^v * oc7 c&-^£*-^~^o J>- FACULDADE DE MEDICINA Dl BAHIA. THÉSE DE João Pedro de ^niarjFilho.. V FACULDADE DE MEDICINA DÁ BAHIA- THESE QUE DEVE SUSTENTAR Eli NOVEMBRO DE 1864 OBTER O GRAU DE DOUTOR EM MEDICINA JOÃO PEDRO DE AGUIAR FILHO NATURAL DA BAHIA, ALUMNO PENSIONISTA DO HOSPITAL MILITAR DA MESMA PROVÍNCIA E FILHO LEGITIMO de João Pedro de Aguiar e J>. Tflariana de Moura Aguiar (faitecida). A Medicina é depois da sciencia da religião, a sciencia mais útil, mais necessária e mais nobre sciencia de todas, e não houve nunca dignidade, por mais elevada que fosse, que com ella se re- putasse incompatível. Cardeal Mezzofante. BAHIA. TYPOGRAPHIA CONSTITUCIONAL DE FRANÇA GUERRA. Ao AIJube n. t. 4864. FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA. O E\m. Sr. Gons.Dr. João Baptista dos Anjos. VICE-DIRECTOR O Exm. Sr. Conselheiro Vicente Ferreira de Magalhães. LENTES PROPRIETÁRIOS. /•• ANNO. OS SENHORES DOUTORES. MATÉRIAS QUE LECCIONÃO. Cous. Vicente Ferreira de Magalhães . Physica em geral, e particularmente em «no» ap|ili cações a Medicina. Fancisco Rodrigues da Silva .... Chimica e Mineralogia, Adriano Alves de Lima Gordilho. . . Anatomia descritiva. 2.» ANNO. Antônio Mariano do Bomfim . . . . Botânica c Zoologia Antônio de Gerqueira Pinto.....Chimica orgânica. .............Physiologia. Adriano Alves de Lima Gordilho. . . Anatomia descriptiva, sendo os alumnos obri- gados dissecções anatômicas. 3.<> ANNO. .............Physiologia. Elias José Pedroza.......Anatomia geral e pathologica. José de Góes Siqueira.......Pathologia geral. 4.<> ANNO. Cons. Manoel Ladisláo Aranha Dantas . Pathologia externa. Alexandre José de Queiroz ..... Pathologia interna. Mathias Moreira Sampaio.....Partos, moléstias de mulheres pejadas e de menino recém-nascidos. 5.o ANNO. Alexandre José de Queiroz .... Pathologia interna. José Antônio de Freitas......Anatomia topogiaphica, Medicina operatona c appn relhos. Joaquim Antônio d'01iveira Botelho . . Matéria medica e therapeutica. 6.o ANNO. Domingos Rodrigues Seixas.....Hygiene, e Historia da Medicina. Salustiano Ferreira Souto.....Medicina legal. Antônio José Ozorio.......Pharmacia. Antônio José Alves.......Clinica externa do 3. e 4. Antônio Januário de Faria.....Clinica interna do 5. e 6. I.ENTES OPPOSITORES. José Affonso Paraizo de Moura. . . Augusto Gonsalves Martins » Domingos Carlos da Silva . . . .^ Secção Cirúrgica. Ignacio José da Cunha .... Pedro Ribeiro de Araújo .... Rozcndo Aprigio Pereira Guimarães. .V Secção Accessoria. José ignacio de Barros Piuaentel. . Virgílio Clitnaco Damazio . . . < Antônio Alvares da Silva .... Demetrio Cyriaco Tourinho . . . Luiz Alvares dos Santos......} Secção Medica. João Pedro da Cunha Valle. . . Jcroniino Sodré Pereira..... SECRETARIO—O Sr. Dr. Cincimiato Pinto da Silva. OFFICIAL DA SECRETARIA—O Sr. Dr. Thomaz d'Aq u i no Gaspar. A Faculdade não approva, nem teprova as idèas cmittidas nesta Theso. SECÇÃO MEDICA STHTTOHiS FORHECIDOS PELO APARELHO CIRCULATÓRIO. Airaons,.... Ia science, car elle n'est pas seulement l'inspiration des arts, elle estaussi pour les modernes ceque Ia réligion fut aux epoques de foi, ce que lasainte philosophre füt dansVan- tiquité pour ceux qui surent vivre et mourir: un refuge, une consolation,ua flarnbeau. Dr. Rodrigues da Silva cít. E. Renaud. OLEMNE a epocha, em que pelo apparecimento do magestoso astro da medicina^ levantado do seio da terra, rompeu-se o negro e espesso véu que a envolviar transformando-se assim em realidade o horisonte até então obscurecido. Os tempos correram pelos espaços além, e uma nova éra sur- giu fulgurante e animadora para sciencias médicas. A força de vontade, e o desejo ardente do estudo, reunidos ao talento, torna- ram-se companheiros constantes do homem; ensinaram-lhe os meios de ser útil á humanidade; procurando assim diminuir e remedia, osseussoífrimentos. C 4 2 • DISSERTAÇÃO Então com firmeza nas luzes do raciocínio e observação, traba- lhou-se com ardor e perseverança na construcção do monumento scientifico. Uma epocha de gloria foi pois annunciada pelo Apóstolo da Medicina, cuja obra é o padrão explendido que legou á posteri- dade: seus escriptos úteis a todos, não desapparecerão na immcnsi- dade dos tempos, quaesquer que sejam os seus progressos. Pelo es- tudo da anatomia, estudo de seria utilidade ás sciencias médicas, chegou-se a revelação de um dos mais grandiosos descobrimentos, o da circulação;—funcção que pelo movimento incessante, em que se acha o liquido que na economia animal caminha, indica que o or- ganismo vive,porque o seu coração bate animado pelo elemento ner- voso, que o domina tanto no estado de saúde, como no de moléstia. Semelhante a duas arvores que se beijam, e se tocam por suas copas e radiculas, o systema circulatório pelos diíTerentes elementos que o constituem, isto é, coração, artérias, veias e capillares, representa um circulo, sendo o coração o centro, do qual partem rios que dis- tribuem calor, vida e animação pelas differentes partes do corpo. Cada um dos elementos do systema circulatório representa pois um quadro onde se acham traçados os caracteres de diíTerentes entida- des mórbidas. O coração, o mais importante delles como causa principal do movimento ondulatorio que determina o liquido sangüíneo, que d'ahi parte, será aquelle de que primeiro nos occuparemos. Estu- dando os ruidos normaes ahi produzidos, melhor avaliaremos as anormalidades que elles experimentam quando tal ou tal estado pa- thologico assalta a economia, quer a sua sede seja no próprio órgão, de que falíamos, quer em partes que entram no complemento do mesmo systema. Dahi passaremos ao estudo das artérias, occupan- do-nos especialmente do pulso, e terminando pelo estudo das veias. PRIMEIRA PARTE • 3 PRIMEIRA PARTE. S7KFT01ÍAS P0F.1TECID0S PELO CORAÇÃO. La séraéiologie exige une grande ha- bituded'observation,une profondecon4 naissance des maladies, et, pour indi- quer son importance, il suffit de dire qu'elle est Ia base du diagnostic et du pronostic. Bouchut—Pathologie Générale. Ha na economia animal um órgão, em que se reflectem os sentimentos da alma, ou estes se traduzam no exterior por paixões violentas, ou por expressões de agradabilidade e alegria, sentimen- tos que a sociabilidade faz experimentar aos seres da espécie hu- mana . E qual será este órgão, onde sentimentos tão sublimes se passam? A sua estructura, a admirável organisação das válvulas, que funccionam no seu interior, condição essencial á vida, já me estão dizendo:—é o coração, origem do calor natural, sede dos espíri- tos vitaes, mola central dos movimentos e ruidos, sendo causa dos primeiros a cõntracção auricular e ventricular, e dos segundos os differentes phenomenos, cuja reunião explica a producção d'elles. E' pela applicação do ouvido na região precordial não auxiliado de instrumento, ou armado de um sthetoscopio, que se ouve uma espécie de tic=tac, constituído por dous ruidos: o primeiro, sur- do, profundo, e mais prolongado, o segundo, claro, mais curto, e mais superficial, separados entre si por dous intervallos, um inter- mediário conhecido pelo nome de pequeno silencio, outro subse- quente, designado pelo de grande silencio, ou intervallo de repouso. 4 DISSERTAÇÃO A explicação de taes ruidos é um dos pontos da medecina, em que mais opiniões tem sido apresentadas e discutidas. De facto, assim devia sel-o, porque cada uma dellas vinha mar- cada com o sinete do excJusivismo que lhes era dado por seus res pectivos authores. Assim perduraram taes ideias, até que um homem se apresentasse conciliando opiniões diíTerentes, e dellas fizesse uma nova theoria, que ligou seu nome (Theoria de Rouanet,) con- siderando como cauza principal oindireitamento das válvulas auri- culo-ventriculares, e arteriaes, e como secundarias o choque dos ventriculos contra a parede anterior do thorax, e o attrito das par- tículas sangüíneas entre si. É essa a opinião que conta em seu favor maior numero de factos patholgicos, e que por isso tem uma acceitação quasi geral. O coração pôde nos forneeer symptomas tirados da inspecção, da palpação, da percussão e da auscultação. É assim que a região pre- cordial não apresentando no estado de saúde cousa alguma sensível á inspecção, pôde por um estado pathologico, apresentar diíTerentes modificações. È o que succede quando ha uma hypertrophia, prin- cipalmente se for excêntrica, a qual dando lugar ao augmento de vo- lume do órgão, traz o abobadamento da região: o mesmo da-se em umapericardite seguida de derramamento considerável. Em taes casos á percussão responde um som completamente massiço, limitando a forma do coração. Ao envez da elevação da re- gião, pôde dar-se a depressão delia; este facto com quanto seja ex- tremamente raro, todavia ha sido observado no caso em que tendo o indivíduo soffrido de pericardite aguda, o derramamento foi absor- vido, e adherencias se formaram entre as duas folhas do pericardio, isto é, a que forra a parede thoracicae o coração, de modo a produzir a tracção desse órgão sobre a referida parede. No estado normal, o coração indo de encontro á parede thora- cica na systole ventricular, imprime ao quarto ou quinto espaço intercostal uma impulsão apreciável á vista e á palpação: esta impul- são pôde ser diminuída, ou augmentada. A primeira modificação nota-se nas pessoas aíTectadas de hydro- pericardite e derramamento pleuretico, a segunda é algumas vezes tão considerável que faz vibrar as paredes thoracicas, e levantar a PRDIEÍRA PARTE & cabeça ou a mão do observador, conforme o meio por elle empre- gado. E' na hypertrophía excêntrica das paredes vcntricularcs que se nota esta exaseracão. Ainda por outros meios de exploração podem ser apreciadas as alterações de impulsão; taes são a palpação e a auscultação, meios de mais segurança nos seus resultados.. Assim por elles chega-se ao conhecimento de que ha diminuição do embate,-a qual poderá indi- car uma lesão orgânica do coração, como seja uma degeneração gordurosa, a hypertrophía concentrica, ou lesão no seu envoltório,, por exemplo—uma pericardite com derramamento. Se pelo contrario estes meios nos revelam augmento na impulsão, poderá isso indicar uma hypertrophía excêntrica, ou palpitações nervosas.. Bouchut diz que este choque é algumas vezes tão forte que separa as costellas de suas respectivas cartilagens. Mas este facto é summamente raro de modo a neccessitar de mais experiências e obser- vações, para que a sciencia dô a sua ultima palavra. A palpação é também um dos meios de exploração, por ella se tem chegado ao conhecimento do tremor particular, que Corvi- sart e Laennec designaram com o nome de rosnadura de gato—o que nos indica um attrito no interior do órgão, annunciando assim estreitamento dos orifícios ventriculares, ou arteriaes, ou umahydro- pericardite, cujo derramamento tendo sido absorvido, falsas mem- branas se formaram na folha do pericardio involtorio do coração. A presença d'esse ruido, sua sede e limites, reunidos aos carac. teres próprios das diíTerentes entidades mórbidas, farão estabelecer o diagnostico differencial.. Diversas alterações podem soífrer os ruídos do coração: v. g. serem percebidos em um ponto da caixa thoracica, que não aquel- le em que normalmente ouvimos, um augmento ou diminuição na intensidade e extensão em que são percebidos, em seu rhythmo, e timbre;—e finalmente serem precedidos, acompanhados, segui- dos, ou ainda substituídos por alguns ruidos anormaes. Os ruidos pôdem mudar de sede, de modo a terem o seu máxi- mo de intensidade em um ponto superior ou inferior, lateral direito ou esquerdo. C 2 (3 DISSERTAÇÃO São mudanças estas que dependem quer de lesões no próprio* órgão em que taes ruidos se dão, quer no pericardio, ou em alguns- dos órgãos circumvizinhos. Assim se houver um tumor de qualquer natureza que venha occupando a base do coração, de sorte a levar este para o lado da caixa abdominal, os ruidos que ahi se produzem, serão percebidos em um ponto inferior ao normal. Sc pelo contrario a lesão fòr tal que leve o coração para a parte superior, como seja uma ascite, ou ainda uma tvmpanite considerável, em semelhantes casos, os ruidos serão percebidos em um ponto mais elevado. Sendo porém a lesão um pleuris, e havendo derramamento, a membrana sorosa que forra os órgãos pulmonares, se estenderá cedendo ao pezo do liquido» c a compressão do órgão central da circulação fará com que os ruidos sejam percebidos á direita ou á esquerda, conforme a sede do derramamento pleuretico. Mas se a lesão consistir em um tumor aneurismatico da crossa da aorta, que galgando o coração, faça este ser levado para parte pos- terior perto da columna vertebral, em tal caso o desvio será poste- rior. O mesmo accontece quando a lesão é um tumor canceroso do mediastino anterior. As alterações de intensidade e extensão dos ruidos implicam augmento, ou diminuição d'elles. Se as lesões trouxerem alterações no volume do órgão, como a dilalação das cavidades do coração comadelgaçamento de suas pare- des, ou se houver uma affecção nervosa, acompanhada de palpita- ções, haverá augmento tanto na intensidade, como na extensão dos ruidos, segundo suecede na hepatisação. Se, ao envez, as lesões forem de natureza a modificar a densi- dade dos tecidos, como uma hypertrophía concentrica, degeneração gordurosa, etc. em taes casos haverá diminuição na intensidade e extensão dos ruidos., O mesmo dá-se, quando há uma hydropericar- dite, que afastando o coração da parede thoracica, não reforçando os ruidos como no estado normal, faz que tal modificação appareça. Ghama-se rhythmo dò coração a- devida proporção, guardada entre as partes componentes dò uma pulsação; c a de uma pulsação a outra. As modificações experimentadas pelo rhythmo são relativas a sua freqüência e numero.- PRIMEIRA PARTE 7 A primeira, isto é, a freqüência observa-se essencialmente no tado physiologico debaixo da influencia de certas causas, v. g. uma commoção moral, a acção de correr, de saltar etc., etc. Todavia esta alteração pôde ser explicada por uma febre, que sympathicamente produza o augmento na freqüência dos ruidos. Também pelas alte- rações do liquido sangüíneo como nos casos em que este não estimu- lando convenientemente as funeções do systema nervoso, regula- dor dos movimentos do coração, dá em resultado semelhante efíei to que se observa na chloro-anemia.- A diminuição da freqüência é signal de algumas moléstias da medulla e do cérebro,como os Srs. Andral e Bouillaud observaram. Também é resultado de uma idyosincrasia particular, e do es tado adynamico, produzido por certos medicamentos, empregados em dose sufficiente, para determinar a hyposthenisação do systema nervoso, como adigitalis empregada nas lesões orgânicas do coração. Os ruidos do coração que normalmente são em numero de dous, podem ser augmentados ou diminuídos. Assim se houver uma lesão dos orifícios auriculo-ventriculares, ou ventriculo-arteriaes, que modifique o mecanismo do appatelho valvular de modo a nec- cessitar que as auricülas e ventriculos dichotomisem as suas con- traccões para assim vencer o obstáculo que o sangue encontra na sua passagem, manifestar-se-hão ao ouvido delicado do observador trez e mais ruídos dependentes da irregularidade nas contraccões cardíacas .Esta explicação não tem sido confirmada pela observação, por isso appellamos para os progressosda medecina, e seus explora- dores, especialmente da parte cardiopathologiea, qiie é hoje da pre- dilecção dos médicos mais eminentes. Em verdade a freqüência e a gravidade das moléstias attinentes a esta parte da nosologia, muita attençãO merecem dos médicos os mais distinetosnos grandes focos de instrucção; e apezar de insano trabalho dos que se temoecupado com ardor no estudo da patholo- gia cardíaca. Esta ainda oíTerece duvidas què sãò a prova mais evidente da difficuldade de um tal assumpto. Adifficuldade reconhecida de dar um diagnostico preciso nas; 8 DISSERTAÇÃO moléstias do coração, a idéia preconcebida de sua incurabilidade, fi- seram com que os médicos não se entregassem com applicacão seria c perseverança ao estudo de ta;^s moléstias. A negligencia resultante de taes ideias desappareceu com os trabalhos de Laeunec sobre a auscultação do coração. A construcção de taes alicerces fez que os conquistadores se de- dicassem, com extremo, a concorrer para a perfeição completa de uma obra tão árdua e laboriosa Umaattençãoimpertubavel, o habito confirmado pelaprática^ e o conhecimento profundo das moléstias do coração, eis as condições indispensáveis para ©diagnostico diíferencial das lesões cardíacas. Do conhecimento exacto de taes moléstias, e de suas phases resultam modificações importantes natherapeutica, e d'ahi um grande passo prestado á sciencia e á humanidade, fonte de tantos soffrimentos. Bouillaud diz: Les instrumens elles melhodes de Ia thérapeutique doi- vent donc differir essentiellement, selon Ia nature ou Véspece de maladie ducwur, qu ü s agit de cambattre. Sem conhecimento exacto da moléstia, o medico pratica a me- decina seguindo um caminho infiel e perigoso. Os ruidos anormaes, que podem substituir, ou seguir os ruidos docoração, sãodeduas espécies, unsorganicos, isto é, devidos áslesões do coração, outros á alteração do sangue, como querem Andral e Bouillaud, segundo outros, á passagem diíficil do sangue atra vez dos orifícios docoração, e finalmente effectuado por um estado spasmo- dico dos orifícios auriculo-ventriculares, e arteriaes. Necessitando o ruido de sopro para sua producção, que haja ^esproporção entre a onda sangüínea e o diâmetro do orifício por onde passa, segue-se que a existência delle nos indicará lesões do coração capazes de produzir semelhantes condicções physicas, estrei- tamento dos orifícios aurieulo-ventriculares, ou arteriaes, ou insuf- ficiencia das válvulas respectivas. Mas o ruido de sopro manifestando-se também na chloro-ane- mia, comvém saber a verdadeira significação pathologica delle, para assim estabelecermos o diagnostico diíTerencial das affeccues, que podem sermauifestadas por semelhantes phenomenos. PRIMEIRA PARTE 9 O ruido de sopro na chloro-anemia além de brando e inter- mittente, não se ouve no segundo tempo, mas sim no primeiro, neste caso é na base do coração, prolongando-sc na direcçâo da aorta, ouve-se em outras artérias, como as carótidas, e não é acompanhado de elevação daregião,do tremor catario, cyanose, anasarca, pheno- menos que acompanham o sopro orgânico. Ainda mais, quanto mais adiantada vai se tornando a chloro- anemia em sua marcha, mais expansivo torna-se o ruido de sopro, entretanto que dá-se o contrario, quando este é symptomatico de moléstia orgânica de coração. Ha moléstias em que o medico pratico approximando-sc do leito do enfermo, ve estampado na physionomia a natureza do seu soffri- mento. Muita vez o aspecto deste quadro só bastapara formular o diagnostico eprognostico. A confirmação deseujuizo será decisiva, se reunindo este signal aos revelados pelos diversos meios de explo- ração, souber dar-lhes a significação pathologica apropriada. Apezar disto, quanta vez terá elle de presenciar a improficui- dade de sua lherapeutica, e o indifferentismo da força medicatriz da natureza aos gritos do infeliz moribundo, e a voz de sua própria consciência que lhe brada,—sal vai mais este ente feito para adorar o Greador, e impor leis aos outros animaes! E' tudo lhe responderá eom a realidade da tumba!!! As lesões doapparelho valvular, conhecidas depois dos trabalhos de Morgagni, Corvisart, Laennec e ultimamente de Gorrigan, Hope, Bouillaud e outros, modificando seu mecanismo, determinam o es- treitamento dos orifícios ventriculares, e arteriaes, ou a insuíficien- cia das válvulas permittindo assim o reíluxo de sangue para a cavida- de de onde fora expelliclo. Diversas alterações são capazes de determinar um destes dous eííeitos: nesse numero está a degeneração fibrosa, cartilaginosa e óssea. A estruetura sero-fibrosa dos orifícios ventriculares ou arte- riaes, e de suas válvulas respectivas, explica a sua tendência a trans- formar-se em um dos tecidos supramencionados. Qualquer que seja a natureza da lesão, e sua sede pôde manifes- tar-se o ruido de sopro, o que da-se nos estreitamentos ventriculares e arteriaes, ou na insufficiencia das válvulas respectivas. C 3 ftf DISSERTAÇÃO Neste caso, como saber-se se elle é symptomatico desta ou da- quella aíTecção?' O sopro orgânico no primeiro tempo resulta de um estreita- mento do orifício aortico, ou de uma insufíiciencia das válvulas auriculo-ventriculares, mas o sopro pertencente ao estreitamento dos orifícios arteriaes ouve-se na base do coração para dentro do mamillo,eosoprodainsuíITcienciana ponta do mesmo órgão. Se o ruido de sopro produzir-se no segundo tempo, annunciará uma insufficiencia dos orifícios arteriaes, ou um estreitamento dos auriculo-ventriculares. Distingue-se ainda neste caso pela sede, que é na base do coração para insuíficiencia arterial, e na ponta para o estreitamento dos orifícios auriculo-ventriculares. Logo, quando houver dous ruidos de sopro nabase docoração, no primeiro e no se- gundo tempo, indicarão um estreitamento e ao mesmo tempo insu- íficiencia dos orifícios arteriaes. Se pelo contrario a sede dò duplo ruido for na ponta, este reve- lará as mesmas lesões, porém nos orifícios auriculo-ventriculares-e válvulas correspondentes.. Agora, como saber-se, se a lesão oecupa o coração direito, ou esquerdo? A observação tem demonstrado que as lesões do coração es- querdo são mais freqüentes que as do direito. Os Srs. Barth e Roger dizem que quando o ruido anormal ouve-se á direita ou á esquerda da sede dos ruidos normaes, a lesão ocGupa as válvulas auriculo-ven- triculares direita-, ou esquerda. Se, ao envez, o ruido é percebido na direção da aorta, e da artéria polmunar, a lesão é dos orifícios correspondentes. Quando é o coração direito que soffre/Jia sempre embaraço con- siderável na circulação venosa,cyanose, cedema pronunciado, pheno- menos que nem sempre existem, nas lesões do coração esquerdo. O ruido de sopro ofTerece numerosas variedades na forma de sua manifestação. Taes são os ruidos de piado, de grosa, de serra, ruidos que annunciam a existência de lesões consideráveis, como vegetações resistentes, incrustações calcárias, carlilaginosas etc. Entre as variedades do sopro orgânico, ha o ruido de piado, que PftíMElRA PÁÍlTE Ü merece attcnção particular pelo seu timbre, o que faz que seja perce- bido em distancia do thorax. Segundo Bouillaud é especialmente lios estreitamentos adian- tados dos orifícios cardiacos, que se os observa. Além destes ruidos, percebidos no interior do órgão, ha outro produzido no seu envoltório, e designado pelo nome de ruido de attrito, ou de couro novo, o que se observa quando ha uma pericar- di te seguida de derramamento, que foi absorvido, e de falsas membra- nas formadas no pericardio. Eoattrito do coração sobre estas cha- pas resistentes que oceasionao referido signal. Bem que este seja semelhante ao que se produz em iguaes cir- cunstancias na pleurisia, todavia distingue-se em que pela suspen- são dos movimentos respiratórios, elle deixa de ser apreciado no caso de pleuris, em quanto que contínua a ser ouvido na pericardite. SEGUNDA PARTI 2?l£PT01íi.5 P0R1ÍECID0S PELAS ARTÉRIAS. Por milhares de estrada se encaminham: Visitam do organismo os cantos todos, E, quaes do sol os bemfazejos raios; Por onde passam, vida nova infundem. Conselheiro jonathas abbott. Peía auscultação, este grande metfíodo de exploração; que tanto ha esclarecido a semeioptica, contribuindo deste modo para os pro- gressos na arte de curar, é que se tem chegado ao conhecimento dos ruidos, que correm nos vasos arteriaes, cuja manifestação é tanto mais clara quanto mais próximos do coração se produzem elles. Assimapplicando-seostcthoscopioem um indivíduo são, sobre 12 DISSERTAÇÃO o trajecto de uma artéria qualquer, a não ser aorta thoraeion, I) ou- viremos um ruido um pouco surdo e isochrono á systole ventricular, tendo por causa, como os ruidos do coração, a força de impulsão communicada ao sangue pela contracção do órgão, o attrito da aquelle contra as paredes dos vasos, e a impulsão do sangue, que dilata mo- mentaneamente as mesmas paredes. Não sendo, pois, estes tubos idênticos em calibre, mas situados desigualmente da mola central dos movimentos e ruidos que na economia se dão, segue-se que o seu timbre deve variar segundo o calibre e espessura dos vasos, conforme a sua proximidade ao coração, esegundo outras circunstancias inhe- rentes ao indivíduo que se acha sobas vistas do observador, como se- jam—idade, sexo, temperamento e constituição. Os ruidos mórbidos que se percebem, auscultando aaorta tho- racicasão algumas vezes resultado da transmissão dos ruidos do co- ração, outras do attrito do sangue contra as paredes alteradas dos va- sos. No primeiro caso é symptoma de um estreitamento do orifício aortico ou insufficiencia do mesmo: no segundo das alterações capa- zes de tornar a superfície interna rugosa e desigual, como membranas cartilaginosas, ossificações desenvolvidas no seu interior, ou a com- pressãolocal produzida por um tumor desenvolvido em algum dos órgãos visinhos. A causa dos ruidos mórbidos é a desproporção entre a onda sangüínea e o diâmetro do orifício por onde ella passa, se a lesão for um estreitamento ou insufficiencia do orifício aortico: se porém forem producções mórbidas, desenvolvidas cm suas paredes de modo a fazer saliência no interior, então o attrito do sangue contra as asperezas, determinará o ruido de sopro ou de raspa, segundo o grau de desenvolvimento. O ruido de sopro manifesta-se também nos aneurismas, quaes- quer que sejam as variedades destes, percebendo-se o sopro simples ou o ruido de raspa, conforme a lesão aneurismal consistir em uma (1) Na aorta thoracica ouvem-se dous ruidos tendo o mesmo timbre e rhythmo que os do coração, com a differença porém de que na porção descendente da aorta thoracica são mais fracos. SEGUNDA PARTE 13 simples dilatação do vaso arterial, ou tiver asperezas no seu inte- rior, sobre as quaes o sangue passando, produz o ultimo ruido mencionado. O sopro continuo de dupla corrente (bruit de diable) também designado por Bouillaud pelo nome de ruido arterial chlorotico, formado pela combinação de dous ruidos, um continuo e fraco, outro mtermittente e forte, cuja associação assemelha-se á duas correntes em direcções contrarias, é um dos symptomas mais constan- tes da chlorose. Sua sede habitual é nos vasos do pescoço, ao nivel das carótidas, das jugulares, das artérias c veias subclavias, tendo porém seu grau de intensidade mais pronunciado á direita. Bouillaud diz—que as variedades, que apresenta o ruido de sopro na fôrma de sua manifestação, dependem do desenvolvimento do systema vascular. Laennec, Bouillaud eVernois consideravam a sede destes ruidos nas artérias; mas esta opinião cahiu á força de experiências feitas peloDr. Vvard na Inglaterra, e posteriormente por Aran que considerou a sede dos ruidos nas veias jugulares, por isso que pela pressão mais forte havia lugar o desapparecimento do murmúrio continuo, em quanto que um sopro simples conti- nuava a ser ouvido. As experiências e observações apresentadas por estes authores fizeram que os Senhores Barth e Roger se applicassem com seria at- tenção á pesquiza de factos scientificos tão importantes. De então consideraram, assim como Valleix, em sua bella obra de medicina pratiea, o ruido de dupla corrente, como um phenomeno mixto, produzido por um ruido intermittente, tendo sede nas artérias, e por outro continuo, residindo nas veias jugulares. A causa physici destes ruidos é um dos pontos, que tem levan- tado maiores discussões. Assim Vernois concluio de suas observações, que havia uma retracção dos vasos sangüíneos em conseqüência da qual se forma- vam no interior rugas sobre as quaes o sangue quebrando-se, produ- zia semelhante ruido. Esta explicação que pôde ser acceita nos casos de chlorose con- secutiva á uma hemorrhagia, é inadmissível nos casos de chlorose expontânea. Em talhvpothese pensamos que nenhuma das explica- G 4 14 DISSERTAÇÃO ções é de mais valor que a rapidez do curso do sangue e a pouca den- sidade delle. Apresentando a chlorose variedades na forma de sua mani- festação, escudo uma dellas a em que predominamos accidentes nevrálgicos, dependentes da alteração do systema nervoso, conse- cutiva a do sangue regulador; cremos que éa diminuição da plasti- cidade do sangue a causa mais preponderante na producção dos ruidos em tal moléstia, dependendo as variedades delle do grau de alteração do liquido sanguineo. Da-se o nome de pulso á impulsão communicada ás artérias pela onda sangüínea no momento da syslole ventrieular. Deve-se explorar o pulso nas artérias, que sendo superficiaes, offerecem um ponto de apoio áapplicaçâo dos dedos do observador como sejam—as temporaes, faciaes, brachiaes e carótidas. São, po- rem, asradiaes as em que pela applicação da face palmar do index,, médio e annullar, collocados sobre a mesma linha, é mais usual apreciar-se a força, a freqüência, a depressibilidade e a regularidade. Para mais segurança tem-se aconselhado o uso de diíTerentes instrumentos, mas o relógio de segundos é o meio mas geralmente empregado pelo medico, e, ainda melhor que tudo o dedo da expe- riência . A palavra, a posição vertical, a impressão causada pela presença do medico, a plenitude do estômago, sendo circunstancias que fazem alterar o caracter do pulso, convém que o doente esteja silencioso, deitado ou sentado, mas em posição tal que não resulte delia com- pressão alguma para o vaso que se examina. A idade, o sexo, a idyosincrasia e as condições hygienicas, no meio das quaes o indivíduo vive, são circunstancias que fasem o pulso oíTerecer numerosas variedades quanto a sua freqüência, volume, consistência e rhythmo. Com quanto a acceleraeão do pulso no estado physiologico es- teja debaixo da influencia de certas causas, v. g. commoçõesmo- raes, exercícios, carreira etc. etc. comtudo é as mais das vezes re- velação de um estado pathologico agudo. A lentidão, ao contrario, resulta as mais das vezes de estados mórbidos diíTerentes, como nas moléstias chronicas do cérebro, na SEGUNDA PARTE 13 intoxicação produzida pela digitalise outros medicamentos de igual acçâo, e também no envenenamento paludoso. Para bem avaliar a significação verdadeira da freqüência e len- tidão do pulso, convém saber o numero de pulsações que tem o indi- víduo no estado de saúde, porque de outro modo teríamos de con- siderar como resultado de estado mórbido a freqüência meramente normal. De pesquizas feitas-neste sentido tem-se chegado ao conheci- mento de que do nascimento té o primeiro mez da vida, as pulsa- ções variam de 120 á 140 por minuto, conforme Trousseau, Heber- den e Gorham. Nos dous primeiros annos batem de 100 á 120; depois vão gra- dualmente decrescendo de modo a serem nos cinco e seis annos, 80 ^ as pulsações: assim suecede nos adultos. Na velhice, segundo uns (HallerRochoux) de 60 à6o; segundo outros (Leuret e Mitivié) seriam um pouco menos freqüentes que nos adultos. O pulso também apresenta quanto ao seu volume variedades, que podendo ser observadas no estado pliysiologico, são no geral ligadas ao estado mórbido. Desta sorte o pulso largo, cheio nota-se nas phlegmasias, onde se acha o elemento plethorico muito desenvol- vido, o pequeno, ao envez, annuncia as moléstias em que ha obstá- culo na circulação. A consistência do pulso também ofíerece numerosas variedades como sejam um pulso vibrante, duro, resistente, o que se observa nas inflammações francas, e nos estados mórbidos em que ha plenitude dos vasos capillares. A esta cathegoria acha-se ligado o pulso dicrote, no qualcadaim- pulsão é dupla, e communica ao dedo um rápido e duplo choque; é o que antigamente conhecia-se por pulso capricant, indicativo de um enfarte dos vasos capillares. O pulso molle nota-se no curso das febres graves, c no fim das moléstias agudas. • O rhythmo do pulso pôde offerecer alterações, quer estas sejam transmissão das quese passam no órgão central da circulação, quer sejam devidas a lesão dos próprios tubos arteriaes; d'onde resulta o 16 DISSERTAÇÃO pulso desigual, intermittente, irregular e confuso. Se encarado por si só, o pulso como elemento de diagnostico, não tem significação verdadeira, todavia quando reunido a outros phenomenos mórbi- dos, constitue o caracter pathognomonico de algumas moléstias. O pulso será igual em todas as artérias em idênticas circnnsr tancias? Para que o pulso fosse igual em todas as artérias, fora preciso que estas tivessem igual calibre, situação e direeção, e que a impul- são communicada â aorta e á artéria pulmonar, chegasse com igual- dade aos diíTerentes ramos que dá cada um dos referidos troncos. Por tanto d'ahi resultam as variedades do pulso nas artérias das diíTerentes regiões do mesmo indivíduo. As diftereneas que apresentam as artérias cm sua freqüência, dar-se-hão também na sua velocidade e força? A razão baseada na anatomia descriptiva, esta grande sciencia que penetra os mistérios da organisação humana, diz que sim. De facto, se a maior ou menor velocidade com que gira o sangue em uma artéria, depende também de sua força contractil, e estando esta na razão directa do calibre dos vasos, e diíferindo este nos tron- cos c ramos, segue-se que quanto maior forem aquelles, tanto maior será a velocidade do sangue. Do mesmo modo suecedena força com que chega o sangue nos tubos arteriaes que lhe servem de vehiculo. Com eíTeito, divergindo o pulso segundo a maior ou menor proximidade dos tubos do coração, segue-se que alterações também apresenta o pulso na sua grandeza, principalmente se existir um es- tado pathologico, capaz de impedir o curso do sangue, como um tu- mor que manifestando-se junto a um tronco arterial, faça que o pulso,a principio irregular,accabepor tornar-se insensível cornos progressos que apresentar o tumor no seu desenvolvimento. Porem não é raro desenvolver-se um tumor sobre o trajecto de uma artéria, e pulsar a ponto de enganar um pratico menos acautelado. DISSERTAÇÃO. 17 TERCEIRA E ULTIMA PARTE. Se algum dia se chegar a conhecer bem a Anatomia das veias, então, esó então, se conhecerá a sua verdadeira acçãophysica e a sua physiologia. Conselheiro jonaths abbott. Toda vez quehouverum obstáculo á circulação venosa profunda, quer este resida em órgãos contidos na caixa thoracica, quer na abdo- minal, notar-se-ha distensão das veias, do abdômen, no caso de schyrrose do fígado, ascite e tympanite considerável, que, embara- çando a circulação da veia porta, dá lugar a semelhante effeito. Se a lesão for um tumor capaz de determinar o embaraço da veia cava superior, então a distensão será notada nas veias super- ficiaes do pescoço. As varices, do mesmo modo que as dilataçoes simples das veias, são produzidas por um obstáculo no curso do sangue, ou porque a attracção difficulte a sua volta dos membros (especialmente como se observa nos membros inferiores) ou pelo desenvolvimento de um tumor, comprimido a veia cava inferior, tubo transmissor do sangue que volta dos membros inferiores. O symptoma mais importante fornecido pelas veias é o pulso venoso, observado nas veias jugulares, nos casos de insufficiencia, ou de estreitamento do orifício auriculo-ventricular direito. C 5 18 TERCEIRA E ULTIMA PARTE O sangue em cada contracção auricular refluindo na veia cava superior, produz um embate nos referidos vasos,apreciável á vista. Igual phenomeno nota-se nas veias dos membros, quando ha um aneurisma varicoso, que, estabelecendo a communicação da artéria com a veia, faz que o sangue, passando daquella para esta, produza pulsações isochronas ás das artérias, mas em semelhante caso é antes pulso arterial, que venoso. ♦ SECÇÃO CIRÚRGICA 19 SECÇÃO CIRÚRGICA. RESECÇ5ES, I.—Já de Hyppocrates, esse grande luzeiro da Medecina, eram conhecidas as resecçoes. II.—Toda operação, em que se extirpa a totalidade de um osso doente, ou uma de suas partes conservando-se os tecidos mol- les, é uma resecção. III. —Distingue-se a resecção daosteotomia em que n'estaha sec- ção sem extracção da parte óssea, entretanto que n'aquella ha secção e extracção de um parte do osso. IV.—As indicações das resecçoes podem ser mecânicas e orgâ- nicas. Das primeiras, as mais communs são as fracturas commi- nutivas. Das segundas, a carie. V. —Em geral o cirurgião só deve lançar mão da resecção nos casos de ter reconhecido a insufficiencia dos meios therapeu- ticos empregados. VI. —Muita vez é difficil ao cirurgião dizer em these qual o momento em que a operação deve ser feita. Só o tino e pratica delle poderão decidir. VII.—O prognostico desta operação varia segundo a natureza da lesão, a extensão delia, e outras circunstancias dependentes do indivíduo operado. 20 PROPOSIÇÕES VIII.—Uma ou mais incisões, secção do osso e extracção delle, são os meios empregados para pratica de uma resecção. IX.—O cirurgião que sem prévios conhecimentos anatômicos especialmente da anatomia topographica, atreve a praticar uma ope- ração, abdica a sua coroa, e cava um precipício para a humanidade. X.—Operiosteo, não sendo de absoluta necessidade á repro- ducção dos ossos, é inútil conserval-o. XI. —O curativo é em geral feito por primeira intenção. XII. —Os accidentes consecutivos a uma resecção são idênticos aos de uma amputação. DifFerindo somente pelo maior grau de inten- sidade nesta. XIII. —Nos casos em que se possa escolher entre a amputação e a resecção, o cirurgião deve ser sempre em favor da segunda, princi- palmente se a lesão tiver sede nos membros superiores. SECÇAÕACCESSORIA. 21 SECCÍ0 ACCESSORIA. PODE-SE DETER1ÍIHAR, COlt SES3RA1IÇA, SE H077E 03 H£0ABORTO? E SE FOI ESTE PR070CADO? I.—Para responder com certeza se houve aborto, convém exa- minar oproducto expellido. II. —Só a mulher nos pôde fornecer provas para solução afíirma- tiva do primeiro quesito. III.—Essas provas são tiradas do exame minucioso do appare- lhogenital delia, e do interrogatório sobre as circunstancias occorri- das na occasião do abortamento. IV. —Verificado o aborto, é diííicil saber se foi elle provocado. V. —Todos os emmenagogos são capazes de determinar o aborto quando á esses reunir-se uma forte predisposição da mulher. VI. —As sangrias, os purgativos e os vomitivos, com quanto não sejam abortivos certos, todavia dão em resultado semelhante eífeito, dada a circunstancia acima mencionada. VII. —O mesmo dá-se com as violências exteriores. VIII.— A perforação das membranas e a separação da placenta, são os meios mais seguros na producção do abortamento. IX.—São os instrumentos mecânicos os meios empregados para esse fim. C 6 22 PROPOSIÇÕES X. —Se o abortamento tiver sido seguido de morte, é mais diííi- cil ao medico responder, se foi elle provocado. XI. —A ausência de lesões anatômicas não são suííicientes para aífírmar-se que não houve abortamento. XII.—O contrario succede, se a ausência de lesões anatômicas substituir o estudoexacto das circunstancias, que precederam e acom- panharam o abortamento. * SECÇÃO MEDICA 23 SECÇÃO MEDICA. 0 EFFSITOS DA FRI7A0A0 DOS SE1ITME11T0S DE AMOR I AMISADE. Songez-y-bien! 1'amour et ses liens Sont les plus grands ou des maux ou desbiens. (VOLTAIREJ I. —Os sentimentos de amor e amisade são instinctivos ao co- ração humano. c II.—A existência destes sentimentos é necessária para o desen- volvimento dopaiz, conservação e propagação da espécie. III. —Taes sentimentos constituem a verdadeira cadêa, em que se enastram as virtudes do coração. IV.—O homem, resumo maravilhoso do universo inteiro, pri- vado dos sentimentos de amor e amisade, não passaria de um infe- liz, cuja herança seria uma ignorância sem fim. V.—Sem os sentimentos de amor e amisade o estado social desapareceria da face da terra. VI.—A existência da sociabilidade é necessária, porque faz comprehender a sublimidade dos fins a que foi destinada pelo Creador. 24 PROPOSIÇÕES. VII. —Ha profissões na sociedade, que exaltando a imaginação e os sentimentos, como sejam a poesia, e a musica, favorecem as as- pirações amoraveis. VIII.—De um amormuitovivo podem resultar alterações nos diíferentes apparelhos da economia, como sejam perda de apetite, digestão difíicil, insomnia etc. IX.—Os soffrimentos produzidos pela privação de taes senti- mentos, podem chegar á loucura, e até á morte. X. —Do sentimento de amor nasce o amor da primogenitura. XI. —O amor contrariado é muitas vezes o germen de moléstias desoladoras. XII.—A medicina aconselhada para combater tão terríveis ef- feitos é apropria medicina do amor e amisade. HIPPOCRATIS APHORISMI. Vita brevis, ars longa, occasio proeceps, experientia fallax, judicium difíicile. (Secção l.& Aph. l.°) Ad extremos morbos extrema remedia exquesitè optima. (Secção \.&Aph. 6.°) Uhi somnus delirium sedat, bonum. (Secção 2.&Aph. 2.° Somnus, vigília, utraque modum excedentia, malum. (Secção 2.&Aph. 3.°) Ubi fames, non oportetlaborare. (Secção 3.&Aph. 16.) In morbisacutis extremarum partium frigus,malum. (Secção l.& Aph. l.°) RemeUida a commissão revisora. Bahia e Fa- culdade de Medicina 2S de Setembro de Ê8G4. Br. Gaspar, Secretario interino. Está conforme os Estatutos. Bahia S de Outu- bro de M8G4. Br* Alvares da Silva* C. Valle Júnior. Br. EjUíz Alvares Wmprima-se, Bahia e Faculdade de Medi- cina 19 de Outubro de 1964. Br. Baptista. BAHIA—TYP. CONTITÜCIONAL DE FRANÇA GUERRA.—1864. \ \