15 THESE A SUSTENTAS ^ E3 Z=L J&. XT T 2 A FACULDADE DE MEDMM DA BAHIA. EM ABRIL DE 1865. POR ftantmo %mè fo íílatt**, NATURAL DA RAHIA 12 fllbo legitimo do Capitão «fosé liaria de liados e ». Dulce Carolina d'01Kcira e llattos. IPÜ3M (DWM © Wl DE DOUTOR EM MEDÉCINA. On peut exiger beancoup, de celui qui de- vient auteur pour acquerir de Ia gloire, ou par un motif d'interet, mais celui qui n'ecrit que pour satisfa-ire á un devoir dont ii ne peut se dispensei* à une obligation qui lui est itnposéc, a sans doute de grands droits á 1'indttlgence de ses lecteurs. (La Bruyeré) TYPOGRAPBIA €ONST1TUGIONAL DE ANTÔNIO OLAVO PftANÇA GUERRA. Ao Aljtabe n. 1. 1865. FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA O E\m. Sr. Cous.Dr. João Baptista dos Anjos. VICE-DIRECTR O Exm. Sr. Conselheiro Vicente Ferreira de Magalhães* LENTES PROPRIETÁRIOS. /.<• ANNO. Os SENHORES DOUTORES. MATÉRIAS QUE LECCIONÃO. Cous. Vicente Ferreira de Magalhães . Physica em geral, e particularmente cm suai appli cações a Medicina. Francisco Rodrigues da Silva .... Chimica e Mineralogia. Adriano Alves de Lima Gordilho. . . Anatomia descriptiva. *.• ANNO. Antônio Mariano do Bonfim . . . ; Botânica e Zoologia Antônio de Cerqueira Pinto.....Chimica orgânica. ...........Pbysiologia. Adriano Alves de Lima Gordilho. . . Anatomia descriptiva, sendo os alumnos obri- gadosdissecções anatômicas. 3if ANNO. . . . . ..... i •• • Physiologia. EHas José Pcdroza.......Anatomia geral e pathologica. José de Góes Siqueira.......Pathologia geral. 4.» ANNO. Cons. Manoel Ladisláo Aranha Dantas . Pathologia externa. Alexandre José de Queiroz.....Pathologia interna. Mathias Moreira Sampaio.....Partos, moléstias de mulheres pejadas e de menino recém-nascidos. 5.° ANNO. Alexandre José de Queiroz .... Pathologia interna. __ ,. . José Antônio de Freitas.....; Anatomia topographica, Med-cina operatona C apparelhos. Joaquim Antônio d'01iveira Botelho . . Matéria medica e therapeutica. 6." ANNO. Domingos Rodrigues Seixas.....Hygiene, e Historia da Medicina. Salustiano Ferreira Souto.....Medicina legal. Antônio José Ozorio....... Pharmacia. Antônio José Alves.......Clinica externa do 3. c 4. Antônio Januário de Faria '•.....Clinica interna do 5. c 6. I.ENTES OPPOSITORES. José Afibnso Paraizo de Moura. . • Augusto Gonsalves Martins • Domingos Carlos da Silva . , . .} Secçao Cirurg.ca. Ignacio José da Cunha .... Pedro Ribeiro de Araújo .... Bozcndo Aprigio Pereira Guimarães. .^ SeoçSo Accessoria. José Ignacio de Barros Piinentel. . Virgílio Climaco Damazio . . . • Demetrio Cyriaco Tourinbo . . • Luiz Alvares dos Santo.......Ç Secção Medica. João Pedro da Cunha Valle. . . . Jeronimo Sodré Pereira..... SECRETARIO—° Sr' °r* Cincinnato Pinto da Silva. 0FFIC1AL DA SECRETARIA—O Sr. Pr.Thomaz dAqnlno Gaspar. Â Faculdade não approva, nem reprova as idèas emittidas nesta Theso. SECCAO CIRÚRGICA. FERIDAS PENETRANTES DAS ARTICULAÇÕES, SEU DIAGNOS- TICO, E TRATAMENTO. S feridas penetrantes das articulações offerecem um vasto campo d'estudo hoje mais do que nunca enre- quecido pelos trabalhos da cirurgia moderna; a im- portância d'este assumpto se pode deduzir da fre- qüência das grandes operações que muitas vezes estas feridas re- clamão na clinica civil e militar, e que se devem considerar como meios extremos de que lancão mão os práticos para salvar o todo ameaçado de morte. Casos ha, que reclamão d'esde o principio o emprego de taes meios, e é ahi que cumpre ao cirurgião não esperar; porque mais tarde, quando as superfícies articulares forem alteradas pela inflam- mação seguida de abundante supuração, é bem raro que os meios ainda os mais fortes possão salvar o doente, que se debate nas garras da morte minado pela febre hetica. Dividimos as feridas das articulações em feridas penetrantes, e feridas não penetrantes, segundo a solução de continuidade communica ou não com a cavidade synovial. Quanto as feridas não penetrantes apenas fallaremos n'ellas » de passagem, não só por não fazerem parte do nosso ponto, co- mo porque pouco diíferem das feridas feitas na continuidade dos membros, e como muito bem diz Vidal de Cassis, entrão na his- toria geral das feridas, e reclamão as mesmas indicações. Devemos com tudo não esquecer que anatomia da parte faz estabelecer uma pequena diíferença entre as feridas não penetran- tes das articulações, e as feridas na continuidade dos membros: a reunião immediata, por exemplo, é muitas vezes impossível, visto a pouca vitalidade dos tecidos fibrosos que cercão a arti- culação; tem-se visto também que uma perda de substancia podia tornar penetrante uma ferida, que não era no principio, e ainda, sem perda de substancia, a inílammação se podia propagar até á membranasynovial subjacente. As feridas penetrantes são simples, ou complicadas; nas pri- meiras a cura se eífectua sem accidentes, emquanto que nas segun- das a presença dos accidentes tornando a cura difficil é, por assim dizer, a moléstia principal. Nelaton ainda indica outro modo pelo qual pode ter lugar uma ferida penetrante da articulação. Trata-se da abertura de uma cavidade articular pela queda de uma escaraproduzida pela gangrena, oupela applicação do ferro em braza ou por moxas desastradamente applicadas defronte de uma articulação como a do joelho. Deve-se também notar que as feridas feitas por instrumentos contundentes podem ter lugar de dous modos; ou de fora para dentro o instrumento contundente esmaga os tecidos molles e pe- netra na articulação, ou de dentro para fora a extremidade de um osso deslocado passa ao travez das partes molles e pode até acontecer que o osso sem atravessar os tecidos produza uma distenção que dê lugar á uma ferida penetrante. FERIDAS SIMPLES. A forma do instrumento e o modo porque este penetrou nos te- cidos são duas circunstancias, que influem poderosamente sobre a 3 simplicidade ou complicação das feridas penetrantes, se o instru- mento vulnerante é de um pequeno volume, como por exemplo uma agulha, e se o seu trajecto foi obliquo antes de penetrar na cavidade articular; então em poucos dias obter-se-ha a cicatrisação; porque não havendo parallelismo entre as duas aberturas, isto é, a da pelle, e a da cavidade articular, o ar não pode penetrar, e como logo te- remos occasião de ver, a presença d'este fluido é a causa principal da complicação d'estas feridas; suppondo, porem, que o instrumento é mais largo e penetrou directamente na ferida, pode muitas vezes esta tornar-se complicada: o mesmo se poderá dizer das que são feitas por inslrumento cortante, partindo sempre deste principio: que quanto mais fácil for o ingresso do ar, tanto mais complicada deverá ser a ferida: ha comtudo casos excepcionaes em que existindo estas, eoutras causas de complicação a ferida conserva o caracter de simplicidade. FERIDAS PENETRANTES. As feridas por arrancamento e as feridas feitas por instrumentos contundentes, os quaes se devem entender não só os corpos ordi- nários, como os que são arremessados pela conflagração da pólvora, são as que quasi sempre se revestem de complicação. Entre as complicações, umas são próprias as feridas penetran- tes das articulações, outras são communs a todas as feridas em geral; entre as primeiras achão-se a arthrite thraumatica, e o derramamento de sangue ou de pus na cavidade articular, entre as segundas a in- fecção purulenta, a infecção pútrida, o tétano e a gangrena. * ARTHRITE THRAUMATICA. —Nos primeiros dias do ferimen- to nenhum phenomeno particular indica os accidentes graves, que se hão de desenvolver mais tarde, assim o doente discuidoso do mal entrega-se a seus trabalhos habituaes; é no quarto, ou quinto dia, as vezes mais cedo e raras vezes mais tarde, que se observa a articu- lação um pouco tumefeita e dolorida e os movimentos difíiceis. A intensidade d'estes sympthomas augmentão gradualmente, a dor torna-se mais violenta, a pelle estendida e lusidia, as bordas da fe- rida se mostrão apartadas, viradas para fora, tumefeitas e discoradas 4 deixando escapar uma grande quantidade de serosidade. A articu- lação torna-se muito volumosa, a pelle é quente, e ao mesmo tempo pailida, esta falta de cor parece indicar que a phlegmasia tem por foco principal o fundo da articulação. Os accidentes geraes não se fazem esperar, o pulso é duro, e freqüente, a lingua seca, a sede se apresenta, a pelle cobre-se de suor, e muitas vezes vem o delirio ag- gravar os padecimentos, porque neste estado o doente sem consciência de seus actos executa movimentos, que vem augmentar a inflamma- ção. Si a ferida tem uma larga abertura, então por ella escorre o li- quido synovial, unctuoso, e viscoso, a principio, isto é, antes da ar- thrite; porem quando esta inflammação manifesta-se o liquido se perturba, tornando-se seroso e escuro, e augmentando a inflamma- ção sae uma serosidade purulenta misturada de flocos pela aber- tura tornada fistulosa. Estabelecida á supuração os sympthomaslocaes se aggravão, e a inflammação não se limitando já a articulação, ganha as partes do membro, que se achão situadas acima e abaixo d'ella; não é raro então verem-se abcessos circumscriptos nos intervallos musculares, nos músculos ou no tecido cellular, observão-se algumas vezes pontos gangrenosos, e mesmo gangrena completa na porção inferior do membro, o que se explica pela compressão, que sobre os vasos exerce o engorgitamento inflammatorio. Os sympthomas geraes tornão-se tão graves quanto os acciden- tes locaes, a lingua, os dentes, e os lábios se cohrem de uma camada negra, e fuliginosa, a face se mostra decomposta em seus traços, e o doente delira, e morre no ultimo gráo de abatimento, eis os sym- pthomas e a terminação, da arthrite que mais vezes se observa, mesmo a intensidade dos sympthomas inflammatorios pode trazer a morte sem que a inflammação se tenha perfeitamente estabelecido. Nem sempre as feridas penetrantes das articulações tem um fim funesto, a inflammação algumas vezes pode se acalmar, e o doente obter sua saúde depois de uma longa convalescença, cumpre, porem, notar que ficará com uma rijeza na articulação mais ou me- nos pronunciada, e tendo havido supuração dá-se uma ankilose completa por causa da inflammação que determinou a desnudação 5 das superfícies ósseas com destruição dascartilagensde incrustação. A arthrite pode também não adquirir nenhuma intensidade limi- tando-se apenas á produzir um derramamento de líquidos, ou antes uma espécie de hydrartrose pouco dolorosa, estes casos são extrema- mente raros e só poderão ter lugar, quando a ferida fòr muito es- treita . A gravidade das feridas das cápsulas synoviaes é geralmente reconhecida, mas os auctores não estão de accordo, quando se trata de explicar esta gravidade. Amboise Pare sustentava ser ella devida a grande sensibilidade dos tendões, e aponevroses, esta opinião não se pode sustentar depois que Haller demonstrou a insensibilidade do tecido fibroso. Brasdor fazia depender esta gravidade não do ferimento das aponevroses, perem da sua resistência; e da corrupção dos humores, cremos que a resistência das aponevroses, com quanto não explique a presença dos accidentes graves que mencionamos deve ser levada em consi- deração; quanto a corrupção dos humores, sabe-se que o pus não se forma senão em razão destes mesmos accidentes cuja causa pro- curamos saber, e se elle tem influencia, o que nós não negamos, esta depende da sua demora na articulação, isto é, apresistenciados acccidentes produzidos por uma outra causa. Bell, Monro Thompson são de opinião que a gravidade é apenas devida a acção do ar sobre a membrana synovial. A opinião dos práticos modernos é que a acção do ar sobre a membrana synovial é a principal causa que dá lugar a esta gravidade,, que se nota nas feridas penetrantes das arti- culações; com effeito depois dos bellos trabalhos de Júlio Guerin fun- damentados sobre experiências, é hoje um facto demonstrado na sciencia que o arinflue poderosamente sobre todas as feridas deter- minando a supuração: applicando este principio as feridas das arti- culações, unindo a ella rasões tiradas da anatomia, da parte, vemos como muito bem diz Bonet de Lyon que as articulações são cavidades anfractuosos diíTerentemente configuradas segundo os movimentos do membro que podem determinar uma espécie de aspiração do ar. Resta saber si o ar influe como agente inflammatorio, ou como agente pútrido? Bonet que tem estudado especialmente as moleslias das articulações diz que os effeitos prejudiciaes do ar provêm da ten- 2 G dencia a putrefação, que elle imprime sobre todos os tecidos com os quaes se acha em contado, como synovia, sangue e pus. Velpeau e Fournier sustentão que o ar não exerce nenhuma in- fluencia sobre as superfícies articulares no estado de saúde, e que sua acção só pode ser prejudicial quando a membrana synovial já está infla mmada, e os fluidos tem experimentado alteração, esta questão comquanto não esteja completamente decidida na sciencia a maioria dos práticos seguem a opinião de Bonet de Lyon. DERRAMAMENTO DE SANGUE.—As hemorrhagias são mais de temer nas feridas penetrantes das articulações do que em outras quaesquer e este perigo se torna maior, se existe um grande numero de vasos arteriaes, em redor da articulação, formando uma espécie de rede, disposição esta que se nota nas articulações do joelho, ponta do pé, e colovello; a ligadura deve ser de prompto empregada porque só por ella se pode suster a onda de sangue, sem irritar a ar- ticulação nem provocar derramamento. E' de observação que o sangue accumulado na articulação corrompe-se, e segundo Boyer e Richeraud pode trazer accidentes mortaes. INFECÇÃO PURULENTA.—As feridas penetrantes são muito sujeitas a esta complicação ante a qual todos os esforços d'arte tem sido inúteis. Begin no seu Biccionario de Medecina no artigo arthrite; assim se exprime; «A infecção purulenta tem sido freqüentemente « observada, após as feridas articulares, ou porque as veias tenhão « sido directamenteinteressadas, ou porque asolução decontiyuida- « de lenha sido directamente levada a outros tecidos. Um facto « certo, e bem observado é a propensão que tem as outras membra- « nas serosas de supurar quando uma d'ellas fornece pus, alem disto « achão-se muitas vezes focos purulenlos no fígado, nos pulmões, « nos rins e no baço. Alguns auctores surprehendidos d'esta coin- « cidencia dizião que as articulações tinhâo como os tigumentosdo « craneo edo cérebro uma affinidade para o fígado e pulmão. » INFEÇÃO PÚTRIDA.—São bem distinctos os sympthomas da infecção pútrida, para que jamais se possa confundir com a infecção purulenta. Os auctores que se tem occupado d'este ponto são uni- formes em estabelecer esta differença. A anatomia patológica, nos casos de infecção pútrida, não re- ? vela a presença de abcessos nos órgãos interiores, a clinica vem es- tabelecer ainda uma differença; porque nos indivíduos atacados de su- puração chronica com accessos da febre hetica, esta não é prece- dida de frios, nem seguida de suores, como tem lugar na febre de- vida a infecção purulenta, pelo prognostico se poderia ainda diffe- rençar, ha exemplos de cura na infecção pútrida emquanto que a infecção purulenta é sempre fatal. Quanto a gangrena ella pode também complicar as feridas das articulações segundo que teem observado Larrey e Velpeau. Otetanos thraumatico se mostra de pre- ferencia nas feridas das pequenas articulações, quando ellas são feitas por instrumentos picantes; em nosso paiz onde uma parte da população anda descalça estes casos são freqüentes. DIAGNOSTICO. E' fácil diagnosticar uma ferida penetrante da articulação quando se tem ante os olhos uma ferida larga, e que affastados os lábios d'esta podem se ver, e tocar as superfícies articulares, mas o diagnostico se torna extremamente complicado, quando se trata de uma ferida estreita, oblíqua, e sinuosa, aonde a vista nada alcança e o toque é contra indicado. Pergunta-se, o que convirá fazer? A regra geral será proceder como se tivéssemos certeza de que a fe- rida fosse penetrante. Existem comtudo alguns dados para a resolu- ção do problema. A sabida de uma certa quantidade de synovia; mas tal phenomeno pode dar-se nas feridas penetrantes estreitas, e pode também mostrar-se nas feridas não penetrantes, quando o instrumento vulnerante abriu bolças tendinosas, ficando intacta a articulação; e alem disto vemos que este humor é muito alteravel, logo que se desenvolve a inflammação podendo até não ser mais re- conhecido . Dous outros meios de investigação tem ainda sido acon- selhados: a compressão da articulação para facilitar a sahida da sy- novia, e a comparação da forma e extensão da ferida com a porção do instrumento, que a produziu. A compressão deve ser eliminada da pratica; porque alem de imprimir movimentos que se buscào 8 evitar; facilita a entrada do ar na cavidade articular; o segundo meio pode ser adoptado com vantagem; quando em uma articulação o instrumento penetrou perpendicularmente e nenhum valor terá; si a ferida for oblíqua, o cirurgião em caso de duvida não deve sondar a ferida; a introducção de stelete é muitas vezes seguida de graves accidentes. PROGNOSTICO. O prognostico das feridas penetrantes das articulações é grave;; porém esta gravidade varia segundo as condições immediatas, que' apresenta a ferida, segundo a presença ou auzencia das condicções geraes ou locaes que favorecem o desenvolvimento das complica- ções, emíim segundo a natureza e violência dos accidentes, e das desordens que elles tem produzido. Ledran e Bell pensavão que uma vez aberta uma articulação, e estabelecida a supuração, a única terminação possível seria a morte; hoje citão-se exemplos de cura o que faz crer que esta opinião era exagerada, porém é caso raro que o membro possa entrar em exercicio de suas funeções, principal- mente se a synovial e os ligamentos si inflammarão, então perma*- necera á uma anhilose completa em muitos casos. Às feridas penetrantes das grandes articulações são mais peri- gosas do que as feridas ainda mesmo penetrante das pequenas arti- culações, esta gravidade também é maior nos membros inferiores do que nos superiores, a presença de um corpo estranho constitue uma seria complicação que não pequeno numero de vezes tem deter- minado a amputação. TRATAMENTO. Deve ser banido do tratamento das feridas das articulações como meio bárbaro a applicação do óleo, do vinho, da água salga- da, dos unguentos excitantes, e das plantas vulnerareas, na verdade custa crer que pratica tão absurda fosse até certo tempo seguida em o cirurgia, isto prova de alguma sorte não são exemptas de grandes erros as sciencias mais positivas. O tratamento das feridas das articulações varia segundo o medi- co é chamado logo depois do ferimento antes da arthrite, ou algum tempo depois quando esta já se tem declarado. No primeiro caso a principal indicação será dar uma posição favorável ao membro doente de sorte que este se conserve em perfei- ta immobilidade, esta posição deverá ser aquella em que a cavi- dade articular offerecer menor capacidade, os apparelhos propostos não prevenindo uma ankilose consecutiva Bonet de Lyon para cada espécie de ferimento emprega um apparelho particular de sua inven- ção, e assegura ter obtido os melhores resultados. Outra condicção não menos importante consiste em prevenir a entrada do ar. Ha vários meios de conseguir este desideratum. Larrey se ser- via do apparelho inamovivel, o seu emprego, porém, está hoje quasi abandonado porque não permitte inspeccionar a ferida, o apparelho de Seutin amovo-inamovivel não se ressente d'este grande inconveniente, hoje o meio que tem merecido grande acceitação é aquelle que tem por fim tornar completamente im- permeável ao ar, o que se obtém pelo collodio como é de obser- vação. As vezes n'uma ferida contusa os fragmentos das carti- lagens poderão nos fazer suppôr uma fractura intra-articular, e existência destes fragmentos irritão a ferida podendo dar lugar aos accidentes terríveis de que já nos occupamos, claro está que no caso de uma fractura comminutiva os fragmentos ósseos serião outros tantos pontos de irritação em um e outro caso proceder-se-ha a extracção senão houver uma contra indicação formal, ainda alguém recommenda que no caso de fractura se faça a resecção nas extre- midades do osso fracturado, hoje que as resecções em cirurgia se vão tornando regra geral e as amputações excepção, nós opiniariamos pela resecção se essa operação não fosse ahi mais longa, dolorosa e diffícil de que uma amputação; comtudo só á vista do caso patholo- gico o pratico se poderá decidir. Nas feridas contusas não convém tentar a reunião immediata porque alem do perigo que poderia so- brevir, jamais esta tentativa seria coroada do resultado, devemos antes tratar da ferida com toda docilidade sem lançar mão de qual- 3 to quer corpo que tenha por fim conservar affastados os lábios da fe- rida; nestes casos as irrigações frias são de immenso proveito, c muito principalmente se queremos prevenir uma reacção intensa que se acha imminente. Suppondo que um instrumento contun- dente abriu uma larga e vasta articulação, a maioria dos práticos são de opinião que se faça a amputação, outros, porem fundados em casos muito excepcionaes em que os doentes se recusando em con- sentir na amputação ficarão sãos conservando seus membros opinião que se submetta o membro doente a uma irrigação continua, porem as irrigações quasi sempre não tem poder de deter neste caso a in- flammação, alem disto expõe o doente a um resfriamento geral e phlgmasias viceraes. Suppondo-se emfim que se deva fazer a ampu- tação tentaremos um ultimo recurso fazendo, segundo recommenda Bupuytren largosdesbridamentos afim de favorecer a sahida do pus. Havendo uma hemorrhagia só no ultimo caso nos serviremos da rolha. Lisfranc porem recommenda que depois de largamente des- bridada a ferida se limpe a articulação, este meio parece preferível. Desenvolvida a inflammação aguda em uma ferida da articulação se deverá principiar por um tratamento antephogistico enérgico como: sangrias geraes, ou locaes banhos, e cataplasmas emolientes etc, M. Fleury cirurgião do hospital Cleremont Ferrand applica largos visicatorios volantes sobre a articulação e os renova todos os dias ainda mesmo durante o período da supuração. Mersier applica sobre estas feridas fios embebidos em água de Babel, Sharqir toca a ferida com fios embebidos em ácido nitrico, outros ainda aconselhão que se toque a ferida com ferro em braza. M. Nelaton diz que todos estes methodos tirados da pratica ve- terinária não teem vantagem em cirurgia. No período da supuração deve se favorecer a sahida do pus das anfraotuosidades prevenindo- se d'est'arte a decomposição dos líquidos, e isto se obtém por meio de desbridamentos tendo-se sempre em vista poupar os ligamentos, os vasos e nervos. M. Bonet é de parecer que no caso da infecção pútrida se facão injecções antesepticas com álcool camphorado e água, ou com bal- samo Fióravanti. Raras yezes, uma amputação neste caso poderá dar bons resul - 11 tados, a febre hetica e a diarrhéa enfraquece o doente a tal ponto que elle morre pouco tempo depois da operação. Quando começa a ef- fectuar-se a cicatrisação, e as extremidades ósseas se desnudão de- vendo o doente por fim ficar com uma deformidade convém que se dê ao membro a posição em que deve ficar depois de estabelecida a ankilose, A extracção dos sequestros deve ser feita a medida que elles se tornarem moveis, e injecções antesepticas serão feitas nos trajectos fistulosos. FERIDAS DAS ARTICULAÇÕES POR ARMA DE FOGO. As feridas das articulações, produzidas por arma de fogo re- querem algumas indicações especiaes que não se achão comprehen- didas no tratamento das outras feridas de que já nos occupamos. Quando as feridas não penetrantes o tratamento d'estas é o mesmo das feridas contusas, das partes molles da articulação, excepto no caso de haver considerável perda de substancia é tal que pelo conxegamento dos tecidos não se possa remediar a desnudação. Tendo penetrado uma baila em uma articulação senão houver grande desordem das partes molles e dos ossos, se o projectil não existe na ferida, e se a articulação é pouco extensa, e se emfim o ferido é moço e robusto pode ter-se esperança de salvar o membro, voltando, porem, a condições oppostascomo se, por exemplo, as extremidades ósseas são quebradas em pedaços, se a baila se acha perdida em uma grande cavidade articular, e se os nervos e vasos principaes forem lesados devemos então recorrer a amputação, ou a resecção. Agora convém dizer em que casos se dá a preferencia a uma ou outra d'estas duas operações. Se deverá praticar a resecção, quando os estragos das superfícies articulares forem em pequena extensão, e se limitarem a uma ou duas superfícies, quando houver integridade dos nervos e vasos principaes do membro, e as partes molles não ti- verem soffrido profundamente, e a ferida for situada nos membros thoracicos; praticaremos porem, a amputação quando um projectil volumoso como uma baila, um biscainho, ou um fragmento de obuz tiverem esmagado completa ou incompletamente os tecidos, a época 13 êm qüé â operação deve ser feita reconhecida a sua absoluta necessi- dade, é como já tivemos occasião de dizer immediatamente, comef- feito, si nas feridas penetrantes das articulações aonde a amputação ou resecção são indicadas não se deve espaçar a operação, nas fe- ridas por arma de fogo alem da abundância da supuração que enfra- quece as forças do doente, a inflammação que é necessária para a eliminação das escaras vem augmentar o mal. Si julgarmos que a operação não deve ser praticada devemos re- correr ao desbridamento, não só para a extracção dos corpos es- tranhos como também para fornecer a sahida do pus, devemos também procurar prevenir o desenvolvimento dos accidentes de que já nos occupamos. Sendo a pelle descolada pela passagem da baila se deverá incisar sobre o trajecto, a extracção dos corpos estranhos far-se-ha por esta abertura, ou por uma contra abertura se a baila se mostrar debaixo da pelle; logo que tenhamos preenchido estas indicações se collocará o membro em uma goteira afim de manter em perfeita immobilidade, o tratamento de que se deve lançar mão para prevenir os accidentes é o mesmo que indicamos para as feridas penetrantes das articula- ções feitas por instrumentos contundentes ordinários. SECCAO ACCESSORIA. HAVERÁ CASOS EM QUE 0 MEOICO POSSA ASSEGURAR QUE HOUVE ENVENENAMENTO PELO ARSÊNICO A DESPEITO DA EXIS- TÊNCIA NATURAL D AQUELLE CORPO NA TERRA QUE CER- CAVA O CADÁVER ANTES DA EXHUMAÇÃO? I.—O arsênico que existe naturalmente em um terreno não pode passar para as vísceras de um cadáver ahi inhumado mesmo quando este esteja nu, e envolto na terra. II. —As experiências de Orfila demonstrão que nos terrenos ar- seniferos a água fria ou em ebulição não dissolve a menor parcella d'este composto arsenical. III. —A epocha mais ou menos antiga da inhumação não é um obstáculo que impeça as pesquizas medico-legaes. IV. —O phenomeno physico da imbibição não explica a presença do arsênico no fígado. V. —Reconhecida a presença do arsênico ainda em proporções consideráveis em um terreno, bastaria lavar o cadáver, para fazer desapparecer a mais fraca porção. VI. —Não merece fundamento a opinião de Flandin e Danger de que o arsênico dos terrenos insoluvel pela água nos nossos labora- tórios possa pela natureza, e o tempo soífrer transformações análogas as do carbonato de cal nas grotas subterrâneas. VII. —As torrentes pluviaes que durante a tempestade passão ao travez de uma atmospherade oxigênio e de asoto para os terrenos não são bastantes para dissolver o arsênico do solo. VIII.—Nos terrenos em que se emprega o ácido arsenioso, na 4 14 occasiáo de semear o trigo, este corpo fica durante certo tempo quasi na mesma zona de terra e pouco a pouco combina-se com as matérias calcárias formando arsenitos, ou arseniatos de cal. IX.—Quando a analyse não encontra arsênico em um cadáver fica excluida a idéa de que o veneno tenha sido dissolvido pelas águas que se infiltrão ao travez da terra. X.—O arsênico que deu a morte a um individuo não muda de lugar durante o progresso da putrefação nem quando depois o estô- mago e os intestinos se tornão seccos, XI.—Quando a dissolução pútrida chega ao ultimo ponto uma parte do arsênico, a proporção que se forma amoníaco, se transfor- ma em arseniato de amoníaco. XII.—O amoníaco, producto da putrefação não dissolve o ar- sênico do solo. SECCAO MEDICA ACÇÃO PHISIOLOGICA E THERAPEUTICA DO IODO. I.—A acção local do iodo e suas preparações, exceptuando-se comtudo o iodoformio, é irritante podendo mesmo escarificar os te- cidos si a irritação elevada ao ultimo ponto. II.—Os eíTeitos locaes do iodo sobre o homem no estado de saúde estão de harmonia com os effeitos geraes: a actividade da cir- culação, a temperatura elevada da pelle, que as vezes se torna sede de varias erupções, e effeitos cerebraes de pouca gravidade, são uma prova do que fica dito. III.—O iodo e suas preparações administrados em dose alte- rante exerce uma influencia estimulante especialmente sobre as mu- cosas pulmonar, gastro intestinal e sobre o apparelho guito urinario. IV.—O iodo e suas preparações exerce uma acção especifica sobre as glândulas em geral, especialmente sobre o corpo thyroide e glândula mamaria. V.—O iodo é um poderoso anti-septico. VI.—A absorpção do iodo é rápida, alguns minutos depois de sua indigestão prova-se a presença d'este corpo na urina, na saliva e no leite. VII.—As funcções digestivas executão-se com muita actividade, depois da administração por alguns dias do iodo ou do iodureto de potássio. VIII.—O iodoformio não gosando de propriedades irritantes, deve ser empregado de preferencia no tratamento das escrophulas, e de outras moléstias. IX.—Sendo incontestável a passagem do iodo no leite a thera- 16 peutica pode tirar immensos resultados da administração d'este me- dicamento associado a um vehiculo reparador. X.—O iodureto de potássio é o medicamento por excellencia na syphilis terciaria. XI.—O iodo é o medicamento mais enérgico que se conhece contra o bocio proveniente do desenvolvimento do corpo thyroide. XII.—O iodo possue propriedades emenagogas que o fazem re- commendar nos casos de menstruação difficil. SECCAO CIRÚRGICA. FERIDAS ENVENENADAS. I.—Certos corpos applicados sobre a pelle escoriada ou intro- duzidos em uma solução de continuidade recente produzem feridas envenenadas. II.—Os corpos que mais commumente fazem taes feridas são: as armas dos selvagens embebidas no sueco de certas plantas vene- nosas; os ossos dos cadáveres e os instrumentos de dissecção im- pregnados de sucos cadavericos. III.—As feridas por arma de fogo não devem ser consideradas como feridas envenenadas como pensavam os antigos práticos. IV.—As perturbações das principaes funeções visceraes embora não acompanhadas de effeitos locaes denotão que o veneno foi absor- vido. V.—Uma região muito rica em veias e em vasos lymphaticos é uma cireumstancia favorável para a absorpção do veneno. VI.—Os effeitos locaes seguidos apenas dephenomenos sympa- thicos são ás vezes os únicos signaes da absorpção. VII.—Os accidentes graves, que se observam nas feridas enve- nenadas, bem como a ausência de taes accidentes dependem de uma predisposição toda particular do indivíduo. VIII.—E' de observação que os sucos cadavericos dos indiví- duos que succumbem de affcceões inflammatorias com secreção de líquidos nas cavidades thoracica ou abdominal adquirem proprieda- des muito venenosas. IX.—O gráo de putrefação parece neutralisar a acção do vene- no que existe nos sucos cadavericos. 5 1§ X.—E' útil immediatamente depois do ferimento lavar a parte expondo-a a um jorro de água fria, tendo-se antes expremido a fe- rida, e sugado o sangue si o estado são da boca o permittir. XI.—A compressão circular da ferida, impedindo a volta do sangue venenoso ao coração é um meio que nunca se deve desprezar. XII.—O meio mais seguro é a cauterisação com os cáusticos sólidos ou líquidos. $ hippoiratis í.?kc?.:iiíi I. Vitabrevis, ars longa, occasio proeeeps, experientia fallax judicium difficile. (Sect. l.a Aph. l.°) II. Ad extremos morbos, extrema remedia exquisiti, optima. (Secl. l.a Aph. 4.°) III. Vulneri convulsio superveniens lethale. {Sect. 5.* Aph. 2.°) IV. Inmorbis acutis, extremarum partium frigus, malum. (Sect. 7.» Aph. i.°) V. Ubi sommus delirium sedat, bonum. (Sect. 2.» Aph. 2.°) VI. A sanguinis fluxu delirium, aut etiam convulsio, malum. Hemettida a Com missão revisora. Bahia e Faculdade de Mede- cina 29 de Setembro de 1864, Dr. Gaspar. Esta These está conforme os Estatutos. Bahia 1 de Outubro de 1864. A. Alvares da Silva Cunha Valle Júnior Dr. Luiz Alvares. Iinprima-se. Bahia e Faculdade de Medecina 24 de Março de 1865. Baptista. TYP.-COXSTITUCIONAL-DE A. O. DA FRANCA GUERRA