THESE BE Alfredo Pompilio da Silva Gonçalves. 1870 APRESENTADA fa&a smm sMnsmrA&A EM NOVEMBRO DE 1871 FACDLDADE DE MEDICINA DA BAHIA NA MMlIWffll® ©1 DOUTOR EM MEDICINA da (fadv&f PíS® IF3ATT3MAIL ©@ EMlMitó® (foo íVcjilimo dc Caetauc Cj oticaívei e 2). Joóepêiua êHoóa da 0ifva (joucaCvei. Melius est progredi per tenebras, quam sistere gradum. (Trousseau.) Honra ao medico por causa da necessidade;por que o Altíssimo é quem no creou; Porque toda a medicina vem de Deus, e ella re- ceberá de Deus donativos. A sciencia do medico exaltará a sua cabeça, e será louvado na presença dos magnates. (Ecclesiastico—Cap, 38, vers. /, 2. 3.) BAHIA Typograi>hia de J. O. Tourlnlio 1871 FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. DIREGTOR 0 Ex.rao Snr. Conselheiro I)r. Vicente Ferreira de Magalhães. mi) Ou gout--508. (2) Cornil nota á Pat. de Niemeyer 2o—42G. 4 diííerem essencialmenle quanto á sua sede e quanto a sua natureza (Lit- tré et Bobin). E toda a forma mórbida, independente de outras affecções agudas ou chronicas, tendo por caracter a perturbação inílammaloria da nutrição; e por sede—o tecido fibroso, os aparelhos articulares, as aponevroses, as bainhas dos tendões, o nevrilema, o periosteo ou então os musculos (Niemeyer). Para este auetor que mais tarde distingue a gotta do rheumatismo (I) a definição abrange e confunde essas duas entidades mórbidas, o que elle mesmo confessa impossível. Bate-se com as próprias palavras. É toda a phlegmasia ou nevrose produzida pelo frio (Bouillaud, Stoll); de forma que a simples bronchite, o tétanos etc., são modalida- des rheumatismaes—proposições insustentáveis apezar dos esforços que fazem cm favor da ultima o Dr. Martin Pedro em El Siglo Medico (2); e Madariaga que só acha como unico argumento a seguinte pergunta: « per quê aquel (tétanos) teniendo la misma causa y el mismo lejido por asiento, no debe ser considerado como una de las variedades dei reu- matismo? » (3) Para Bouchut et Desprès é toda a diatheses hereditária ou ad- quirida produzindo a íluxão aguda ou chronica da pelle, de tecido mus- cular e fibro-seroso articular ou visceral. Aqui ainda ha confusão da gotta com o rheumatismo. Para Trousseau é uma moléstia accidental, uma especie de febre, re- solvendo-se sua sponte e, que, uma vez curada, deixa após si, não a própria moléstia, mas reliquias delia—affecções cardíacas que são a consequência, da inflammação que tocou as membranas serosas do cardia (4). Admira-nos que o illustre professor de clinica do Hotel-Dieu chame accidental uma moléstia cuja natureza diathesica elle reco- nhece e cujos efteitos elle mesmo nos affirma não serem simplesmente cardíacos. Para Charcot ó uma diatheses que se traduz por um estado geral carac- (1) Oh. cit.—485. (2) Dç 21 dc Agosto do 1870. (3) EI siglo medico 6 de Fevereiro de Í87Q. (4J Ob. cit. 2°—348, 5 teristico, por uma alteração muito pronunciada na crase do sangue (aug- mento de íibrina e diminuição dos globulos vermelhos) coexistindo fre- quentemente com certas affecções visceraes como sejão cndocardite, pe- ricardite etc. (í). Acceitariamos esta definição, se em vez de affirmar serem essas ultimas affecções uma coexistência, se affirmasse serem ellas uma manifestação. O rheumatismo pode ter, como veremos, como primeira manifestação qualquer d’essas lesões. Mas não é tudo: qual c a natureza d’essa diatheses? O que exprime ella? Em primeiro logar o que é diatheses? (( Unknown, impalpable, undefmed State of thehuman constitution »— diz-nos Craigie:—cc affectiom constitutionelles imprimant á la vie un cachet special; affectiom ordonneés pour ladurée, sans tendance álasolu- tion, se fortifiant par la répétitionde leurs actes, lesquels, continus ou in- termittents eCpouvant varier de forme, se rattachent á la même cause ge- nerale et font parlie d’une même unité morbide » diz-nos Jaumes (2) sem nos adiantar em nada sobre a natureza da causa, ou da unidade mórbida. Yejamos no entanto qual possa ella ser. Para uns é uma inflammação onde a íibrina é augmentada de oito á nove millesimos segundo Aitken (3), Simon Andral et Gavarret (4). Para outros ó um miasma, alguma substancia deleteria desenvolvida fora do organismo (Farr.) e que colloca o rheumatismo na classe das moléstias zimoticas. Para uns terceiros é um veneno produzido internamente e sobre cuja natureza as opiniões ainda varião. E uma substancia mórbida desconhecida, gerada dentro do organismo, diz-nos Aitken concordando com Basham, Garrod, Charcot, Craigie e Watson; é uma aerimonia particular do sangue produzida pela retenção de ácidos e saes que os rins deverião eliminar, dizem-nos Van Swieten, Baynard; é de natureza idêntica á alguma das secreções cutaneas, diz-nos (1) Oh. cit.—1GG. (2) Traité do palh. ct. tlier. gen.—1869—132. (3) Para Aitken ó osta apenas uma condição constante. (4) Cit. por Cliarcot. Fullér; é uma substancia rica de enxofre—accrescenta Parkes; é a prò* sença do acido urico, dizião os partidários unicistas da gotta e do rheu- matismo; é a presença do acido láctico, dizem-nos Prout, Furniwale, Williams, Todd e íleadland. É flnalmente uma das duas disposições patho-r lógicas nativas em que Meckel de Hemsback divide os homens. Onde a verdade, onde a realidade no meio de tanta hypothese? Difficil resposta, e sem nos querermos abysmar no dédalo intrincado de questões até hoje irresolutas, seja-nos licito no entanto discutir as duas que nos parecem mais razoáveis. A primeira é a theoria que filia ao acido láctico os phenomenos que se apresentâo no rheumatismo; a segunda a que reconhecendo um princi- pio toxico no organismo confessa no entretanto a ignorância da natu- reza d’elle. A theoria do acido láctico teve um grande apoio nas experiencias de Richardson c de Simon, das quaes parecia dever concluir-se que os phe- nomenos os mais gravativos do rheumatismo dependião da presença do acido láctico no sangue. Richardson injectava em animaes—ordinariamente cães—uma solução de sete drachmas de acido láctico em duas onças de agua distillada. Algumas horas depois, o animal expirava, e á autopsia todos os phenomenos da endoeardite e das lesões valvulares se apresen- tavão. D’ahi concluia elle que, sendo essas as consequências, mais com- muns do rheumatismo, e reconhecendo ellas, como causa, o acido láctico, a causa primordial deveria ser também da mesma natureza. Esta theoria, que em Inglaterra foi muito acceita, bate hoje em retirada á vista da escliola allemã, que, se não estabeleceu peremptoriamente a negativa, pelo menos poz em duvida a legitimidade d’ella,—estabelecendo que para os animaes, que servirão para a experiencia, já existia uma grande disposição para adquirir as lesões reconhecidas na autopsia—sem ser necessário recorrer ao acido láctico. A segunda, opinião que aceeitamos, é a que estabelece para o rheuma- tismo um elemento pathologico, anormal no sangue—veneno, toxico, ma- (eries morbi, como lhe quizerem chamar. É, talvez, como quer Bilroth (1) (( alguma d’essas matérias que se formão no organismo sob a influencia de (( uma predisposição, quer hereditária, quer adquirida, irritando de uma <( maneira especifica tal ou tal tecido.» (1) Path. chir. 18C8—682. 7 De natui*eza desconhecida, mas de effeitos manifestos, a sua existência tem em seu favor os factos de autopsias de cadaveres, cuja morte foi pre- cedida de phenomenos nervoso-toxicos, sem lesão apparente dos centros nervosos, como nos affirma Niemeyer: a opinião de YVatson, que nos affirma ser o rheumatismo—« a blood disease that circulating ftuid carnes « with it a poisonous material ivhich, by virtue of some mutual or eleclive « affuiity falis upon the fibrous tissues in particular visiting and quitting o; them with a variableness that resembles caprice, but is ruled no doubt (( by definite laws \to us as yet unknoivn »: finalmente, a irregularidade caprichosa na manisfestação d'esse tijpo de phlegmasia, na falsa expressão de Bouillaud; e ainda os caracteres especificos do sangue e especiaes das articulações. Eis o nosso modo de pensar sobre o que se tem dito acerca da natu- reza do rheumatismo; e, aproveitando a occasião de uma profissão de fé, seja-nos permittido, desde já, declarar que, para nós, o rheumatismo e a gotta são factos differentes, são entidades mórbidas distinctas. É collocando-nos á sombra das autoridades de Trousseau, Bouchut, Bilroth (1), Niemeyer; c em presença das differenças profundas que as observações modernas do Charcot, Cornil, Ranvier et Ollivier tem esta- belecido que regeitamos a opinião de Grisolle, de Pidoux, de Chomel, que abrange em uma só chave a gotta e o rheumatismo. Para nós são moléstias que se se assemelhão; tem, no entanto, caracte- res sufficientes para distinguil-as mesmo prciclicamente, opinião que Gri- solle regeita (2). Isto posto, passemos á anatomia pathologica. Á anatomia pathologica do rheumatismo articular agudo sombreão-n’a ainda muitas difíiculdudes. Á falta de autopsias, á variedade de interpre- tação nos factos observados, á caprichos por vezes, filia-se a incerteza que ainda nos domina. É triste, é lamentável, mas é uma realidade. E se não vede: folheai a maior parte dos annaes de observações; per- correi uma á uma as paginas d’esses talentos robustos, almenaras scientifi- cas, e observai que profusão de contrariedades. Aqui é Grisolle que se levanta, affirmando do alto de sua cadeira de (1) Ob. cit.—5G8. (2) Path. int. 1865-1015. clinica da Faculdade de Pariz, que o rheumatismo não deixa, pelo menos na grande maioria dos casos, lesão alguma notável sobre as superfícies ar- ticulares. Acompanhão-n’o Macleod, Trousseau e outros. Alli é Bouillaud sustentando a doctrina da suppuração arthritica. Mais longe é a Eschola Eclectica, aceeitundo um e outro partido, o affirmando-nos que, se casos lia onde a lesão é minima, outros também existem onde a lesão é profunda, constituindo o velvetismo. Pertencem a esta eschola Gharcot, Aitken, Nieméyer, Ollivicr et Ran vier, Cornil e muitos outros. Para estes a alteração varia desde o simples espessamento arthrodial, byperemia da synovia, opacidade do liquido, até a lesão deformadora dos ossos capaz de dar á cabeça de um femur a forma de uma raiz fturnip na expressão de Aitken); até a ulceração e destruição dos tecidos fibro- serosos, para os quaes o rheumatismo manifesta uma tendencia constante na expressão de Trousseau. Francamente acceitamos a opinião d’estes últimos. Baseão-n’a observa- ções bem completas, sustenta-a o raciocínio. O rheumatismo dotado de extrema voracidade a espessar tecidos e a produzir adherencias de superfícies oppostas—apresenta á analyse anato- mo-pathologica as lesões seguintes: l.o lesões de articulações.—As articulações podem ser a sede: (a) De derramamentos onde a mucosina e a albumina são demonstra- das e onde globulos purulentos ás vezes se notão. (b) De desapparecimentos dos ligamentos inter-articulares e dos meniscos. (c) De uma formação de rebordos ao principio cartilaginosos, depois osseos. (Ranvier). 2.o lesões de synovial.—As lesões de synovial são: (a) Yascularisação mais ou menos pronunciada das franjas synoviaes que existem no estado normal, (Gharcot). (b) Dilatação varicosa dos vasos. (Lebcrt). (c) Coloração de vermelho-vivo, produzida por uma hyperemia pronun- ciada e formação d’ecchymoses. (Niemeyer). (d) Espessamento e formação de villosidades similhantes ás papillas da língua dos herbívoros. (Aitken). 3.o alteração do conteúdo das synoviaes.—As alterações são: (a) Odòr desagradavel e reacção acida. 9 (b) Presença de albumina, mucosina, corpos globulosos, vestígios da de- generação das cartilagens ou das cellulas epitheliaes. (Charcot). (c) Metamorphose do liquido synovial íTuma serosidade espessada, mais ou menos abundante, ordinariamente opaca, algumas vezes lactescente ou saniosa. (Tardieu). (d) Presença de pus ou de liquido purulento (Niemeyer, Tardieu, Bilroth). Este ultimo facto, frequente para Bouillaud, é acceito como raro por Charcot, Aitken e Trousseau. 4.o lesões de cartilagem.—As lesões de cartilagem consistem, segundo Ollivier et Ranvier: numa globulia de chondroplastos. A cellula queelles contém, divide-se e dá nascimento á uma ou duas cellulas secundarias, que passão pelos regos cavados mais ou menos profundamente. Estas cellulas secundarias—cellulas de cartilagem—infiltrando-se de saes calcareos, transformão-se em cellulas ósseas estrelladas, cellulas de Wirchow. É quasi o mesmo processo que o observado por Kõlliker (1) nos ossos dos rachiticos: é uma vegetação, terminando por uma atrophia de cartila- gem e eburneação do osso; eburneação que, para o collo do fernur, pode rodeai-o de osteophytos e fazel-o tomar uma forma singular (Bilroth) (2) e é produzida—« pelo augmento do deposito osseo, causando não só uma « mudança de forma na extremidade articular, como também um obsta- (< culo mechanico ao movimento da junta. » (Aitken) (3). Estas alterações ósseas, aecusadas por Hasse e Kussmaul, forão resu- midas por Gurlt: numa vascularisação das extremidades ósseas com proli- feração das cellulas. 5.o lesões visceraes.—As lesões visceraes são: (A) lesões do endocardio.—0 endocardio pode ser a sede de uma in- flammação, cuja consequência é o deposito de uma camada fibrinosa, e cujo resultado posterior é a producção de insufficiencias cardíacas, se o trabalho termina por induração: e de estreitamentos, se termina por ulce- ração que estabeleça adhereneias entre a valvula e o contorno do orifício. Ás vezes, porém, o encurtamento de uma das valvulas sigmoideas é preenchido pelo alongamento das outras duas valvulas de forma que uma lesão material supprime uma outra lesão (Jacks). (i) Ilistologie hum. Trad. por Beclard. 1856—252. (2; Ob. cit. 592. (3) Oo. cit. 2.°—11. 0 deposito fibrinoso pode ainda dar como resultado ou stygmatas, que, durante a vida, não occasionão perturbação funccional apparente, e só re- conhecidas á autopsia (Charcot) (1); ou embolias das artérias e capillares, produzindo lesões do baço (Charcot); do rim (Rayer); do pulmão (Rogers, Stokes); e lesões cerebracs, segundo Kirkes, Trousseau. « En cffet, diz este ultimo, quun exsudat, formé sur les valvules du camr, par le fait de Vendocardite, se detache tout á coup et sengage dans une branche artérielle du cerveau, il en resulte une asphyxie immediate de cet organe, due à Voblitèration arterielle. » (2) Pus e substancias deleterias, depositadas na superfície do endocardio podem ser arrastados para a circulação, dando nascimento á phenomenos typhicos. Duguet et Ilayem oppõem-se a este ultimo facto, e dizem que quando estes phenomenos apparecem é que se trata, não de uma simples endo- cardite, mas da complicação de uma affecção maligna e grave, tendo por amphiteatro tanto as vísceras intestinaes como o cardia. As lesões do endocardio preferem, geralmente, o coração esquerdo e o orifício auriculo-ventricular: na yalvula mitral ellas se dirigem principal- mente sobre a superfície auricular; e nas valvulas sigmoideas formão esses depositos grinaldas ou vegetações. (B) lesões do pericárdio.—As lesões do pericárdio consistem: (a) Em derramamentos, podendo attingir meia pollegada de espessura. (Aitken). (b) Em adherencias do pericárdio ao coração. (c) Na formação do pseudo-membranas, que revestem formas variadas, podendo apresentar todos os caracteres dos neo-membranas (Trousseau) e similhantes a um estomago de vacca ou tendo o aspecto externo de um ananaz (Aitken) (3). (C) O tecido do coração pode soffrer uma inflammaçâo e sobrecarregar- se de elementos de gordura (Aitken). (D) lesões pleuriticas e pulmonares.—A pleura pode ser a sede de der- ramamentos e de depositos calcareos e purulentos (Trousseau, Charcot). Os pulmões podem apresentar infarctus como o demonstrão os traba- (1) Ob. cit. 183. (2) Ob. cit. 2.°—780. (3) Ob. cit. 2.0-41. lhos de Rogers (1); de inflammações como o caso observado por Grisolle (2), testimunhado por Louis, e o citado por Stokes (3). (E) lesões CEPiiALicAS.—As membranas cephalicas podem ou modificar o seu estado normal, apresentando uma hypersecreção serosa, uma con- gestão vascular, como o indicão as observações de Abercombrie, citadas pelo l)r. Sée (4), ou nada se achar absolutamente, nem injecção na sub- stancia cerebral, nem liquido na cavidade ventricular, ou na grande cavida- de arachnoidiana. (Trousseau). Y. Cornil (5), citando Ollivier et Ranvier nas autopsias d’encephalopa- thia rheumatismal, affirma-nos terem estes últimos achado nos ventricu- los cerebraes uma bastante grande quantidade de liquido opaco, contendo cellulas do ependymo desintegradas, granulosas e vesiculosas, contendo muitos núcleos e leucocytos. Sobre a pia-madre existião ao mesmo tempo dilatações dos vasos capillares. Em uma autopsia do rheumatismo cerebral, elle mesmo tinha achado pus ao longo dos vasos da pia-madre. Muitas outras lesões são inda apontadas como existindo nas manifesta- ções visceraes do rheumatismo articular agudo, taes sejão: a peritonite, a nephrite, abronchite, a laryngite, a angina, etc., e sobre as quaes não nos demoramos pofas considerarmos mais comoconcurmitanciasdo que como effeitos. A sua existência parece mais depender da causa determi- nante do rheumatismo do que do proprio rheumatismo. É assim que o frio húmido produzirá a bronchite, a laryngite, etc., enão o toxico rheuma- tismal. Para a nephrite uma embolia será a causa; para a peritonite o frio húmido e a exsudação de fibrina na superfície das azas do intestino (Bouchut et Desprès). Quaes são os symptomas do rheumatismo? O ataque do rheumatismo dá-se umas vezes abruptamente, sem pro- domos, d’uma maneira inesperada, o que é raro segundo Grisolle; outras vezes insidiosa, prodromatica, manifestando-se por poly-calefrios irregu- lares e ligeiros, inapetência, sêde, abatimento doloroso dos membros, suor (1) The Lancet— 186o. (2) Ob. cit. 2.°—1002. (3) Maladies da cceur. Trad. por Senac—1864. (4) De la Chorée'—427. (o) Nota á path. de Nieraeyer. 2.°—463. e ligeiro apparelho febril. Algumas vezes a sensação de um vivo calor precede os calefrios. Algum tempo depois o progresso morbido manifesta-se pelo augmento progressivo d’esses phenomenos morbidos. Ao abatimento doloroso das articulações succede a dor ao principio moderada, depois terebrante, lancinante e forte. Os doentes, extremamente susceptiveis, tornão~se de uma irritabilidade nervosa e barométrica ex- trema. Conservão-se deitados na maior immobilidade possivel—com medo que o menor movimento lhe desperte dores, lhes faça arrancar ge- midos. Tudo os incommoda—a minima contrariedade, o minimo movi- mento, a minima cobertura (Niemeyer, Aitken.) De longe pressentem a variação atmospherica, principalmente as chuvas prognosticando-as muito de ante-mão.—Se examinarmos as articulações—achal-as-hemos tume- feitas e dolorosas. A tumefacção estendida aos tecidos circumvisinhos—é devida á distenção da synovial, produzida a seu turno por um derrama- mento seroso. A pelle que recobre as articulações apresenta-se umas ve- zes ligeiramente envermelhecida, outras, cor de rosa, desapparecendo mo- mentaneamente á pressão dedo; e finalmente descorada ou apresentando uma alvura extrema. (Edemos agudos se manifestão também quando a fluxão rheumatismal ataca as bainhas tendinosas. Este facto é mais com- mum quando o rheumatismo ataca as articulações das mãos e dos pés. No seu modo de invasão dirige o rheumatismo a sua primeira acção sobre as grandes articulações taes sejão joelhos, calcanhares, cotovellos etc. e posteriormente sobre as pequenas. Raramente uma só articulação é atacada, constituindo assim o rheumatismo mono-articular, cuja existên- cia Charcot contesta. Nos casos em que uma só articulação é atacada, nun- ca essa articulação é o grosso ortelho, segundo Monneret. Extremamente movei, o rheumatismo muda rapidamente de local, ou para dar logar a phenomenos viseeraes, ou para dirigir-se sobre um outro ponto. Quando novas articulações ao principio indemnes são atacadas, é regra que n’estas os phenomenos morbidos chegão a seu máximo de intensidade em quanto que nas outras elles ou vão diminuindo ou já tem desapparecido completamente (Niemeyer). A temperatura da parte externa da articulação comparada á dos tecidos circumvisinhos que não participão da inflammação offerece uma diffe- rença de perto de um grao segundo Neumann e é avaliada por Aitken em 100 ou 105° Fahr. A febre, que em alguns casos precede a manifestação das dores 24 ou 48 horas, e que em outros é contemporânea ou posterior, apresenta graos de elevação correspondendo á violência e extensão dos phenome- nos segundo Niemeyer. Para Charcot, Graves (1), Stokes a febre e as arthropathias são duas cousas distinctas; de forma que a opinião que Fuller deixa perceber de ser a febre o gnomo da quantidade de materies morbi não pode ter lo- gar. De typo continuo, com exacerbações segundo Charcot, sem paroxis- mos segundo Trousseau, a febre é precedida segundo Aitken por uma extrema sensibilidade thermometriea, por um olhar turvo e doentio, e por uma coloração amarellada das conjunctivas. O pulso, que segundo Louis, não excede 90 pulsações, chega por ve- zes a 110 (Aitken) e a 150 como o indicão as observações de Sidney Ringer. A artéria é volumosa e o pulso é largo frequente e resistente, A linha sphygmographica que apresentamos, tirada da excellente phy- siologia de Marey (2) denota uma amplitude enorme, um dicrotismo pro- nunciado e não tendo o apice anguloso como nas pulsações d’uma am- plitude similhante devidas á insufficiencia aortica, ou á um aneurisma da aorta. Eil-a: Fig.lí Traçaoto âpbygm o graphico do imolo Màrey. A temperatura pode subira 104o Fahrtendo o seo máximo durante o dia e o minimo durante a noite (Charcot); notando-se porém o inverso sègundo Niemeyer. Por um traçado graphico que abaixo transcrevemos tirado de uma ob- servação clinica de rheumatismo de Sydney Ringer inserta na obra (1) Clin. med. Trad. por Jaccoud—1862—630. (2) Phisiologie medicale—•1862—545. de Aitken se vê que geralmente o máximo de temperatura se dá de tarde (I). VU2* Traçado do thermoirietro no rTeumatismo oL s ervação de Sidney Rirujer. A respiração é aceelerada. O suor abundante é acido; envermelhece o papel litmico, e é de um cheiro desagradavel e azedo, attribuido por Si- mon á presença anormal do acido aeetico, proposição que Schottin rejeita demonstrando a existência normal não só do acido acético como dos ácidos formico e butyrico no suor. Estes suores não tem significação alguma, diz-nos Niemeyer; «são de nenhum allivio para o doente», diz-nos Graves (2) «tendo reconhecido quer na minha pratica particular, quer no Hospital dos Incuráveis que os indivíduos cujos membros tinhão ficado endurecidos ou deformados em consequência de affecções rlieumatismaes tinhão soffrido durante mui- tos annos desta arthrite acompanhada de suores.» Sem duvidarmos de similhantes autoridades seja-nos licito no entanto Oppor a ellas a opinião de Aitken que diz-nos: «ser esse o meio natural da cura da moléstia; tornando-se as dores mais excessivas e os symplo- mas constitucionaes mais severos se a perspiração rapidamente cessa:» af- (1) representação graphica do thermoraetro foi um trabalho que emprehendemos por não encontrarmos traçado dessa natureza nas obras sobre rheumatismo que percor- remos. É uma observação authentica a que nos serviu; nenhuma duvida pode-se-nos pois levantar sobre a legitimidade delia. (2) Ob. cit. Io—624. firmando desta forma um phenomeno que acreditamos e cuja verdade ti- vemos occasião de apreciar em nós mesmo. Nas grandes epochas do mal, quando a invernada arrastava-nos tiri- tante ao leito da dor, quando o frio nos repassava os membros, bemdizia- mos o momento em que a primeira gotta de suor resvallava-nos na pelle resequida. Era um allivio, era alguma cousa de balsamica, cuja rasão des- conhecíamos, não nos atirando á toa no pêgo das hypotheses, mas cujo beneficio sentíamos e anceiavamos. Não sabíamos se era a materies morbi que se esvaia com os suores, hypothesc gratuita talvez e filha das ideias de uma eschola já passada ou se alguma outra razão havia; sabíamos apenas que a diaphoreses estabe- lecida o mal baixava rapidamente. Não nos referimos porém a essses casos de suores profusos onde á par da debilidade que resulta accresce uma erupção miliar que encom- moda e assusta. A ourina, á inspecção directa, apresenta-sc pouco abundante, pigmen- tada de um peso especifico augmentado por causa dos sedimentos uraticos provenientes da diminuição do vehiculo aquoso, dissolvente desses deposilos. Estes sedimentos são envermelhecidos pela grande presença de maté- rias corantes, correspondendo provavelmente, segundo Chareot, a uma destruição dos globulos vermelhos mais considerável que em qualquer outra phlegmasia. À analyse ehimica revela-se um excesso de acido urico, que Parkes af- firma ser mais um quarto ou um quinto do que no estado normal e aug- mentado na proporção de 0,75 por litro de ourina segundo Garrod. Este excesso de acido urico na ourina não permitte concluir-se em todos os casos um augmento na quantidade de acido urico secretado nas vinte e quatro horas, diz-nos Niemeyer (1) firmando-se em duas obser- vações da clinica medica de Griefswald onde a ourina espessa é forte- mente sedimentosa foi analysada por F. Hoppe. Carpenter na sua Physiologia Comparativa (2) dá como condição da presença do acido urico na ourina—a alta temperatura da agoa-vehiculo dissolvente carregada de phosphato de soda: «The urine of man also con- (1) Ob. cit. 2o—4G6. (2) Comparative Physiology MDCCÇLIV—43o, taines a small quantiíy of uric-acid a substance which is not readily soluble in pure water but which is more easily dissolved by water holding pkosphate of soda in solution especially tvhen warm; and this secms to be its condition in human urine: de forma que se o vehiculo dissolvente di- minuir e a temperatura baixar, teremos nos sedimentos da ourina um ex- cesso de acido urico sem que seja preciso invocar-se uma maior secreção desse acido. É esta também a nossa opinião. A proporção nos chloruretos é diminuida e em alguns casos desappa- rece completamente. O Dr. Parkcs affirma a existência do acido sulfurico nas ourinas: esta observação porem carece de confirmação. Albumina, algumas vezes, apparece nas ourinas dos rheumatieos conforme a observações de Charcot, Gornil, mas quasi sempre acontecendo isso nos indivíduos cachecticos. O sangue proveniente das sangrias nos rheumatieos apresenta uma di- minuição considerável de globulos vermelhos; um augmento de fibrina que pode chegar a nove ou dez millesimos (Andral et Gavarret 1). O sero é alcalino não se encontrando nenhum excesso de acido urico. O coalho sanguíneo é resistente e retrahido como a crosta pleuritica (Charcot). Vejamos agora quaes as lesões visceraes que acompanhão as manifes- tações do rheumatismo; a lei que a ellas preside—lei de Bouillaud. Nos rheumatieos a apresentação frequente de phenomenos visceraes— íluxões splanchnicas—é um facto incontestável. Como porem apreciar-se o facto? Para uns a lesão visceral, cuja coincidência nos casos de rheumatis- mo articular agudo, generalisado, febril é a regra; e a não coincidência a excepção, na expressão de Bouillaud (2); a lesão visceral, digo, está sob a dependencia do estado mais ou menos adiantado do principio morbido: para outras é a metastase da arthropathia para uns terceiros, é um ca- pricho (se podemos usar do termo de Watson) do Protheu morbido. Acceitando esta ultima opinião, repellimos as outras duas. Realmente onde está o fundamento da primeira? onde o raciocínio lo- gico e natural que a basêa. Para poder affirmar-se esta depencia era preciso haver uma pedra de toque da intensidade do principio morbido. (2) Cit. por Bouchut et Després. (2) Clinique de lá Cliaiilé—1837—2o—392. Será a febre? será a arthropathia? Impossível; nem uma, nem outra cousa. À febre, longe de servir de tbermometro do mal, pelo contrario, apre- senta-se ás vezes, independente dos outros symptomas, forte quando elles são diminuídos e vice-versa. Nem uma ligação, nada—a não querer-se to- mar o mau estado como quadro indicador,—o que seria um bem frágil fundamento e construir um castello sobre areia. Além d’isto, a febre pre- cede ás vezes qualquer outra manifestação rheumatismal e com tanta in- tensidade que pode ser desconhecida por practicos intelligentes e cau- telosos. « The fever runs so high, diz-nos Aitken (1), before any local sym- ptoms have been established that even cautious and intelligent practi- tioncrs may mistake the nature of the impending attack. » Será a arthropathia? Também não. Se a existência de uma lesão visceral dependesse da intensidade do principio morbido; se a arthropathia fosse proporcional a este, nunca uma lesão visceral poderia preceder a arthropathia. Pois bem, é a clinica quem nos vai desmentir essa proposição. Infeliz d’aquelle que para diagnosticar, verbi gratia, uma endocardite rheumatismal esperar pelas lesões articulares. Tel-as-ha é certo, mas, muitas vezes, quando estas se apresentarem, ai do doente! uma lesão orgâ- nica do coração será já a sua cruz! Com estes casos, em que as lesões vis- ceraes precedem as arthropathias, a interrogação ácima, assim como a metastase arthritica, segundfa/afod. //acu//ac/e c/e ts/Zec/cc/na o/a £/ja/ca j c/e tS/yodfo o/e cêjtc. ê/)#. ê/eme/tio. //)*>. ts//outa. V-. /2)amajj,/o. &a//a e §/acit/c/ac/e c/e %s/6ec//ccna 5 c/e //e/em/io c/e céy-f. ///)>', ts//>aj?a/$iãcJ