulo no sangue de ácido carbônico, e outros productos, a qual traz o refreamento das combustões vitaes, econsegulníemente o abaixamento da tem- peratura animal? Esta maneira de pensar é uma represália á explicação de Latour, e que adoptamos até que a sciencia nos depare a verdadeira causa de tantas rcsiirreições. (26) Muitos outros argumentos produz o Sr. Robert de Latour contra a theoria dos nervos vaso-motores, e em favor de sua força motriz da circulação capillar; mas todos elles prendem-se aos que acabamos (26) Às curas obtidas pela applicação do collodio nas feridas e inflammações cutâneas devidas principalmente á causas traumáticas, não dependem exclusi- vamente da subtracção do ar; a acção do collodio produz outros effeitos que não são indifTerentes a taes curativos. Trousseau e Pidoux que porventura não tinhão penetrado a verdadeira ex- plicação de Robert Latour sobre a producção do calor animal, pronuncião-se sobre a questão do collodio do morto seguinte: « M. Le docteur Robert Latour Pa exalte dansle traitement desovarites, des perilonil.es suraigues, des orchiles, etc., avec un enthousiasme que quelques faits ne suffisent jamais à allumer chez les observateurs prudents ou desinte- resses de toute idéie préconçue. Ce médecin distingue était, en effet, auteur d'une théorie de l'inflammation avant Ia découverte du Collodion. Celte théorie est bien simple, aussi simple malheureusement que Ia médication qui est venue si à propôs Ia confirmei' et etre confirmée par elle, aux yeux de M. Robert Latour. A 1'exception de Ia chaleur animale, sur Ia nature et le mode de génération de laquclle Pauteur ne s'explique pas et dont 1'élévation est pour lui toute Pin- flammalion, les autres phénomènes de cetteaffection sont physiques, ou, sil'on veut, de simples conséqucnccs physiques de Ia chaleur en excès dans une parlie enflammée. Vaisseaux dilates, mouvement du sang plus rapide, tuméfaction, rougeur, douleur, etc., tout cela suit de 1'élévation de Ia température comme dans un systeme inorganique. On voil que M. Robert Latour a pris Celse à Ia lettre, et qu'y ajoutant Ia petite explication que peut lui suggérer tous les jours Papplication de sa main sur Ia boule de son thermomètre, il est à même de di- rlger avec non moins de facilite les phénomènes de Pinflammation. de mencionar, que são por ventura os mais valiosos. Lavraremos apenas, terminando, um ligeiro protesto contra o pseudo-argumento que o illustre physiologista pretende tirar da admiração que causou ao professor Cl. Rernard a superactividade das partes que elle es- perava ver atacadas de paralysia depois da sècção do filete cervical do grande sympathico. É verdade que o eminente professor do Collegio de França meditou na contradicção apparente de tacs factos; porém antes que Brown Sequard fosse da America reiven- dicar para si a gloria de um tal descobrimento, já Cl. Bernard lhes tinha achado a explicação: assim dizem os authores que tratão da matéria. Empêcher Ia formation exagérée de Ia chaleur animalc, tel est donc tout le problème thérapentique. Or M. Fourcault, recouvrant d'enduits imperméablcs toute Ia surface de Ia peau de certains animaux, atTaiblissait remarquablement chez eux Ia puissance calorifique, Ces animaux se refroidissaient beaucoup, et diversgenres de lésions pathologiques se développaient ensuite dans leurs vis- cèrcs. M. Robert Latour en a conclu, sans doute, que c'élait par une sorte de respiration cutanée que se produisait Ia clialeur des parties sous—jacentes; que c'était par l'aclion de 1'air atmospheriquc sur Ia peau du ventre, par exemple, que se formait Ia chaleur du péritoine, et trouvant dans le Collodion un vernis paríaitement imperméable à 1'air, il avite jugé que, de même que toute Ia pé- ritonite consiste dans une élévation excessivedela chaleur péritonéale, de même tput le traitement de cetle phlegmasie devait consister dans Ia suppression du íbyer cutané de cet excès de chaleur.... De là à 1'application duCollolion sur Ia peaudu ventre il n'yavait qu'un pas. Cetle théorie, qui ne mérite pas d'être disciilée, a eu cerlainement plus d'in- fluence que 1'observation clinique sur Ia confiance exagérée que M. Robert Latour témoigne au Collodion dans le traitement des inflammations viscérales aigues. II faut examiner Ia question avec plus de simplicité expérimentale et d'indépendance d'esprit............................................... ......Et puis, M Robert Latour oublie de nous dire que les animaux ver- nissés par M. Fourcault suecombaient souvent à des phlegmasies viscérales. On peut donc retourner conlre lui son principal argument. (Trousseau e Pidoux —Traité de Thérapeutique et de Matiere Médicale tome second. p. 1032 e 1033. 1869.) — 2í — TERCEIRA PARTE, CAPITULO I. Conhecido mais ou menos o modo de funccionar do grande sympathico com relação aos órgãos em que elle se distribue, é na- tural que o physiologista procure saber onde reside o centro de actividade, ou a origem do systema nervoso ganglionario, noção physiologica á qual se prendem muitas outras, cuja solução tem variado segundo a maneira de interpretar os factos de cada expe- rimentalista. Á exemplo de Winslow e de Bichat uns considerão os gânglios do grande sympathico como centros de innervação completamente in- dependentes do centro nervoso cerebro-espinhal, e podendo por- tanto dispensar o seu concurso; com Scarpa e Legallois outros admittem este concurso como indispensável, e vcem no grande sympathico um apparelho nervoso que, por meio de innumeraveis raizes, tira sua influencia da medulla espinhal e da medulla allon- gada. Entre estas duas opiniões vem naturalmente collocar-se a daquelles que sem negarem a intervenção do eixo cérebro espinhal nas manifestações dos nervos da vida orgânica, acreditão também no poder reflexo dos gânglios, como centro de uma actividade própria. Porem esta maneira de pensar não tem o meio termo das opiniões exclusivas; uns, como Longet, inclinam-se mais á Legallois, outros, como Bidder, approximão-se de Winslow. Se fosse possivel, diz Longet (27), interceptar as innumeraveis communicações que existem entre o systema nervoso da vida (Li7) Longet. Log. cit. — 25 — animal e o grande sympathico, examinar depois as mudanças que tal operação produzisse no exercício funccional deste ultimo, não ha duvida que deste modo se consegueria determinar se ellc possue exclusivamente em si mesmo o principio de sua acção, se gosa de uma independência absoluta em seus actos, ou se conse- gueria apreciar a somma de actividade que elle recebe do eixo cérebro—espinhal. « Basta reflectir um instante na disposição geral do grande sym- pathico para reconhecer que as mutilações necessitadas para uma tal experiência, não podem ser compativeis com a vida. » Que difticuldades na experimentação physiologica, e na aprecia- ção de factos na esphera das nevropathias, que ora se mostrão mais ou menos independentes, ora inteiramente relacionados! CAPITULO II Os progressos da anatomia tem revelado as communicações dos gânglios sympathicos com a medulla e suas raizes espinhaes, e a physiologia que via a excitação da medulla propagar-se aos filetes ganglionarios não duvidou de acreditar na origem medullar do grande sympathico. Jacubowitsch chegou a ver as cellulas sym- pathicas d'onde partem na medulla as fibras dos nervos gangliona- rios. Graças ao methodo anatômico de Waller grande parte destas obscuridades tem-se dissipado, e a disposição dos nervos commu- nicantes vai se tornando mais manifesta. As conclusões, diz Vul- pian (28), de Bidder e Yolkmann receberão uma confirmação bem notável em conseqüência dos trabalhos de Waller. Este physiolo- gista vio que depois da secçao transversal dos nervos rachidianos, na ran, ao nivel de sua sahida do canal vertebral, as fibras da parte peripherica destes nervos, examinadas no fim de dous mezes, erão inteiramente desorganisadas, emquanto que os ramos com- municantes do grande sympathico cstavão ainda no estado normal; (28) Vulpian. Lag cit. 4 — 26 — vio os tubos nervosos destes ramos conservarem-se normaes no meio das fibras alteradas dos nervos rachidianos. Estes ramos nervosos vem pois dos gânglios sympathicos que são os seus centros trophicos, e não da medulla espinhal. Eu mesmo, continua Vulpian, fiz numerosas pesquizas anatômicas sobre este assumpto. Veri- fiquei, como outros histologistas, que a disposição indicada por Bidder e Volkmann muito exacta na ran, não é inteiramente a mesma nos mammiferos. Os ramos de communicação entre os gân- glios sympathicos e os nervos rachidianos contem fibras que se dirigem com estes nervos para a peripheria; mas ha um certo numero dellas, muito mais que na ram, que sobem para a me- dulla e vão-se pôr em relação com as duas raizes, sobre tudo, as mais das vezes, com a raiz anterior. » Longet que não nega de todo aos gânglios sympathicos algum poder reflexo, embora de mui curta duração, apoia-se nas expe- riências de Vulpian feitas nos mammiferos, e eontrapõe-n'as ás de Bidder e Volkmann feitas nas rãs. O maior numero de filetes emanados (ou não) do glanglio sympathico, e subindo a pôr-se em relação com as raizes dos nervos espinhaes. sem que se reflictão como os filetes periphericos, levarão ao professor de physiologia da Faculdade de Medicina de Paris, a convicção de que a origem do grande sympathico está na medulla espinhal, como pensão muitos physiologistas. Mas o próprio Vulpian em cujas experiências Longet e outros encontrão reforço para suas idéias, não duvida de concluir do modo seguinte: Não é menos verdade que as disposições anatômicas des- criptas por Bidder e Volkmann, e os resultados physiologicos obtidos por Waller, dão um apoio considerável as idéias de Winslow e de Bichat, que consideravão o systema nervoso do grande sym- pathico como um systema aparte, contrahindo relações com o sys- tema nervoso da vida animal por troca reciproca de fibras nume- rosas. » Em presença de taes dados anatômicos o que se pôde concluir é, que os gânglios do grande sympathico emittem filetes nervosos -que vão se relacionar com os nervos rachidianos, sem com- oiunicar-se directamente com a medulla; e nervos que vão ter — 27 — directamente á este centro, sem que se possa asseverar qual o* ponto de sua natural procedência. CAPITULO ML A physiologia experimental tem se esforçado para elucidar esta questão; mas logo que a experimentação revela um facto que traz alguma luz, não faltão novas provas que, ou disvirtuão sua natu- reza, ou dão-lhe outra explicação. « Recentemente Cl. Bernard, tendo separado completamente o gânglio submaxiliar dos outros centros nervosos (medulla allon- gada e gânglio cervical superior), pôde provocar phenomenos, que elle considera como excito-motores, e determinar por seu inter-r médio uma secreção chamada reflexa da glândula submaxiliar.» Esta experiência que viria sem duvida confirmar de certo modo as previsões de Prochaska, de Clark e Grainger, foi repetida por Echkard que lhe recusou a explicação do physiologista francez. O que este attribuc ao poder reflexo do gânglio, aquelle considera como resultado de uma irritação directa. Schifif vai mais adiante. Não crê na generalisação do facto, mas não podendo deixar de admittil-o pelo menos em certos animaes, cxplica-o pela irritação directa vaso-motriz que se propaga ao longo da corda do tympanor que em taes casos tem um trajecto recorrente. No entretanto Liégeois affirma que os movimentos da iris da ran sobrevém (quando o encephalo e a medula são completamente destruídos) sob a influencia de excitações provocadas no gânglio cervical superior do grande sympathico (29). CAPITULO IV. Uma impressão feita em nossos órgãos, diz Longet. (30), pôde (29) Longet. Nota. (;30) Longet. L. citado. - 28 — dar logar a movimentos de natureza bem dislincta; assim ora transmittida ao encephalo directamente pelos nervos sensitivos cranianos, ou indirectamente por intermédio da medulla espinhal e das raizes espinhaes posteriores, ella vai elaborar na região cncephalica onde reside o sensorio commum, ahi transforma-se em sensação, e por conseguinte chega ao conhecimento do animal que pôde reagir por movimentos voluntários; ora igualmente trans- mittida pelos nervos sensitivos, quer á uma parte determinada do encephalo, quer á medulla espinhal, esta impressão occasiona uma incitação immediatamente reflectida sobre os nervos motores, e d'ahi resultão movimentos chamados reflexos para cuja producção a vontade não presta mais seo concurso. » Nesta exposição Longet estabelece claramente a distincção entre os movimentos voluntários e os movimentos reflexos. Nestes alguma parte do encephalo pôde intervir, naquelles intervém ne- cessariamente o centro das volições. Até certo tempo o myelencephalo era o órgão indispenvavel de todas as acçôes reflexas, mas as recentes experiências de Cl. Ber- nard teem feito crer que os gânglios do grande sympathico tatubem podem ser, de uma maneira independente, o ponto de partida de phenomenos reflexos (31). O que é certo é que a cadeia das acçôes reflexas é tãobem combinada entre os dous systemas que é difficil, senão impossível, determinar o ponto em que elles se separão. Temos movimentos reflexos dos músculos da vida animal succedendo á irritação dos nervos sensitivos da vida de relação; e movimentos reflexos dos músculos da vida vegetativa succedendo á irritação dos nervos sensitivos da vida orgânica. Temos ainda phenomenos reflexos dos músculos da vida de relação succedendo á irritação dos nervos sensitivos da vida orgânica; e phenomenos reflexos dos músculos da vida vegetativa succedendo á irritação dos nervos sensitivos da vida animal. Os nervos communicantes, isto é, os que prendem o grande sympathico directamente á medulla espinhal, são provavel- mente os elos da cadeia nervosa por Qnde se reflectem as excita- (31) Vulpian—Obr. cilada. — 29 — ções motrizes, contrifugas, da medulla para os nervos motores da vida orgânica, ou as impressões sensitivas, centripetas, dos nervos da vida orgânica para a medulla, e d'ahi então para os nervos rachidianos; no primeiro caso temos o movimento reflexo dos músculos da vida orgânica succedendo á irritação dos nervos sen- sitivos da vida animal, e no segundo o movimento reflexo dos mús- culos da vida animal succedendo á irritação dos nervos sensitivos da vida orgânica. Para se explicar a transmissão da impressão sensitiva e da excita- ção motriz nos dous casos ultimamente figurados, e os phenomenos reflexos que se passão na orbita dos nervos e músculos da vida de relação, não se pôde prescindir do concurso da medulla espi- nhal e allongada, centro transformador das impressões em excita- ções nos casos de phenomenos reflexos. Outro tanto, porem, se poderá dizer com relação aos movimentos reflexos que se passão exclusivamente na esphera da vida orgânica, isto é, com relação aos phenomenos reflexos dos músculos da vida vegetativa succe- dendo á irritação dos nervos sensitivos da mesma natureza? CAPITULO V. Os physiologistas que não querem ver nos gânglios do grande sympathico centros de innervação até certo ponto independentes do eixo cerebro-espinhal, dizem como Beclard (32): A experiência prova que o systema nervoso do grande sympathico não tem em si mesmo e independente de suas connéxões com o eixo cerebro- espinhal o poder de conduzir as impressões e de enviar o movi- mento. Se em um animal destroe-se completamente o eixo cérebro espinhadas funcções sensitivo-motrizes do nervo grande sympathico são, não immediatamente, mas promptamente abolidas. No entretanto Longet (33) que, como dissemos, inclina-se a Le- gallois, não duvida de dizer: Porque o poder reflexo, admittindo (32) Beclard. Physiologie—1870. (33) Longet Physiologia—18G9. _ 30 — sua existência nos gânglios sympathicos, não se pôde manifestar ali (34) de um modo duradouro depois da supressão do concurso de eixo cerebro-espinhal, isto não impede de suppôr que, no estado normal e com a integridade deste centro nervoso, os gânglios possão ser a sede de phenomenos excito-motores incessantes e que, por conseguinte, elles constituão centros nervosos de reflexão, directa- mente subordinados a um centro commum de acção cujo aniqui- lamento pariflysaria o jogo de todos os outros. Até no Tratado das moléstias da medulla espinhal por Ollivier (d'Angers) tem-se ido buscar exemplos para comprovar a depen- dência absoluta do systema do grande sympathico, e não faltão ali casos nos quaes não só os batimentos do coração, como os mo- vimentos da porção media do canal intestinal, isto é, daquella que recebe nervos exclusivamente do systema ganglionario, são modi- ficados de uma maneira sensível: outros ha em que as affecções de eixo cerebro-espinhal repercutem sobre o rim, fígado, etc. etc. Todos estes factos provão apenas que o eixo cerebro-espinhal e o grande sympathico estão de tal forma relacionados que as inx- pressões de um podem-se transmittir ao outro e vice-versa; mas não esclarecem a verdadeira origem do systema nervoso ganglio- nario. CAPITULO VI. Autes das experiências intentadas por Cl. Bernard, ja de ha muito tinhão sido os physiologistas impressionados pelas contracções rythmicas do coração de certos animaes completamente separado dos centros nervosos, e pelos movimentos peristalticos dos intes- tinos nas mesmas condicções; e na indagação da causa promotora de taes phenomenos, Remak descobrio os gânglios cardíacos, e Meissner e Auerbach os do tubo intestinal. O desenvolvimento extraordinário dos glanglios nervosos do sympathico, notado porBreschete Lallemand (de Montpellier) nos (34) O author refere-se a experiência de Cl. Bernard. — 31 - fetos amyelencephalos, e a própria existência intra-uterina destes monstros, attestão de um modo irrefragavel, que o systema do grande sympathico tem um centro de actividade independente, que em certas condicções pôde bem manifestar-se sem o concurso do eixo cérebro espinhal. Vulpian (35) practicando experiências de alguma sorte empre- hendidas por Schwann e Bidder, conseguio reunir a extremidade central do pneumogastrico com a extremidade peripherica do hypoglosso, e vice-versa; assim como obteve a reunião da extre- midade peripherica deste ultimo com a extremidade central do lingual, e vice-versa. Os resultados destas experiências vierão corroborar a opinião do author sobre a identidade de propriedade das fibras nervosas, these que este physiologista desenvolve na primeira parte de sua Physiologia comparada do systema nervoso. Ajudado ainda do concurso das experiências de Bert sobre o enxerto animal Vulpian conclue: « que as fibras nervosas, em uma palavra, são muito provavelmente todas semelhantes por suas propriedades, e não differem senão por suas funcções. É possível todavia que o modo de actividade das fibras nervosas apresente, segundo as funcções para que concorrem, algumas variantes mais ou menos análogas ás que existem entre as fibras musculares dos diversos apparelhos; porém nisto nada ha que destrua a identi- dade profunda do modo de actividade. » Portanto, se a anatomia ainda não fixou definitivamente a ver- dadeira origem do grande sympathico, e a histologia tem demons- trado a existência de cellulas nervosas nos gânglios da vida orgâ- nica, de onde partem filetes para diversos pontos da economia; Se a physiologia tem provado a identidade de propriedade das fibras nervosas; e que as impressões provocadas em o nervo sen- sitivo podem se transmittir ao nervo motor da mesma natureza ou de ordem diflerente, que o trajecto centripeto das correntes nervosas não é condição exclusiva das fibras sensitivas, bem como não o é das fibras motrizes a direcção centrifuga; Se a demora da transmissão das excitações e a sensibilidade ('■]'>) Vulpian. —Logar citado. obtusa do apparelho ganglionario dependem mais do arranjo e dis- posição anatômica deste systema, ou dos órgãos que elle anima» como querem alguns physiologistas, que da natureza de suas pro- priedades, como pensão outros; Se a admirável cadeia reflexa combina-se de tal modo que a re- flexão, ora é directa, isto é, de fibra sensitiva animal á fibra mo- triz da mesma ordem, ou de fibra sensitiva orgânica á fibra motriz vegetativa, ora é crusada, (36) isto é, de fibra sensitiva animal á fibra motriz orgânica, ou de fibra sensitiva orgânica á fibra motriz animal; Pode-se concluir: Que o systema do grande sympathico não é absolutamente in- dependente do systema nervoso cerebro-espinhal, mas é muito provável que no estado physiologico muitos de seus actos se exe- cutem a revelia deste centro de innervação. Que os gânglios da vida vegetativa teem um poder reflexo in- dependente do systema nervoso da vida de relação. Que os ramos communicantes são o intermediário das acçôes reflexas entre os dous systemas e que as impressões podem ca- minhar pelos filetes da vida orgânica ou pelos filetes da vida animal. Que a ser a medulla o centro de actividade do grande sympa- thico, como querem uns, os gânglios podem ser considerados como centros de reforço; e a serem os gânglios os principaes ór- gãos centraes do sympathico, como quer Hermann e outros (37), a medulla pôde intervir em alguns actos como centro de reforço no estado physiologico, e em muitos outros, no estado pathologi- co, como órgão de transmissão. Deste modo explica-so o silencio das funcções do grande sym- pathico, e as dores dispertadas pela excitação de suas fibras quer nas provas experimentaes, quer em diversos estados pathologicos; concebe-se a transmissão das perturbações nutritivas, ou partão (36) A denominação de reflexão directa e crusada é por nós figurada para ex. primir-mos mais claramente a nossa maneira de pensar á respeito dos pheno- menos reflexos. (37) Hermann. Physiologie—Trad. Franceza. — 33 — do eixo cérebro espinhal para o grande sympathico, ou se dirijão deste para aquelle em casos nevropathicos. E se a experimentação directa sobre o poder reflexo dos nervos da vida orgânica só tem dado á alguns physiologistas resultados negativos, é de admirar que a persistência de certos movimentos, depois de separados inteiramente os dous systemas, com grande mutilação do animal, não tenha convencido a todos elles de uma certa autonomia do systema dos nervos ganglionarios. Depois de estarem nos prelos estas paginas, lendo a Histologia de Leydig (38) vimos o seguinte: « O resultado physiologico mais importante adquirido pelas novas pesquizas sobre o systema nervoso dos vertebrados pôde ser exprimido pela nota seguinte: as fibras nervosas sensíveis e motrizes que penetrão na medulla pelas raizes anteriores e posteriores concorrem sempre para uma cellula; desta sobe para o cérebro uma fibra centripeta única para reunir-se com o prolongamento de uma cellula multipolar.» « Um outro resultado não menos importante, é que existe no systema sympathico numerosas cellulas multipolares cujos pro- longamentos tornão-se nervos; e, como a presença destas cellulas dá a região que as contem o caracter de um centro, não ha mais contestar de hoje em diante a autonomia do symrmthico, até com relação á anatomia. » ^oX5^ (38) Franz Leydig. Ilistologie de rilomme et des animaux. Traduzido tio al- lemão por R. Lahillonne. pag. 203 — JbüíJ. 5 SECÇAO MEDICA. Physiologia. Sensibilidade recurrente. 1.»—A existência da sensibilidade recurrente é um facto na his- toria do systema nervoso que não pôde ser hoje contestado. 2.a—A reflexão de filetes da raiz posterior para a raiz anterior dos nervos rachidianos, e d'ahi para a medulla, é a disposição anatômica que explica a sensibilidade recurrente. 3.a—As hypotheses de Brown Sequard e de Gubler não a podem explicar; a de Cl. Bernard tem grande apoio nos factos anatômicos e na physiologia experimental; Pathologia geral. Contagio. i .a—Contagio é a transmissão directa ou indirecta de um prin- cipio morbifico, de indivíduo a indivíduo, produzindo neste a moléstia d'aquelle. 2.a—O foco do principo morbigeno é um dos elementos pode- rosos para distincção do contagio e da infecção. 3.a—Ha occasiões em que estes elementos etiologioos se con- fundem, que é difficil senão impossível saber-se o modo exclusivo. de transmissão da moléstia. — 30 — Hygicnc. Qual a influencia do ozona sobre a saúde dos indivíduos? 1 .a—Sabe-se ainda pouco da acçao do ozona sobre a saúde dos indivíduos, apesar das muitas experiências que se tem produsido. 2.a—É provável que as constituições médicas catarrhaes e outras sejão influenciadas ou entretidas pelo excesso de oxygenio elec- trisado. 3.a—O ozona em pequena quantidade na athmosphera é pro- vavelmente mais útil, que nocivo á saúde dos indivíduos. Pathologia internia. Qual é a natureza c o tratamento mais racional da glycosuria ? l.a—Actualmente não se pôde determinar com segurança a na- tureza da diabetes, presume-se que ella seja divida a desordem dos phenomenos de combustão ou nutrição. 2.a—É igualmente impossível a prescripção de um tratamento racional. Os alcalinos, empregados com alguma vantagem no co- meço da moléstia, são tão improficuos nos últimos periodos como outra qualquer medicação. 3.a—A abstenção dos alimentos amylaeeoseassucaradosaecom- panhada de exercícios corporaes, é a indicação que mais se accorda, senão com a causa pathogenica, certamente com seus effeitos conhecidos. — 37 — Clinica medica. Do tratamento das hydropisias em relação as suas causas palbogenicas. l.a—Hydropisias são, em geral, estados mórbidos symptoma- ticos ou consecutivos de alterações dos sólidos ou líquidos do or- ganismo. 2.a—Os casos de hydropisia idiopathica vão-se rareficando á proporção que a pathogenia desta forma pathologica vai sendo co- nhecida. 3.a—O tratamento geral das hydropisias deve ser subordinado á lesão do órgão que as provoca, ás forças do indivíduo, e sobre tudo ao estado de alteração do sangue ou dos tecidos. Matéria enedica e 1'heraneutica. Qual 6 a acção dos preparados antimoniaes? l.a—O tartaro stibiado e o kermes mineral são os preparados antimoniaes, cujo emprego é mais geralmente usado como agentes therapeuticos. 2.a—Os antimoniaes obrão de diversas maneiras nos differentes casos pathologicos, mas todas as resultantes podem depender da acção irritante local, ou da acção contra-stimulante geral. 3.a—Ha certos órgãos para os quaes os preparados antimoniaes teem uma predilecção manifesta, sobre tudo nos casos de phleg- masia. SECCÃO CIRÚRGICA. Anatomia descriptiva. Quacs sãos os progressos que a Anatomia tem feito nestes últimos vinte annos? l.a—Nestes últimos tempos a anatomia pouco tem adiantado na diseripção propriamente dieta dos órgãos e apparelhos da economia. 2.a—Em conpensação o microscópio tem lhe revelado órgãos e tecidos que são em parte do domínio da histologia. 3.a—Este instrumento accompanhado do soecorro da chimica tem concorrido muito para o estudo do systema nervoso, até então pouco sabido. Anatomia geral e uathologlca. Histologia dos ovarios e suas alterações pathologicas. l.a—Os ovarios são constituídos pelo stroma e folliculos de Graaf, envolvidos na túnica fibrosa, que se tem considerado como a folha peritoneal do órgão. 2.a—As vesiculas de Graaf dispersas no stroma tem relações estreitas com este tecido por sua face externa, e internamente contém epithelio, um liquido albuminoso e o óvulo. 3.a—As alterações pathologicas da ovarite differem segundo que o ponto de partida da mflammação é o envolucro, o stroma ou a vesicula de Graaf. Os kystos são geralmente considerados como hypertrophias simples do folliculo de Graaf; mas o seu con- teúdo varia pelo menos tanto quanto a natureza de suas paredes. — 40 — Operações. Considerações sobre a tboracentbese. l.a—A thoracenthese é a operação praticada no thorax por meio da qual se pretende extrahir os líquidos anormaes desta cavidade. 2.»—Esta operação simples no seu mecanismo, é as vezes se- guida de accidentes graves. 3.a—Quando todos os recursos therapeuticos tem falhado, e que a vida do doente é ameaçada pela abundância do liquido das cavidades do peito, é então que se deve lançar mão da operação, cujas vantagens são quasi sempre palliativas. Partos. Hemorrbagia puerpcral c sen tratamento. l.a—A constituição da parturiente, o trabalho do parto, o modo de deslocação da placenta e muitas outras causas influem na producção da hemorrhagia puerperal. 2.a—O tratamento deste accidente, que traz muitas vezes a morte, deve ser de accordo com as causas que o provocarão. 3.a—Ha, porem, preceitos geraes que em todos os casos tem sua applicação, e que são quasi sempre os primeiros empregados. Pathologia externa. Feridas envenenadas c virulentas. l.a—As feridas envenenadas se distinguem pela natureza da substancia venenosa que as impregna. — 41 - 2.a—Os venenos vegetaes ou mineraes, as matérias septicas dos cadáveres, as peçonhas e os virus são substancias que em contacto com a pelle desnudada produzem freqüentemente feridas envenenadas propriamente dietas, picadas anatômicas, feridas empeçonhadas e feridas virulentas. 3.a—Todas estas feridas teem caracteres communs e caracteres particulares que as distinguem. A reacção de toda a organisação contrastando com a simplicidade apparente da ferida é um dos seus effeitos mais notáveis. Clinica externa. A blennorrbagia será um symploma primitivo da sypbilis? l.a—A gonorrhéa é uma inflammação especifica da urethra, divida ao contagio do virus blennorhagico. 2.a—A blennorrhagia nunca é symptoma primitivo de syphilis. 3.a—A presença simultânea da blennorrhagia e de outras affec- ções de origem syphilitica tem dado logar a erros de diagnósticos e a falsas supposições sobre a natureza do virus blennorrhagico. G SECCÃO ACCESSORIA. Chiniica mineral. Phenomenos cbimicos dependentes da acção da luz. l.a—A luz éum agente poderoso de combinações e decompo- sições chimicas. 2.a-—A sua acção sobre o chloro e o hydrogenio é um exemplo do primeiro caso, e sobre o nitrato de prata do segundo. 3.a—Todos os raios do espectro luminoso não tem o mesmo poder chimico; ao raio violeta cabe sua maior acção. Physica. As modiGcações que as enfermidades apresentão devidas ádiíTerença das pressões athmospbericas e as diversas posições do sol era relação a terra, serão explicadas pela physica? l.a—As mudanças, principalmente rápidas, na pressão athmos- pherica e a passagem a novas estações influem notavelmente nos diversos estados mórbidos. 2.a—O concerto das funcções orgânicas não se pôde sustentar alem de certas condicções de equilíbrio no meio em que o ho- mem vive, mas a physica geral não pôde explicar todos os phe- nomenos da physica animal. 3.a—Forças peculiares ao organismo entretem-n'o de tal forma que nem sempre se pôde descriminar o phenomeno physico do í-himico e do phenomeno vital. _. 44 — Chimica orgânica. Applicação do estudo chimico da urina ao diagnostico e therapcutica. j.a_A analyse chimica da urina é de grande vantagem no es- tudo das moléstias, mas sua intervenção em muitos casos ainda é pouco apreciável. 2.a—Nas diversas relações anormaes dos princípios que a cons- tituem reside um grande elemento de diagnostico e de applicações therapeuticas. y.a—A presença de productos extranhos na urina nem sempre é por si só elemento poderoso para o diagnostico e o tratamento. Pharmacia. Processos pharmaceuticos empregados para reconhecer as alterações fraudulentas do vinagre. 1 >a—As alterações fraudulentas do vinagre consistem commum- mente na addicção d'agua, ácidos extranhos e matérias acres, ou na mistura com vinagres de qualidade inferior. 2.a_0 gráo de saturação do vinagre em relação aos earbonatos de potassa ou de soda, basta para revelar o excesso d'agua contido no vinagre. 3#a—Os diversos reactivos peculiares aos ácidos sulfurico, chlo- rhydrico, azotico, etc, são em ultima analyse empregados para des- cobrir a presença destes ácidos no vinagre. O cheiro e o sabor sur- prehendem a mistura com vinagres inferiores; e a saturação do vinagre manifesta a acrimonia das substancias acres. — 45 — Hotanica e Zoologia. Respiração vegetal. l.a—As folhas e as partes verdes da planta são órgãos princi- palmente destinados a respiração vegetal. 2.a—Todas as superfícies coradas taes como a das flores, dos fructos, etc, não são inteiramente extranhas ao ac to respiratório da planta. 3.a—Entre os órgãos respiratórios dos vegetaes destinados a viverem n'agua, e dos vegetaes que vivem ao ar livre, ha diffe- rença de estructura em relação com o meio em que vegetão. Medicina legal. Dos ferimentos graves em relação ao formulário dos processos crimes. l.a—Em a nossa lei o ferimento grave (art. 205 do Cod. pen.) é o ferimento ou offensa physica que produz grave incommodo de saúde, ou inhabilitação de serviço por mais de um mez. 2.a—A interpretação deste artigo não é sempre a mesma para todos os jurisconsultos, mas ao medico-legista só cabe a tarefa de classificar o mal segundo os preceitos da sciencia. 3.a—Ha casos em que o perito não pôde á primeira vista deter- minar com segurança a natureza do ferimento, ou offensa physica, a lei então previne com o exame de sanidade.