*.e. wwvw.1 THESE DF, AKTOMO URLO&PUES IIE CARVALHO / ■/\/\/\/v/\/vn. APRESENTADA Á FACILDADE DE UEDICIIYA DA DAMA E PUBLICAMENTE SESTENTAUA EM DE NOVEMBRO DE 1864 aut CLulouio (Bccuoò Qucò de, (2/a,ivctwo c CLibnquciquc, NATURAL DA BAHIA, E filho legitimo do Dr. José Pires de Carvalho c Albuquerque , e de ü. Maria Clara Pires de Carvalho c Albuquerque. COM O FUI DE OBTER O GR.ÍO BAHIA TYPOGRAPIIIA DE CAMILLO DE LELLIS MASSON & C. ltua cie Santa Barbara u. 2. ■J804 FACILDADE DE MDIC1XA DA BAHIA. BIBECTODl 0 Ex.m0 Sr. Conselheiro Dr.Joíío Baptista dos Anjos, yicje-diris^tor. 0 EXM.™ SR. CONSELHEIRO OR. VICENTE FERREIRA DE MAGALHÃES. lentes proprietários. 1.0 anno. os sns. doctoues: matixias que leccionam. _ . ... .. , 1 Physica cm gorai, e particularmente cm suas Cons. Vicente Ferreira de Magalhües......j applicaçõcs á Medicina. Francisco Rodrigues da Silva........Chimica e Mineralogia. Adriano Ahcs de Lima Gordilho........\natomia descriptiva. 2.° ANNO. Antônio Mariono do Homfim........Botânica c Zoologia. Antônio de Cerqueira Pinto........Chimica orgânica. ..................Physiologia. Adriano Alves de Lima Gordilho.......Repetição de Anatomia descriptiva. 3.° A ANO. ..................Continuação de Physiologia. Elias José Pedrosa............Anatomia geral e palholagica. José de Coes Siqueira...........Palhologia geral. 4.° ANNO. Cons. Manoel Ladislâu Aranha Dantas.....Palhologia externa, Alexandre José de Queiroz.........Palhologia interna. iti •! .-„. »r„. „;.., c ...,„„:« 1 Partos, moléstias de mulheres pejadas, e de AlalhiasMoieira Sampaio.........} mcuinos rcccm.nascidos. 5.» ANNO. Alexandre Jx-de Queiroz.........Continuarão de Palhologia interna. José Antônio de Freitas..........! ATla7'c ap^mr^hw."0*1',ucdicina °Pcral&- Joaq íim Antônio de Oliveira Rolcllio......Matéria medica, c tlierapcutica. O.» AN NO. Domingos Rodrigues Sci\as.........líygicne, c historia de medicina. Salusliano Ferreira Souto.........Medicina legal. Antônio José O/orio...........Pharmacia. Antônio José Alves............Clinica externa do 3° c 4.° anno. Antouio Januário de Faria.........Clinica interna do 3.°,c G.° anno. OPPOSITORES. José AlTonso Paraisn de Moura........1 Augusto Gonçahcs Martins.........j Domingos Carlos da Silva.........> Secção Cirúrgica. Ignacio José da Cunha ...»...... Pi lro Ribeiro de Araujo.......... Rosendo Aprigio Pereira Guimarães......\ Secção Acccssoria. Jusé Ignacio de Barros Pimentel.......I Virgílio Climaco Damasio.........] Antônio Alvares da Silva..........J Dcmclrio Cyriaco Tourinho.........( Luiz A Iviires dos Santos..........< 'Secção Medica. João Pedro da Cunha Valle.........\ Jcronymo Sodré Pereira..........' SECRETARIO INTERINO. O Sr. Ma*. Tliomaz «1c Aqnisao Gaspar, OFFICIAL DA SECRETARIA. O Sr. Dr. José Tbcotouio Martins. A tucuiaude uúu a;>;>ro\o, ucui recruta as Idéias enunciada» u'<.staTucse. DISSERTAÇÃO SYMPHYSEOTOfVll ESUAS INDICAÇÕES. J. A symphyseotomia c uma operação, que consiste na secção da fibro-carti- lagem int)r-pubianna, com o íim de afetar as superfícies articularei, au- gmentando por conseguinte o canal da bacia. Inventada, como geralmente se diz, por Sigault, estudante de medicina e ci- ruraia na faculdade de Paris, era ella todavia conhecida desde epocha muito maís remota, por isso que Severino Pineau duzentos annos antes, reproduzindo as palavras de Gallcno, diz, referindo-se ás articulações da bacia,—non tanlum dilatari sed eliam secari tuto possunt. Delacourvé, sendo chamado tá ver uma mulher, que havia perecido nos úl- timos dias da prenhez, praticou a secção da íibro-carlilagem inter-pubianna com uma tesoura, tendo em mira augmentar o canal pelviano, a fim de ha- ver mais facilidade na extracção da criança. Levado por uma razão semelhante a que acabamos de mencionar, praticou Plcnck em 17GG a operação cesariana; como porem esta não aproveitasse, por isso que a cabeça do feto ja estava, como diz Cazeaux, muito introduzida na exeavação pclviana, recorreu elle á symphyseotomia, a qual, conforme o aflirmou o mesmo Plcnck, lhe deu um resultado prompto, e fácil, sendo po- rem de notar, que esse feliz resultado, em vez de leval-o á praticar na mulher viva esta operação, ao contrario de tal o arredasse completamente. Segundo Ramsbotham na mesma epocha, em que Sigault propunha a ope- ração^ o Pr. TVnman com João Huntcr conferemiavão sobre o mesmo assum- •."> pio. Eslavào as coiisas n'este pé, quando Sigault, querendo remediar, como diz Baudelocque, o uso dos ganchos, e outros instrumentos semelhantes, sem- pre perigosos e mortaes para o feto, e querendo além d'isso pôr um paradei- ro aos acciJcntes, tantas vezes mortaes, para a mãi, á que dava lugar a ope- ração cesariana, propòz em 1708 cá Academia de Medicina de Paris um meio, que sanava todos estes inconvenientes, consistindo elle na symphyseotomia. Esta Faculdade, em vez de estender os braços, e aííagar cm seu seio essa pro- posta, muito ao contrario, a repellio como delírio, bem fatal, de tresloucada imaginação. A sentença proferida por tão douto Tribunal não o fez descoroçoar, nem abalou levemente, se quer, a crença, que o dominava sobre a proficuidade da operação; e, em vez de arripiar carreira, sustentou elle em uma these, apre- sentada em Angers em 1773, a opinião, que em Paris ja havia emittido. Com essas idéas á referverem-lhe no cérebro praticou Sigault a symphyseotomia pela primeira vez em 1777, sendo ajudado por AíTonso Leroy, que havia abraçado esta operação, declarando-se seu dedicado partidário. O resultado foi satisfatório, por isso que a mulher c a criança forão salvas. Um clamor geral levantou-se em favor de Sigault. A sua operação foi quasi que universalmente aceita; e um grande numero de médicos e cirurgiões, tanto de França, como dos outros paizes declarárão-se apologistas d'ella. A vista d'isso a Academia de Medicina de Paris, que á principio havia re- pellido Sigault como um louco, querendo reparar o que havia feito, mandou cunhar uma medalha, que oíTereceu á elle, tendo essa medalha em uma das faces o retrato do Decano d'essa Faculdade, e na outra a seguinte inscripção ...Scctio symphys., oss. pub. lucina nova, anno 1768, invenit, proposuit, 1777, fecit felicitei- J. 11. Sigault. D. M. P. juvit A. Leroy. D. M. P. Este alvo- roço porem passou; e a matéria sendo reconsiderada, e estudada mais atten- tamente, não tardou que uma forte opposição se levantasse, opposição que ca- da vez mais foi augmentando, e engrossando com a acquisição de lidadores como Baudelocque, Denman, Lachapelle, Sacombe, Chailly-Honoré Cazeaux, Ramsbothain, etc; e quanto ao próprio Sigault, que á principio applicava a sua operação á todos os casos de má conformação da bacia, a sua confiança n ella havia sobremaneira diminuido; tanto que por fim ja recusava tental-a em todos os casos, em que o diâmetro antero-posterior da bacia apresentava menos de duas e meia pollegadas de extensão. E diz Baudelocque que, sendo por elle chamado para conferenciarem á respeito do que deveria ser feito em uma mulher, cuja bacia era mal conformada, com espanto o ouvira propor a operação cesariana, que foi, depois, feita por elle Baudelocque. Poucos dias antes de morrer, conforme ainda refere o mesmo author, propozéra a mesma operação em uma mulher, cujo diâmetro antero-posterior tinha 2 e 1/2 polle- gadas; esta mulher porem pario espontaneamente uma criança morta. Esta operação foi pouco á pouco sendo abandonada em França, como ja o havia sido na Inglaterra, Allemanha etc, mormente depois que Bouchardat. em 1830 sustentou uma these sobre a utilidade do parto prematuro artificial, e que Stoltz em 1831 pela primeira vez o praticou. Esta operação, que achou echo em todos os paizes, principalmente, alem dos ja mencionados, na Ilollan- da, Itália, Dinamarca, Suissa, Polônia, e até na America, veio prestar immen- sos benefícios á sociedade, e não tardou á substituir a symphyseotomia; de sorte que rarissima é hoje a vez, em que se a pratica, quando precedentemente se tem reconhecido o estreitamento da bacia. II. Depois de mui toscamente havermos esboçado o quadro hislorico da sjm- physeotomia, passemos a examinar qual o augmento, que Xos diâmetros da bacia traz esta operação. É por sem duvida admirável que esse bcmfeilor da humanidade, como cha- mavão a Sigault, depois do parto da mulher Souchot, ao propor a sua opera- ração, e ainda ao sustentar sobre ella a sua these em Angers, ignorasse o gráo de aííastamento, que poderião os ossos púbis experimentar, fundando por conseguinte todo o monumento da sua futura gloria sobre bem falsa e fraca base. Com eíTeito algumas experiências por elle feitas sobre o cadáver, antes da sustentação da sua these, levaram-no á pensar que a secção da fibro-cartila- gem inter-pubiana não poderia trazer para os púbis um aíTastamento maior de uma pollegada e algumas linhas, pelo que exarou em sua these o seguinte trecho: Quo facto fsymphyse secta) ossa púbis súbito plusquam pollicease invicem recedant, twwque fetus natum arlisque viribus sollicitatus per ca- naiem amplia/um in lucem incolumis educetur. Mencionemos porem qual o gráo de affastamentõ, que a symphyseotomia traz aos púbis, e o augmento, que experimenlão os diâmetros da bacia com esse aííastamento. 4 AíTonso Leroy diz ter obtido, sem ruptura dos ligamentos sacro-iíliacos, um aííastamento de 2 e 1/2 pollcgadas; e em duas mulheres se ter elevado á 3 pollegadas. Baudelocque diz que, numerosas experiências, feitas por elle, c outros parteiros no Hotel—Dieu, derão o resultado seguinte, que foi commu- nicado á Academia de cirurgia de Paris. Collocada a mulher á beira do leito, e afetando os Ajudantes brandamen- te as coxas, a symphyseotomia arrastou após si um aífastamento de 3 á G li- nhas entre as superfícies articulares dos púbis. Os ajudantes levarão violen- tamente as coxas para fora, á ponto de descreverem ellas ângulos rectos com o tronco, e só então, e carregando com toda a força sobre as cristas illiacas na mesma direcção, foi que puderão conseguir um aífastamento de 2 e i/2 pollegadas, sendo porem de notar, que não houve uma só mulher, em quem esse aíTastamento deixasse de ser seguido da ruptura dos ligamentos sacro- illiacos. Jacquemier, comparando as experiências umas com as outras, vem a con- cluir, que os púbis se podem afetar 2 e 1/2 pollegadas um do outro, sem que haja ruptura dos ligamentos sacro-illiacos, citando todavia as experiên- cias de Giraud, c Ansiaux, em que o aífastamento foi levado a 3 pollegadas, e mesmo á 3 c 1/2. Cazeaux na edição de 1862 do seu tratado de partos diz que, depois de pra- ticada a symphyseotomia, os púbis espontaneamente afelão-se de 1 á 2 e 1/2 centímetros, e que pode esse aíTastamento ser levado alem, si os parteiros carregarem sobre as cristas illiacas, levando-as para fora: que este aíTastamen- to porem não deve exceder de 5 centímetros, porque quasi que ha certeza de infallivel ruptura dos ligamentos sacro-illiacos. Á vista pois destas experiências, sem partilharmos a opinião dos que que- rem que seja o aíTastamento entre os púbis de 3 pollegadas e mais, nem a d'auuelles, que querem que elle não seja maior de 1 pollegada, estabelecere- mos 2 e 1/2 pollegadas, como termo além do qual o aíTastamento do púbis deve quasi que necessariamente arrastar a ruptura dos ligamentos sacro-il- ^Passeraos agora á examinar qual o augmento, que para os diâmetros da ba- cia resulta do aíTastamento dos púbis. Segundo as experiências de Ripping, m ff—to de uma pollegada deu ao diâmetro antero-postenor um u- um aK™™ J ebm um outro caso um aíTastamento de 1 polle- ^e^S^ô ~ resultado; em um terceiro finalmente esse Ío rÍÍd!í nda foi obtido, tendo sido o aflaslamoulo dos púbis de 1/2 Dollr^ada somente. .1 Chcvreul, cirurgião de Angers, communicou á Academia de cirurgia des.^ lugar ter obtido somente 2 linhas, apesar d'urn aífastamento de 2 pollcgadas; e que levando-o á 3 pollegadas ainda o mesmo resultado persistira. Serrin, cirurgião de Strasbourg, levou o aííastamento á 2 e 1/4 pollegadas, e apenas conseguio um augmento de 3 linhas para o pequeno diâmetro da ba- cia, sendo levado á G linhas, somente com um aíTastamento de 3 pollegadas. Desgranges, cirurgião do Collegio de Lyon, diz, ter obtido com um aíTasta- mento de 2 pollegadas e 8 linhas um augmento de G e 1/2 á 7 linhas. Convém notar que nestas experiências, quando o aífastamento foi maior, houve em todas ruptura dos ligamentos sacro-illiacos, e quando foi menor fi- carão completamente alterados. Baudelocque refere que, praticando a secção da fibro-cartilagem inter-pubia- na em uma mulher, cujo diâmetro antero-posterior do estreito superior tinha 3 e 1/4 pollegadas, c o diâmetro transversal 5, resultou para os púbis uni af- fastamento de 1 pollegada, c para as symphvses sacro-illiacas 1 e 1/2 linhas: estas forão affastadas até 5 linhas, mas antes de mediar entre os púbis um intcrvallo de 2 c 1/2 pollegadas os ligamentos sacro-illiacos forão completa- mente despedaçados. Diz o mesmo author que, em outro caso, em que a bacia linha de diâme- tro antero-posterior 4 pollegadas c 7 linhas, e 4 pollegadas e 9 linhas de diâ- metro transversal, os ligamentos sacro-illiücos romperão-se, o periosteo foi destacado das superfícies articulares, somente com o aífastamento de 1 polle- gada e 9 linhas dos púbis. Se attendermos ao que diz Leroy e os seus partidários, veremos, que os qs- sos se dirigem tanto mais para diante, quanto mais se allãstão; de sorte que, um aíTastamento de 1 pollegada faz com que elles se adiantem 5 linhas; 2 c 1/2 pollcgadas 8 linhas, e chegarião até 9 linhas, si fosse de 3 pollegadas o in- tervallo dos púbis. Baudelocque pensa que, supposto quepossão os púbis se aífastar 2 e 12 pol- legadas sem ruptura dos ligamentos sacro-illiacos, o diâmetro antero-poste- rior, que ordinariamente é o estreitado, não pode ganhar mais de 4 á 6 linhas. Jacqucmier, com Leroy, diz que pode o mesmo diâmetro lucrar 8 linhas com 2 c 1/2 pollcgadas de aíTastamento dos púbis. Quanto á Cazeaux os 5 centímetros, que, diz elle, podem mediar entre os púbis, produziráõ para o pequeno diâmetro 10 millimetros. Sem que nos deixemos olTuscar pelas brilhantes experiências de Baude- lccque, nem pelas de Leroy, Lauverjat, etc, c collocando-nos entre um c ou- Il tros, consideraremos o augmento do diâmetro antero-posterior, (que geral- mente é o estreitado) depois da operação» de 6 a' 7 linhas. Tem ainda dito os partidários da symphysiotomia que o augmento do diâ- metro antero-posterior é tanto maior, quanto mais estreitado é esse mesmo diâmetro, e que por conseguinte mais necessária, e eíficaz será a operação. De- mos de barato que assim seja, geralmente fallando; mas si considerarmos esfe augmento relativamente á bacia» e ao feto» veremos que tal argumento cahe ful- minado diante da justa apreciação dos factos. Admitíamos três bacias, uma cujo diâmetro antero-posterior tenha 16 li- nhas, outra, em que seja elle de 2 pollegadas, e uma terceira, em que tenha o mesmo diâmetro 3 pollegadas. Admitíamos ainda que o pequeno diâmetro tenha augmentado depois da secção da symphyse dos púbis, 12 linhas na pri- meira bacia, 9 na segunda, e 7 na terceira. O que resultaria da operação? Re- sultaria que a bacia de diâmetro antero-posterior mais estreitado, que é a pri- meira, ficaria com 2 pollegadas e 4 linhas; a segunda com 2 pollegadas e 9 linhas, e a terceira com 3 e 7 linhas. Supponhamos ainda, que a cabeça do feto tivesse em todas três as dimensões normaes, isto é, 3 e */* pollegadas. Pergunta- remos, qual d'estas três bacias estará mais no caso de dar passagem ao pro- dueto da concepção? Será a primeira, que só tem 2 pollegadas e 4 linhas de diâmetro antero-posterior, e para a qual haverá impossibilidade material de dar passagem á um corpo de 3 e */2 pollegadas? Será a segunda, em que ten- do esse mesmo diâmetro 3 pollegadas, ainda tem de arcar com o impossível, porquanto ainda nella persiste a desproporção entre o pequeno diâmetro da cabeça do feto, e o sacro-pubiano? Ou será a terceira, que, sendo maior, e lendo o seu diâmetro antero-posterior experimentado menor augmento que nas outras, ficou todavia elevado á 3 pollegadas e 7 linhas? A resposta não nos parece duvidosa, devendo portanto tal argumento ser repellido como sophisma bem grosseiro, capaz somente de íffij^ Xos espíri- tos incautos, e nimiamente fracos. Tem-se ainda dicto, que uma das bossas parietaes se introduz entre os pú- bis; este facto porem tem sido contestado por alguns parteiros; mas admittida como real essa introdueção, somente trará ella para o pequeno diâmetro da bacia, em relação á cabeça do feto, um augmento de uma, quando muito três linhas. 7 III Passemos á tratar das circunstancias, que segundo os symphyscotomistas devem inlluir no animo dos parteiros para leval-os á praticar a operação, de que nos oecupamos; e não nos demoraremos em analysar minuciosamente cada uma d'ellas, por quanto tornar-sc-hia desnecessário esse trabalho em virtude da opinião que formamos d'csta operação, opinião esta, que mais para diante procuraremos fundamentar, como o permittirem as nossas débeis for- ças : o que será sem duvida tarefa árdua, e superior aos poucos conhecimen- tos de obstetrícia que possuímos, mas que julgamos do nosso dever empre- hender, muito embora nos tenhão de devorar essas chammas á* que nos arre- meçamos, procurando abafal-as com o peso do nosso corpo: muito embora . o nosso pensamento 11'essa longa, c diííicil jornada, antes de desfilar as últi- mos balizas, e tocar o termo, que visara, tenha de claudicar, c inanido cahir. O que ninguém porem, jamais poderá atirar-nos em face, é que, frouxo c tímido, nos acobardamos, c recuamos á vista de qualquer sombra, que, se a- travessando diante de nós, procure empecer-nos o passo. A symphyseotomia trazendo para o diâmetro antero-posterior um augmento de 9 linhas, pouco mais ou menos, todas as vezes que o pequeno diâmetro da cabeça do feto, tendo as dimensões normaes, (3 c 1/2 pollcgadas) estiver cm relação com uma bacia, cujo pequeno diâmetro for menor que elle dever-se- ha pratical-a, si, ajuntando-sc as 9 linhas ao diâmetro da bacia, ficar elle bastante largo para poder dar passagem á cabeça do feto. E pois aprcsenlão, como limites á essa operação, um estreitamento de 2 e 1/2 pollegadas ao mínimo, e 3 c 1/4 ao máximo, do diâmetro antero-posterior da bacia. Osdiametrostransversal e oblíquos podem também se achar estreitados, c, secundo as experiências de Desgranges, esses diâmetros também podem ser augmentados, depois da symphyseotomia, principalmente o transversal, cujo augmento vem a ser, pouco mais ou menos, de metade do aíTastamento dos púbis; de sorte que, si a operação fosse vantajosa para os casos de estreitamen- to do diâmetro antero-posterior, com muito mais rasão o seria para os dos diâmetros transversacs. Como porem rarissima é a vez, cm que o diâmetro transversal estreitado serve de obstáculo á passagem do feto, e pelo contra- rio são muito mais freqüentes os casos, cm que provem o obstáculo do es- treitamento do antero-posterior, é destes últimos que mais especialmente nos oecuparemos. ° 8 Um volume excessivo da cabeça da criança, os tumores da excavação, e a retroversão do utero são ainda, segundo os symphyseotomistas, indicações pa- ra se praticar a operação. IV. Occuparnos-hemos agora do modo de praticar a symphyseotomia, e dei- xando de parte os diversos processos para tal fim empregados, descreveremos, unicamente, o que é geralmente adoptado. Antes de proceder a operação deverá o cirurgião collocar a mulher em po- sição conveniente. Esta posição varia conforme os paizes. Em França é geralmente admittida a seguinte: a mulher é collocada atra- vessada sobre o leito, que deve por um dos lados estar encostado á parede. En- - tre a parede e as costas da mulher são postos uns poucos de travesseiros, sen- do, alem d'estes, collocado um outro bastante duro e resistente em baixo do col- xão no ponto, sobre que deve repouzar o assento. É bom collocar um panno dobrado cm muitas dobras cm baixo do assento, para que elle não se profunde muito no colxão, e alem d'esse a ponta de outro dobrado ao comprido, que se estenda até quase o chão, cuja utilidade é receber os líquidos, quedos órgãos tc- nhâo de correr. Deverá corresponder exactamente á beira do leito a commissura anterior do perinneo, e, no caso de prever o operador alguma difficuldade, deverá o assento da mulher exceder um pouco a beira do colxão. Estando os mem- bros inferiores dobrados, serão os calcanhares apoiados, e mantidos sobre os joelhos de dous ajudantes, que sentados em cadeiras ao lado um do outro, es- tarão todavia á uma certa distancia, de modo á não impedirem a operação. Um terceiro ajudante será conservado junto á mulher, afim de ministrar-lhe os cuidados necessários. No caso de ser a mulher indócil, um outro ajudante ain- da manterá a bacia d'ella, afim de não executar movimentos, que poderião com- prometter a operação. Collocada a mulher na posição conveniente, e já tendo antes d'isso sido es- vaziado o recto, uma sonda é introduzida na bexiga, tendo por fim esta sonda não só evacuar a urina, como collocar o meato urinario do lado direito e para baixo, para livral-o do canivete, sendo mantido nessa posição por um ajudan- te, em quanto que um outro puxa para cima a pelle do púbis. Tendo o opera- dor exactamente reconhecido onde deve a symphyse-pubianna estar collocada, pratica nesse lugar uma incisão, que interessa todas as partes molles, e que', 9 começando á um centímetro á cima do púbis, se estende um pouco á esquerda acima da clitoris. Sendo, por meio d'esta incisão, posta á descoberto a fibro- cartilagem inter-pubianna, é esta incisada com cuidado, para que não seja a bexiga offendida, e então, si as contracções tem logar energicamente, os ossos afastão-se, e o parto pode ter lugar espontaneamente; devendo ser applicado o forceps no caso de não ter o parto lugar espontaneamente. O dever o cirurgião ligar os vasos, cuja secção, durante a operação, fizesse receiar uma hemorrhagia, é cousa que deve estar subentendida. Depois do parto approxima o cirurgião os ossos, reúne os tegumentos por meio de tiras agglutinativas, e mantém tudo por uma atadura de corpo sufi- cientemente apertada. V. Antes de passar á ultima parte da nossa dissertação, julgamos alguma cousa dever dizer, em referencia aos principaes casos, cm que se ha praticado a ope- ração, que ora prende a nossa attenção; não porque nos abalancemos á pensar que a nossa pouco vigorosa argumentação vá levar a convicção da inutilidade da operação aos espíritos emperrados, que a admiltem; mas sim porque uni- camente temos em mira tirar d'esses factos razões, que militem em favor da opinião, que livremente expendemos. Nem se nos deve taxar de leviano, si da humilde e obscura esphera, em que giramos como estudante, nos erguemos, e vimos energicamente protestar con- tra a proficuidade da symphyseotomia: si tal fazemos é porque não podemos abafar o grito, que da nossa consciência espontaneamente se desprende, quan- do compulsando as estatísticas, vemos, pelo obituario, que de vidas preciosas tem sido subtrahidas á sociedade por esses, que deslumbrados pela coroa de gloria, que á Sigault votara a Faculdade de Medicina de Paris, se havião apre- sentado na arena como obstinados propugnadores da sua idéia. Os factos, de que íallamos, são todos colleccionados por Baudelocque, e não fazemos mais do que reproduzil-os com as observações, que cremos con- venientes. . , Comecemos pelo que tanta revolução causou em toda a França em virtude do suecesso, que Sigault, e Leroy disserão ter obtido: queremos foliar da mu- lher Souchot. Esta mulher, cuja bacia, segundo o testemunho dos dous operadores, tinha IO 2 e i,'., pollegadas de diâmetro antero-posterior, já havia parido quatro meni- nos de termo, os quaes porem tinhão nascido mortos. Cumpre notar ainda, que o pequeno diâmetro da cabeça do 5.° menino era, conforme elles, de 3 e '/., pollcgadas, como o dos anteriores. Ora, comparando o pequeno diâmetro da bacia com o da cabeça do feto, veremos que este ultimo excedia 1 pollegada ao primeiro. Supponhamos que, feita a operação, houvesse um afastamento de 2 e */, pol- legadas, que, segundo já dissemos, traz um augmento de 6 á 7 linhas para o pequeno diâmetro da bacia, e que pela introducção da bossa parictal ainda esse diâmetro ganhasse 2 á 3 linhas. Seria tal resultado suííiciente para explicar o bom êxito da operação? A resposta não parece duvidosa. Si porem com Baudelocque admittirmos que o pequeno diâmetro da cabeça do feto se achava em relação, não com o diâmetro, que da saliência do sacro vai ter á symphyse-pubianna, mas sim com o que partindo d'um dos lados d'a- quella saliência se dirige á symphyse, que é o que ordinariamente tem lugar, podemos dizer que o pequeno diâmetro da cabeça do feto se achava em relação com outro de 3 pollegadas, sendo por conseguinte de G linhas somente a diíTe- rença, por isso que a applicação suecessiva dospelvimctros de Goutouly e Trai- nel deu repetidas vezes esse resultado, isto é, 3 pollegadas para o diâmetro da bacia, de que acabamos de fallar. Baudelocque, tendo visto, e medido a cabeça da criança depois do parto, ve- rificou ter cila 3 pollcgadas c 4 linhas d'uma bossa parietal á outra, pelo que fi- caria sendo de 4 linhas a diíTerença, e não de G, como acima dissemos. Em uma criança de nove mezes, e que ainda não tem respirado, os ossos da cabeça ainda tem pouca solidez, as suas articulações ainda não estão ossifica- das, por conseguinte facilmente cedem a uma ligeira pressão, em virtude da qual pode a cabeçada criança mudar de forma e dimensões, achatando-sc mais ou menos. Ora, tendo a cabeça do feto d'uma bossa parictal á outra 3 pollegadas e 4 linhas, c tendo esta parte d'clla de atravessar um canal de 3 pollegadas de diâmetro, necessariamente hade ser comprimida, e em virtude d'essa compres- são, podendo mudar de forma e dimensões, não será por certo exagerado suppor que possa mrnln^sc3 linhas o pequeno diâmetro da cabeça do menino; fican- do por tanto a diíTerença de uma linha somente. Feita a operação poude a criança ser expellida. Perguntaremos, seria necessária esta operação? Não haveria meio de fazer dcsapparecer a linha, que havia de excesso, sem comprometter a vida da mu- lher? E, admittida a necessidade da operação, bem pequena era a despropor- ção, para que continue este facto á ser apontado como um triumpho da svm- physcotomia, quando, quem sabe! talvez pela-simples compressão da cabeça 11 do feto nos estreitos da bacia podesse cila desapparccer; e quando esta opera- ção não foi de modo algum innoccnte para a pobre mulher, por quanto o Dr. Dcnnison, que fora á Parisse vira muitas vezes esta infeliz, refere que, depois da operação, nunca mais poderá cila conter a urina. O resultado, que acompanhou a operação na mulher Souchot, não teve lu- gar cm todas as outras, cujas bacias, nas mesmas condições, parccerião dever experimentar as mesmas conseqüências após a symphyseotomia. Umas perde- rão os filhos, outi-as soíTrerão muito por causa da operação, outras cmfim fal- lcccrão; c entre as primeiras citaremos as mulheres, Yerderais, e Blandin. Es- tas tornarão-se outra vez pejadas, e altendendo ao que a respeito da primei- ra diz a parteira Bidê, e da segunda a parteira Bellami, veremos o seguinte: Que a primeira, cuja bacia era estreitada de diante para traz, em virtude da grande saliência da base do sacro, solTrèra a versão do feto, por apresentar elle a cabeça juntamente com uma das mãos. O menino nascera morto. Quanto a segunda diz a parteira, ja referida, que Sigault estivera muito tempo á querer persuadil-a da necessidade de submetter-sc segunda vez a ope- ração; ao que cila de modo algum se quizera sujeitar, tendo em lembrança a inutilidade da operação, c os solTrimcntos, porque passara no primeiro parto: á vista do que se retirara elle, ficando a infeliz entregue somente aos cuidados da parteira. O parto tivera lugar espontaneamente, c com promptidão, sendo de notar, segundo aíliança a mesma parteira, que o menino era maior que muitos, que forão a igreja ser baptisados no mesmo dia. O que porem não se pode contes- tar, é que elle se tivesse creado robusto, c bem conformado. Seria este facto mais uma pedra preciosa engastada na coroa de gloria de Si- gault, si por ventura se tivesse a pobre mulher querido sujeitar á operação, e si tivesse esta aproveitado. Esta mulher tendo íallecido annos depois, obteve Sigault a bacia d'ella, e verificou ter o diâmetro antero-posterior 3 pollegadas. Os que ainda votarão pela symphyseotomia no segundo parto da mulher Blandin, vendo que levianamente havião procedido, pois que ella parira natural- mente uma criança bem desenvolvida, quizerão explicar este facto pela menor circunferência da cabeça da ultima criança, dizendo ser cila de 12 pollega- das, ao passo que a da primeira era de 14. Infelizmente para elles a frágil barquinha, em que procurarão salvar a sua opinião, fez-se pedaços (1'encontro aos formidáveis escolhos, que diante d^lla levantara a judiciosa critica de^Baudelocque. ^ Este dislineto parteiro diz muito bem, qnc são duas as circuxferencias, que 12 relativamente ao parto, apresenta a cabeça do feto. Uma de 13 e 1/2 á 14 pol- legadas, e outra de 12. Uma de duas, ou era a primeira, que se apresentava no estreito superior, e ífeste caso a cabeça do primeiro feto era regular, e a operação não tinha sido necessária, e muito menos o deveria ser para a expul- são da segunda criança, cuja circujOerencia da cabeça era até pequena, pois que tinha somente 12 pollegadas; ou então era a segunda, e no primeiro caso era muito grande, por isso que havia um excesso de 3 á 4 pollegadas: e no segundo também o era, sendo o excesso de 1 á 2 pollegadas; pelo que não poderia ter lugar o parto; mas elle se deu, não será por conseqüência antilogi- co repellir como improcedente tal argumento. Nem se venha dizer que, si o parto teve lugar espontaneamente no segundo caso, foi porque as duas pollegadas de excesso desapparecerão em virtude da compressão, que soffrera a cabeça do feto; porque a que houvesse experimen- tado tal compressão, ainda depois do parto, deveria apresentar signaes recen- tes, e manifestos d'ella; o que se não deu, por quanto nem d'isso fallão os que, á todo o custo, querem explicar este facto pela compressão. Outros quizerão ainda explical-o dizendo que a bacia, em virtude da sym- physeotomia praticada no primeiro parto, tinha augmentado de capacidade, por isso que um callo se havia formado entre os púbis. Admittido que tal callo se houvesse formado, e que tivesse G linhas, o que ja é muito, perguntaremos um tal augmento seria suíficiente para explicar o segundo parto? Não é possível vacillar na resposta, sobre tudo quando disser- mos que, pela morte d'essa mulher, que teve lugar muito tempo depois, a sua bacia foi examinada por Sigault, que nem se quer encontrou vestígios da exis- tência de tal callo. A mulher Vespres é um bem triste exemplo para os symphyseotomistas. Tinha a bacia d'esta mulher 2 e 1/2 pollegadas de pequeno diâmetro; pelo que Lauverjat e Coutouly havião proposto a operação cesarianna. Sigault po- rem entendeu dever praticar a secção da symphysc dos púbis, o que lhe deu um funesto resultado; por isso que a criança fallecera, e a mãe apenas vivera mais cinco dias de soíTrimentos atrozes. Feita a autópsia, encontrarão o periosteo das superfícies articularcs sacro- illiacas destacado, uma collecção purulenta no tecido cellular da fossa illiaca esquerda, etc, etc. Passemos á outro caso, em que Leroy muito se funda para demonstrar as vaiuagens da symphyseotomia: queremos fallar de muiher Belloy Esta ia tinha pando se.s vezes, tendo sido em todas ellas efetuado o parto, segundo He no ' los recursos extremos da arte. b 'p 13 O pequeno diâmetro da cabeça do feto tinha, como o declarou o próprio Le- roy, 3 pollegadas e 8 linhas, no septimo parto, em que foi praticada a symphy- seotomia, em quanto que era de 18 á 19 linhas esse mesmo diameíro da bacia. Feita, como acabamos de dizer, a operação, que foi muito laboriosa, a crian- ça foiextralnda pelos pés, tendo tido Lerjoy o cuidado de introduzir entre os púbis a parte posterior da cabeça, quando a quiz extrahir. Diz elle ainda que apesar de ter a mulher soíTrido muitas dores por oceasião, e depois da opera- ção, quo todavia no segundo dia ja não soíTrera dor alguma, e andara livremen- te no décimo; fora á igreja no vigésimo, e no vigésimo primeiro á Faculdade de Medicina. Convém ainda notar, que entre as pes?oas apontadas por Leroy como admiradas da operação á vista do estado, em que a virão no quinto dia, está o Dr. Chaptal da Academia de Montpellier, que foi o próprio que disse á Baudelocque que duvidava, que uma mulher exteriormente tão bem proporcio- nada tivesse uma bacia tão defeituosa. Perguntaremos com Baudelocque por que miraculoso meio poude precedentemente uma bacia de 18 á 19 linhas dar passagem a seis crianças de tamanho regular? Não estará Leroy em conlra- dicção comsigo mesmo quando, julgando inevitável a symphyseotomia na mu- lher Julia Collet, cuja bacia tinha 2 e 1/2 pollegadas de pequeno diâmetro, crô todavia na possibilidade de seis partos para uma mulher, cujo pequeno diâme- tro da bacia tinha quasi metade do da outra? Ainda com o author, que acima citamos, perguntaremos quaes íorão esses meios extremos, que foi preciso em- pregar nos seis primeiros partos? Não foi pela operação cesariana, não foi tirando aos pedaços, que se fez a extracção d'estas crianças; mas sim, como declararão os próprios pais, natu- ralmente uns, depois d'um longo e penoso trabalho, e por meio do gancho os outros, sem terem soíTrido mutilação alguma. O testemunho dos pais ainda vem dar um golpe terrível no procedimento de Leroy; por quanto, disserão elles, que a septima criança era muito menor que as outras, tanto que chegarão a compenetrar-se de que cila se não poderia crear, o que foi confirmado pela morte, que aos quatorze mezes veio romper o tenue fio, que prendia á vida aquelle delicado ser. Esta mulher, de quem ora nos oecupamos, vindo algum tempo depois con- sultar á Baudelocque para curar-se de uma descida do utero, teve elle ocea- sião de examinal-a com todo o vagar, e então reconheceu ser falso tudo quan- to á respeito das dimensões da bacia havia dicto Leroy, verificando elle Bau- delocque ter o pequeno diâmetro da bacia mais de 3 pollegadas e 1/4. Á vista pois d'islo, nada tem esle parto de extraordinário, e ainda, contra a cspcctativa de Leroy, nada prova em favor da symphyseotomia, senão que era 14 desnecessária tal operação, cahindo portanto desmoronado o castello, que pa- ra sua defeza tão cuidadosamente levantara elle, não tendo podido a sua falsa base resistir aos embates d'uma analyse verdadeira, e minuciosa. Confiado no suecesso, que cria ter obtido na mulher Belloy, praticou a ope- ração em mais trez: uma chamada Huguet, outra desconhecida, e a terceira operada á vista de Baudelocque. A primeira tinha, segundo Leroy, urna bacia, cujo pequeno diâmetro era de 2 e 1/4 pollegadas. Praticada a operação, os ossos afastarão-se mais de 2 e í/2 pollegadas, a doente apresentou pouca febre nos primeiros dias, e no 17.o estava completamente bôa. A criança não corria perigo, tendo o peque- no diâmetro da cabeça 3 polegadas e 9 linhas. Um mez depois, apresentando-se á Baudelocque esta mulher, teve elle de também por sua vez medir os diâmetros da bacia, e então reconheceu que o compasso de espessura dava exteriormente G e 1/2 pollegadas de pequeno diâmetro, devendo ser elle por conseguinte internamente de mais de 3 e 1/4 pollegadas. Introduzindo depois o dedo na vagina reconheceu elle ter esse diâmetro 3 polegadas e 8 linhas; provando portanto ser desnecessária a ope- ração, ainda admittido que o pequeno diâmetro da cabeça da criança tivesse 3 pollegadas e 9 linhas. A segunda, sendo examinada também um mez depois pelo mesmo parteiro, foi por elle avalliado cm mais de 3 pollegadas o pequeno diâmetro da bacia. Com cíTcito, forão applicados, em presença de Leroy, e Philipp, o compasso de espessura, que deu 7 pollcgadas menos um quarto do meio do monte de Venus ao alto do sacro; e o compasso de Coutouly, que internamente deu muj facilmente 3 c 1/4 pollegadas. Este facto, quanto a nós, ainda nada prova em favor da symphyseotomia, revelando tão somente que houve da parte do ope- rador exageração sobre a necessidade da operação, e talvez precipitação. A terceira, para assistir a cujo parto fora Baudelocque convidado, tinha 3 pollcgadas de pequeno diâmetro, conforme avaliara Leroy. Com effeito o com- passo de Coutouly, reiteradas vezes applicado, deu o mesmo resultado. O cordão umbelical apresentava-se abaixo da cabeça do íeto, formando uma laçada na vagina, o que fez com que opinasse Baudelocque pela operação cesa- riana. Leroy porem, conscio de que pela symphyseotomia consegucria salvar a criança, e a mãe, não trepidou em pratical-a, lastimando não ter de operar em bacia mais estreitada para levar de vencida á Baudelocque, convencendo-o dos miraculosos benefícios, que á arte dos partos prestava a symphvseotomia O sonho doirado, e inebriante porem, em que se rcfocillara sua^alma es- vae£cra-se ao sopro da realidade. A esperança lisongeira, que lhe alentara a 15 phantasia, também por sua vez fora malograda, diante do funesto resultado, que após si arrastara a operação, e em vez das delicias, que visara fruir com a premeditada victoria, só tivera a decepção á abatter-lhe a vaidade; porquanto praticada a symphyseotomia, fallecera a mulher após oito dias de horríveis sof- friinentos. Correremos um espesso véo sobre o quadro desordenado, aíílicüvo, e medo- nho, que após a autópsia, apresentava a bacia d'esta mulher, contentando-nos com dizer somente que em virtude de um afastamento de 2 pollegadas dos púbis, as symphyses sacro-illiacas forão despedaçadas, o periosteo destacado, cJc. etc Cumpre ainda notar que a cabeça da criança era regular, por isso que linha 4 pollegadas e 2 linhas de diâmetro occipito-frontal, e 3 pollegadas e 5 linhas de diâmetro bi-parietal. Este facto ainda não parece militar em favor da operação, e pelo contrario vem engrossar o numero dos que provào a inu- tilidade, e perigo d'ella. A mulher Maria Bouillé, operada porMulhiis, tinha segundo elle 3 pollega- das menos 1/4 de pequeno diâmetro da bacia. Observaremos que ella ja pas- sara por trez partes antes do que a levara á presença Je Aíathiis. O primeiro tivera lugar naturalmente, dando em resultado uma criança viva. No segundo fora extrahida pelos pés por um cirurgião, que nenhuma pratica tinha de partos, conforme elle próprio confessara. No terceiro fora o feto extra- indo por meio do gancho por um estudante de cirurgia. Praticada a symphyseotomia, que foi longa e trabalhosa, porquanto o instru- mento, que fora applicado na direcção da symphyse-pubianna, se desviara de- pois, dirigindo-se sobre o ramo descendente do púbis direito, cortando-o trans- versalmente, sendo para isso necessário empregar a maior força, foi depois dos maiores exforçcs extrahida uma criança morta, a qual sahio com o braço di- reito, e a coixa esquerda fracturados. A mãe falleceu ao nono dia, e feita a autópsia apresentou-se aos olhos deMathiis um espectaculo de tal sorte horro- roso, que o fez ter uma syncope, convencendo aos médicos e cirurgiões de que havia sido a morte de Maria Bouillé conseqüência da operação. Diz Baudelocque que a svmphyse não fora completamente cortada, senão depois da morte, con- forme o confessara o próprio Mathiis. Cambon refere ter operado em Mons duas vezes uma mulher, mediando en- tre ellas o espaço de um anno e nove mezes. Da primeira vez, diz elle, ter obti- do um afastamento de 2 pollegadas, pouco mais ou menos, tendo todavia mor- rido a criança: no entretanto que obteve da segunda vez uma criança viva, sem com tudo poder afiirmar qual fora o aíTastamento dos púbis. Knap, parteiro lambam de Mons, communicou a Academia Real de Girur- 5 16 gia ter extraindo por meio do forceps, em presença do próprio Cambon, o pri- meiro filho d'esta mulher, que era uma criança bastante grande: e que seu com- panheiro Guilherme partejara da segunda vez essa mesma mulher, não tendo encontrado diíficuldade alguma. Ora em uma mulher, que já havia parido duas vezes sem a intervenção da symphyseotomia, (tendo até da primeira vez parido uma criança bastante gran- de,) seria necessário recorrer á ella nos dous últimos partos, em que o canal pelvianno, mais dilatado já, oíTcreceria muito mais facilidade em dar passagem á crianças, que nenhuma deformidade apresentavão? Não foi portanto compro- melter sem necessidade a vida da infeliz mulher? E não teria sido a morte da primeira criança conseqüência da operação? Uma outra mulher foi operada por Cambon, no utero da qual uma parteira, Knap, e um seu discipulo em balde havião tentado introduzir a mão para pra- ticar a versão. Uma laçada do cordão umbellical se apresentava adiante da cabeça. Tendo sido applicado sem proveito o forceps, aconselhara Knap a extracção por meio do gancho. Cambon porem em vez de concordar, e pelo contrario querendo apre- sentar um exemplo palpável das vantagens da operação, de que se constituirá acerrimo defensor, cheio de confiança a poz em pratica. Ella porem foi labo- riosa, dando em resultado a morte da criança, que só pelo forceps poude ser extrahida, e a morte também da infeliz mulher. Van-Damme refere o caso seguinte: uma mulher, que o mandara chamar para partejal-a, apresentava o feto em má posição, por isso que a face d'este> voltada de lado, olhava para o púbis direito. Crendo Van-Damme que o parto natural não podia ter lugar, porquanto já havia muito tempo que a mulher inu- tilmente se esforçava para expellir a criança, e, depois de procurar em vão ex- trahil-a pelos pés, tendo applicado sem proveito o forceps elle e mais dous companheiros, decidira-se á recorrer á symphyseotomia. Com eíTeito alcan- çado por meio delia um afastamento de 1 e 72 pollegadas, fora obtida uma criança por uma nova applicação do forceps, criança esta, que fallecera três semanas depois, salvando-se todavia a mulher. Esta mulher porem, conforme aífirma Baudelocque, antes do parto, de que ora nos oecupamos, já havia parido naturalmente Ires crianças regulares, que todas crearão-se. Este facto, que Van-Damme apresenta como uma prova em favor da sym- physeotomia, apenas justifica a convicção, que temoi, de que não seria neces- sária tal operação, visto como nada tinha de anormal em suas dimensões a cabeça da criança, e era regular a bacia, ou quando muito insensivelmcnte es- 17 rcitada, por quanto dera cila passagem á trez crianças, que ainda vivião, quando foi praticada a symphyseotomia. Onde pois a indicação para a operação? Seria a posição, em que se apresen- tava o feto? Por certo que não. Ou seria porque o forceps, applicado por di- versas vezes, não poude extrahil-o? Isso porem demonstra, não a necessi- dade da operação, mas sim, permitta-se-nos toda a franqueza, a im perícia dos que applicárão o forceps, por isso que erão signaes manifestos da má applica- ção as feridas, que na cabeça da criança forão encontradas. Dissemos que fora a impericia dos parteiros a causa de não ser extrahida pelo forceps a criança, e não pareça ousadia, porque a justificão as duas feri- das, que encontrarão, uma sobre o lado do frontal, e outra sobre o do occipital, provando assim que forão as colheres applicadas sobre essas partes, abraçan- do-as obliquamente, o que é contra as regras da applicação do forceps, cujas colheres, como todos sabem, devem ser adaptadas aos lados da cabeça. Foi sem duvida, em virtude de quererem applical-as aos lados da bacia, que cilas abraçarão tão inconvenientemente a cabeça da criança, o que necessariamen- te teria lugar em razão da posição, em que esta criança se apresentava. Dcsprés de Memncur cita um caso de symphyseotomia em uma mulher, cujo pequeno diâmetro do estreito superior da bacia tinlia 18 á20 linhas. Praticada a operação, deu a mulher immcdiatamente á luz uma criança bastante grande, porem morta, sem que a própria mulher soffresse o menor accidente. Cumpre notar que, conforme reza uma carta de Després á um ci- rurgião seu amigo, antQS de praticada a operação, se apresentara na vulva a ea- beça da criança juntamente com uma das mãos. Uma de duas, ou o diâmetro antero-posterior do estreito superior só tinha 18 á 20 linhas, e nesse caso de- modo algum poderia dar passagem á cabeça do feto, á ponto de apresentar-se- na vulva juntamente com uma das mãos; ou então deu-se o que disse Després na carta, e o pequeno diâmetro não tinha somente 18 á 20 linhas, o que é mais que provável, visto ter esta mulher no anno seguinte parido naturalmente^ e o mesmo se ter dado nos partos, que suecederão a este. Baudelocque ainda diz que a secção da symphyse pubiana n'essa mulher não fora completa. M. G. cita também a mulher Batigny, a qual, praticada a symphyseotomia,. pario ajudada do forceps. Este caso ainda, como o de cima, prova que não era necessária a operação, por quanto a criança nada tinha de anormal, e porque- no anno seguinte parira Batigny tão natural e promptamente, que quando a parteira, chamada para ajudal-a, chegara, ja a encontrara desembaraçada da criança. Nagel também praticou a symphyseotomia em uma umlher, que elle cria ter uma exostosc na saliência do sacro. 18 í) afastamento foi reputado de 1 e 1/2 pollegadas. A criança, sendo voltada, foi extrahida, e viveu apenas um quarto de hora, fallecendo também a pobre mulher no oitavo dia. Feita a autópsia reconheceu Nagel não haver tal exostose, e ser de 3 polle- gadas o pequeno diâmetro, encontrando ainda gangrenados os lábios da ferida, os órgãos externos da geração, a vagina, e uma parte do utero. Biollay operou uma mulher, cujo pequeno diâmetro da bacia foi avaliado ter 2 pollegadas e 8 á 9 linhas. O menino, sendo voltado, foi extrahido, morto, pelos pés, morrendo também a mãe uma hora depois. Pela autópsia foi verificado ter o pequeno diâmetro do estreito superior 3 pollegadas, sendo porem de 2 pollegadas e 4 linhas o do estreito inferior. O diâmetro bi-parietal da cabeça do menino era de 3 pollegadas e 9 linhas. O afastamento dos púbis, depois da secção da symphyse, foi levado á 2 c 1/2 pollegadas. M. V. praticou a operação em uma mulher, que anteriormente havia parido naturalmente uma criança morta, e perfeita, levando-o á isso uma exostose, que elle suppunha existir na primeira falsa vertebra do sacro, sendo a opera- ção, em falta de outros instrumentos, feita com uma tesoura, e uma faca amol- lada. A mulher e a criança morrerão, não tendo, pelo exame cadaverico, sido encontrada tal exostose. Estes trez factos dispensão commentarios, por quanto em nenhum d'ellcs aproveitou a operação, tendo sido em todos trez, ja não queremos dizer as crianças, porem sim as mulheres, victimas da operação. A mulher Rougeau é ainda um exemplo apresentado pelos symphyseotomis- tas em abono da operação. Esta mulher, que era primipara, tendo recorrido a Dufay para partejal-a, resolvera-se elle a praticar a symphyseotomia, por se ter convencido de que era de 2 pollegadas e 8 linhas o pequeno diâmetro do estrei- to superior da bacia. A operação, começada por Dofay, fui acabada por Leroy, dando em resultado uma criança, que á principio deu poucos signaes de vida, mas que depois reanimou-se completamente. O afastamento dos púbis foi, segundo Leroy, de 2 e 3/4 pollegadas, lendo ficado a mulher completamente curada no décimo terceiro dia. Apresentando-se esta mulher á Baudelocque, pouco tempo depois, reco- nheceu elle não estar completamente curada, como dissera Leroy, por quanto dillicilmente movia-se, não podendo andar, sentar-se, ou deitar-se sem ser ajudada por alguém. Os púbis, por isso que não se tinhão unido, afastavão-se um do outro, to- mando muitas vezes direções oppostas; e quanto á urina nunca mais poderá J 19 ella contel-a. Baudelocque ainda reconheceu ter o pequeno diâmetro 2 pole- gadas e 8 linhas. Rougeau tornou-se depois da operação, grávida por duas vezes, lendo cm ambas parido antes do termo. Este facto parece ainda nada provar em abono da symphyseotomia. Boulotte, operada por Leroy, porque tinha, conforme avaliara elle, quando muito 2 e 1/2 pollegadas de diâmetro antero-posterior, e porque tinhão as crianças nos dous partos, que precederão a este, sido extrahidas por ganchos, é ainda um exemplo apresentado cm favor da symphyseotomia, apesar de ter morrido a criança. Esta operação cremos poder dizer, que era desnecessária, por quanto tornando-se esta mulher grávida pouco tempo depois, parira na- turalmente uma criança bastante grande, maior talvez que a precedente. Baudelocque refere que uma mulher da Ponte de S. Maxence recorrera á elle no terceiro mez da prenhez para consultal-o, se poderia ella parir natural- mente, ou se seria necessário a intervenção da arte. Notemos, que ella ja tivera dous partos, um dos quaes fora muito laborioso, pelo que receiosa se dirigira á Baudelocque, quando pejada pela terceira vez, o qual lhe assegurara que ella havia de parir naturalmente. Não confiando po- rem muito, no que lhe dissera o referido parteiro, se dirigira esta mulher á Paris, onde os Cirurgiões-Parteiros lhe apresentarão a symphyseotomia, co- mo único meio de salvar-se e lambem salvar seu filho. Ella, talvez com medo, não querendo submetter-se á operação, novamente recorrera á Baudelocque, que ainda uma vez lhe afiançara o parto natural no fim de trez semanas. Com eíTcito no fim d'esse tempo parira ella espontaneamente, e com muita rapidez uma criança bastante grande, e viva, sendo este parto presenciado pelo cirur- gião Very. É um d'estes casos, em que talvez a symphyseotomia salvasse a vida da mu- lher, e do menino, e que ficaria registrado como um triumpho para os sym- physeotomistas, mas em que, podemos dizer, era desnecessária, e que seria um erro indesculpável pratical-a, por quanto fora comprometter as duas vi- das, que tinhão em mira salvar. Ainda poderíamos apontar alguns factos, e analysal-os, porem como isto tornaria mui longo o nosso trabalho, e como se poderia filiar ao ja menciona- do, o que sobre esses factos teríamos á dizer, aqui terminaremos a quinta parte da nossa dissertação. 6 20 VI. Depois do que hemos dicto á respeito da symphyseotomia, corre-nos o inde- clinável dever de sobre ella francamente expender a nossa opinião. Arrojo, por sem duvida inqualificável, seria o nosso, si levado por fofo or- gulho de sciencia, viéssemos desvanecido atirar-nos ao campo da discussão, certo de com segura mão garrotear a symphyseotomia. Mui diverso porem é o fim, á que nos propomos na confecção da nossa these. Satisfazer primeiramente á um dever, á que nos obriga a lei, apresentar sem refolhos nosso modo de pensar á respeito da operação, que faz o assumpto da nossa dissertação, procurando fundamental-o, como o permittirem as nossas débeis forças; eis o que temos em mira. Ja terá transpirado, por certo, através do que temos dicto, o valor, que da- mos á symphyseotomia, e como estamos compenetrado de que em matéria de sciencia é pouca toda a franqueza, vimos, si bem que receioso, expender o nosso pensamento, negando á esta operação o nosso voto de adhesão. As razões, que á isto nos levão, passaremos á expor. Duplo é o fim, para que devem convergir os exforços dos que lanção mão da symphyseotomia, á saber—salvar a vida do feto, e pôr também á resalvo os dias da mulher, cujo canal pelviano não pode dar passagem á esse feto. Outr'ora não havia limites á esta operação: qualquer que fosse o gráo de estreitamento da bacia, era ella posta em pratica, tendo até imaginado o seu inventor Sigualt substituil-a á operação cesariana. Os factos porem vierâo con- firmar, que o estreitamento levado além de certo ponto não podia de modo al- gum ser vencido pela operação, de que nos oecupamos, pelo que de modo al- gum poderia aproveitar nos casos, em que é indicada a operação cesariana; não podendo por conseguinte substituil-a. O próprio Sigault chegara á compenetrar-se d'isto, tanto que em dous casos, em um dos quaes até o pequeno diâmetro da bacia tinha 2 e 1/2 pollegadas, propozéra a operação cesariana. Vendo, por um lado, que sendo muito considerável o estreitamento da ba- cia, não poderia pela symphyseotomia ter lugar o parto, e vendo, por outro, que no caso de um ligeiro estreitamento, poderia o parto natural ter lugar, sen- do ella por conseguinte desnecessária, estabelecerão os symphyseotomistas, co- mo limjtes, á esta operação, um estreitamento de 2 e 1 /2 pollegadas ao míni- mo, e X 3 e 1/4 ao máximo. 21 Sendo, como ja dissemos, o fim da symphyseotomia salvar a vida do feto sem comprometter a da mulher, somos de opinião que ella não o preenche, por quanto sobro quarenta e um factos mencionados por Baudelocque, quatorze mulheres, morrerão, e vinte e oito meninos. Ora em uma operação tão simples, e tão innocente, como dizem os sym- physeotomistas, poderia um tal resultado ter lugar? Por certo que não; e a pratica vem em apoio d'esta nossa resposta. Com ef- feito, quantas vezes não se tem dado o caso de serem encontradas as symphy- ses pubiannas ossificadas, tornando-se necessário o emprego da serra, perden- do por conseguinte a operação um pouco de sua simplicidade, e tornando-se extremamente dolorosa? Quantas outras não tem a/contecido, como se deu com Leroy, resvallar o instrumento sobre um dos púbis, ou mesmo ser elle applicado sobre este, na hypothese de se o fazer sobre a symphyse, e ser elle dividido em dous fragmentos, tornando-se por conseguinte necessário o em- prego de meios para a sua reunião ? Quantas não tem as symphyscs sacro-illiacas sido encontradas ossificadas, tornando-se por isso inútil a operação? Ouantas ainda, apczar de praticada a symphyseotomia, não tem todavia o canal pelvianno as dimensões necessárias para que tenha lugar o parto, sendo por isso necessário recorrer á operação cesariana, ou a embryotomia? Quantas emfim, apezar de toda a facilidade, que se houvesse encontrado cm praticar a operação, não tem sido as crianças victimas d'ella? Nem se nos venha dizer que nenhum risco pode a vida da mulher correr, porque a isto responderemos com a enumeração dos accidentes, que podem ter Lar após a operação, conforme diz Baudelocque, cujas palavras reprodu- ziremos. < \ contusão, a ruptura das partes exteriores, a inflammação destas mes- « mas partes, e da substancia ligamento-cartilaginosa, que constituía a sym- physe dos púbis; a desnudação das extremidades dos ossos sua cano, sua falta de reunião, a lesão do canal da urettra, a nlceração da bex.ga, sua des- truição parcial, sua hérnia por entra os ossos não reunidos, e a mcont.nen- cia da urina, o afastamento, e despedaçamento das symphyses sacro- hacas; a inflammação, a grangrena, e a p.opria ruptura da madre; deposito de ma- teis purulentas, e ichorosas no lugar mesmo das symphyses despedaçadas, em todo o tecido cellular da bacia, e em toda a extensão dos músculos psoas . %■ a inflammação do piritoneo, e dos intestinos, representa» o quadro dos I Lcidcn.es, que tem tido lugar após esta operação, nos casos, em que ««ma « conformação da bacia parecia tornar o parto unposs.vcl pela «a natural. C « c « em 22 Si, como já vimos, não preenche esta operação o seu fim, pois que á cada passo, que se dá na operação, é gravemente compromettida a vida da mulher sendo poucas vezes possível salvar a do feto; e se não ha um só caso, em que os svmphyscotomistas digão ter a operação aproveitado, que não possa ser contes- tado, parece não ser irracional negar-lhe a nossa approvação, tanto mais quan- do existe um meio muito mais seguro de salvar a vida do feto, compromettendo muito menos a vida da mulher, ou quase que sem compromettel-a. Este meio consiste no parto prematuro artificial. Parto prematuro artificial é aquelle, á que dá lugar a arte, antes do termo da prenhez, em tempo porem, em que o feto é já vitavel. Este é considerado apto para viver a vida extra-uterina do fim do septimo mez em diante, si bem que a lei franceza o considere vitavel desde o fim do sexto. A pratica porem tem demonstrado que são raros os que, sendo expellidos antes do septimo mez se chegâo a crear. As indicações para a symphyseotomia podem ser applicadas ao parto prema- turo. Ora podendo as indicações para a symphyseotomia ser applicadas ao parto prematuro, e sendo incontestáveis as vantagens d'este, parece, que será anti- logico deixal-o de parte para praticar aquella. Nem pareça exagerado o que dizemos, por quanto ahi estão á robustecer as nossas palavras os 250 casos colleccionados pela Senhora Lacour, em que mais de metade das crianças salvarão-se, morrendo apenas uma mulher sobre 16; c os 1 i de Meissner, em que não houve á lamentar perda alguma de vida. A vista d'isto pois, jamais lançaríamos mão da symphyseotomia, e sim do parto prematuro, quando previamente houvéssemos conhecido ser o parto na- tural impossível pela via ordinária. Resta-nos agora ver, si é dia praticavel, quando fòr o parteiro chamado, e chegar no acto mesmo do parto. Ordinariamente no nosso paiz é chamado o cirurgião, quando, em virtude da longa duração do trabalho, e dos soffrimentos da parturiente, se começa a receiar pela vida d'ella, e da criança. N'este caso, ou a criança está ja mor- ta, e então de modo algum dever-se-ha recorrer á symphyseotomia: ou então está viva, e a vida d'ella se acha muito compromettida, por quanto ja se tem tropido a bolsa das águas, o liquor amniotico se tem escorrido completamen- te, as contracções do utero se exercem directamente sobre o corpo do fe/to, o cordão umbellical é mais ou menos comprimido, a circulação em virtude d'ís- so é mais, ou menos interrompida, etc. Estando pois gravemente compromettida a vida do feto, nós fundando-nos no que diz Cazeaux, e com elle a quasi totalidade dos Cirurgiões Inglezes, e a 23 maioria dos Francczcs, que quando a vida do feto estiver compromettida, de- verá o parteiro proceder como si elle estivesse morto, praticaríamos a embryo- tomia; porque proceder de outro modo fora arriscar a vida de um ente mui ulil á sociedade, para resgatar a de outro, que inútil ainda, não saberíamos, si o obteríamos vivo; e si vivo, ainda nos não poderíamos responsabilisar pela sua vitalidade. Concedamos, o que é rarissimo, que chegue o parteiro á tempo de encon- trar ainda intacta a bolsa das agoas, e vejamos o que tem ordinariamente lu- gar na pratica. Não passará o espirito de parteiro em resenha os casos análo- gos, em que o parto tem tido lugar naturalmente, mormente quando, diz Ca- zeaux, ter visto o parto natural ter lugar em uma mulher, cuja bacia tinha o pequeno diâmetro de 2 pollegadas e 9 linhas, dando em resultado uma crian- ça de termo, e viva? Não deverá, por conseguinte, esperar algum tempo á ver si vence o feto o obstáculo, que se oppõe a sua sabida? E reconhecido que são impotentes os exforços da natureza, não deverá o pratico recorrer ao emprego do forceps, mormente, quando cm casos idênti- cos, tem elle extrahido do ventre materno fetos, cuja extracção era reputada impossível? E nesse caso, se deverá somente contentar com uma applicação do instrumento? Não poderá ainda muito bem sueceder, que seja a pouca activiíladc das contracenes uterinas a causa da demora do parto? ^ E então poder-sc-ha furtar o cirurgião á administração do centeio espigado, cuja acção sobrc"utero, como sabemos, não se desenvolve immcdiatamcntc de- pois da applicação, tendo elle, por conseguinte, de esperar por esse effeito ? E quando, perdida toda a esperança de por estes meios promover o parto, se convencer elle de que é a symphyseotomia a única taboa de salvação para a criança, ainda não lhe será necessário muito tempo para convencer da neces- sidade de operação á familia, e á partunente? E finalmente, concordando esta em soíTrer a operação, não terá o parteiro de gastar muito tempo em vencer a repugnância d'ella, que procura quasi sempre demorar a operação, ja por me- do, ja porque sempre a alenta uma fugitiva esperança de poder parir natural- mente, sem por conseguinte o concurso de tal operação? E assim de hypothese em hypothese se irá o tempo escoando, a bolsa das a^as se terá rompido, o liquor amniotico se irá escorrendo, até chegar uma oceasião, em que a vida do feto começa a perigar, etc. E desde então, poderá ainda'o parteiro pensar em praticar a operação? ■ Por certo que não; porque si é o fim da symphyseotomia salvar a vida do feto sem comprometo a da mulher, c si, como ja demonstramos com factos, a vida d'esta é gravemente compromettida, cm quanto que a d'aquellc nao olle- 2í rece garantia, como pensar cm tal operação em um caso d'estes ? Ainda ífesto caso praticaremos a embryotomia. São estas as considerações, que sobre tal caso faz Cazeaux, e as quaes re- putamos verdadeiras. Terminaremos aqui protestando ainda uma vez contra esta operação, que, estamos convencido, morreria no nascedouro, se não lhe imprimisse o sopro vivificador de Leroy alguns annos de vida. 25 Vôiihos mcdãciiiacs. 1 Vinhos medicinaes são os que retém em dissolução um ou mais princípios medicamentosos. 2. Os principaes vinhos empregados na preparação dos vinhos medicinaes são os brancos, os tintos, e os espirituosos. Os vinhos podem ser falsificados; estas falsificações porem, se revellão aos olhos do pharmaceutico pelo emprego de meios apropriados. Ouando, todavia, a falsificação tem tido lugar pelo álcool, desde muito tem- po ~não poderá o pharmaceutico afíirmar, si o álcool por elle encontrado e o que naturalmente tinha o vinho, ou si foi elle addicionado depois da termen- tação. 5. A mistura dos vinhos uns com os outros não pode também pelo pharma- ceutico ser reconhecida, mas somente pelos que tem pratica inveterada de provar vinhos. G. Quando o pharmaceutico se tiver de servir de um vinho do commercio de- verá submcttcl-o á clarificação. 3371 2G 7. Os meios á empregar para esse fim varião conforme o vinho, de que lança elle mão. 8. Não é indiíferente na preparação dos vinhos medicinaes o emprego dos vi- nhos. Este é subordinado á natureza das substancias, que tem de ceder ao vi- nho os seus princípios medicamentosos. 9. As substancias medicamentosas empregadas na preparação dos vinhos me- dicinaes devem ser seccas, excepto porem, quando perderem ellas pela exsi- cação as suas propriedades therapeuticas. 10. Os processos, por meio dos quaes se prepárão os vinhos medicinaes, são a maecração, e as tineturas alcoólicas. 11. A maceração é o processo mais ordinariamente empregado. 12. O emprego das tineturas alcoholicas na prepararão dos vinhos medicinaes é um bom processo, mas nem sempre poderá ser empregado por alterar a na- tureza dos princípios medicamentosos. 13. Existe ainda um processo mixto, que cremos muito útil para a preparação dos vinhos medicinaes. 14. O vinho medicinal, depois de filtrado, deve ser conservado pelos meios con- venientes. 27 i ^«aal o sinais segssr®, inais proinpto, c mais inoGíciisivo meio de premo ver-sc o pari© prematuro? 1. Encarados, quanto ao seu modo de obrar, os processos, á que se recorre para provocar o parto prematuro, são geraes, e locaes. 2. Os geraes são os que aíTectão primeiramente o organismo, para depois se- cundariamente excitarem as contracções uterinas, entre estes estão os banhos geraes, sangria, centeio espigado, etc. 3. Os locaes tem uma acção mecânica, e immediata sobre as fibras do utero em virtude da qual são ellas forçadas a se contrahir. 4. D'estes conhecemos: as fricções sobre o collo e fundo do utero, a injecção de Cohen, o descollamento da parte inferior do ovo, a perforaçâo das mem- branas, introducção de corpos estranhos no collo da utero, arrolhamento da vagina, e as irrigações. 5. Os primeiros, isto é, os meios geraes, não nos merecem confiança. 6. Quanto ás fricções sobre o collo e fundo do utero, e ao descollamento da parte inferior do ovo, que fazem parte do segundo, são meios, que também não nos inspirão confiança. D�A 151 28 7. O resultado da injecção do Dr. Cohen, que aliás é um meio muito simples, e iuilljusivo, ainda não está bem verificado. 8. A perforação das membranas, conforme a modificação de Meissner, é um bom processo para provocar o parto prematuro. 9. A introducção das esponjas preparadas no collo do utero, segundo o pro- cesso de Klnge, conta menos resultados que a perforação. 10. O arrolhamento da vagina, conforme o processo de Schaellcr, é um processo inferior aos dous últimos. 11. Existe ainda o processo dasjrrigações d'agoa quente sobre o collo do ute- ro, empregado primeiramente por Kiwisch, modificado depois por Dubois, c que oílerece sobre todos os outros vantagens reaes, e incontestáveis. 12. E este ultimo que reputamos, senão o mais seguro, c mais prompto, pelo menos, o mais inollensivo meio de promover-se o parto prematuro. 29 ■O a crysipela doença local, ou antes um padecimento symptoniatico de um estado geral? Que relação have- rá entre a crysipela e certas moléstias do estômago? 1. A crysipela é uma moléstia geral. 2. É mais commum nas mulheres que nos homens. 3. AíTecta todas as constituçõcs e temperamentos. 4. Estes porem podem influir sobre a forma da erysipela. 5. Pode reinar epidêmica, ou cndemicamente. 6. Uma causa accidental pode determinar o apparecimento da crysipela, obran- do todavia secundariamente. 7. Para que a crysipela se apresente é necessária uma predisposição individual D7A .-;o 8. Uma impressão moral viva pode dar lugar a crysipela. 9. Ainda não está provada a influencia, que sobre a crysipela possão por ven- tura ter os climas, e as estações. 10. O tratamento somente local da erysipela é perigoso. 11. A erysipela as vezes se manifesta por uma gastríte. 12. Esta gastríte umas vezes, e outras o estado saburral, e bilioso do estômago explicão as alterações gástricas, que commummente acompanlião a erysipela. HlPPOÍIUffi IPttlllí. 1. Vita brevis, ars longa, occasio praeceps, experientia fallax, judicium dif- ficile. (Scct. í.a a p/i. J.°J 2. Ubi somnus delirium sedat, bonum. (Scct. 2.a aph. 2."> 3. Lassitudines sponte obortoe morbos denuntiant. (Scct. 2.a aph. 5.°) \. Mulieri, menstruis deficientibus, e naribus sanguinem fluere, bonum. (Sect. 5* aph. 33.*) 5. Cibi, potus, venus, omnia moderata sint. (Sect. 2* aph. ü.°) 6. In morbis aoutis, extremarum partium frígus, malum. /Sect. 7.a aph. 10.°) 9 Jfyeme/ác/aarêomm//£à& MewdOFcz. éSa/ua e rSacu/cac/j c/e -cz?